segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Por uma campanha independente e democrária - BB 2010


Texto do panfleto distribuído no Congresso Nacional dos Funcionáros do Banco do Brasil 2010

Os desafios do ano de 2010

2010 não é um ano como outro qualquer, pois teremos Copa do Mundo e eleições como eventos que atraem a atenção geral. Isso faz com que seja um ano “mais curto”, em que sobra menos tempo para a organização da nossa campanha salarial.
Mais importante do que isso, porém, é a conjuntura em que essa campanha será realizada. A crise econômica mundial continua se desenrolando, como atesta o aprofundamento da crise do endividamento público, em especial nos países da periferia da Europa chamados PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha, na sigla em inglês), cuja situação de insolvência ameaça a própria continuidade do euro como moeda comum européia. Para fazer frente a essa ameaça, a burguesia já determinou cortes nos gastos do Estado, o que significa redução do orçamento para as aposentadorias, os serviços públicos, a saúde, a educação, o pagamento dos servidores, etc. Em resposta a isso, os trabalhadores gregos já protagonizaram grandes greves gerais desde o mês de março, sinalizando aos trabalhadores do mundo inteiro o caminho da resistência contra os ataques do capital.
O Brasil faz parte dessa mesma realidade mundial, embora momentaneamente pareça imune aos efeitos da crise. O Brasil é uma das economias dominadas no sistema mundial, sem o controle sobre os setores estratégicos em que se geram inovações tecnológicas e ganhos de produtividade (informática, biotecnologia, etc.), dependente das exportações para o mercado mundial, fonte de mão de obra barata e fornecedor de matérias-primas e manufaturas de baixo valor.
A aparência de imunidade em face da crise decorre do uso do Estado para salvar os negócios da burguesia. O governo Lula já entregou aos capitalistas centenas de bilhões de reais através de empréstimos, isenções fiscais, recursos do PAC, cortes na taxa SELIC, redução do compulsórios dos bancos, etc. O volume de dinheiro emprestado passa de 45% do PIB, um recorde histórico. Na ponta do consumo popular, também tem havido uma explosão de aumento do crédito ao consumidor. O crédito para pessoa física dobrou entre 2003 e 2009. Os bancos federais tem sido protagonistas, passando de 35% para 41% de participação no total de crédito desde o início da crise.

E os bancários nessa história

O aumento explosivo do crédito e do consumo fez com que a economia brasileira entrasse o ano de 2010 aparentemente livre da crise, pois o crescimento do mercado interno compensou as perdas nas exportações. Por outro lado, os números do crédito mostram um aumento também explosivo do endividamento, tanto público quanto privado e dos trabalhadores. Ciente disso, o governo Lula já anunciou num comunicado recente aos ministérios que não devem ser concedidos aumentos salariais aos servidores este ano. O governo pode fazer propaganda de que o Brasil venceu a crise, pois isso é importante para eleger sua candidata nas eleições, mas sabe que precisa controlar os gastos públicos para evitar um novo agravamento da crise, exatamente como fazem seus colegas dos PIGS.
Em outras palavras, as campanhas salariais dos trabalhadores do setor público no segundo semestre devem ser muito duras, pois o governo precisa evitar greves para garantir a eleição de sua candidata e também economizar dinheiro para continuar entregando à burguesia. Em relação aos trabalhadores dos bancos públicos, estamos colocados diante de uma situação de dupla ofensiva, pois estamos sendo chamados a “ajudar o país a sair da crise”, trabalhando num regime de superexploração para aumentar o crédito, ao mesmo tempo em que querem nos forçar a apertar os cintos para ajudar o governo a fazer caixa para enfrentar a crise.

