segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Abaixo-assinado exigindo a realização do Encontro pela Isonomia em 2010


Ao sindicato dos bancários de São Paulo, Osasco e região;

Nós, bancários abaixo-assinados, viemos, por meio deste documento, exigir à direção de nossa entidade representativa a realização do encontro pela Isonomia e o uso da quadra dos bancários no dia 11/09. Para este dia está sendo organizado, por bancários da capital (organizados nos diferentes grupos de oposição) e pela diretoria de sindicatos da baixada santista e do interior, o Encontro Estadual de Isonomia dos bancários da CEF e do BB/BNC.
Um Encontro Nacional de Isonomia foi uma das mais importantes deliberações do último CONECEF, este foi pensado pelos bancários como um importante passo rumo a conquista desse direito. Contudo a nossa confederação (Contraf-CUT) resolveu, autoritariamente, ignorar esta deliberação tomada democraticamente pela base da categoria. Além disso, este despotismo corre o risco de ser repetido: no dia 26/08/10 os delegados sindicais da nossa base decidiram, em reunião oficial, pela realização deste Encontro do dia 11/09. Entretanto, até o momento nada foi feito pela nossa direção, no sentido de cumprir esta legitima deliberação.
Além deste encontro, uma outra deliberação de extrema importância para a categoria, foi tomada neste mesmo fórum. Trata-se da convocação de assembléia para se discutir a possibilidade de greve ou não, ainda na terceira semana de setembro. Isto pensando que uma greve possui muito mais força se deflagrada antes das eleições – quando os nossos políticos são forçados a evitar medidas antipopulares para não perderem votos.
Esperamos respeito, por parte de nossos diretores, aos fóruns deliberativos da categoria.
Exigimos um posicionamento no prazo de 24h, a partir do recebimento desse documento, em relação à organização desse encontro e o uso da quadra. Caso a direção do SEEB-SP se negue a encaminhar as deliberações dos fóruns da base, que se apresentem as justificativas no mesmo prazo.

Pela Reconstrução da Oposição Bancária


TESE PARA O ENCONTRO NACIONAL DA OPOSIÇÃO BANCÁRIA
RIO DE JANEIRO – JULHO 2010

1. Conjuntura Internacional

1.1 Crise e endividamento estatal

A crise econômica iniciada em 2008 segue se desenvolvendo numa nova etapa, marcada pela necessidade do Estado de administrar os déficits originados pelas operações de salvamento do capital financeiro. A crise atual se insere no contexto da crise estrutural do capital, ou seja, de uma crise geral que abala os pilares da reprodução do capital, devido ao esgotamento da capacidade de escoamento da produção e realização da mais-valia (lucro).
Tal crise estrutural se manifestou a partir da queda da taxa de lucro que começou a ocorrer no final da década de 60 e início dos anos 70, depois de passado o “boom” econômico do pós-guerra. Desde então o mundo experimenta diversas crises cíclicas, marcadas por fenômenos como a quebra do padrão ouro pelos EUA, a crise da dívida e da hiperinflação na América Latina, a incorporação dos países do antigo Leste Europeu ao mercado mundial, etc. A crise atual é mais um episódio desse fenômeno geral, tendo como estopim a inadimplência das hipotecas “sub-prime” e a desvalorização dos títulos a elas vinculados, ocasionando um efeito dominó na economia mundial.
Na primeira fase, assistimos uma mediada destruição de capital, como liquidação de estoques, fechamentos de plantas e pontos de venda, cancelamento de investimentos, demissão em massa, redução de jornada com redução de direitos, etc. Os Estados não mediram esforços para liberarem trilhões de dólares para a burguesia manter a lucratividade. Essas medidas foram necessárias para evitar um impacto violento na economia, que levasse a uma ideologização da crise, ou seja, a um questionamento do capitalismo. A ajuda dos governos se deu por meio de medidas como emissão de moeda e principalmente de títulos públicos, isto é, papéis que representam promessa de pagamento futuro para quem adquiri-los mediante juros. Essa ajuda evidentemente provocou uma explosão de endividamento estatal.
A intervenção estatal na economia para salvar a burguesia manteve o ritmo da produção de forma artificial. Este comportamento se viu em todos os países, mas o montante distribuído nos EUA e na Europa é de longe o maior, pois são os locais onde a taxa de lucro é menor em relação ao resto do mundo, e onde se tem uma composição orgânica do capital mais elevada, isto é, uma maior proporção de capital constante em relação ao capital variável.
A dinheirama para os capitalistas resolveu parte do problema, isto é, o ritmo de produção e reprodução do capital. Mas acabou por preparar terreno para a atual fase da crise: o superendividamento dos Estados. Com o aumento dos déficits orçamentários causados pela “ajuda” às empresas, há a necessidade de cortes nas despesas estatais para garantir que haja sempre mais recursos disponíveis para a burguesia. Neste caso, o estopim da segunda fase da crise estourou na Europa em países como Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda conhecidos pela sigla pejorativa em inglês “PIGS”.
O caso mais grave é o da Grécia, que teve que apelar para um pacote de ajuda dos outros estados da União Européia. Os demais países aceitaram fornecer recursos para o governo grego com a condição de que este se dispusesse a cortar despesas. Na prática isso significa corte de verbas para o serviço público, tendo como resultado a não contratação de pessoal, arrocho salarial do funcionalismo, precarização dos serviços de saúde e educação; demissão por meio de PDVs, corte das aposentadorias, etc. Diante disso, os trabalhadores gregos resistem bravamente aos milhões nas ruas. “As medidas incluem um crescimento no imposto de valor agregado (IVA), um aumento de 10% nos impostos de combustíveis, álcool e tabaco, além de uma redução de salários no setor público. O governo prevê agora que o país tenha uma contração de 4% do PIB em 2010 e 2,6% em 2011. O crescimento voltaria em 2012, com cerca de 1,1%.” Fonte G1, 06/05/2010.
Apesar da forte e exemplar resistência dos trabalhadores da Grécia (chegou-se a ter uma greve geral com a adesão de mais de 30% da população grega parada e mobilizada nas ruas), toda essa mobilização não discute uma nova proposta de organização social alternativa à anarquia do modo de produção capitalista; não se discute sobre o socialismo.

1.2 A crise e a decadência do dólar como meio circulante

Os Estados Unidos ocupam o primeiro lugar na lista dos países com a maior dívida externa líquida do mundo (13,7 trilhões de dólares), seguido pela Grã-Bretanha (9,6 trilhões), Alemanha (5,2 trilhões), França (5 trilhões) e Países Baixos (2,4 trilhões). Trata-se, portanto, de uma superpotência devedora, virtualmente em bancarrota. Somente não chegou à beira da insolvência porque pode emitir o dólar, que é a moeda internacional de reserva.
A perspectiva é de que, mais dias menos dias, deixe a condição de única moeda internacional de reserva, apesar da China e de serem os Estados Unidos o centro do sistema capitalista mundial. E, quando isto ocorrer, os Estados Unidos terão enormes dificuldades de pagar suas contas, por meio de empréstimos de outros países. Fonte: ADITAL. Notícias da América Latina e Caribe 22/06/2010 (adital.com.br). Grifo nosso.
O capital fictício é o grande segredo para continuar a dar vazão ao capitalismo. No século XX isso tomou outra qualidade depois da quebra do Acordo de Bretton Woods, isto é, depois que as reservas monetárias deixaram de estar lastreadas em ouro. Em 1971, os EUA simplesmente ignoraram o tratado e passaram a emitir moeda sem qualquer lastro real de riqueza. Está aí a principal expressão do caráter fictício do capital. O efeito prático disso para o sistema financeiro é o fato de se ter o dólar como lastro no lugar do ouro. A partir desse momento, os governos do mundo passaram a constituir reservas cambiais denominadas na moeda estadunidense.
Ocorre que este lastro não é moeda, e sim promessas de pagamento futuro mediante remuneração de juros. São os títulos públicos emitidos pelos governos que garantem boa parte dos recursos para fechamento dos orçamentos. A emissão de títulos é uma fonte de recursos de curto prazo, mais os compradores de títulos precisam receber o montante pago aos governos com acréscimo de juros no momento do resgate desses títulos, o que faz com que os governos tenham que emitir novos títulos para pagar os anteriores, e assim sucessivamente. Embora sejam uma fonte de recursos para os Estados, os títulos também se tornam uma fonte de endividamento. Tais papéis tem seu lastro unicamente na confiança de que o seu pagamento será honrado pelos governos. É por isso que o “desrespeito aos contratos” não é bem-visto pelos agiotas internacionais. Quanto maior for a certeza do pagamento destes títulos emitidos, maior é a segurança de seu investimento, isto é, sua aquisição.
Todos os países capitalistas da atualidade tem suas reservas em dólar, em moeda, e em títulos do governo estadunidense, cujo único “lastro’ é a certeza de que estes títulos serão pagos religiosamente pelo tesouro daquele país. Assim, a viabilidade do meio circulante mundial é a confiança de que os EUA pagarão os títulos emitidos.
É aí que pode estar o embrião da terceira fase da crise: o esforço de se distribuir trilhões de dólares para salvar a burguesia estadunidense aumentou enormemente o endividamento dos EUA, criando um cenário assombroso para médio prazo: a inviabilidade do dólar como meio circulante mundial, uma vez que a liquidez dos títulos públicos fica cada vez mais questionada.
Um sinal dessa preocupação é dado pelos governos dos países que tem as maiores reservas de dólares do mundo, como a China e o Japão, que firmam acordos comerciais em que já não se utiliza o dólar como intermediário na transação.
Mesmo ciente dos risco de calote dos EUA num futuro não muito distante, os governos não podem ainda fazer uma corrida do resgate destes papéis por conta do pânico mundial que poderia ocorrer diante da menor possibilidade da economia dos EUA “quebrar” e verem os papéis que lastreiam as suas reservas virarem pó sem valor algum. Seria a terceira fase da crise. Não há elementos na realidade para se determinar com precisão em que momento isso ocorreria e em que ritmo, mas é um fenômeno que devemos acompanhar.

