sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Eleições sindicais 2011: porque é preciso mudar



Texto dos integrantes do Bancários de Base que estiveram na chapa de oposição para a eleição do sindicato em 2011


Entre maio e junho de 2011 teremos eleições para a diretoria do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. O processo se iniciou com a assembléia de 30 de abril, que elegeu a comissão eleitoral, responsável pela organização do pleito, e que deve anunciar em breve o calendário para a inscrição de chapas, campanha e dias de votação.
O ponto de partida para a discussão dessas eleições é o balanço da atual diretoria. A Articulação Sindical (PT) está na diretoria desde 1979 (na época essa corrente ainda não tinha o nome de Articulação), quando um amplo processo de luta da classe trabalhadora retirou os principais sindicatos do país, inclusive o dos bancários, do controle dos pelegos indicados pela ditadura e elegeu direções combativas, formando a base para a criação da CUT em 1983.
Ao longo dessas três décadas esse grupo político, antes combativo, se converteu numa burocracia com interesses próprios, desligados, e mesmo opostos, aos dos trabalhadores. Acompanhando a degeneração do PT, que deixou de ser um partido classista e passou a aplicar nos governos uma série de políticas de interesse da burguesia, a Articulação sindical colocou em prática o chamado "sindicalismo cidadão", ou seja, substituiu a luta pela colaboração com a patronal.
O PT, a CUT e as entidades sob seu controle incorporaram a ideologia burguesa de que não há alternativa possível ao capitalismo. O próprio partido passou a viver de mandatos no executivo e no parlamento, cargos nas diretorias das estatais, fundos de pensão, aparatos sindicais, etc. Mais do que apoiar este ou aquele governo de plantão, a CUT se incorporou organicamente ao Estado burguês e à defesa de políticas de interesse da burguesia, reproduzindo o discurso de que "o que é bom para o capital é bom para o Brasil". Em nome do crescimento, são assinados acordos lesivos aos trabalhadores, que admitem demissões, rebaixam salários, retiram direitos e degradam as condições de trabalho.
Nas campanhas salariais de bancários, a Articulação abandonou a luta pela estabilidade no emprego para os trabalhadores de bancos privados, a luta contra as metas e o assédio moral que afetam toda a categoria, a reposição das perdas acumuladas nos bancos públicos, além de uma série de reivindicações específicas, empurradas para as mesas de negociação (enrolação) permanente.
As campanhas são conduzidas sem que haja participação real dos bancários. As reuniões nos locais de trabalho, plenárias por banco e por região, reuniões de delegados sindicais e representantes dos locais de trabalho, assembléias preparatórias, foram substituídas por uma pesquisa via internet (sobre cujo resultado não se tem o menor controle), como método para definição das pautas. Não há uma preparação real para a campanha salarial, com formas de mobilização que preparem para a greve, como operação padrão, "venda zero", paralisações de 24 horas, que levem a um acúmulo de forças para a greve.
A greve surge então sem organização real na base, sem força para dobrar a patronal. Os clientes são barrados na frente das agências, mas os bancários continuam lá dentro fazendo negócios. O lucro dos bancos não é afetado e a patronal não se vê obrigada a fazer concessões.
As assembléias, quando acontecem, são ultra-burocráticas, pois apenas a diretoria do sindicato fala, e quando se abrem falas, não se permite fazer propostas, e quando se vai votar propostas, não se permite a defesa daquelas opostas à diretoria, e quando uma proposta da oposição vence, não é encaminhada pela diretoria, etc.
Para aprovar um acordo rebaixado, o sindicato realiza assembléias à noite, fora do horário de trabalho, com a presença maciça de gerentes e fura-greves. E ainda por cima, o item principal do acordo deixou de ser o reajuste do salário (conquista permanente, que não pode ser rebaixado e incide sobre todas as verbas) e passou a ser a PLR, que faz com que o trabalhador acredite que seu ganho depende do desempenho do banco, legitimando a cobrança por metas e a superexploração.
