PRECISAMOS DE UMA GREVE DE VERDADE!
Nós do Coletivo Bancários de Base aproveitamos este momento de greve para trazer aos trabalhadores uma série de ideias que não temos podido apresentar em outros momentos. Graças à forma como o nosso sindicato é conduzido pela atual diretoria, praticamente não existem mais espaços de debate e de organização. Essa falta de espaços democráticos é apenas um entre os vários problemas na atual gestão e que afetam a categoria, que debateremos a seguir.
* A GREVE PRECISA DAR PREJUÍZO AOS BANCOS! Ao longo das últimas décadas os bancos implantaram uma série de avanços tecnológicos que lhes permitem realizar transações e manter a maior parte dos negócios funcionando mesmo sem a presença dos bancários: caixas eletrônicos, transações via internet ou celular, correspondentes bancários, etc. Os bancos se modernizaram, mas os bancários ainda não atualizaram as suas formas de luta. Para termos uma greve de verdade, precisamos não apenas de uma adesão maciça (que também não tem acontecido, pelos motivos que discutiremos abaixo), mas de outras formas de afetar o funcionamento e o lucro dos bancos, e também de chamar a atenção da sociedade para as nossas demandas. Passeatas, manifestações, mega-piquetes na sede dos bancos, seriam formas de luta, entre muitas outras que poderiam ser pensadas, se tivéssemos mais espaços de discussão e participação.
* É PRECISO RETOMAR A LUTA POR ESTABILIDADE E CONTRA AS DEMISSÕES! Um dos principais motivos para a baixa adesão à greve é o fato de que os trabalhadores dos bancos privados não se sentem seguros para ir à luta contra a empresa. Outras categorias, como metalúrgicos, químicos, condutores de ônibus, telemarketing, etc., que trabalham em empresas privadas, fazem greve porque contam com uma organização mínima, que mantém alguma combatividade em defesa dos interesses dos trabalhadores, que faz com que os grevistas não sejam demitidos nem sofram represálias. Esse trabalho de organização, preparação da greve e acompanhamento após a greve deixou de ser feito pelos sindicatos de bancários. Se os bancários dos bancos privados têm dificuldade de se somarem a campanha, isso é de responsabilidade da diretoria do sindicato, que não luta pela estabilidade no emprego e pelo reconhecimento de Delegados Sindicais neste setor. Para superar essa situação, os próprios trabalhadores dos bancos privados precisam se envolver na luta de forma coletiva, para evitar retaliações individuais. As maiores e mais importantes vitórias da categoria foram conquistadas com a união dos bancários do setor público e privado, como a conquista da jornada de 6 horas e os avanços da década de 80 (reposição de perdas salariais, expulsão dos pelegos ligados a ditadura militar, entre outros).
* COLOCAR EM PAUTA AS VERDADEIRAS REIVINDICAÇÕES! Outro motivo para a baixa adesão é o fato de que a maioria dos bancários que iam para a greve, que trabalham nos bancos públicos, deixaram de participar do movimento porque as suas verdadeiras reivindicações não são discutidas. Os bancos públicos têm imensas perdas salarias acumuladas (90% no BB e 100% na CEF decorrente de congelamento entre 1994 e 2003, nos privados, as perdas são de 23%), há segmentos diferentes de trabalhadores fazendo o mesmo serviço mas com remuneração e direitos diferentes, os planos de previdência estão sendo saqueados, os planos de saúde estão sendo sucateados, avança a terceirização na atividade fim em todo o sistema financeiro, etc., além de toda uma série de questões específicas no BB, CEF, BNB, BASA, bancos estaduais. Entretanto, nenhuma dessas reivindicações é levada pelos sindicatos para a discussão com o governo, patrão dos bancos públicos. Isso porque a maioria desses sindicatos é ligada à CUT, central sindical dirigida pelo PT, partido que está no governo. Logo, o PT está negociando com o PT, e com isso, os sindicatos estão mais preocupados em defender o governo do que em representar os trabalhadores.
* A FARSA DA MESA ÚNICA – O governo e os sindicatos alegam que as questões salariais e trabalhistas devem ser discutidas na mesa única de negociação da Fenaban, mas no momento de encerrar a greve, as assembleias são separadas. E pior, os gerentes que estão furando a greve são enviados em massa para votar a favor da proposta dos banqueiros (que nunca contempla as reais necessidades dos trabalhadores), com a indispensável colaboração dos próprios sindicatos, que marcam as assembleias à noite para que os gerentes possam comparecer.