1.3 O impacto da crise para os trabalhadores

Ao contrário da primeira fase da crise, que teve os trabalhadores dos grandes grupos econômicos privados como alvo da burguesia na tentativa de recompor as suas taxas de lucro; nesta segunda fase da crise o alvo é o funcionalismo público. Sob a alegação da necessidade de “austeridade fiscal” e do “equilíbrio das contas públicas” os governos que liberaram pacotes de ajuda para os patrões realocarão recursos que antes se destinavam aos serviços públicos e seguridade social para pagamento de juros daqueles mesmos títulos emitidos. É tirar dos trabalhadores para dar aos ricos.
Na prática, os governos desferirão fortes ataques ao funcionalismo. A luta por reajuste salarial será ainda mais difícil. As medidas de repressão contra a luta, proibição de piquetes, proibições judiciais, punições disciplinares, corte de ponto, etc., serão ainda mais freqüentes. Simultaneamente a isso, haverá uma intensa ofensiva de precarização dos serviços públicos, por meio da terceirização da administração destes serviços para as ONGs e Fundações privadas.
Os trabalhadores de modo geral sofrerão com o desmonte dos serviços públicos de qualidade. Fechamento de hospitais e de escolas, sob a alegação de que são custos que deverão ser cortados, bem como a precarização dos salários e das condições de trabalho dos trabalhadores destes setores serão medidas apresentadas como inevitáveis. Haverá um forte ataque ideológico ao funcionalismo procurando jogar os trabalhadores em geral contra os “privilégios” desse setor. O próprio sucateamento desses serviços pelo corte de gastos ajudará a jogar a população em geral contra as instituições públicas e abrirá caminho para uma ofensiva neoliberal de privatização dos serviços púbicos.

2. Conjuntura Nacional

2.1 Pseudo-blindagem da economia brasileira

Assim como na primeira fase da crise, o governo Lula anuncia para todo o mundo que o Brasil está imune ao fenômeno, pois aqui tivemos apenas uma “marolinha”. Lula realiza uma enorme ofensiva ideológica para convencer os trabalhadores de que o país está imune aos efeitos da crise que assola o planeta. Na primeira fase da crise isso se mostrou falso, pois o governo que anunciava a robustez dos “fundamentos econômicos” foi o mesmo governo que disponibilizou 300 bilhões de reais para as grandes empresas multinacionais, montadoras e bancos continuarem a bater recordes de lucros. Não esqueçamos que no final de 2008, houve demissão em massa na indústria, com destaque para as mais de 4200 chefes de família demitidos da EMBRAER, que tem participação estatal em seu capital e da PREVI.
Como qualquer país que disponibilizou fábulas de dinheiro para a burguesia, o Brasil também sofre com o elevado déficit orçamentário provocado pelos pacotes de ajuda em 2008. E como qualquer país nesta situação, o governo do PT já anunciou medidas para garantir a “austeridade fiscal”. Segundo o Ministro do Planejamento Paulo Bernardo, o governo deverá endurecer nas campanhas salariais do funcionalismo, admitindo usar o Judiciário para decretar a ilegalidade das greves e o desconto dos dias parados pelo exercício legítimo do direito de greve. Assim, a bola da vez são os trabalhadores dos serviços públicos.
No ninho tucano em São Paulo, o endurecimento nas relações entre o funcionalismo e o governo ficou demonstrado na greve dos professores da rede pública. A repressão foi violentíssima e houve uma forte campanha da mídia para jogar a opinião pública contra os servidores da educação. Houve desconto dos dias parados e o judiciário decretou a ilegalidade da greve. A mesma repressão foi vista na greve do judiciário estadual e na greve dos servidores da USP. A razão para tudo isso é a necessidade de economizar dinheiro para cevar a burguesia com os incentivos fiscais, como a redução e isenção de ICMS, e a distribuição de cerca de 20 bilhões de reais paras as montadoras instaladas no Estado.
Apesar dos fortes ataques aos trabalhadores e do sucateamento dos serviços públicos, como é possível que a crise se manifeste de forma mais branda no Brasil do que nos países desenvolvidos?
A resposta está nos baixos salários e na extensa jornada de trabalho que garante uma taxa de lucro muito maior do que nos países adiantados. Também contribui para isso a crescente oferta de crédito a juros altíssimos que permite que o mercado possa continuar a absorver a produção dirigida para o exterior e que teria ficado nos estoques por conta desta mesma crise. A miséria do trabalhador e a capacidade de endividamento da classe são as causas pelos quais a crise não é tão intensa no Brasil. No entanto a burguesia fala para os quatro cantos que a renda aumentou e que há ascensão social e que o indicador disso seria o aumento do consumo considerável da população, principalmente no governo Lula.

2.2 Efeitos da crise no Brasil e a classe trabalhadora.

Na atual fase da crise, isto é, o endividamento estatal causado pela transferência de recursos do Tesouro para os banqueiros e demais capitalistas para manter o ritmo dos negócios, o alvo da burguesia será o funcionalismo público e das estatais, como forma de economizar recursos para o pagamento dos serviços da dívida.
Na prática isso se manifestará por meio de reestruturação administrativa em todos os níveis, envolvendo corte de pessoal, congelamento salarial, precarização do trabalho por meio de contratação de terceirizadas para afundar o nível dos salários, chegado a até terceirizar toda atividade fim do serviço público. Esse expediente já é uma realidade na administração dos hospitais aqui em São Paulo, como o Hospital Brigadeiro e também a recém inaugurada Linha 4 do Metrô.
Isso terá também reflexos práticos nas campanhas salariais daqui em diante. A luta dos professores da Rede Estadual mostrou como o Estado está disposto a tudo para reprimir os trabalhadores. Uma greve de 30 dias, em que havia passeatas com quase 60 mil profissionais na rua, não foi o suficiente para dobrar o Governo Serra e obter conquistas. Além da direção traidora da CUT, a dureza do Estado resultou numa campanha derrotada, que teve inclusive desconto dos dias parados. Soma-se a isso a campanha de toda a mídia para jogar o movimento contra os professores.
Agora, os funcionários da USP experimentam a mão pesada dos tucanos. Em mais de um mês de greve, ainda não houve abertura de diálogo com o Estado. Até agora a reitoria da universidade não chamou a Polícia Militar para invadir o campus, mas a hipótese não está descartada. Os serventuários do Judiciário estadual e federal também experimentam o enfrentamento com as suas respectivas administrações que cogitam baixar a mais dura repressão com cacetetes da polícia e corte de ponto. Tudo em nome da austeridade fiscal para cobrir as despesas com o pacote de salvamento dos bancos e grandes empresas.
Além do fato de nossos inimigos endurecerem na repressão, as direções do movimento sindical atreladas ao governo e aos patrões fizeram um ato de unidade na “luta” no Estádio do Pacaembu em São Paulo-SP, fechando acordo em defesa do “sindicalismo de resultados”, de “conciliação de classes” e da defesa da candidatura de Dilma Roussef para a presidência da república. Esse acordo significa na prática a confissão de que a burocracia fará de tudo para impedir o surgimento de lutas dos trabalhadores no segundo semestre.
Diante de uma unidade dos inimigos da classe e de seus auxiliares no movimento sindical, seria natural, urgente e necessária a unidade da esquerda, isto é, dos setores combativos do sindicalismo que estavam dispersos desde que deixaram a CUT. Esta oportunidade estava sendo construída há 4 anos no processo que culminou no CONCLAT, em Santos, no início de junho. Mas o aparatismo e o hegemonismo das grandes correntes como PSTU e PSOL impediram que a unidade ocorresse. Apesar da frustração de não ter ocorrido a unificação da esquerda, isso não impediu que o PSTU anunciasse a fundação da Central Sindical Popular e Estudantil somente com setores que faziam parte da CONLUTAS, mais o MTL e sem MAS e Unidos para lutar. Ou seja, uma Conlutas menor do que era antes está sendo vendida como Nova Central. Assim, o único efeito prático foi a mudança de nome da CONLUTAS e um retrocesso histórico na luta de classes do Brasil, que não poderia ter ocorrido num momento pior.

