quarta-feira, 31 de outubro de 2012

BALANÇO DA GREVE 2012 E PROPOSTAS PARA AS PRÓXIMAS AÇÕES





A greve de 2012 começou e terminou como as dos anos anteriores: falta de organização de fato antes da greve, golpes e manobras para encerrar a greve. Há anos nós do Coletivo Bancários de Base denunciamos as falhas na condução das campanhas salarias por parte da diretoria do sindicato, que é também a direção do movimento nacional da categoria. Essas falhas, a nosso ver, não são resultado de equívocos que se poderia corrigir por meio de um debate democrático. São o resultado de uma política deliberada dos dirigentes do sindicato de evitar o desenvolvimento das nossas lutas. Por isso, entendemos que nós mesmos, bancários da base, bancários que estamos no dia a dia das agências e departamentos, é quem devemos tomar em nossas mãos as soluções dos nossos problemas.
A preparação de uma campanha salarial deve começar assim que termina a anterior. Para chegarmos com alguma força na greve de 2013 e passar por cima dos problemas que enfrentamos este ano, temos que começar desde já a debater e nos organizar. Por isso nos organizamos como Coletivo Bancários de Base e chamamos todos os demais bancários a debater conosco formas de nos organizar para as lutas futuras. O texto abaixo traz uma contribuição para o debate sobre o balanço da greve 2012 e também um conjunto de propostas para os próximos passos.

1. Prólogo
Continua no mundo todo um levante dos povos e da classe trabalhadora em particular contra a tentativa dos ricos e dos bancos em especial de custear seus lucros com a miséria da grande maioria da população. Os bancos continuam tendo lucros estratosféricos e obscenos, ao mesmo tempo que impõem aos trabalhadores e ao povo pobre a precariedade nas condições de vida e trabalho. O controle do mercado financeiro e dos bancos sobre a economia e a vida das sociedades está colocando o mundo inteiro a passos largos em direção à barbárie, sendo responsáveis até pelo ressurgimento das cinzas do movimento anarquista (na figura do movimento Ocupar Wall Street, dirigido contra os bancos).
Na nossa condição de trabalhadores bancários, que lutam contra uma das forças mais poderosas do capitalismo mundial, temos também como obstáculo as direções sindicais. O nosso índice de reposição salarial foi rebaixado e a prioridade das reivindicações apresentadas pelas centrais sindicais foi invertida, colocando as questões específicas acima das questões gerais que unificam toda a categoria, como isonomia, plano de reposição de perdas e fim das terceirizações. Com isso, as direções tornaram-se mais um obstáculo na mobilização dos bancários e facilitam a vida do patrão, pois fatiam e dividem os trabalhadores.

2. O mesmo roteiro dos anos anteriores
A greve terminou como todos já desconfiavam. O horário da assembleia foi mudado para a noite, os bancos convocaram e informaram os fura-greves já no dia anterior, o site e os telefones do sindicato ficaram fora do ar (acidentalmente?), prejudicando a convocação dos grevistas. Houve uma clara maquinação contra os lutadores em greve, deixando-os em situação de desvantagem na convocatória para uma assembleia de tamanha importância. Não houve denúncia das centrais sindicais sobre isso, apenas um tímido chamado da CONLUTAS pedindo gentilmente que os gerentes não votassem. A névoa de mistério que ainda envolve as cláusulas acordadas (o que foi conquistado) e sua aparente complexidade (tem efeito cascata no PCS?, incide sobre quais verbas? ...) é uma pista das migalhas que conquistamos e uma distração para esconder o que poderíamos ter conquistado.
3. Falta de democracia no movimento
Houve um acordo da diretoria do sindicato, que é da CUT, com as demais centrais sindicais para o uso da palavra nas assembleias, restringindo a fala da base e de bancários não organizados em torno de uma delas. A própria mesa composta pela CUT anunciou em público que foi feito acordo para que no microfone só falassem as 4 centrais (CUT, CONLUTAS, INTERSINDICAL e CTB), acordo que vigorou em todas as assembléias. Havia propostas diferentes das que foram colocadas por essas centrais sindicais, tanto no sentido de outra condução das assembléias e das formas de lutas, como diferenciação na busca de unificação com as categorias em greve, enfim, como envolver a categoria na luta real. Mas essas propostas não puderam ser colocadas em discussão por conta desse método antidemocrático.
Outras categorias, como os correios, também vivem a mesma problemática que os bancários em termos de limitações impostas pelas direções do movimento. Assim como em bancários, as direções sindicais ou estão com o governo (patrão) ou fragmentadas, com as oposições disputando entre si a melhor maneira de fazer crescer seu sindicato, sua central ou seu partido. Por conta dessa situação comum, seria importante que conseguíssemos a unidade com as outras categorias que estavam em greve na mesma época que nós. A busca da unificação e democracia são métodos que não podem ser flexibilizados, pois como estamos comprovando a cada campanha salarial, a falta de democracia resulta em desconfiança e enfraquecimento de nossa luta. Chamamos as forças de oposição a romper com esse acordo e a lutar por ampla e irrestrita democracia.

