No primeiro semestre de 2010, o lucro dos maiores bancos do país subiu em média 54,4% em relação a 2009. Entra governo, sai governo, com crise ou sem crise, os lucros dos bancos aumentam 30, 40, 50% todos os anos. Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, alcançam lucros de 8, 9, 10 bilhões de reais a cada ano, e sempre aumentando. Os bancos brasileiros estão entre as empresas mais lucrativas do mundo. Um verdadeiro “negócio da China”.
Esses lucros gigantescos são conseguidos por meio da especulação com títulos da dívida pública, por meio da extorsão dos clientes, dos juros elevados em cheque especial e cartões de crédito, das tarifas abusivas cobradas pelos serviços, e da venda de produtos bancários (capitalização, previdência, seguros, consórcios, etc.), muitas vezes “empurrados” sobre os clientes na forma de venda casada, como condição para conceder empréstimos, que também aumentam ano a ano.
Outra fonte do lucro dos bancos é a exploração dos trabalhadores bancários. Em todas as agências e departamentos existe sobrecarga de serviço, com dois ou três bancários fazendo o serviço que deveria ser de quatro ou cinco. As filas para o atendimento são enormes, as reclamações e até agressões do público são constantes, mas os gestores só estão preocupados com o atingimento das metas de vendas, pois disso dependem os bônus milionários que eles e as diretorias dos bancos recebem. O assédio moral, as agressões verbais e ameaças de perda de cargos e até de demissão se transformaram em ferramentas cotidianas de gestão. O adoecimento físico e psicológico atinge grande parte da categoria bancária.
Por todos esses motivos, os trabalhadores bancários estão entrando em greve! Só a luta muda a vida!
Mas nossa luta não é apenas contra os banqueiros. Lutamos também contra o governo federal, que é patrão dos bancos públicos. Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal são geridos hoje tal e qual empresas privadas, unicamente preocupadas com o lucro a qualquer custo, praticando as mesmas formas de tratamento dos clientes e dos trabalhadores bancários que vimos acima, sem qualquer diferença.
E lutamos também contra a direção dos nossos próprios sindicatos! Os dirigentes sindicais da CUT, que comandam as entidades que representam os bancários, estiveram o ano inteiro mais preocupados com a eleição dos candidatos do PT do que com a organização da nossa campanha salarial. Os bancários tem um contrato nacional de trabalho (convenção coletiva) que vence em 1º de setembro, mas a greve só foi deflagrada em 28/09.
Tudo para que a CUT pudesse fazer campanha eleitoral, com recursos materiais e humanos que deveriam estar a serviços dos trabalhadores. E para eleger candidatos que, ao chegar ao governo, como vimos acima, tratam os trabalhadores e os bancos públicos como qualquer patrão de empresa privada.
Como se não bastasse a usurpação de nossa campanha salarial por interesses eleitorais, no curso da própria campanha os bancários têm poucas oportunidades de se manifestar. Não houve e continua não havendo espaços democráticos para que os bancários possam apresentar suas idéias e decidir como deve ser conduzida a campanha. Os dirigentes sindicais da CUT controlam os sindicatos com mão de ferro, como se fossem os seus donos. A maior base de bancários do país, com cerca de 120 mil trabalhadores (dos quais 80% trabalham em bancos privados), está em São Paulo, cujo sindicato dá a linha política para todos os demais no país (com algumas exceções, pois há sindicatos combativos não ligados à CUT em alguns Estados).
Em São Paulo, onde deveria haver um forte enfrentamento aos banqueiros, não há trabalho de organização que permita, especialmente aos trabalhadores de bancos privados, fazer uma greve com grande adesão. E nos bancos públicos, que aderem muito mais à greve, não houve ao longo do ano reuniões nos locais de trabalho, reuniões por região ou por banco, plenárias, assembléias no período de preparação da campanha. Tudo para impedir que os trabalhadores de bancos públicos se organizem e se enfrentem mais diretamente com o governo federal. O resultado é que os trabalhadores aderem à greve, às vezes até em bom número, mas não comparecem às atividades de greve, não vão aos piquetes, comandos e assembléias, pois não se sentem representados.
E durante a própria greve continua não havendo democracia. Nas assembléias, a diretoria do sindicato fala durante horas e os bancários comparecem apenas para levantar o crachá, como se fossem apenas figurantes. Não são abertas inscrições para que os bancários possam falar. Quando há falas, são distribuídas aos dirigentes das correntes sindicais e partidos políticos. Quando os bancários de base falam, as propostas não são colocadas em votação. E a experiência dos últimos anos nos mostra que, quando as propostas vindas da oposição ganham uma votação, os dirigentes sindicais não encaminham o que foi votado.
Nós do coletivo Bancários de Base, que não é controlado por nenhum partido político, que é composto por trabalhadores militantes de diversas linhas de pensamento, que reúne trabalhadores bancários que estão no dia a dia das agências e departamentos, que suportam cotidianamente a pressão dos clientes e dos gestores, estamos na luta para que os bancários sejam os verdadeiros protagonistas das campanhas salariais. Lutamos para que os bancários possam falar nas assembléias, para que suas propostas sejam colocadas em votação, para que o que foi votado seja encaminhado, para que os trabalhadores possam ter o controle sobre a sua campanha.
Lutamos para que as assembléias sejam unificadas até o fim, para que os trabalhadores de todos os bancos em conjunto possam decidir sobre o índice de reajuste e os pontos comuns da convenção coletiva, e para que as questões específicas sejam decididas em assembléias específicas de cada banco.
Lutamos para que as assembléias sejam no horário dos grevistas, às 4 da tarde, enquanto durar a greve, já que nos últimos anos, quando querem acabar com a greve, a CUT convoca assembléias para as 7 da noite, em acordo com os bancos, de modo que gerentes e fura-greves possam comparecer em massa para votar contra a greve.
Lutamos para que a base de São Paulo possa eleger representantes para a mesa de negociação, para que não fique tudo entre quatro paredes entre os dirigentes da CUT, o governo e os banqueiros.
Lutamos para que os bancários de base possam falar nas assembléias, para que posssam fazer propostas de como conduzir a greve, para que as propostas sejam colocadas em votação. Não podemos votar apenas “greve” ou “não greve”, mas qual a greve que precisamos!
Lutamos para que haja comandos de greve fixos nas regiões, para que os próprios grevistas possam decidir onde fazer os piquetes e como fortalecer a paralisação.
Lutamos por:
- Isonomia entre funcionários antigos e novos nos bancos públicos!
- Estabilidade no emprego para os trabalhadores de bancos privados!
- Fim das metas e do assédio moral!
- Por um plano de reposição de perdas!
- Piso do DIEESE para toda a categoria!
- Plano de carreira e plano de cargos e salários!
- Fim das terceirizações e dos correspondentes bancários!
- Mais contratações e mais trabalhadores nos bancos!
Como trabalhadores do sistema financeiro, lutamos sim para que os bancos tenham outra função na sociedade, diferente do papel predatório que têm hoje. E para isso, é fundamental que os trabalhadores bancários recuperem sua saúde, sua auto-estima, sua condição de protagonistas, e sejam donos do próprio destino!
Todo apoio à greve dos bancários!
Coletivo Bancários de Base
São Paulo, outubro de 2010
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