2.3 Eleições e os trabalhadores

Hoje, o PT não tem qualquer traço operário em seu programa. Resta apenas a lembrança da origem de seus dirigentes históricos. Do ponto de vista político, o PT é um partido burguês clássico e, portanto, defende o programa da burguesia. Isso pode ser facilmente comprovado por meio de dados notórios, à disposição de todos. Todas as medidas neoliberalizantes foram mantidas, defendidas e agravadas com o governo do PT. Nenhuma privatização foi revertida e o PT ainda aliena outros bens públicos que restaram, como o Banco do Estado do Ceará, estradas como Regis Bittencourt e Fernão Dias, a linha 4 do metrô de São Paulo. Os fundamentos econômicos continuam os mesmos da era FHC, isto é, arrocho fiscal para composição do superávit primário, combinado com alta tributação dos trabalhadores, baixos salários e precarização dos serviços públicos. O governo do PT VETOU o fim do fator previdenciário e taxou as aposentadorias, que até então eram isentas.
Se o PT defende o projeto da burguesia tanto quanto o PSDB, isso não significa que são iguais em seu “modus operandi”. A origem dos tucanos é a academia, a direção de organismos de classe da burguesia, ou até a condição de administradores de empresas. O PSDB expressa assim uma concepção de Estado de tipo empresarial, “enxuto”, mais econômico, sem gastos sociais “desnecessários”, que possa se dedicar integralmente a financiar a burguesia. É exatamente por isso que os tucanos foram tão necessários para a implantação do neoliberalismo na década de 1990.
Nos demais países sul-americanos, os trabalhadores derrubavam governos vinculados ao neoliberalismo, seja pelo voto, seja pela ação direta. Para estancar estas lutas, a burguesia procurou nos notórios dirigentes da classe (sobretudo nos setores que lutaram contra as ditaduras do Cone Sul) a forma de consolidar o processo de implantação do neoliberalismo. No Brasil esse papel coube ao PT. Com o desgaste natural pelos 10 anos desta política no Brasil, os trabalhadores viram no PT o fim do projeto neoliberal e a retomada dos direitos perdidos no governo dos tucanos. Cabia à burguesia enquadrar o discurso e prática do PT no projeto burguês, o que se expressou no final do primeiro semestre de 2002 na “Carta ao Povo Brasileiro”. Neste documento o PT se comprometeu não só em manter toda a “herança maldita” como em aprofundar a sua implantação como vimos acima. Afinal a... “Premissa dessa transição será naturalmente o respeito aos contratos e obrigações do país”
Agora o governo chega ao final do seu segundo mandato com uma aprovação de 75% (segundo pesquisa IBOPE publicado em junho de 2010) entre os trabalhadores em geral. Esta mesma aprovação se manifesta entre os trabalhadores das empresas estatais como é o caso dos bancários do BB, da CEF, que sozinhos representam metade da categoria bancária. E numa polarização entre PSDB e PT os bancários votarão no PT, infelizmente. O sucesso do governo do PT traduzido nestes números é uma sinalização de que o PT se mostrou muito mais eficiente em continuar implantando o projeto neoliberal, sem causar desgaste neste modelo. Isso explica a notoriedade do Brasil no cenário internacional.
Mas isso tudo tem um preço: o inchaço do Estado. E não é por causa de investimentos na melhoria e na ampliação dos serviços públicos ou ampliação de direitos para os trabalhadores, mas no encastelamento da burocracia petista, que estava nos sindicatos e movimentos sociais e se deslocou agora para o aparato do Estado. Ampliou-se o número de ministérios, criaram-se diversos cargos em comissão, etc., para acomodar a burocracia. O resultado disso é a vinculação dos interesses dos movimentos sociais e dos sindicatos ligados à CUT ao Estado.
Diante disso a campanha eleitoral deste ano terá uma aspecto problemático adicional. Pois a defesa da candidatura Dilma é encarada pela burocracia petista como uma questão de sobrevivência. Uma hipotética derrota nas urnas resultaria numa “despetização” do Estado, isto é, na saída dos burocratas dos cargos de que usufruíram nos últimos 8 anos. Seria uma revoada de “aloprados” de volta para os cargos menos prestigiosas na direção dos sindicatos e demais movimentos sociais. Assim, a defesa da candidatura do PT não tem como fundamento a pretensa progressividade do programa petista, ou do caráter “democrático e popular” da candidatura Dilma; mas a manutenção do elevado padrão de vida da burocracia petista adquirida nos dois mandatos do governo Lula. Não há qualquer preocupação com as demandas dos trabalhadores. E para manter os seus privilégios, os burocratas estão dispostos a tudo, inclusive direcionar as estruturas dos sindicatos para a campanha eleitoral de Dilma, ao invés de impulsionar as lutas. Em bancários vimos isso se concretizar no esforço dos dirigentes sindicais da CUT em aprovar uma resolução de apoio a eleitoral à Dilma nos congressos nacionais dos funcionários da CEF e do BB.
Diante de quadro geral de que os bancários votarão na candidatura do PT, qual deve ser a postura classista? Temos que ter uma política classista nas eleições, que se resume na total independência e autonomia dos organismos da classe frente aos patrões, governos e partidos. Tanto no plano sindical como no político-partidário é preciso construir um movimento político dos trabalhadores que expresse uma alternativa de projeto social classista e socialista. Não temos que questionar a preferência eleitoral dos trabalhadores, mas denunciar o governo como um agente dos patrões, esclarecendo os bancários a respeito de todos os ataques que este governo fez e que está disposto a fazer, como descontar os dias parados na greve, não reposição de perdas, perseguição de lideranças de base, etc. Mesmo votando no PT, o bancário não quer que seus interesses estejam subordinados à campanha eleitoral de qualquer candidato, mesmo que seja o candidato de sua preferência.

3. Situação da categoria bancária e campanha salarial

3.1 O papel dos bancos federais na estratégia petista de administração da crise
A categoria bancária está colocada no centro do projeto de administração da crise capitalista pela burocracia petista. A crise está sendo considerada resolvida no Brasil sendo que o expediente utilizado para contorná-la foi exatamente o mesmo que provocou a crise nos Estados Unidos, ou seja, a expansão descontrolada do crédito. E particularmente os bancos federais estiveram envolvidos nessa explosão do crédito Houve aumento de 33,8% na oferta de crédito do Banco do Brasil em 2009, sendo 88,1% em pessoa física. A Caixa Econômica Federal aumentou sua oferta geral de crédito em 55,3% no mesmo período.
Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil funcionaram como instrumentos privilegiados do governo para executar essa forma de administração da crise. Não discutiremos aqui o significado dessa política aplicada aos bancos públicos e ao restante da economia pela burocracia no governo do ponto de vista da sua sustentação a longo prazo, ou seja, não aprofundaremos o debate em torno do fato óbvio de que se trata de falsas soluções e conseqüentemente a crise econômica tende a voltar. O que nos cabe discutir neste ponto são as repercussões de tal política do ponto de vista dos trabalhadores dos bancos federais.
Em primeiro lugar, é preciso destacar o aspecto da cooptação ideológica. Toda a cúpula dos bancos, desde a diretoria até as gerências locais, foram convencidas de que a política do governo era a alternativa mais correta disponível. Graças ao aumento da oferta de crédito, os bancos federais aumentaram sua participação no mercado e também os seus lucros. Mais lucros significam maior PLR e maiores bônus pagos aos gerentes. Do ponto de vista dos gestores, “o que é bom para o governo é bom para mim”. Os gestores do BB saíram convencidos disso depois do encontro com Lula, Dilma e Mantega no início de 2010. Sentiram-se prestigiados e motivados pela estratégia governista.
Em segundo lugar, a cooptação ideológica encaixou-se com perfeição à estratégia empresarial dos bancos federais, pelo fato de já estarem previamente formatados por um projeto de atuação enquanto bancos comerciais, voltados para a obtenção de lucros às custas da superexploração dos seus trabalhadores e da extorsão dos clientes por práticas como venda casada de “produtos bancários”. Os gestores puderam sentir-se à vontade para aplicar os mesmos instrumentos de gestão dos bancos privados, ou seja, o assédio moral, a cobrança de metas, o autoritarismo, a obstrução da organização dos trabalhadores no local de trabalho, a perseguição aos ativistas, etc., para alcançar os objetivos traçados.
Em terceiro lugar, há um elemento que não pode ser desprezado que é o engajamento da própria base da categoria no projeto governista. Muitos trabalhadores dos bancos federais ainda enxergam a gestão petista como a sua única defesa contra a privatização. Esse fato é um dado da nossa realidade que precisa ser discutido seriamente se queremos avançar na nossa organização. A base da categoria não vê alternativa política no plano da gestão do Estado, ou seja, dos partidos que disputam eleições, porque não vê uma alternativa social por fora do capitalismo. Trata-se de uma disputa ideológica que a burguesia vem ganhando há décadas e que as organizações dos trabalhadores ainda não encontraram os meios para reverter (ou o que é pior, nem sequer enxergam essa necessidade).
Nesse cenário, um amplo setor da base da categoria busca se adequar às opções disponíveis, e considera que, ruim com Lula-Dilma-PT, pior sem eles. Se não há alternativa no plano da política geral, também não há alternativa no plano da gestão do banco. Não se vislumbra um projeto de banco público construído pelo debate e organização dos próprios trabalhadores do setor e que possa ser apresentado como alternativa ao projeto empresarial aplicado pela burocracia. Na ausência desse projeto, os trabalhadores dos bancos federais encontram consolo no fato de estarem “ajudando o país”, quando na verdade estão ajudando o projeto do PT de permanecer no controle do Estado e de suas rendas.
Os trabalhadores vivenciam cotidianamente a exploração, mas não encontram alternativa de organização e luta. Sabem que as direções sindicais atreladas ao PT não servem, mas não encontram firmeza nos projetos de oposição.