4. Necessidade da reconstrução de nossa luta
Estamos assistindo no mundo e também no Brasil ao ressurgimento das boas e velhas formas de luta dos trabalhadores, com participação massiva e ativa nas ruas. São greves, passeatas, manifestações, ocupações, protestos das mais variadas formas. Ou seja, os trabalhadores estão em movimento. Essas formas de luta se deram no Brasil nos anos 1980, quando da retomada do sindicato dos bancários das mãos dos pelegos. Reafirmamos essas históricas formas de lutas e reivindicação dos trabalhadores como método para reconquistar sua confiança, que tem sido abalada pela política rebaixada e pelos acordos de cúpula das centrais sindicais. Precisamos voltar a ter campanhas salariais massivas e fortes, acrescidas das poderosas e inovadoras conquistas tecnológicas. Não podemos sucumbir à tentação de substituir uma forma de luta pela outra, ou de inverter a importância da greve e da mobilização como forma de luta prioritária, em favor de outros métodos. Um diretor do sindicato do sindicato já anunciou no microfone da assembléia que a categoria precisa rever a greve como forma de luta. Entendemos que é preciso “rever” sim a greve, mas rever a forma como as greves tem sido feitas, rever no sentido de debater e questionar para fortalecer o movimento, para que as greves afetem de fato o lucro dos bancos e nos possibilite conquistas, e para isso, será preciso passar por cima dessa diretoria!

5. Quem trabalha em banco, bancário é
Uma das prinipais formas usadas pelos patrões em geral e pelos bancos em particular para dividir os trabalhadores é a terceirização, que cria duas categorias de trabalhadores dentro da mesma empresa e fazendo o mesmo serviço com salários e direitos diferentes. A terceirização e a divisão da categoria são obstáculos para a organização das nossas lutas, por isso devemos retomar a antiga bandeira de luta de que “quem trabalha em banco, bancário é”.
Somos favoráveis a que seja dado um fim às terceirizações, pois representam um ataque aos trabalhadores, que têm seus direitos subtraídos e uma perda cada vez mais acentuada da unidade e amplitude da nossa luta. A terceirização é uma versão urbana do trabalho escravo que tem aumentado na zona rural. Nos bancos, em todas as áreas, o serviço é "tocado" pelos terceirizados, as vezes de forma precária, as vezes com maior produtividade.
O TCU deu prazo até 30 de novembro para que as estatais apresentem plano de substituição de funcionários terceirizados que exerçam atividades-fim por trabalhadores concursados, com o objetivo de evitar burlas a concursos públicos. Nesse plano, deverão constar quais são as atividades consideradas finalísticas, assim como plano de previsão da saída gradual de terceirizados e a contratação de concursados até 2016, quando expira o prazo de implementação do plano. Chamamos a todos para que façamos uma discussão com ampla democracia e apresentemos um plano para os bancos e o TCU que não seja apenas para as atividades fim da empresa, mas que acabe de vez com esse câncer no mundo do trabalho que propicia aberrações como a que vivemos, com funcionários que fazem a mesma tarefa e tem salários e direitos diferentes. Isonomia já!

6. A luta continua
Conforme dissemos no início, precisamos nos organizar não apenas nas vésperas ou durante as campanhas salariais, mas ao longo de todo o período entre uma greve e outra, no dia a dia de cada local, para que possamos ter uma greve mais forte no ano que vem. O Coletivo Bancários de Base apresenta a seguir algumas propostas de organização para o movimento com o objetivo de fortalecer nossa luta.
a) Reuniões periódicas por banco ou por região (a princípio propomos quinzenais), para discutir os problemas de cada segmento da categoria e levantar propostas de mobilização e de luta.
b) A partir do que é discutido nas reuniões, editar um jornal a ser escrito, financiado e distribuído pelo próprio grupo, contendo as propostas de mobilização e de luta.
c) Publicar num blog textos, notícias e informações de interesse dos trabalhadores bancários.
d) Manter uma lista de discussão via e-mail para agilizar a troca de idéias e de informações entre os trabalhadores.
e) As reuniões e a lista de e-mails seriam abertas a todos os trabalhadores bancários, desde que 1º) se coloquem como oposição à diretoria do sindicato, ao governo (patrão dos bancos públicos) e aos banqueiros; e 2º) estejam dispostos a colaborar nas tarefas como a impressão e distribuição do jornal.
f) Realização de plenárias de todos os bancos e regiões (a princípio propomos trimestrais) para definir as linhas gerais do grupo.
g) Nas publicações impressas e virtuais do grupo devemos retomar a luta pelas reivindicações históricas da categoria como:
* Estabilidade para os trabalhadores dos bancos privados e eleição de delegados sindicais.
* Reposição das perdas salariais acumuladas nos bancos públicos e privados.
* Isonomia entre funcionários novos e antigos e também dos bancos incorporados, preservando-se o que for mais vantajoso para os trabalhadores.
* Planos de cargos e salários que valorizem os funcionários e com critérios objetivos.
* Contra o sucateamento das nossas caixas de assistência
* Resgate dos fundos de pensão
* Contra a terceirização, pela incorporação dos trabalhadores ao quadro dos bancos.
h) Campanha permanente, constando em todas as publicações e agitação em todas as intervenções no movimento, pela democracia nos organismos dos trabalhadores, em especial os sindicatos, por meio de medidas como:
* Resgate das assembléias e fóruns de base como organismos supremos de deliberação dos trabalhadores, contra a usurpação de todas as decisões pelas cúpulas dirigentes.
* Proporcionalidade direta nas eleições para todos os fóruns, como diretoria do sindicato, comando de campanha, comissões de negociação, etc.
* Composição de chapas através de convenções abertas e prévias eleitorais para escolha das candidaturas, por bancos e por região.
* Revogabilidade dos mandatos por meio de decisão em assembléia.
* Limitação do número de mandatos, com proibição de mais de dois mandatos consecutivos e obrigatoriedade da renovação de pelo menos metade da diretoria.
* Reuniões periódicas de delegados sindicais e representantes de base com caráter deliberativo.
* Eleição da mesa dirigente das assembléias, plenárias, congressos ou qualquer fórum no momento de sua instalação, com proporcionalidade, bem como votação da pauta.
* Repúdio à contratação de seguranças para impedir a livre manifestação dos trabalhadores nas assembléias, plenárias, congressos ou qualquer fórum do movimento.
* Garantia do direito à palavra para qualquer trabalhador, independentemente da sua filiação ou não a correntes políticas e sindicais, em assembléias, plenárias, congressos ou qualquer fórum do movimento.
* Garantia de espaço nas publicações dos sindicatos e entidades para manifestação dos trabalhadores de base, independentemente da sua filiação ou não a correntes políticas e sindicais.
i) Defendemos a unidade de ação com todos os coletivos de oposição que estejam dispostos a lutar pelas mesmas reivindicações e pelos mesmos métodos democráticos que expusemos acima.
j) O Coletivo Bancários de Base não participa de nenhuma central sindical, mas é oposição à CUT e seus satélites (Intersindical, CTB, etc.), por entender que a política dessas centrais é um obstáculo para as lutas da categoria.
k) Participamos da Frente Nacional de Oposição Bancária (que também não é vinculada a nenhuma central), na tentativa de construir a unidade com outros coletivos de outros estados que defendem as mesmas bandeiras e métodos de luta.

Bancários de Base – SP
Outubro de 2012

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