Tudo isso faz com que ano a ano os bancários desacreditem no sindicato e não se engajem na greve. Pode até haver boa adesão numérica, com um grande número de bancários que não vão trabalhar, em algum ano ou outro, mas não há participação real, não há presença maciça nas assembléias e piquetes. Anos de seguidas traições estão esvaziando a entidade sindical e deixando a burocracia cada vez mais livre para manobrar como quiser.
Por todos esses motivos, tornou-se urgente uma mudança nos rumos do nosso sindicato, que resgate a nossa entidade novamente para a luta, tanto nas campanhas salariais como na resistência cotidiana nos locais de trabalho. Essa mudança terá que ser mais profunda do que uma simples troca da diretoria, pois precisará reformular o próprio funcionamento da entidade, seu relacionamento com a base, a organização nos locais de trabalho, etc.
Na verdade, não é possível pensar na constituição de uma chapa capaz de derrotar a atual diretoria sem realizar esse trabalho prévio de organização nos locais de trabalho, fortalecimento da participação e dos espaços democráticos. O sindicato não é a sua diretoria, é o conjunto da categoria. Ganhando ou perdendo as eleições, devemos continuar nos organizando e discutindo formas de enfrentar os ataques dos banqueiros e do governo.
Nós do coletivo Bancários de Base estamos abertos a discutir o processo de constituição de uma chapa de oposição, que para nós deveria ter como método uma série de reuniões abertas a todos os trabalhadores que queiram mudar os rumos da entidade, que discutam os pontos de um programa para reconduzir o sindicato para a luta.
Mais do que isso, passada a campanha eleitoral, estando ou não na chapa, ganhando ou perdendo a eleição, estamos dispostos a seguir batalhando pelo programa de mudança nos rumos do nosso sindicato, pelo resgate da nossa entidade para a luta nas campanhas salariais e na resistência cotidiana, pela reformulação do funcionamento da entidade, pela participação da base e organização nos locais de trabalho, etc. Propomos para isso os seguintes pontos:
- Resgate das assembléias e fóruns de base como organismos supremos de deliberação dos trabalhadores, contra a usurpação de todas as decisões pelas cúpulas dirigentes.
- Proporcionalidade direta nas eleições para todos os fóruns, como diretoria do sindicato, comando de campanha, comissões de negociação, etc.
- Composição de chapas através de convenções abertas e prévias eleitorais para escolha das candidaturas, por bancos e por região.
- Revogabilidade dos mandatos por meio de decisão em assembléia.
- Limitação do número de mandatos, com proibição de mais de dois mandatos consecutivos e obrigatoriedade da renovação de pelo menos metade da diretoria.
- Fim dos privilégios para dirigentes sindicais, que devem receber o mesmo salário de antes da liberação, sem jetons, ajuda de custos, etc.
- Escolha dos dirigentes liberados em assembléia, com controle das tarefas e horários.
- Auditoria nas contas da Bancoop, Bangraf, Bancredi e outros “empreendimentos” do sindicato.
- Transparência na gestão financeira e restação de contas regular das finanças da entidade
- Decisões sobre contratações e despesas extraordinárias em assembléias.
- Reuniões periódicas de delegados sindicais e representantes de base com caráter deliberativo.
- Eleição da mesa dirigente das assembléias, plenárias, congressos ou qualquer fórum no momento de sua instalação, com proporcionalidade, bem como votação da pauta.
- Repúdio à contratação de seguranças para impedir a livre manifestação dos trabalhadores nas assembléias, plenárias, congressos ou qualquer fórum do movimento.
- Garantia do direito à palavra para qualquer trabalhador, independentemente da sua filiação ou não a correntes políticas e sindicais, em assembléias, plenárias, congressos ou qualquer fórum do movimento.
- Garantia de espaço nas publicações dos sindicatos e entidades para manifestação dos trabalhadores de base, independentemente da sua filiação ou não a correntes políticas e sindicais.
- Suspensão dos pagamentos à CUT e plebiscito sobre desfiliação da central.

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