segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Resgatar a essência do Sindicato


Texto de maio de 2010

No começo do século XX quando a 1ª guerra mundial assolava a Europa o Brasil foi o destino escolhido por centenas de milhares de trabalhadores em busca do “novo mundo” e de melhores condições de vida. Ao chegar aqui encontraram condições de trabalho praticamente escravas, o Brasil importava trabalhadores/as assalariados para substituir a mão de obra escrava que fora obrigado a abolir. Esses/as trabalhadores/as, diante das péssimas condições de trabalho, começaram a organizar-se para conquistar direitos e ajudar-se mutuamente. Com a bagagem cultural e ideológica que trouxeram de seus países de origem, juntamente com os trabalhares locais, fundaram sindicatos, associações de ajuda mútua para os que ficassem desempregados, doentes ou se aposentassem. As decisões eram sempre tiradas em assembléias e sempre de todo o grupo. Esse foi o início dos sindicatos no Brasil: com “S” maiúsculo. O sindicato onde quem decide são os trabalhadores: eles se organizam para reivindicar direitos, para buscar garantir avanço na relação capital-trabalho, e para garantir melhoria nas condições de trabalho e de vida.
O tempo passou e aquilo que hoje temos como sindicato já não é nem a sombra daquele do início. Hoje estamos diante de uma superestrutura burocratizada e atrelada ao Estado e que dentro do sistema de produção não coloca nem as discussões básicas, como, por exemplo, a reposição das perdas salariais. Sindicatos que “cantam” vitória mesmo quando assinam acordos rebaixados, ou como no caso dos professores de São Paulo, quando saem de uma greve de um mês, com zero de reajuste. Isso tudo sem falar na precariedade das condições de trabalho. As “vitórias” são de quem? A classe trabalhadora está a cada dia mais abandonada por suas “representações” partidarizadas, que buscam somente a conciliação e não o avanço nas lutas. Sindicatos que encerram greves mesmo quando os trabalhadores estão dispostos a continuar na batalha. Sindicatos que só sabem atuar em “mesas” e que esqueceram que as vitórias se constroem a partir dos locais de trabalho; que comemoram o dia do trabalhador com Showmícios patrocinados pelas próprias empresas exploradoras do trabalho de seus associados. Sindicatos que se tornaram empresas, que fazem empréstimos a juros como os bancos, que tem cooperativas habitacionais e que querem formar mão de obra especializada para os patrões. Seus dirigentes tornaram-se “executivos” sindicais que já se esqueceram como é ser trabalhador, o que aumenta, a cada dia, a descrença por parte dos trabalhadores na entidade.
Está na hora de buscar romper com essa situação. Está na hora de resgatar a essência dos primórdios do sindicalismo: a que colocava os/as trabalhadores/as como centro do movimento. Resgatar a solidariedade entre as várias categorias e buscar romper com essa espiral de encenações sindicais que nos impuseram. Temos que transformar as assembléias em verdadeiros fóruns da vontade dos/as trabalhadores/as e não em espaços de manipulação ou meramente informativos. Sabemos que o mundo do trabalho mudou, mas mudaram também os sindicatos e os sindicalistas. Sejamos conscientes e atentos, vamos retomar as rédeas desse processo. Vamos começar desde já! Vamos lotar as assembléias e reivindicar nossos direitos, inclusive e principalmente o de ser protagonistas de nosso próprio destino.

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