3.2 Fusões, incorporações e aumento dos lucros;

Ao mesmo tempo em que a burocracia petista manobrou os bancos federais como um dos seus instrumentos para a administração da crise, o conjunto do setor bancário avançou no seu processo de concentração e monopolização. Toda crise capitalista produz uma espécie de seleção em que apenas os capitais mais fortes sobrevivem e os menores são absorvidos. Esse processo se manifesta por meio de fusões de empresas, aquisições e incorporações.
No setor bancário, tivemos a compra do Unibanco pelo Itaú (apresentada como uma fusão) e a compra do ABN Real pelo Santander. A concentração de capitais tem conseqüências trágicas para os trabalhadores, pois permite que os capitalistas dispensem mão de obra “excedente” nos setores em que passa a haver sobreposição de funções. A economia dos gastos com mão de obra e os ganhos de escala são os objetivos visados pela burguesia no processo de concentração, de modo que cada fração do capital possa se reposicionar mais favoravelmente no jogo da concorrência. Os bancos privados tiveram aumento de 24% nos seus lucros em 2009, em pleno auge da crise.
A novidade histórica do período recente foi a entrada dos bancos federais nesse jogo, com as compras do BESC e Nossa Caixa pelo Banco do Brasil (e de parte da BV Financeira) e a compra de parte do Panamericano pela Caixa Econômica Federal. Ainda no âmbito dos bancos federais, foi anunciada a construção da chamada “Cidade Digital” em Brasília, integrando os sistemas de informação do BB e da CEF. A integração criará uma plataforma comum para os setores de tecnologia dos dois bancos, o que nos permite vislumbrar no horizonte uma possibilidade de fusão entre os dois gigantes estatais como culminação desse processo de concentração.

3.3 Reestruturação da Caixa Econômica Federal: caminho para a privatização

É nesse contexto que deve ser interpretado o processo de reestruturação da Caixa Econômica Federal, que está sendo desencadeado pelo governo cerca de 3 anos depois da reestruturação do Banco do Brasil (a qual por sua vez segue se aprofundando). A burocracia petista em seu papel de ocupante do Estado não se contenta em ser simples gestora dos interesses da burguesia, mas procura se comportar ela própria como burguesia, como empresariado, como ente patronal e personificação do capital voltada para a sua reprodução ampliada. Desse modo, a gestão das empresas estatais subordinadas ao governo federal segue uma estratégia tipicamente empresarial de concorrência e maximização dos lucros a qualquer custo.
O Banco do Brasil já vinha se transformando em banco comercial há décadas. Esse processo deu um salto com a reestruturação de 2007, a qual dispensou funcionários antigos (via aposentadoria antecipada), fechou departamentos, enxugou áreas meio e setores de suporte, reduziu drasticamente o número de caixas, obrigou os funcionários a transferências forçadas de local de trabalho e de cidade, expulsou usuários e população em geral das agências, cooptou a base da categoria (PEs – escriturários) com comissões intermediárias, estabeleceu critérios de progressão na carreira inteiramente vinculados a metas e criou uma estrutura completamente voltada para vendas. Em 2010, esse processo prossegue com a chamada estratégia de foco no atendimento, que na verdade significa uma triagem ainda mais rigorosa para barrar o público das agências e impedir as filas, e medidas como os cursos de vendas, que realizam o enquadramento ideológico dos trabalhadores bancários para que vejam a si mesmos como vendedores.
A reestruturação de 2010 busca dar esse mesmo salto de qualidade na Caixa Econômica Federal, aplicando o mesmo modelo de esvaziamento das áreas meio e transformação das agências em ambientes de vendas. A dificuldade no caso é o fato de que a Caixa ainda concentra um amplo leque de funções sociais, como a gestão do FGTS, PIS e seguro-desemprego. A burocracia ainda não encontrou uma solução para transferir definitivamente essas funções para a rede de correspondentes bancários como lotéricas e outros.
A transformação de Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil em bancos de mercado deve ser chamada por seu nome, ou seja privatização. A privatização não consiste apenas numa simples mudança jurídica da propriedade. O Estado pode continuar sendo o acionista majoritário dessas empresas, mas o que é decisivo para caracterizar uma empresa privada é a sua forma de gestão, a sua lógica interna de funcionamento, o seu projeto essencial. E nesse aspecto, os bancos federais caminham para se transformar em empresas puramente privadas, desprovidas de qualquer função social. Isso é inteiramente compatível com a concepção ideológica da burocracia petista e seu projeto geral de administração do capitalismo brasileiro.
Cabe ainda o adendo de que, em relação ao aspecto da propriedade jurídica, o governo anunciou a oferta pública de mais um lote de ações do Banco do Brasil, ou seja, um avanço na sua privatização formal. Esse anúncio foi feito um dia antes do Congresso dos Funcionários do Banco, um Congresso em que a burocracia sindical da Articulação aprovou o apoio à candidatura de Dilma Roussef-PT, precisamente sob a alegação de que em seu governo não haveria privatização...
Definido esse caráter geral do projeto de privatização em curso, resta ulteriormente determinar o encaminhamento objetivo que terá o processo, ou seja, por quanto tempo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal vão concorrer entre si (com as suas respectivas camadas gerenciais querendo mostrar ao patrão-governo quem é mais eficiente no mercado e a burocracia petista assistindo de camarote), quanto tempo vai transcorrer até que sejam fundidos num só empresa, se vai haver desmembramento da Caixa Econômica Federal e repartição de suas funções sociais, etc.
Qualquer que seja o formato objetivo do projeto, os trabalhadores dos dois bancos precisam ter consciência do que está em jogo e organizar uma luta de resistência contra a privatização. Não há qualquer aspecto positivo possível nas reestruturações dos bancos federais, não há o que negociar e muito menos o que especular em relação a esse projeto, que precisa ser combatido duramente em sua totalidade. Com ou sem transferência jurídica formal da propriedade, a privatização trará mudanças negativas em todos os aspectos da vida dos trabalhadores, desde as demissões, descomissionamentos, fechamento dos setores, transferências forçadas, aumento da exploração e da carga de trabalho, assédio moral sistemático, obstrução da organização no local de trabalho.

3.4 Reivindicações dos bancários

É com esse cenário como pano de fundo que se realizará a campanha salarial de 2010. A burocracia sindical da Articulação procurará a todo custo impedir a possibilidade de lutas que se enfrentam com o governo Lula, que passa por eleições nas quais estará em jogo o controle da máquina do Estado pelo PT. Esse controle é vital para a sobrevivência material, financeira e política da burocracia petista e por isso não pode haver “perturbações” no plano de reeleger Dilma, tais como greves de trabalhadores.
Nosso papel deve ser justamente o de colocar em pauta as reivindicações dos trabalhadores, resgatando nossa pauta histórica.

3.4.1 Reivindicações gerais e de bancos privados
- Fim da mesa única da FENABAN. Campanha unificada com mesas separadas de negociação. A campanha unificada se organiza em torno da defesa da convenção coletiva como patamar mínimo ou piso de reivindicação. As mesas separadas são o canal para o atendimento das pautas específicas dos trabalhadores do setor privado e do setor público;
- Estabilidade para todos os bancários, sobretudo do setor privado, contra a demissão imotivada; Nenhum emprego a menos!
- Eleição de delegados sindicais em todos os bancos, como forma de se iniciar um processo de organização e mobilização dos bancários do setor privado, com as prerrogativas da inamovibilidade, estabilidade, etc., não só nas concentrações, como também nas agências;
- Fim das terceirizações e dos correspondentes bancários;
- Contratação de mais funcionários para atender a demanda de serviços bancários;
- Incorporação dos terceirizados ao quadro funcional dos bancos: quem trabalha em banco, bancário é;
- Fim da pilarização e da discriminação na prestação de serviços bancários; abertura das agências destinadas ao público de alta renda para o atendimento de toda a população, sem distinção;
- Redução da jornada de trabalho, sem redução de salários, para 5 horas diárias; - Expediente bancário de 10 horas, com dois turnos de 5 horas cada, como forma de contratar mais bancários e garantir o atendimento de qualidade para todos, sem distinção;

3.4.2 Banco do Brasil
- Reposição de todas as perdas salariais acumuladas desde o início do plano real até os dias atuais. Visto que essas perdas estão em torno de 100%, patamar que não é considerado realista pelos próprios bancários, defendemos um plano de reposição escalonado;
- Isonomia de direitos entre os bancários pré-98 e pós-98, mantendo-se o que for mais vantajoso para os trabalhadores. Deve-se também levar em consideração os direitos dos bancários das instituições incorporadas pelo BB, como o Banco do Estado do Piauí (BEP), Banco do Estado de Santa Catarina (BESC), e Banco Nossa Caixa , aplicando-se o que for mais vantajoso para o funcionalismo;
- Fim do programa de PSO/USO;
- Fim das metas e do assédio moral;
- Por um Banco do Brasil que volte a ter uma gestão pública, voltada para o atendimento das necessidades de bancarização dos trabalhadores excluídos do sistema financeiro; Reestatizar o Banco do Brasil!
- Respeito à jornada de 6 horas, extensível para a gerência média;
- Fim da lateralidade e volta do pagamento das substituições;
- Volta das concorrências, com critérios objetivos para comissionamento;
- Fim da co-participação na CASSI, pela cobrança da dívida de R$ 500 milhões do Banco para com a Caixa de Assistência; que o Banco se responsabilize pela saúde dos funcionários;
- Implantação do plano odontológico sem prejuízo do atual PAS, para todo funcionalismo, à cargo do banco. Que o plano odontológico seja prestado pela própria e CASSI e não por uma empresa terceirizada;
- Reajuste para os aposentados pelo mesmo índice concedido ao pessoal da ativa, de modo a que possam a que possam se incorporar às mobilizações e lutas dos bancários.

3.4.3 Caixa Econômica Federal
- Fim da reestruturação! Barrar a privatização!
- Plano de Reposição de Perdas;
- Isonomia plena entre novos e antigos, com Licença Prêmio e ATS (Adicional por Tempo de Serviço) para todos;
- Implantação de novo PCC/PFC (Plano de Funções Comissionadas) e PSI (Processo Seletivo Interno) com critérios objetivos e pré-definidos, conquistado na última greve;
- Fim da terceirização e dos correspondentes bancários;
- Fim do assédio moral;
- Respeito à jornada, às condições de trabalho e à saúde do trabalhador;
- Aprimoramento da OLT, Conselhos de Delegados Sindicais de caráter deliberativo, democracia no movimento, fim dos comandos nacionais de tipo “biônico”;
- Fim da discriminação na FUNCEF e do ônus para os que não abriram mão do benefício definido;
- Paridade na FUNCEF e fim do voto de minerva da empresa;
- Contra o sucateamento e encarecimento do SAÚDE CAIXA.

4. Reconstrução da Oposição Bancária.

4.1 Problemas históricos da oposição

No ponto 3.1 adiantamos o balanço de que os trabalhadores sabem que as direções sindicais atreladas ao PT não servem, mas não vislumbram alternativa de organização e luta e não encontram firmeza nos projetos de oposição. Essa afirmação bastante sumária e muito dura precisa ser desdobrada.
Fazemos essa crítica no marco de que participamos de um movimento coletivo composto de partidários de diversas concepções. Reconhecemos em todos a combatividade e a disposição de luta. Não questionamos a intensidade da militância e a dedicação dos companheiros da Oposição, sua honestidade e relação com a base, etc. O que questionamos é a justeza da linha política e metodológica adotada pela Oposição e é no marco do debate político e da tentativa de construir uma linha mais adequada que apresentamos essa crítica.
Na realidade, há vários anos temos apresentado críticas à forma como a Oposição Bancária é conduzida. Apresentamos essas críticas de forma mais sistematizada nos últimos dois Encontros realizados em 2009 e mantemos o essencial da nossa avaliação.
A oposição é vista pela categoria como um corpo à parte, uma entidade da qual eles próprios não fazem parte, e que vai resolver todos os problemas em seu lugar. Os bancários não vêem a si próprios como Oposição. Não entendem que a Oposição só pode ter alguma força através da participação da própria base. Ao invés de participar, esperam que montemos uma estrutura “para o seu bem”. A Oposição não tem se esforçado para mudar essa visão e para fazer dos seus fóruns e reuniões um espaço no qual possam se expressar os sentimentos da categoria bancária, o seu dia a dia e sua realidade, em que a base da categoria possa ver uma expressão consciente de si mesma.
A ausência desse esforço decorre de uma opção política por uma determinada concepção de Oposição. Uma concepção em que a Oposição é uma alternativa de direção e não uma alternativa de organização. A diferença está em que, enquanto alternativa de direção, a Oposição só precisa apresentar as melhores propostas a cada campanha salarial ou eleição para os sindicatos ou entidades representativas, se apresentando como mais combativa que a burocracia, para assim colher os votos dos trabalhadores, que virão passivamente à reboque.
Enquanto alternativa de organização, a Oposição deveria CONSTRUIR essas propostas ao lado dos trabalhadores, e não trazê-las prontas para serem simplesmente assumidas pela base. Esse processo de construção requer um tipo funcionamento completamente diferente, um funcionamento que respeite a dinâmica própria da consciência da base e não imponha artificialmente as soluções já prontas. Essa diferença metodológica essencial tem graves repercussões políticas.
Uma alternativa de organização deve se construir necessariamente como uma frente capaz de organizar trabalhadores com todos os graus de consciência e todos os tipos de pensamento político unificados pelo marco comum da oposição à burocracia na luta contra a patronal e o governo. A Oposição não se constituiu numa frente desse tipo por conta da ausência de uma separação entre os seus fóruns e os fóruns da corrente política majoritária, o PSTU.
Na ânsia de manter a qualquer custo a maioria sobre a Oposição ou de simplesmente impedir qualquer questionamento e debate político, o PSTU implantou um tipo de funcionamento em que a Oposição somente se reúne e realiza alguma atividade quando lhe é conveniente. A Oposição somente se reúne às vésperas das campanhas salariais e das eleições para os sindicatos e demais entidades. Não há calendário regular, panfletagens regulares, distribuição das tarefas, discussão política sobre as publicações, transparência financeira e balanço da política. A Oposição é tratada pelo setor majoritário como mera base social para uma chapa eleitoral, não é vista como espaço permanente de organização dos trabalhadores, antes durante e depois das eleições.
Enquanto simples base eleitoral, não há necessidade de que a Oposição se reúna, mas há a necessidade de absoluto controle político. Esse controle se torna prioridade, à custa do esvaziamento numérico e político da Oposição. Basta verificar o quanto a Oposição perdeu tanto em base militante e número de ativistas quanto em diversidade política e de concepções desde a greve de 2004 em que se afirmou como alternativa para a categoria.
O que temos como resultado é uma Oposição sem uma implantação real, que não realiza uma disputa ideológica de fundo, uma disputa real pela consciência dos trabalhadores contra o predomínio avassalador da ideologia burguesa e da burocracia. Quando discute política, a Oposição aparece de forma muito transparente como fachada para um único partido e suas palavras de ordem, decididas internamente nos fóruns desse partido a trazidas prontas para o movimento.
O que questionamos neste ponto não é o direito do PSTU enquanto corrente política de se reunir em separado com os trabalhadores das bases onde tem atuação, de se apresentar como partido eleitoral e lançar seus candidatos, de escrever seus panfletos e distribuí-los, etc. Toda organização de trabalhadores tem esse direito ou mesmo o dever de fazê-lo. O que questionamos é o fato de que esse tipo de atividade SUBSTITUI a atividade de uma Oposição enquanto fórum mais amplo de organização da categoria. É esse erro metodológico que produz ao longo dos anos o esvaziamento da Oposição. Esse esvaziamento se expressa de modo dramático no fato de que não tem havido adesão de trabalhadores à Oposição, ao longo dos anos, e de que o próprio PSTU precisa girar militantes estudantis ou de outras categorias para bancários a fim de manter a intervenção. Esse fato merece uma reflexão muito séria.

4.2 Balanço recente

O descuido e a irresponsabilidade escancarada para com o aspecto metodológico da relação com o movimento apareceu de forma escandalosa em 2009, quando viemos a descobrir, graças ao questionamento de companheiros do sindicato do Rio Grande do Norte em torno da prestação de contas das finanças do movimento, que a Oposição tinha um militante profissional. Esse militante vinha há anos desempenhando tarefas de direção política no movimento na base de São Paulo, em que atuamos, sem que soubéssemos que se tratava de um funcionário profissional. Ou seja, o partido simplesmente decidiu internamente que era necessário um profissional, não abriu a discussão com o movimento, talvez nem mesmo com a sua própria base militante, e o que é pior, nem mesmo com as bases dos sindicatos cujos trabalhadores arcariam com essa despesa; e colocou o profissional a serviço da política que descrevemos acima.
Mesmo depois que esse fato foi questionado no Encontro de 2009, o PSTU não fez qualquer auto-crítica séria a respeito e defendeu a manutenção do funcionário profissional. Para precisar a natureza da objeção que fazemos a esse respeito, esclarecemos que não somos contra à organização e a estruturação da Oposição, pelo contrário, mas somos a favor de que essa tarefa seja assumida pelos próprios trabalhadores. Qualquer outra solução é artificial e resulta em burocratização. Um funcionário profissional em um movimento de Oposição não é a mesma coisa que um dirigente sindical liberado, cuja liberação é um conquista dos trabalhadores contra a burguesia, e como tal está sujeita ao controle da sua base sindical.
Mas esse não foi o erro político mais grave na condução do movimento de 2009 para cá. No Encontro da Oposição de dezembro de 2009 apontamos a necessidade de antecipar a campanha salarial em face da excepcionalidade do calendário que teríamos em 2010, com Copa do Mundo e eleições como eventos que monopolizam a atenção geral.
Essa necessidade foi desconsiderada em função de outras prioridades. No início de 2010 tivemos eleições para os sindicatos de Bauru, RN e BSB, além das eleições para a CASSI, PREVI, FUNCEF e a tirada de delegados para o CONCLAT. Essas atividades consumiram todo o semestre. A Oposição não conseguiu retomar nenhuma entidade sob controle da burocracia, mas conseguiu manter aquelas em que é direção. Entretanto, as diversas campanhas foram realizadas como atividades atomizadas, como se cada uma delas fosse um fim em si mesma, sem que houvesse entre elas uma conexão em torno de um projeto comum. Esse projeto, que seria a construção de uma Oposição de caráter permanente e capaz de organizar os setores combativos da base, foi substituído pelo projeto de alcançar votações um pouquinho maiores nesta ou naquela eleição, ou maiorias circunstanciais, tais como na assembléia para o CONCLAT.
Em outras palavras, as eleições não foram usadas para criar um acúmulo político consistente em torno de um Oposição fortalecida e consolidada. A fragilidade desse tipo de atuação movimentista e imediatista ficou evidenciada no próprio CONCLAT, quando a unificação foi comprometida por não ter base política e programática real e ter sido concebida como mera unificação de aparatos. A falta de base política para uma unificação orgânica real se mede pelo fato de o Congresso não ter tido nenhuma discussão política sobre concepção, programa, conjuntura, plano de lutas, etc. e ter girado em torno de questões organizativas, tais como composição, direção, nome, etc. Essa lógica geral em que naufragou o CONCLAT é a mesma que vem obstruindo a construção da Oposição.

4.3 Reconstrução da Oposição

A construção de novas formas de organização dos trabalhadores, seja no âmbito de uma Central Sindical e Popular ou de um movimento de Oposição, deve ter como seu eixo o resgate da participação real da base e da abertura democrática para o debate político e programático aprofundado.
Defendemos uma Oposição que tenha funcionamento regular, com reuniões periódicas e amplamente divulgadas, abertas e de caráter deliberativo, que discuta democraticamente sua pauta e prioridades, que debata sobre os temas da realidade imediata e geral dos trabalhadores, que elabore coletivamente suas publicações, que respeite e incorpore as contribuições de todos os que se dispuserem a participar e cumprir tarefas, que realize panfletagens sistemáticas e permanentes, que realize atividades de formação teórica e política e culturais para realizar uma disputa ideológica de fundo contra a burguesia, que inclua adeptos de todas as linhas de pensamento no marco comum de uma oposição à burocracia na luta contra a patronal e o governo, que apresente publicamente suas condições financeiras e tenha balanço de suas atividades. É por esse tipo de Oposição que sempre lutamos e lutaremos para construir em nossa base.
Não reconhecemos no MNOB uma Oposição desse tipo. Consideramos o MNOB uma tendência sindical composta pelos militantes do PSTU e seus simpatizantes. Como adiantamos, acima, reconhecemos aos companheiros do partido o mais pleno direito de organizar uma tendência sindical de oposição conforme a sua concepção política e seus métodos. Entretanto, não mais seremos condescendentes e não aceitaremos o direito dessa tendência sindical composta pelos militantes do PSTU e seus simpatizantes de usurpar para si o monopólio da representação política, das finanças e do nome da Oposição em âmbito nacional.
Defendemos uma Oposição nacional nos moldes do que o antigo MNOB chegou a ensaiar em sua origem. Uma Oposição ampliada, democrática, transparente, estruturada, organizada e armada de um programa que represente os interesses da categoria bancária. Uma Oposição que se construa cotidianamente nas lutas da categoria e em sintonia com as lutas do conjunto da classe. Defendemos, assim como antes defendíamos no interior da Conlutas, a construção de uma Central Sindical e Popular que seja não apenas uma nova sigla ou rótulo que aglutine entidades e chapas, como se tentou construir desastradamente no CONCLAT, mas que seja uma verdadeira renovação nas formas de organização dos trabalhadores, contemplando a total autonomia organizativa e financeira em relação ao Estado, métodos anti-burocráticos de funcionamento, disputa em profundidade pela consciência dos trabalhadores, etc.
Entretanto, não consideramos que a filiação a essa Central seja a pré-condição para a participação nessa Oposição nacional, que deve estar aberta aos setores que não reconhecem a necessidade da Central e deixar isso explícito, para que não seja vista como uma simples fachada para chapas eleitorais instrumentalizada por qualquer partido que seja. Esse debate deve ser mantido permanentemente aberto de modo que a própria Central seja construída através do convencimento político real em torno da sua necessidade por meio de sua atuação e da sua real capacidade de revolucionar as formas de organização dos trabalhadores.
Propomos uma Coordenação Nacional, eleita nos Encontros semestrais da Oposição, com caráter executivo, que mantenha também reuniões periódicas quinzenais e abertas, via “chat”, ou outro meio de conferência. Essa coordenação será responsável por elaborar as publicações em nível nacional a partir das discussões trazidas pelas bases regionais e pelos diversos segmentos da categoria. Essa coordenação deve renovar ½ da sua composição a cada mandato e permitir apenas uma recondução.
A coordenação da Oposição seria composta por representantes eleitos em cada base, como: Bauru, Maranhão e Rio Grande do Norte e as oposições de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre, ou e outras regiões que se incorporaram. Essa coordenação terá um responsável pelas finanças nacionais com mandato também rotativo.
Defendemos que a Oposição nacional seja financiada pelas contribuições voluntárias das Oposições locais, a partir de discussão com as bases. No caso dos sindicatos, essa contribuição precisa ser evidentemente discutida e aprovada em assembléia de base, com base. Teria que haver ainda a aprovação em assembléias conforme for o caso, com prestação de contas regular ou extraordinária a pedido dos militantes a qualquer momento. Para iniciar o próximo período já com o princípio de rotatividade, propomos que a centralização das finanças na nova coordenação a ser eleita esteja a cargo dos companheiros do Rio Grande do Norte.
Para consolidar essa forma de organização, propomos que a Oposição Nacional tenha uma Carta de Princípios que estabeleça o objetivo do movimento, seu projeto, quem pode ser membro, o critério de permanência, a forma de funcionamento, etc. Essa Carta de Princípios seria elaborada pela Coordenação Nacional e submetida à apreciação dos fóruns locais.

5. Resoluções

- Campanha salarial: a Oposição dará impulso à luta pelas reivindicações históricas da categoria (ítem 3.4)
- Reorganização da Oposição:
Como princípios do Movimento defendemos:
– A Oposição Bancária é um espaço de organização dos trabalhadores bancários para lutar por seus interesses imediatos enquanto parte da categoria bancária e seus interesses históricos como parte da classe trabalhadora.
– Fazer oposição ao governo, que é patrão da metade da categoria bancária e ajuda a promover os ataques para os bancários do setor privado;
– Lutar contra a Articulação e seus aliados, que são instrumentos do governo e da patronal no interior do movimento;
– Mecanismos democráticos de funcionamento e respeito à vontade da base, como forma de reconstruir a subjetividade da categoria bancária, a condição dos trabalhadores de autores do seu destino;
- Independência em relação aos governos, patrões e partidos. Tudo que diz respeito ao Movimento (linha política, conteúdo dos materiais, finanças, etc.) deve ser discutido e decidido nos fóruns do próprio Movimento, que são soberanos sobre suas questões internas. O Movimento deve se sustentar por meio da contribuição dos seus integrantes e por campanhas financeiras impulsionadas pelo próprio Movimento junto aos trabalhadores;
- Ação permanente e regular sobre a base por meio de panfletagens, atividades de propaganda e formação, seminários, etc., de modo a fazer avançar a consciência da categoria bancária;
- Funcionamento regular por meio de reuniões periódicas ordinárias do fóruns locais (duas vezes por mês, ao menos);
- Organização pela base a partir dos locais de trabalho, por meio de um trabalho estruturado sobre os representantes sindicais de base (delegado sindical) nos bancos em que já existem, e lutar para que a conquista da organização de base se estenda para toda a categoria, sobretudo nos bancos privados;
- Controle da base sobre os dirigentes, por meio da revogabilidade dos mandatos, rodízio na composição da Coordenação e proibição das reeleições indefinidas;
- Transparência na prestação de contas e no balanço político das atividades realizadas, como forma de evitar a burocratização e de educar a base para exercer o controle sobre o Movimento, que lhe pertence. Pelo menos em uma reunião do mês haverá o ponto de finanças. A prestação de contas estará disponibilizada, por escrito, para qualquer integrante que a solicitar em qualquer tempo;

