Panfleto para reunião dos delegados sindicais da CEF - 2011
MAIS UMA CAMPANHA SALARIAL FRUSTRADA
A campanha Salarial 2011 terminou com desânimo. Desde o início da campanha até o final da greve o controle férreo da Articulação/PT e seus satélites, coibiu uma real participação e mudança nos rumos da campanha. “Preparação” em eventos superestruturais, viciados, sem a participação da base. As Conferências burocratizadas, diretores afastados há anos dos locais de trabalho, não submetem pauta (rebaixada) a assembléias, sem calendário de luta , comando de negociação sem representantes de base. Deflagração da greve sem real mobilização, sem envolvimento e reuniões, plenárias, assembléias, atos.
Não há pré-organização, nem piquetes por região e comandos diários . A greve segue virtual nos privados. Faixa do sindicato nas agências e bancários trabalhando no interior. Diretores negociam com gerentes quem receberá a “faixada”, quando e quantos ficarão e, também, quais irão pra outra agência. Plataformas a pleno vapor. Disponibilizados links para pelegar em casa. Agências (BB /CEF) em que os gerentes “liberam” caixas e escriturários fecham para os baixa renda, atendem os de alta, batendo metas.
A greve não afeta os lucros. É “lock-out” contra a população. Não paralisa negócios, internet, caixas eletrônicos, compensação, correspondentes bancários, etc. Segue tendo bom número de paralisados (nos públicos), pois as condições de trabalho são cada vez piores, e qualquer pretexto serve pra fugir. Acaba sendo uma espécie de folga ou “férias coletivas”.
Não há empatia com diretores. Os grevistas participam pouco dos piquetes, assembleias e atividades de greve. Vêem pouco sentido. NÃO EXISTE RELAÇÃO DE CONFIANÇA ENTRE A ENTIDADE E OS BANCARI@S. Os trabalhadores além dos banqueiros, o governo, o judiciário, a repressão, a mídia, têm que enfrentar a direção do sindicato. Limitam-se falas, difícil propor. Se a proposta das oposições ganham não se reconhece o resultado. Na assembleia do dia 5.10, depois de muita luta, os bancários da base apresentaram propostas, defendidas pelas oposições e ganharam. Foram aprovados encaminhamentos organizativos para fortalecer a greve: assembleias diárias unificadas no horário das 16:00 para barrar os fura-greves, nenhum acordo que tivesse desconto/compensação das horas, entre outros. A mesa não reconheceu o resultado e encerrou a assembleia de maneira autoritária, com provocações e tumulto contra os grevistas, conforme vídeo no youtube. Pesquise: 05.10.2011 – assembléia de bancários em São Paulo.
Início de um processo de auto-organização. Dezenas de ativistas reunidos depois que a mesa atropelava. No dia 5.10 foi tirado manifesto dos bancários independentes e grupos de oposição denunciando o crime da diretoria, e encaminhamentos p/ garantir o cumprimento do votado. Impedindo novas revertidas, a diretoria chama assembleia 12 dias depois em 17 de outubro às 18h, separando BB, CEF e privados, desobedecendo o que havia sido votado no dia 5. Isso trouxe furas-greve em massa aprovando proposta rebaixada e encerrando a greve, como sempre.
O comportamento da diretoria não é acidente, engano ou omissão. É linha de atuação pra perpetuar o cupulismo, a conciliação de classes. Uma direção sindical não pode ser subordinada a partidos.
Este tipo de conduta tem sido denunciado/combatido pelo Coletivo Bancários de Base desde sempre. E não concordamos com oposição (Avesso-Intersindical e MNOB-Conlutas), ao falarem, é como se houvesse plena democracia. Na assembléia final, deveriam denunciar (coerência) o desrespeito às deliberações da assembleia de 5/10, conforme manifesto assinado. Por outro lado, @s companheir@s do Piquete da 7 (ag CEF e outras)) + independentes, também denunciaram o desrespeito à decisão de assembléia (05.10). Para real mudança, precisamos começar desde já a preparação de 2012. Com participação e organização a partir dos locais de trabalho, acontecendo o ano inteiro, não as vésperas. Não mais greve que não afete o patrão, eternize sindicatos dúbios e recompense furas-greve. Busquemos juntos alternativas com auto-organização e ação direta.
NEOPELEGUISMO E O SINDICATO ORGÂNICO
Este, no nosso entendimento, é um momento propício pra reabrirmos de forma mais ampla o debate que se encontra por trás do tema proposto. Momento onde a submissão descarada de “dirigentes sindicais” e as seguidas derrotas dos trabalhadores, se evidenciam, em particular para os bancári@s e trabalhador@s dos correios. Em ambas as campanhas, a vitória era mais do que possível em função da disposição de luta de parte importante dos grevistas. Porém, o resultado trouxe, em particular aos trabalhador@s mais participativos, a sensação de mais uma vez terem sidos traídos. Fica-nos a lição de que temos de continuar lutando sempre. No entanto temos a tarefa inadiável de transformar nossas entidades. A História deve ser nossa aliada pra buscarmos entender o porquê de tal situação e a superarmos.
