Texto de abril de 2011
A campanha salarial de 2011 começou quando a de 2010 acabou. Temos que pensar como conquistarmos isonomia de direitos entre bancários novos e antigos, reposição das perdas salariais, estabilidade de emprego, fim das metas, respeito à jornada de 6 horas, instituição dos delegados sindicais para os bancos privados, etc. No entanto, não é suficiente elencar uma pauta de reivindicações. Por mais completa que seja a pauta, é necessário traçar uma tática de campanha salarial à altura do desafio de conquistar essa pauta. E decididamente as nossas campanhas salariais desde 2005 têm seguido um “modelo” que não nos serve: começam após a data-base (31 de agosto), arrastam-se por setembro adentro, e terminam em outubro, com assembleias separadas (BB, CEF e privados) e lotadas de fura-greves e gerentes, coagidos para votar na proposta rebaixada da patronal defendida pela cúpula das direções sindicais vinculadas politicamente à CUT e ao governo federal.
Está mais do que na hora de mudar este “script”, e o primeiro passo é ANTECIPAR A PREPARAÇÃO DA CAMPANHA SALARIAL. O que significa mobilizar os bancários desde já nos organismo de base, por meio de reuniões, plenárias, assembléias, congressos. Mas ainda assim, isso não é suficiente. Além de ter uma pauta de reivindicações que represente as verdadeiras necessidades da categoria e um calendário de mobilização à altura, é necessário que a campanha seja conduzida com independência em relação ao governo e aos banqueiros para evitar que interesses estranhos se sobreponham aos da categoria.
Comecemos pela tática. Há anos os sindicalistas vinculados politicamente ao PT e à CUT impõem à categoria uma negociação em mesa unificada, que se mostrou um erro nos últimos 7 anos. Nesse formato os bancários do setor público dependem da paralisação nos bancos privados para obter conquistas na mesa da Fenaban, mas não há organização nos bancos privados para que isso aconteça. Mesmo sendo minoria nas bases como São Paulo e Rio, os trabalhadores de bancos públicos é que fazem, de fato, acontecer as mobilizações, são de longe o setor predominante nas assembleias e o mais organizado em todas as campanhas. Mas isso não quer dizer que devamos dividir a categoria.
Entendemos que as campanhas salariais devem continuar unificadas, mas é preciso observar as disparidades no grau de mobilização e organização entre os bancários do setor público e privado. Durante toda a década de 2000 a direção governista deu um tratamento convenientemente igual entre desiguais. Ao invés de lutar por delegados sindicais e pela estabilidade de emprego nos bancos privados, os dirigentes cutistas e seus aliados preferem colocar uma camisa de força no movimento por meio da tática da mesa única. Na prática, estes dirigentes jogam sobre o ombro dos bancários do setor público os ônus da falta de trabalho que os sindicatos deveriam fazer nas bases, pois o conjunto da categoria fica dependendo da disposição dos bancários de bancos públicos para parar os bancos privados e arrancar algo da Fenaban.
Para a burocracia petista isso tem o benefício adicional de evitar um confronto direto dos bancários do setor público com seu patrão, ou seja, o governo Lula-PT. Sem esse confronto será impossível recuperar as perdas acumuladas durante o período FHC e outras reivindicações específicas. Ainda por cima, a CUT e seus aliados fazem da mesa única uma forma de não se desgastarem com os bancários privados (base eleitoral nas grandes cidades), que, impedidos de lutar pela absoluta falta de trabalho de organização das ditas “entidades representativas”, são levados a ter que aprovar uma pauta rebaixada numa assembleia em separado do restante da categoria. É a partir daí que começa o desmonte das greves. Os bancários do setor privado aprovam um acordo do tamanho do trabalho de organização dos sindicatos cutistas, e os bancários do setor público voltam frustrados, pois, se pudessem entrar em luta diretamente contra seu patrão, poderiam continuar em greve para conquistar mais.
Os burocratas da CUT defendem a “unidade da categoria” na mesa úuica da Fenaban, mas na hora de encerrar a campanha, fazem assembléias separadas e encerram a greve com a presença maciça de gerentes e fura-greves. Para mudar esse roteiro devemos defender: 1) campanha unificada, mesas separadas; 2) assembléias unificadas até a votação do índice da Fenaban, e essa votação tem que ser separada da votação de continuidade da greve; 3) votado o índice, a greve continua pelas questões específicas de cada banco, que devem ser resolvidas no calor da campanha salarial e não deixadas para as mesas de “enrolação” permanente.
Em 2011 teremos a chance de mudar esse roteiro, pois o Encontro Nacional das Oposições, acontecido em Natal-RN nos dias 2 e 3 de abril unificou os sindicatos combativos e as oposições numa Frente Nacional das Oposições, que tirou como um dos seus indicativos antecipar a preparação da campanha e colocar em discussão as verdadeiras reivindicações da categoria. Surge assim uma alternativa de organização voltada para os interesses da categoria e não de qualquer grupo político.
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