Proposta de carta de princípios

1. O coletivo Bancários de Base é um espaço de organização dos trabalhadores bancários para lutar por seus interesses imediatos (salário e condições de trabalho) e seus interesses como parte da classe trabalhadora.
2. O coletivo Bancários de Base é aberto a todos os trabalhadores bancários, de qualquer partido ou linha de pensamento, que estejam de acordo com os seguintes princípios:
2.1 Independência em relação a patrões e governo.
2.2 Oposição à burocracia sindical (Articulação - PT e seus satélites)
2.3 Democracia nos organismos do movimento.
2.4 Ação direta como método de luta.
2.5 Organização por local de trabalho.
2.6 Auto-organização do coletivo de acordo com o método de funcionamento descrito abaixo (item 3) e com os seguintes critérios:
2.6.1 Participação nas reuniões, com direito a voz e voto, sem distinções hierárquicas, com o compromisso do cumprimento das tarefas coletivamente deliberadas.
2.6.2 Contribuição financeira regular.
2.6.3 Participação nas panfletagens e intervenções coletivamente deliberadas.
2.6.4 Em caso de divergências quanto a propostas a serem levadas ao movimento, fica reservada às posições minoritárias o direito de apresentar publicamente as suas posições, seja em intervenções no movimento ou nas publicações do coletivo.
2.6.5 Nenhum integrante pode falar em nome do coletivo em qualquer fórum do movimento sem que haja deliberação explícita para isso.
2.6.6 Em caso de descumprimento desses critérios ou desrespeito a princípios básicos da moral e da democracia operária, o coletivo deliberará sobre as sanções cabíveis.
3. O coletivo Bancários de Base tem como método de funcionamento:
3.1 Reuniões periódicas quinzenais alternadas, sendo:
3.1.1 Uma reunião mensal de organização das atividades do movimento, de caráter deliberativo e soberano.
3.1.2 Uma reunião mensal de formação para estudos teóricos, culturais, etc.
3.1.3 Conforme as necessidades do movimento as reuniões de formação podem incluir pontos organizativos.
3.2 Reuniões extraordinárias de organização, fora da periodicidade regular, conforme a necessidade do movimento, desde que devidamente convocadas.
3.3 Seminário sindical anual para revisão da carta de princípios e deliberação sobre as tarefas imediatas (a respeito das tarefas imediatas para o próximo período, ver item 4).
3.4 Lista de e-mails interna para troca de informações e opiniões entre os integrantes do grupo, sem caráter deliberativo, exceto em casos excepcionais de tarefas explicitamente deliberadas em reunião.
3.4.1 Lista externa de e-mails de contatos e simpatizantes.
3.5 Publicação de um jornal regular, discutido, escrito, editado e financiado pelos integrantes do grupo, bem como boletins e panfletos sobre questões específicas conforme a necessidade do movimento.
4. O coletivo Bancários de Base se propõe como tarefas imediatas:
4.1 Retomar a luta pelas reivindicações históricas da categoria como:
4.1.1 Estabilidade para os trabalhadores dos bancos privados
4.1.2 Eleição de delegados sindicais nos bancos privados
4.1.3 Isonomia e reposição de perdas para os trabalhadores dos bancos públicos
4.1.4 Contra o sucateamento das nossas caixas de assistência
4.1.5 Resgate dos fundos de pensão
4.1.6 Outras reivindicações específicas de cada banco
4.2 Campanha permanente, constando em todas as publicações e agitação em todas as intervenções no movimento, pela democracia nos organismos dos trabalhadores, em especial os sindicatos, por meio de medidas como:
4.2.1 Resgate das assembléias e fóruns de base como organismos supremos de deliberação dos trabalhadores, contra a usurpação de todas as decisões pelas cúpulas dirigentes.
4.2.2 Proporcionalidade direta nas eleições para todos os fóruns, como diretoria do sindicato, comando de campanha, comissões de negociação, etc.
4.2.3 Composição de chapas através de convenções abertas e prévias eleitorais para escolha das candidaturas, por bancos e por região.
4.2.4 Revogabilidade dos mandatos por meio de decisão em assembléia.
4.2.5 Limitação do número de mandatos, com proibição de mais de dois mandatos consecutivos e obrigatoriedade da renovação de pelo menos metade da diretoria.
4.2.6 Reuniões periódicas de delegados sindicais e representantes de base com caráter deliberativo.
4.2.7 Eleição da mesa dirigente das assembléias, plenárias, congressos ou qualquer fórum no momento de sua instalação, com proporcionalidade, bem como votação da pauta.
4.2.8 Repúdio à contratação de seguranças para impedir a livre manifestação dos trabalhadores nas assembléias, plenárias, congressos ou qualquer fórum do movimento.
4.2.9 Garantia do direito à palavra para qualquer trabalhador, independentemente da sua filiação ou não a correntes políticas e sindicais, em assembléias, plenárias, congressos ou qualquer fórum do movimento.
4.2.10 Garantia de espaço nas publicações dos sindicatos e entidades para manifestação dos trabalhadores de base, independentemente da sua filiação ou não a correntes políticas e sindicais.
4.3 Pela unidade das forças de oposição na categoria bancária, através de um fórum democrático de diálogo visando o encaminhamento de propostas em conjunto no movimento.
4.4 Pela unidade das forças de oposição em nível nacional visando organizar nacionalmente as lutas da categoria.

Bancários de base e o congresso da CEF 2010

Texto do panfleto distribuído no Congresso dos funcionários da CEF 2010

Os congressos dos trabalhadores da caixa historicamente se constituíram como um importante instrumento de organização, debate, conscientização e deliberação das reivindicações da base, expressando a vontade e a disposição de luta dos trabalhadores da CEF. No último período estes congressos foram se tornando alheios aos anseios dos trabalhadores, distanciados do cotidiano destes, embora alguns grupos tenham se mantido empenhados em construir um movimento combativo e consciente, buscando avanços reais na luta da categoria. Há uma discrepância entre a insatisfação da categoria e a crescente recusa às atuais condições de trabalho por um lado, e por outro a pouca organização e protagonismo dos trabalhadores e trabalhadoras. Isso se reflete nas campanhas salariais onde a adesão ao movimento paredista é ampla e, no entanto, a participação em assembléias e manifestações é reduzida, fragilizando o movimento e facilitando a aceitação de acordos rebaixados.
Diante deste contexto transparece o descaso da atual direção do sindicato em ampliar e democratizar o movimento. Se elementos conjunturais não podem ser ignorados como a preponderância do individualismo, a introjeção da ideologia corporativista por parte dos trabalhadores, a descrença na possibilidade de melhorias e de transformações sociais e etc, entendemos que estes são desafios a serem travados pelo movimento sindical como um todo. Em outras palavras, o contraponto essencial à ideologia dominante é missão dos movimentos de trabalhadores, e se este contraponto não é colocado não se pode eximir a atual direção de sua responsabilidade, pois ela detém a maior parte dos meios para realizar esta tarefa. O que se evidencia, ao contrário, é uma cumplicidade da direção do sindicato com os atuais mecanismos de dominação por meio de um atrelamento a interesses patronais, governistas e partidários. O trabalhador é posto em segundo plano, e ao invés da busca em avançar na luta, cria-se meios de neutralizá-la, manipulando-a conforme interesses escusos.
Notamos a necessidade crescente de nos opormos a esta lógica e compreendemos que não podemos esperar uma mudança de atitude da atual diretoria para reavivar o movimento. Nossa tarefa é fazê-lo como nossas próprias mãos, desvendando e combatendo todos os obstáculos que forem postos para refrear nossa organização. No que tange ao congresso, nossos problemas começam com a precária divulgação deste na base e com a manipulação das eleições nos locais de trabalho, às vezes, e inclusive, em parceria com os gestores das unidades comprometidos com a empresa, o que resulta na participação reduzida e pouco consciente de bancários da base. Outra forma de controle é colocada pela ameaça de retirada do caráter deliberativo e vinculado à campanha salarial, formato que deve ser combatido pelos delegados com o risco de se extinguir o sentido real do congresso. Além disso, existe o perigo de não encaminhamento das deliberações, como ocorreu em relação ao congresso passado, em que não se encaminhou a proposta acatada por consenso de auditoria externa e independente em relação ao papel e impacto da Caixa Seguros e Capitalização nos resultados do banco público.
Diante de tais obstáculos chamamos os delegados e delegadas do congresso estadual a discutir com seus colegas sobre a importância da participação no movimento de forma a levar o debate de forma crítica de volta à base, elucidando sobre as deliberações e a necessidade de auto-organização para a luta. Para viabilizar uma maior participação e efetivos resultados do congresso propomos:
- ABERTURA DOS CONGRESSOS ESTADUAIS À PARTICIPAÇÃO DOS BANCÁRIOS E BANCÁRIAS DAS DIVERSAS BASES SEM ELEIÇÕES PRÉVIAS PARA OS PRÓXIMOS ANOS.
- PROPORCIONALIDADE DIRETA NA ELEIÇÃO DOS DELEGADOS E DELEGADAS PARA O CONECEF (isto é, que a proporção de delegados de cada chapa seja relativa ao número de votos recebidos, sem restrição de percentual)
-CARÁTER DELIBERATIVO E VINCULADO A CAMPANHA SALARIAL
-CUMPRIMENTO DE TODAS AS DELIBERAÇÕES DOS CONGRESSOS (passado e atual)
-NENHUMA RESTRIÇÃO À PARTICIPAÇÃO ATIVA DOS DELEGADOS E DELEGADAS: democracia na condução das plenárias e possibilidade de fala a todos, havendo, se necessário, uma prévia consulta à plenária sobre a quantidade de tempo e número de falas.
-QUE O DEBATE SOBRE A PARTICIPAÇÃO DAS TRABALHADORAS MULHERES NÃO SE RESTRINJA À POLÍTICA DE COTAS, E SIM, OCORRA COM BASE NUM REAL DEBATE EM PROL DA PARTICIPAÇÃO IGUALITÁRIA DOS GÈNEROS, COM O RECONHECIEMNTO E VALORIZAÇÃO DAS DIFERENÇAS.
Vamos criar juntos, a partir da auto-organização de base, um movimento consciente, plural, democrático e combativo onde os protagonistas sejamos nós, trabalhadoras e trabalhadores, para avançarmos na luta por melhores condições de vida e trabalho.

Por uma campanha independente e democrária - BB 2010


Texto do panfleto distribuído no Congresso Nacional dos Funcionáros do Banco do Brasil 2010

Os desafios do ano de 2010

2010 não é um ano como outro qualquer, pois teremos Copa do Mundo e eleições como eventos que atraem a atenção geral. Isso faz com que seja um ano “mais curto”, em que sobra menos tempo para a organização da nossa campanha salarial.
Mais importante do que isso, porém, é a conjuntura em que essa campanha será realizada. A crise econômica mundial continua se desenrolando, como atesta o aprofundamento da crise do endividamento público, em especial nos países da periferia da Europa chamados PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha, na sigla em inglês), cuja situação de insolvência ameaça a própria continuidade do euro como moeda comum européia. Para fazer frente a essa ameaça, a burguesia já determinou cortes nos gastos do Estado, o que significa redução do orçamento para as aposentadorias, os serviços públicos, a saúde, a educação, o pagamento dos servidores, etc. Em resposta a isso, os trabalhadores gregos já protagonizaram grandes greves gerais desde o mês de março, sinalizando aos trabalhadores do mundo inteiro o caminho da resistência contra os ataques do capital.
O Brasil faz parte dessa mesma realidade mundial, embora momentaneamente pareça imune aos efeitos da crise. O Brasil é uma das economias dominadas no sistema mundial, sem o controle sobre os setores estratégicos em que se geram inovações tecnológicas e ganhos de produtividade (informática, biotecnologia, etc.), dependente das exportações para o mercado mundial, fonte de mão de obra barata e fornecedor de matérias-primas e manufaturas de baixo valor.
A aparência de imunidade em face da crise decorre do uso do Estado para salvar os negócios da burguesia. O governo Lula já entregou aos capitalistas centenas de bilhões de reais através de empréstimos, isenções fiscais, recursos do PAC, cortes na taxa SELIC, redução do compulsórios dos bancos, etc. O volume de dinheiro emprestado passa de 45% do PIB, um recorde histórico. Na ponta do consumo popular, também tem havido uma explosão de aumento do crédito ao consumidor. O crédito para pessoa física dobrou entre 2003 e 2009. Os bancos federais tem sido protagonistas, passando de 35% para 41% de participação no total de crédito desde o início da crise.