A partir do início do primeiro governo FHC e o aprofundamento na implementação do projeto neoliberal no Brasil, lamentavelmente, a maioria dos setores que compunham os movimentos sociais foram se adaptando à ordem vigente. Com o sindicalismo não foi diferente. Já no momento imediatamente anterior o auto-denominado “campo majoritário” da CUT havia tomado resoluções de forma burocrática no sentido de vincular “organicamente” a central à CIOSL ( Confederação Internacional das Organizações Sindicais Livres ), criada na Guerra Fria pra fazer frente ideológica à esquerda, sob patrocínio da CIA e das corporações imperialistas, como linha auxiliar ao Capital Internacional e atuação junto às ditaduras, em particular da América Latina. Além desta proposta, que acabou vingando, tivemos um profundo processo de burocratização, perda de autonomia e funcionamento anti-democrático, desestruturação (na prática) das OLTs (Organização por Local de Trabalho). Como se não bastasse, este mesmo setor passou a defender e implantar ora enrustida, ora descaradamente, mudanças substanciais na relação capital-trabalho. Sempre de acordo com interesses partidários, de correntes e de grupos, além de projetos carreiristas pessoais em detrimento da nossa classe e da nossa luta. Assim vieram as câmaras setoriais na indústria (acordo tripartite governo, patrão e sindicatos onde só os trabalhadores foram de fato conseqüentes), políticas de conciliação de classes, (falsas) saídas institucionais ao invés de lutas, estruturas sindicais corporativas, carreirismo e profissionalização de dirigentes descompromissados. Para completar, problemas de corrupção, uso indevido das estruturas sindicais e sua completa instrumentalização, centrais sindicais “mães” e centrais satélites (subservientes e com tarefas específicas), não combate efetivo às terceirizações, flexibilização de direitos, remuneração variável, etc. E a “jóia da coroa”, a institucionalização do famigerado sindicato orgânico ou sindicato cupulista, que teria a função de “legitimar” toda a “trairagem”.
O sindicato orgânico seria uma versão tupiniquim do sindicalismo americano/europeu, que não só financiou a cúpula do chamado “novo sindicalismo” (que deu origem junto com outros setores à CUT), como também o instruiu ideologicamente com cursos, viagens, estágios, etc. Tal forma organizativa se caracteriza por uma estrutura altamente verticalizada, onde os sindicatos de base perdem autonomia e são subordinados aos comandos e direções confederativas chefiadas por pseudos semi-deuses encastelados burocrática e/ou criminosamente. Sindicatos viram departamentos desta cúpula “iluminada”. O sindicato orgânico nacional impõe aos sindicatos de base estatutos padronizados, câmaras bipartites ou tripartites, sem considerar quaisquer opiniões que partam da base. As decisões de assembléias são ignoradas, não possuem relevância e a função das OLTs é meramente “carregar piano” para as “grandes lideranças” manterem seu “status quo”. A imposição do sindicato orgânico vem sendo feita na prática pelos sindicatos da CUT, e agora o governo busca oficializá-lo de vez através das Reformas Sindical e Trabalhista. O processo está em curso. Com doses homeopáticas, mas em ritmo crescente, aos poucos vão avançando no projeto. O ritmo é lento, pois mesmo nos sindicatos de base da CUT os chamados bagrinhos corporativamente não querem perder seus privilégios e são obstáculos para o avanço mais rápido. Além é claro dos poucos que não se renderam a esta lógica. O assunto é estratégico para nós trabalhadores. Está na ordem do dia do governo, dos patrões e dos falsos defensores da classe que se autodenominam dirigentes sindicais sem o serem. Temos que nos organizar melhor e agirmos. Já estamos atrasados.
CONTINUEMOS ORGANIZADOS! Para termos alguma força nas campanhas salariais, é importante que sigamos discutindo e nos organizando o ano inteiro, não apenas em setembro. Se você concorda com essas idéias, ou deseja apresentar outras críticas e sugestões, entre em contato com o Coletivo Bancários de Base! Somos um grupo de trabalhadores que faz oposição à diretoria e não é controlado por nenhum partido. Nos reunimos quinzenalmente para discutir nosso dia a dia e pensar maneiras de lutar por melhorias. Escreva para bancariosdebase@yahoo.com.br. Sua participação é fundamental para que todos nós possamos avançar!
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