* DEFESA DOS INTERESSES DA CATEGORIA NÃO APENAS NO DISCURSO – Também é necessário que os grupos organizados que fazem oposição à diretoria coloquem em prática a defesa dos interesses da categoria, que tanto dizem defender. Não adianta ter um discurso combativo, mas no final das contas, fazer acordos para que apenas os bancários organizados em "Centrais Sindicais" possam ter direito a voz nas assembleias. É necessário que todos os setores de oposição, junto com os demais bancários, caminhem unitariamente em defesa intransigente dos interesses da categoria, e para isso é preciso se enfrentar com os atuais "donos do sindicato".
* “GREVE DE PIJAMA”, “GREVE DE SACO CHEIO”. Mesmo com esse tipo de greve, em que não há organização para que os trabalhadores dos bancos privados participem ativamente da campanha, e não há motivação para os trabalhadores dos bancos públicos, porque suas reais reivindicações não são colocadas em discussão, ainda assim os trabalhadores do BB e da CEF têm aderido maciçamente à greve nos últimos anos. Mas fazem isso não porque acreditam no sindicato e no tipo de greve que está sendo feita, mas porque não suportam mais as condições de trabalho nas agências e departamentos. A greve é usada como uma espécie de folga, uma “greve de saco cheio”, ou “greve de pijama”, de quem se limita a não ir trabalhar. A prova disso é a baixa participação desses trabalhadores no movimento grevista: não comparecem aos piquetes, nem às assembleias, nem às atividades de greve em geral.
* CHEGA DA GREVE DE “FAIXADA”! Apesar de tudo isso, os sindicatos da CUT dizem que as greves são fortes e vitoriosas. Dizem que arrancamos “aumento real” acima da inflação, uma mentira cínica, pois além dos índices de inflação serem maquiados, as perdas salariais acumuladas são gigantescas como vimos acima no caso de BB e CEF, mas também nos bancos privados. E as greves são na verdade uma fachada, pois o sindicato coloca uma faixa na frente das agências dizendo “Estamos em Greve”, quando na verdade os trabalhadores estão lá dentro. A população em geral não é atendida, mas os clientes endinheirados sim, e também o telemarketing continua sendo feito, metas sendo batidas, etc. Há locais em que os gestores incentivam a greve de escriturários e caixas, para que a agência fique “fechada” e os comissionados cumpram as metas. Isso não é greve, é lockout! Chega da greve de fachada!
* PRECISAMOS MUDAR ESSE ROTEIRO! Com esse tipo de greve, jamas resolveremos os problemas que enfrentamos no dia a dia, jamais teremos a recomposição dos nossos salários e dos nossos direitos. É preciso mudar todo esse roteiro! Diante de todos esses problemas, só existe uma solução: a participação dos bancários. Se os sindicatos, associações e entidades não cumprem o seu papel, por causa dos interesses políticos dos seus dirigentes, devem ser cobrados por isso. Mas não podemos esperar que a solução caia do céu. Os problemas que vivenciamos nos nossos locais de trabalho (cobrança de metas, assédio moral, ameaça de demissão, excesso de serviço, reclamações dos clientes, stress, adoecimento, etc.) não são exclusivos deste ou daquele indivíduo, são problemas coletivos, que acontecem em todas as agências e departamentos, em todos os bancos, públicos e privados. Se os problemas são coletivos, a solução também deve ser coletiva! A solução é fazermos nós mesmos aquilo que nos diz respeito! Converse com seus colegas, reúna-se fora do local de trabalho, discuta e divulgue este panfleto, troque idéias.
* UNIFICAÇÃO DAS LUTAS: A situação vivida pelos bancários também é vivida em outras categorias. Recentemente os funcionários públicos federais enfrentaram o governo em defesa dos seus salários e condições de trabalho, e não avançaram mais porque não estiveram unificados. Devemos aprender com a luta desses trabalhadores. É necessária a unificação das categorias em luta (bancários, metalúrgicos, petroleiros e correios) para impor nossas reivindicações. E não basta uma unificação de fachada como os federais, onde as diversas categorias apenas estavam em greve na mesma data. Não se trata disso, é necessário unificação nas ações, na discussão e encaminhamento das lutas.
QUEM SOMOS: O coletivo Bancários de Base é formado por trabalhadores que estão no dia a dia das agências e departamentos, enfrentando a cobrança dos gerentes, o excesso de clientes e a sobrecarga de serviço. Nos reunimos periodicamente para discutir maneiras de mudar essa realidade. O sindicato e outras entidades não têm servido mais como espaço para nossa organização, por isso somos oposição à diretoria e discutimos entre nós tudo que nos diz respeito. Elaboramos nossos panfletos com nossos próprios recursos e divulgamos nossas idéias em nossa página na internet (www.bancariosdebasesp.blogspot.com.br.). Fale conosco! (bancariosdebase@yahoo.com.br).
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