Matéria do 1º jornal publicado em 2010
Os sindicatos surgiram no século XIX como instrumento defensivo de organização dos trabalhadores, com a função de negociar com a classe proprietária o preço da venda da mercadoria força de trabalho fornecida pelos assalariados, ou seja, o valor do salário e as condições de trabalho. No século XX o potencial dos sindicatos de servir também como ponto de apoio para a luta por um projeto de sociedade próprio dos trabalhadores acabou não se confirmando, devido a uma série de derrotas e traições. Até que chegamos ao ponto em que as instituições sindicais se tornaram instrumentos auxiliares da administração do capitalismo, facilitando o controle da classe patronal sobre os trabalhadores.
No Brasil, depois que foi derrotada a resistência dos pioneiros, de orientação anarquista, que praticavam uma organização combativa e independente, a adaptação dos sindicatos ao sistema se aprofundou até transformá-los em parte orgânica do próprio aparato do Estado, através do financiamento estatal (imposto sindical) e regulamentações legais. Sem romper com essa vinculação, as correntes que surgem no movimento sindical com a proposta de resgatar a luta e a organização dos trabalhadores acabam regredindo e se convertendo numa nova safra de burocratas, com interesses próprios diferentes daqueles da classe a quem deveriam representar e alinhados aos dos patrões.
É o cado da Articulação/PT e dos grupos que a acompanham na diretoria do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. Essa diretoria deixou de cumprir o papel fundamental de um sindicato, que é o de organizar e mobilizar a categoria para a resistência cotidiana nos locais de trabalho e as lutas gerais, campanhas salariais, etc. Substituiu-se o sindicalismo combativo por uma concepção de sindicalismo “cidadão”, que na verdade significa colaboração com os patrões, e desenvolveu- se uma relação assistencialista com a categoria.
A entidade foi transformada numa espécie de “conglomerado empresarial”, com uma série de ramificações como a Bangraf (parque gráfico com capacidade industrial equivalente ao de um jornal de grande porte, usado para imprimir materiais do PT e da CUT usados no país inteiro); a Bancredi (cooperativa de crédito que faz empréstimos para bancários, o que representa no mínimo um seríssimo conflito de interesse para uma instituição que deveria ter como finalidade lutar por aumento de salários); e a Bancoop (cooperativa habitacional envolvida em escândalo policial pela não entrega de imóveis pagos pelos cooperados e desvio de dinheiro para campanhas eleitorais do PT).
Esse processo de “privatização” do sindicato dará mais um passo com a criação da Fundação 28 de Agosto de Educação e Comunicação, a “Faculdade dos Bancários” (notícia anunciada na folha bancária nº 5278, disponível em: http://www.spbancar ios.com.br/ fbmateria. asp?c=7517). Com esse projeto, a Articulação dará mais uma forcinha aos patrões, pois a formação profissional dos trabalhadores bancários, que deveria ser de responsabilidade das empresas, será bancada pelos próprios trabalhadores. A demanda por formação transformou as faculdades particulares num negócio lucrativo, o que explica a proliferação das “uni-esquinas”, verdadeiras fábricas de diplomas que ludibriam os estudantes-clientes com a promessa de uma solução individual para seus problemas e de “sucesso na vida”.
O nosso sindicato vai se tornar mais um concorrente nesse filão da educação particular, ainda que se concedam descontos para os “clientes” que forem membros da categoria bancária. Aquilo que perderem com a concessão de desconto, os atuais dirigentes vão ganhar politicamente, ao usar a sala de aula para doutrinar ideologicamente os trabalhadores segundo a sua linha de pensamento e se perpetuar no controle da entidade.
Não nos iludamos: a educação superior gratuita e de qualidade para todos é um dever do Estado. E o dever dos sindicatos é sim auxiliar na formação dos trabalhadores, mas na formação teórica, no conhecimento dos seus direitos, da sua história, das suas lutas, de como foi a ação coletiva da categoria e da classe que trouxeram todas as conquistas que ainda mantemos, e é ainda a única forma de podermos conquistar mais.
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