sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O exemplo do MOMSP


Texto de novembro de 2011

 
O EXEMPLO DO MOVIMENTO DE OPOSIÇÃO METALÚRGICA DE SÃO PAULO – MOMSP

Um dos casos exemplares de organização na historia do movimento sindical brasileiro foi o Movimento de Oposição Metalúrgica de São Paulo – MOMSP, que durante décadas organizou militantes e ativistas na mais importante base operária do pais. A categoria dos metalúrgicos chegou a ter 400 mil trabalhadores na base do município de São Paulo. Os dirigentes sindicais ligados ao PCB foram cassados pela ditadura em 1964 e em seu lugar foram instalados os chamados pelegos, dirigentes dedicados à colaboração de classe, dos quais o maior símbolo foi o lendário Joaquinzão, presidente do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo.
Contra os pelegos o MOMSP disputou eleições para o sindicato dos metalúrgicos de São Paulo em 1969 e 1972, no auge da ditadura. Em 1978, 1981 e 1984, em pleno processo de luta pela democracia formal e com grande ascenso de lutas operárias e lutas sociais em geral, as chapas do MOMSP venceram a eleição entre os trabalhadores nas fábricas, mas foram impedidas de tomar posse por intervenção direta do Ministério do Trabalho e por fraudes com os votos dos aposentados. O MOMSP disputou ainda eleições em 1987, dividido em duas chapas, e em 1990 e 1993, já no refluxo, já contra a Força Sindical, enfrentando o neoliberalismo e a reestruturação produtiva.
Mesmo nunca tendo chegado à direção do sindicato, o MOMSP funcionou na prática como a verdadeira organização e representação dos trabalhadores. O movimento estava no dia a dia das fábricas, através das CIPAs, lutando por melhores condições de trabalho. Seus militantes organizavam os piquetes e conduziam as greves, independentemente do sindicato pelego. Em 1979 o MOMSP negociou o acordo que encerrou a campanha em lugar da diretoria, tamanha a sua representatividade.
A inspiração do MOMSP estava nos militantes do anarcossindicalismo do início do século XX, com suas práticas de organização independentes do Estado, dos partidos, da Igreja, etc. Sua principal ferramenta de construção era o trabalho de base, em que se sobressai o exemplo pioneiro da comissão de fábrica da Cobrasma de Osasco na década de 1960, modelo de organização no local de trabalho que o movimento tratou de multiplicar.
Além da combatividade, independência e do trabalho de base, o MOMSP serve ainda como exemplo por duas outras importantes qualidades. Primeiro, a quantidade colossal de publicações, entre panfletos, boletins por região ou por fábrica, "mosquitinhos" de greve, cadernos de formação, cordéis e até livros. O movimento realizava atividades de formação e cursos para trabalhadores e ativistas, com a participação de importantes intelectuais, o que demonstra a preocupação em ir além das lutas por melhorias econômicas.
O segundo aspecto pelo qual se notabilizava o MOMSP era o seu funcionamento interno democrático. O MOMSP não era aparelhado por nenhum partido ou organização. Militantes de qualquer agrupamento apresentavam suas propostas, que tinham que se submeter ao voto da maioria. Nesse ambiente conviviam militantes de praticamente todas as correntes da esquerda brasileira, do PT, do PCB, da pastoral operária, dos grupos que vinham da luta armada, correntes trotskistas, etc., caso raramente visto na história.
A história do MOMSP, seus documentos e publicações estão disponíveis na internet (ver: http://www.iiep.org.br/index1.html) para estudo das novas gerações e preservados na memória dos lutadores que construíram esse raro fenômeno de unidade e respeito aos trabalhadores de base.

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