Texto de abril de 2011
Os estudos de sociologia do trabalho dividem as formas de organização da produção em dois estilos, vigentes em diferentes períodos históricos.
No início do século XX surge o taylorismo-fordismo, que predominou na maior parte do século passado. Nessa forma de organização as tarefas eram divididas em seus mínimos movimentos e cada trabalhador se especializava em um único desses movimentos, tendo seu ritmo de trabalho rigorosamente controlado pelas máquinas e pela gerência. O exemplo clássico desse período é a cena do filme "Tempos Modernos" em que o personagem de Chaplin sai da fábrica em movimentos espasmódicos, como se ainda estivesse apertando parafusos.
A partir da década de 1970, generalizou-se o chamado toyotismo, em que as tarefas se tornam mais flexíveis, os trabalhadores ganham mais responsabilidade, mas a mão de obra é drasticamente reduzida. A expansão do toyotismo coincide, no campo da política, com o neoliberalismo, que se caracteriza por uma ofensiva da patronal e dos governos pela retirada de direitos dos trabalhadores. Coincide também com a mundialização do capital (cujos defensores chamam de globalização) e com uma revolução tecnológica em que se destacam a robótica, a informática, as telecomunicações e a internet.
Essas mudanças dão origem ao discurso do "fim do trabalho", "fim da lei do valor", substituição do trabalho material pelo “trabalho imaterial”, entre outras bobagens. Diz-se que a revolução tecnológica libertou o homem de trabalhos penosos e lhe deu a oportunidade de se dedicar a trabalhos intelectualmente estimulantes.
Na verdade, mesmo os trabalhadores empregados nos ramos que mobilizam as novas tecnologias estão sujeitos a intensa exploração. Neste início do século XXI, a mundialização neoliberal criou uma situação de desemprego estrutural, em que um número cada vez maior de trabalhadores, tanto materiais quanto imateriais, concorre por um número cada vez menor de vagas, que oferecem salários menores, menos direitos e exigem um trabalho mais intenso.
No livro "Infoproletários - a degradação real do trabalho virtual", coletânea de ensaios organizados por Ricardo Antunes e Ruy Braga, descreve-se a situação dos trabalhadores desses novos ramos. A maior parte do livro é dedicada aos trabalhadores de telemarketing ou "call centers", mas muitos dos conceitos ali tratados se aplicam também a nós bancários.
Vivemos hoje o que se pode chamar de "neotaylorismo informacional". Nesse sistema de organização, um setor numeroso de trabalhadores assalariados, tais como bancários, escriturários, atendentes, vendedores, teleoperadores, etc., emprega as novas tecnologias (informática e telecomunicações) em trabalhos automatizados, repetitivos, estressantes e pouco criativos.
As características desse neotaylorismo informacional, são:
- tendência para a remuneração variável, ou remuneração por produção, ou trabalho por comissão;
- alta rotatividade da mão de obra, com os trabalhadores permanecendo poucos anos em cada emprego, geralmente até concluir a faculdade;
- concentração do capital em grandes empresas que empregam milhares de trabalhadores;
- ausência de organização sindical, especialmente nos locais de trabalho;
- desrespeito sistemático aos direitos trabalhistas relativos à duração da jornada, trabalho em fins de semana, licenças médicas;
- “epidemia” de doenças funcionais, ou adoecimento em massa de trabalhadores por stress e LER-DORT;
- estímulo ao individualismo e à competitividade;
- isolamento entre os trabalhadores de cada equipe e cada local de trabalho, impedidos de se comunicar e criar laços coletivos;
- controle rigoroso do tempo, dos horários de chegada e saída, intervalos de almoço, pausa para banheiro, etc.;
- cobrança constante de metas;
- autoritarismo no local de trabalho, arbítrio da patronal e abusos constantes de poder;
- assédio moral como instrumento de gestão;
- ameaça constante de demissão e insegurança permanente no trabalho;
- monitoramento permanente e “on-line” dos trabalhadores por parte dos supervisores, que acompanham o tempo de atendimento, o “script” do diálogo com os clientes, a produtividade e as vendas, etc.;
- formas precárias de contratação, como terceirização, trabalho temporário, estágio, menores aprendizes;
- emprego de mão de obra de jovens, mulheres, negros, homossexuais, portadores de necessidades especiais, obesos, etc.;
Essas características são mais comuns em algumas categorias profissionais do que em outras. Mesmo assim, podemos dizer que configuram tendências que em maior ou menor medida se abatem também sobre a categoria bancária. Atendemos clientes em grande quantidade, como peças numa linha de montagem, com a pressão permanente da gerência, monitorando o tempo de atendimento e a performance, como um “Grande Irmão” digital onisciente.
Recentemente o Bradesco iniciou a digitalização da compensação, que passará a ser feita nas agências, as quais vão acumular serviço, sem a contrapartida de mais contratações. No Banco do Brasil, a plataforma de atendimento vigente desde o início de 2010 já monitora o tempo de atendimento dos caixas e escriturários, exercendo uma pressão constante para que os trabalhadores sejam mais rápidos. São alguns dos exemplos de como o uso de novas tecnologias não necessariamente beneficia os trabalhadores, ou na verdade os prejudica, se não houver formas coletivas de organização e de luta para preservar nossos direitos e melhorar as condições de trabalho.
Para concluir, lembramos que durante o século XX, foi a mobilização das massas de operários do sistema taylorista, através de greves e outras lutas, que garantiu no Brasil direitos como férias, 13º, descanso semanal, redução da jornada, licença-maternidade, etc. No século XXI, cabe aos trabalhadores do sistema “neotaylorista”, ou seja, nós bancários e outros setores, retomar essas lutas, defender nossos direitos e avançar para novas conquistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário