Matéria do 1º jornal publicado em 2010
A vida de cada um de nós está diretamente ligada ao trabalho, ou seja, àquela atividade, que executamos em alguma empresa em troca de dinheiro. Dinheiro este que garante nosso sustento e o das nossas famílias. Não foi sempre assim, mas tem sido uma constante cada vez maior desde que o sistema capitalista consolidou-se, no entanto existem fatores muito mais subjetivos nessa relação. Na sociedade moderna a ideologia do trabalho que relaciona sempre a dignidade ao sucesso profissional tem colaborado enormemente para desenvolver vários tipos de doenças e fobias danosas à própria vida. O exemplo mais recente disso é a notícia que vem sendo veiculada em todos os meios de comunicação do mundo, de que na empresa France Telecom 25 trabalhadores cometeram suicídio desde sua privatização em fevereiro de 2008. A France Telecom também apresentou além dos suicídios 22 mil pedidos de demissão “voluntária” nesse período. Fica claro o fato de que além das cartas deixadas pelos trabalhadores que se suicidaram, relacionando o ato trágico às novas condições de trabalho, esses pedidos de demissão são fruto da reestruturação da empresa que de Estatal passou a ser privada e trouxe com isso diminuição de salários, aumento de jornadas, perda de direitos, transferências forçadas e uma pressão sem limites sobre os trabalhadores.
Essa “receita” não é nova e na nossa “terra brasilis” já provamos o amargo sabor dessas mudanças em diversas reestruturações empresariais, tanto no setor financeiro como em outros ramos. Para falar somente da categoria bancária, recente estudo feito pela UNB revela que nos últimos 10 anos 181 bancários cometeram suicídio no Brasil, outro estudo, encomendado por entidades da categoria bancária em 2006, demonstrou que aproximadamente 18 mil profissionais sofriam, à época, de vontade de tirar a própria vida. Isso sem contar os que sofrem de outras doenças como as Ler/Dorts, transtornos diretamente relacionados com problemas da organização do trabalho, transtornos mentais, síndrome do pânico e depressões. Uma grande parte desses suicídios de Bancários no Brasil aconteceu na década de 90 durante privatizações, como a do BANESPA, mas também durante o período de reestruturação do Banco do Brasil. Lembramos que até o final da década de 80 trabalhar no Banco do Brasil era projeto de vida de muitas pessoas e conferia ao seu funcionário um status diferenciado, tanto na categoria, como na sociedade. Também o trabalhador da CEF possuía um conjunto de benefícios considerável, como por exemplo 17 salários anuais. Tudo isso nos dias de hoje já não existe mais. Tanto bancos públicos, como privados, rebaixaram salários, extinguiram benefícios e, no caso dos bancos públicos houve um período de 08 anos de congelamento salarial. Tudo isso somado, levou muitos a não suportar a terrível queda de padrão de vida, o endividamento, as doenças psicossomáticas e acabou por desembocar nessa trágica estatística. E hoje no Brasil, estamos novamente diante do “fantasma” ameaças, quando não concretizações de privatizações e fusões bancárias, sem falar no achatamento que o piso salarial da categoria tem sofrido nos últimos anos.
O que podemos tirar de lição desses lamentáveis fatos é que a voracidade lucrativa das empresas não tem limites. Mesmo aquelas que usam de propaganda massiva e constante para nos convencer de que “cuidam e pensam em nós”, isso não é verdade. Aqueles benefícios que as empresas nos apresentam como sendo bondades e formas de responsabilidade social com o trabalhador, quando verificados a fundo, são conquistas que os trabalhadores somaram ao longo de muitos anos e de muita luta. Essa sede de lucro empresarial encontrou ultimamente outros aliados: o individualismo, que tem feito com que cada trabalhador acredite que é capaz de atingir o “sucesso” na vida profissional sozinho e que disso depende seu futuro, sua felicidade e sua dignidade, e os sindicatos, cada dia mais parecidos com empresas e burocratizados, que perderam sua essência, e buscam seus próprios interesses que vão muito além dos interesses da classe trabalhadora. Todos esses fatores somados a outros de caráter pessoal e profissional levaram muitos a esse ato desesperador: o suicídio.
A saída para esse círculo vicioso e viciado de exploração, de assédio moral e de desrespeito humano nos locais de trabalho é mais uma vez a soma da capacidade que todos nós temos de ser solidários uns com os outros e de assim buscar o bem comum, no trabalho e na vida. Essa capacidade a categoria bancária já demonstrou ter, alavancando, com seu trabalho, os lucros dos bancos e construindo movimentos fortes em épocas importantes da vida desse país. Diante de condições de trabalho a cada dia mais desumanas faz-se necessário resgatar essa força. 2010 nos espera juntos, pois juntos, somos mais fortes.
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