segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A maioria dos bancários e bancárias está insatisfeita com o dia-a-dia de trabalho


Texto de maio de 2010

A maioria dos bancários e bancárias está insatisfeita com o dia-a-dia de trabalho nas agências e departamentos. Pouco tempo há para se refletir, debater, e buscar soluções para os problemas aparentemente individuais, mas que em verdade são coletivos (apenas vivenciados de forma peculiar por cada um de nós). A insatisfação se propaga pela vida familiar, nas relações inter-pessoais em geral, sem que o possamos evitar. Como chegar em nossas casas tranquilamente e poder curtir momentos felizes com as pessoas que gostamos se após um dia exaustivo de trabalho não nos resta energia? Ou então, como nos dedicarmos à leitura, ao estudo, ou a algum afazer que nos traga satisfação, se nos sentimos atrofiados, esgotados pela labuta diária?
Inventamos assim pequenas formas compensatórias: a “balada” para os jovens é um momento de libertação, o bar para alguns, o passeio no shopping, o prazer de obter um objeto novo, de se entreter com um filme, uma novela, um passeio qualquer. Mas a insatisfação permanece. O fim de semana passa como um piscar de olhos, e voltamos a contar os dias da semana para nos aliviarmos novamente.
Como isso parece interminável, passamos a alimentar o desejo de melhoria das condições de vida e trabalho individualmente, investindo forças para ascender na carreira dentro da empresa ou considerando que o emprego, necessário para o sustento de si e de seus familiares, é algo passageiro, que um outro emprego poderá propiciar mais satisfação e potencializar as capacidades criadoras que cada um de nós tem. Aqueles que já percorreram um tempo maior na empresa, passam a contar os anos, meses e dias para a tão sonhada libertação- a aposentadoria. Tais projetos são legítimos, considerando que não se visualiza uma possibilidade concreta de melhoria nas condições de vida e trabalho, mas limitados e sintomáticos de um sentimento de impotência frente a engrenagem que nos oprime e perpetua seu poder suprimindo a preciosidade da vida que só existe concretamente no momento presente.
O movimento sindical que, de acordo com uma concepção legítima de atuação, deve batalhar para a real melhoria das condições de vida e trabalho, é percebido como algo distante, virtual, mais atento à alta política do que propriamente à política de base, o que pressuporia, inevitavelmente, a participação ativa e ampla dos trabalhadores e trabalhadoras.
A necessidade de mudança que cada um de nós sente, a solidariedade que nutrimos uns com os outros, exige algo além de saídas individuais por um lado, e, por outro lado, algo diferente do que a atual direção do sindicato propõe e propaga (de forma direta ou disfarçada) com vitórias forjadas, política de gabinete, negociações obscuras feitas à revelia da vontade do trabalhador, condutas que, enfim, pouco ou nada significam para o trabalhador. Mas o movimento sindical vai além da política de uma determinada diretoria, ele nasce da auto-organização, o que constitui uma tarefa árdua, porém, mais do que nunca, necessária. Cada um de nós tem muito a contribuir para o conjunto da categoria. Buscar a autonomia, ou seja, uma autentica posição de luta frente aos problemas cotidianos é tarefa que parte de consciencia individual para a coletiva e que precisamos exercitar em nosso cotidiano a partir dos nossos locais de trabalho e outros
locais de convivencia.
Para tal objetivo entendemos que o papel dos delegados sindicais nos bancos públicos é fundamental, que a atuação desses se faça sentir permanentemente, em conjunto com os colegas de trabalho e articulando-se com outros delegados sindicais. Nos bancos privados, mesmo considerando a impossibilidade legal dessa forma de organização, entendemos ser possível e necessário o esforço nesse sentido. A participação nos fóruns deliberativos e organizativos é, da mesma forma, essencial, para batalharmos em conjunto por uma frente democrática que encaminhe a vontade da base. Chamamos a atenção dos colegas para os congressos dos bancos públicos que ocorrerão provavelmente entre os meses de março e junho. A partir das deliberações destes congressos será elaborada a pauta de reivindicações dos bancos públicos. Participar do processo é necessário para levarmos nossas reais necessidades e cobrarmos que elas sejam encaminhadas pela diretoria do sindicato.
Compreendemos que existe uma série de empecilhos estruturais para empreendermos tal participação, mas tais empecilhos só poderão ser superados se os trabalhadores e trabalhadoras tiverem coragem e determinação para construir um movimento amplo e legítimo, a partir da base. Os bancários de base estão batalhando para isso se tornar realidade. Nosso movimento nos levará pelos caminhos que forjarmos, baseados no nosso desejo de vivermos de forma intensa e plena, pelo potencial que reconhecemos em nós e almejamos vivenciar, mesmo que sejamos constantemente subjugados por aqueles que tentam suprimir nossa autonomia. Contamos com seu empenho e participação.

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