A necessidade de uma campanha diferente

O BB apresentou um lucro de R$ 2,35 bilhões no primeiro trimestre de 2010, resultado 41% maior que o do ano passado. Esse lucro se deveu a um aumento de 39% nas receitas com crédito, com 55% de aumento no crédito ao consumidor e 200% no segmento automobilístico (graças à parceria com a BV). Esses números expressivos da lucratividade do BB tem se repetido ano a ano. Ao mesmo tempo, temos sido forçados a engolir reajustes salariais que mal repõem a inflação do ano, mas deixam para trás as perdas de 90% acumuladas no período FHC, entre outras pendências históricas (PCC-PCS, isonomia, pagamento das substituições, sucateamento da Cassi, etc.).
Os resultados do BB mostram que a empresa tem condições de atender as reivindicações dos seus trabalhadores, mas isso não acontece por falta de um enfrentamento real contra o nosso patrão nas campanhas salariais. As entidades sindicais que dirigem a nossa campanha salarial, centralizadas pela Contraf-CUT, tem tido como prioridade proteger o governo Lula do enfrentamento com os trabalhadores do BB, desviando nossas campanhas salariais para o beco sem saída da Mesa Única da Fenaban. Em 2010 isso tende a ser ainda pior, pois a prioridade da CUT, controlada pelo PT, será eleger Dilma presidente.
Os dirigentes cutistas terão a desfaçatez de pedir o apoio a Dilma num Congresso de trabalhadores do BB, com a ameaça de que o candidato do PSDB privatizará o BB. Ora, durante todo o mandato de Lula o curso privatista dado ao BB não foi revertido. Sofremos a reestruturação de 2007, a reforma estatutária da Cassi, os sucessivos saques ao superávit da Previ, e mais do que isso, sofremos com um dia a dia de trabalho marcado pelo assédio moral pelo cumprimento de metas, dentro de uma estratégia de concorrência com os bancos privados que não tem nada a ver com o papel de um banco público. Em outras palavras, o governo do PT implantou uma privatização branca do BB. Portanto, o PT não nos protege contra a privatização. A única defesa contra a privatização, seja ela feita pelo PT ou PSDB, está na organização dos trabalhadores para lutar por um banco público que tenha uma estratégia a serviço da sociedade e que respeite os seus funcionários.

Nossas reivindicações

Diante dessa realidade, a questão da independência política da direção da campanha em relação ao governo se torna fundamental. Nossos representantes na campana salarial precisam defender os nossos interesses e não os do partido no governo. Somos trabalhadores em negociação com um patrão e precisamos de trabalhadores falando em nosso nome, e não de prepostos do patrão. Precisamos de um outro formato de campanha, em que os trabalhadores possam de fato participar. Nos últimos anos os trabalhadores do BB têm se ausentado da campanha, concordando até em fazer greve, mas não comparecendo aos piquetes e assembléias, o que enfraquece o movimento. Para mudar essa realidade, as medidas democráticas são fundamentais. Por isso propomos um outro formato de campanha, em que a base tenha soberania das decisões:
- que as deliberações do Congresso sejam ratificadas em assembléia específica da base;
- que os componentes da Comissão de Empresa sejam eleitos nas assembléias e com mandatos revogáveis;
- direito de voz para qualquer bancário e não somente para as forças políticas (partidos);
- fim dos delegados e/ou representantes "biônicos", ou natos, em qualquer instância do movimento e, em especial, neste Congresso;
- que mesa seja eleita no início dos trabalhos, seja em assembléias ou qualquer outro fórum do movimento. Repudiamos a postura do Sindicato de São Paulo, Osasco e Região, que contrata seguranças para impedir os bancários de se manifestar nas assembléias;
- independência total do movimento em relação aos partidos, patrões e principalmente em relação ao governo, patrão direto de metade da categoria bancária;

Somente assim os bancários do BB serão estimulados a retomar o movimento em suas mão e participar de fato da campanha. E somente com participação poderemos lutar por:
- Plano de reposição de perdas salarias do período FHC;
- Isonomia; retorno da licença prêmio; interstício de 12% e 16%;
- Retorno das substituições;
- Mais contratações. Aumento de dotação de TODAS as dependências. Abaixo o Projeto BB 2.0 que remaneja funcionários para as agências mais rentáveis e piora as condições de trabalho nas dependências que perderam funcionários;
- PLR linear, igual para todos e desvinculada das metas. Fim do módulo bônus;
- Eleição de delegado sindical em todos os bancos incorporados;
- Fim do voto de minerva na PREVI. Fim dos sucessivos saques do superávit da Previ. Fim da co-participação na CASSI e da gestão privatista que a direciona para o sucateamento.

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