No primeiro semestre de 2010, o lucro dos maiores bancos do país subiu em média 54,4% em relação a 2009. Enquanto os lucros dos bancos aumentam 30, 40, 50% ao ano, nossos salários são reajustados em torno de 5, 6, 7%, conforme a inflação oficial. O movimento sindical “oficial” colabora para essa situação, quando começa as campanhas salariais com reivindicações ultra-rebaixadas (este ano, a Contraf-CUT está reivindicando 11%). Para contentar os trabalhadores, os bancos e seus colaboradores nos sindicatos substituem o reajuste de salário por Participação nos Lucros e Resultados (PLR). A PLR tem o efeito imediato de aliviar as dívidas dos trabalhadores com cheque especial, cartão de crédito ou CDC, deixando todos contentes. Quem pode ser contra a PLR?
Também não somos contra a PLR, e mais, achamos que ela deve ser linear, ou seja, paga em parcelas iguais para todos, desde a diretoria até os escriturários. Mas a PLR não pode substituir o reajuste salarial. A negociação da PLR tem que ser desvinculada da campanha salarial, por dois motivos.
Primeiro, quando a campanha salarial gira em torno da expectativa de uma boa PLR, o reajuste do salário, que é o principal, fica em segundo plano. O reajuste salarial incide sobre todas as verbas, ou seja, aposentadoria, FGTS, 13º, férias, vale-alimentação, benefícios, etc. É uma conquista permanente, já que o salário não pode ser legalmente rebaixado. Mas tudo isso é esquecido quando se muda o foco da campanha salarial para o acordo de PLR, visando resolver uma situação imediata de endividamento (que aliás vai retornar no ano seguinte se não houver um reajuste decente).
Segundo, a campanha por PLR tem um resultado ideológico perigosíssimo para o trabalhador, pois legitima o raciocínio de que o bancário tem que trabalhar muito, para aumentar o lucro do banco, para receber uma PLR maior, e assim sucessivamente. O bancário entra na armadilha da auto-exploração, aceitando a cobrança por metas, incorporando para si a exigência do banco de trabalhar mais, vender mais, sacrificar a própria saúde, em nome de um lucro maior.
Para escapar dessa armadilha, devemos lutar para:
- Colocar os sindicatos a serviço das necessidades dos trabalhadores, retirando-os do controle dos colaboradores dos bancos;
- Organizar uma forte campanha salarial, com muita democracia e participação dos bancários de base nas assembléias, nas decisões e nas negociações;
- Desvincular a campanha salarial do acordo sobre PLR;
- Retomar a luta pela reposição das perdas salariais;
- Somente assinar um acordo quando forem encaminhadas as questões específicas de cada banco.
Para concluir, é preciso lembrar que lutar por um reajuste salarial maior não significa ser conivente com as demais formas pelas quais os bancos aumentam seu lucro. Entra governo, sai governo, com ou sem inflação, e os bancos brasileiros continuam sendo as empresas que mais lucram no país, por meio da especulação com títulos públicos, dos juros abusivos, das tarifas escorchantes cobradas dos clientes e de práticas como venda casada de “produtos” bancários; além da exploração dos trabalhadores bancários.
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