E os bancários nessa história

O aumento explosivo do crédito e do consumo fez com que a economia brasileira entrasse o ano de 2010 aparentemente livre da crise, pois o crescimento do mercado interno compensou as perdas nas exportações. Por outro lado, os números do crédito mostram um aumento também explosivo do endividamento, tanto público quanto privado e dos trabalhadores. Ciente disso, o governo Lula já anunciou num comunicado recente aos ministérios que não devem ser concedidos aumentos salariais aos servidores este ano. O governo pode fazer propaganda de que o Brasil venceu a crise, pois isso é importante para eleger sua candidata nas eleições, mas sabe que precisa controlar os gastos públicos para evitar um novo agravamento da crise, exatamente como fazem seus colegas dos PIGS.
Em outras palavras, as campanhas salariais dos trabalhadores do setor público no segundo semestre devem ser muito duras, pois o governo precisa evitar greves para garantir a eleição de sua candidata e também economizar dinheiro para continuar entregando à burguesia. Em relação aos trabalhadores dos bancos públicos, estamos colocados diante de uma situação de dupla ofensiva, pois estamos sendo chamados a “ajudar o país a sair da crise”, trabalhando num regime de superexploração para aumentar o crédito, ao mesmo tempo em que querem nos forçar a apertar os cintos para ajudar o governo a fazer caixa para enfrentar a crise.

A necessidade de uma campanha diferente

O BB apresentou um lucro de R$ 2,35 bilhões no primeiro trimestre de 2010, resultado 41% maior que o do ano passado. Esse lucro se deveu a um aumento de 39% nas receitas com crédito, com 55% de aumento no crédito ao consumidor e 200% no segmento automobilístico (graças à parceria com a BV). Esses números expressivos da lucratividade do BB tem se repetido ano a ano. Ao mesmo tempo, temos sido forçados a engolir reajustes salariais que mal repõem a inflação do ano, mas deixam para trás as perdas de 90% acumuladas no período FHC, entre outras pendências históricas (PCC-PCS, isonomia, pagamento das substituições, sucateamento da Cassi, etc.).
Os resultados do BB mostram que a empresa tem condições de atender as reivindicações dos seus trabalhadores, mas isso não acontece por falta de um enfrentamento real contra o nosso patrão nas campanhas salariais. As entidades sindicais que dirigem a nossa campanha salarial, centralizadas pela Contraf-CUT, tem tido como prioridade proteger o governo Lula do enfrentamento com os trabalhadores do BB, desviando nossas campanhas salariais para o beco sem saída da Mesa Única da Fenaban. Em 2010 isso tende a ser ainda pior, pois a prioridade da CUT, controlada pelo PT, será eleger Dilma presidente.
Os dirigentes cutistas terão a desfaçatez de pedir o apoio a Dilma num Congresso de trabalhadores do BB, com a ameaça de que o candidato do PSDB privatizará o BB. Ora, durante todo o mandato de Lula o curso privatista dado ao BB não foi revertido. Sofremos a reestruturação de 2007, a reforma estatutária da Cassi, os sucessivos saques ao superávit da Previ, e mais do que isso, sofremos com um dia a dia de trabalho marcado pelo assédio moral pelo cumprimento de metas, dentro de uma estratégia de concorrência com os bancos privados que não tem nada a ver com o papel de um banco público. Em outras palavras, o governo do PT implantou uma privatização branca do BB. Portanto, o PT não nos protege contra a privatização. A única defesa contra a privatização, seja ela feita pelo PT ou PSDB, está na organização dos trabalhadores para lutar por um banco público que tenha uma estratégia a serviço da sociedade e que respeite os seus funcionários.

Nossas reivindicações

Diante dessa realidade, a questão da independência política da direção da campanha em relação ao governo se torna fundamental. Nossos representantes na campana salarial precisam defender os nossos interesses e não os do partido no governo. Somos trabalhadores em negociação com um patrão e precisamos de trabalhadores falando em nosso nome, e não de prepostos do patrão. Precisamos de um outro formato de campanha, em que os trabalhadores possam de fato participar. Nos últimos anos os trabalhadores do BB têm se ausentado da campanha, concordando até em fazer greve, mas não comparecendo aos piquetes e assembléias, o que enfraquece o movimento. Para mudar essa realidade, as medidas democráticas são fundamentais. Por isso propomos um outro formato de campanha, em que a base tenha soberania das decisões:
- que as deliberações do Congresso sejam ratificadas em assembléia específica da base;
- que os componentes da Comissão de Empresa sejam eleitos nas assembléias e com mandatos revogáveis;
- direito de voz para qualquer bancário e não somente para as forças políticas (partidos);
- fim dos delegados e/ou representantes "biônicos", ou natos, em qualquer instância do movimento e, em especial, neste Congresso;
- que mesa seja eleita no início dos trabalhos, seja em assembléias ou qualquer outro fórum do movimento. Repudiamos a postura do Sindicato de São Paulo, Osasco e Região, que contrata seguranças para impedir os bancários de se manifestar nas assembléias;
- independência total do movimento em relação aos partidos, patrões e principalmente em relação ao governo, patrão direto de metade da categoria bancária;

Somente assim os bancários do BB serão estimulados a retomar o movimento em suas mão e participar de fato da campanha. E somente com participação poderemos lutar por:
- Plano de reposição de perdas salarias do período FHC;
- Isonomia; retorno da licença prêmio; interstício de 12% e 16%;
- Retorno das substituições;
- Mais contratações. Aumento de dotação de TODAS as dependências. Abaixo o Projeto BB 2.0 que remaneja funcionários para as agências mais rentáveis e piora as condições de trabalho nas dependências que perderam funcionários;
- PLR linear, igual para todos e desvinculada das metas. Fim do módulo bônus;
- Eleição de delegado sindical em todos os bancos incorporados;
- Fim do voto de minerva na PREVI. Fim dos sucessivos saques do superávit da Previ. Fim da co-participação na CASSI e da gestão privatista que a direciona para o sucateamento.

Tese para o Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil 2010


1 CONJUNTURA INTERNACIONAL

1.1 O Caráter da crise

O fato central da realidade mundial atual é a vigência de uma crise econômica mais grave do que uma simples inversão de fase do ciclo econômico periódico ordinário. Trata-se de uma crise mais séria, que pode inclusive se transformar em uma depressão global tão catastrófica quanto a que se iniciou em 1929.
A crise não se resume à sua dimensão puramente econômica, pois perpassa vários níveis da realidade e entrelaça fenômenos econômicos, sociais, políticos e culturais de longa duração. Num mesmo processo estão contidos: 1º) a crise econômica estrutural, 2º) o esgotamento do padrão de acumulação, 3º) a crise do modelo neoliberal, 4º) o esgotamento do último ciclo periódico, 5º) a crise político-ideológica da utopia burguesa do “fim da história”, 6º) a crise político-administrativa da forma Estado enquanto instância de controle social, 7º) a crise ambiental, 8º) a crise energética, 9º) a crise alimentar.
Todos esses aspectos dialeticamente articulados convergem para uma crise societal do capitalismo como alternativa societária para a humanidade. A crise atual é uma crise que afeta a totalidade do modo de vida.
Paralelamente à crise do capitalismo, vivemos também uma crise da alternativa socialista. O projeto socialista está ausente da consciência da classe trabalhadora. O proletariado mundial, sujeito social da transformação histórica, está desprovido de um projeto societário alternativo ao capitalismo que possa ser apresentado como alternativa positiva imediata em face do processo em curso de decomposição acelerada da ordem estabelecida.

1.2 Crise estrutural

A crise estrutural do capital corresponde ao esgotamento dos mecanismos de deslocamento das contradições do capitalismo a partir da década de 1970. No período imediatamente precedente, tais contradições eram deslocadas por formas de produção destrutiva (gastos militares do Estado, consumo de bens de luxo pela burguesia, etc.) e políticas de bem-estar social capazes de dar vazão à gigantesca acumulação de capital ocorrida nas décadas de 1940, 50 e 60 com a reconstrução da Europa e do Japão e a industrialização da periferia. Tais políticas eram denominadas keynesianismo no centro e nacional-desenvolvimentismo nos países periféricos.
A partir de 1970 a tendência à queda da taxa de lucro, assim como as crises de superprodução voltam a se manifestar com força total. Os mecanismos de deslocamento chegam ao seu limite e começam a perder eficácia, forçando o capitalismo a modificar o padrão de acumulação anteriormente vigente. O novo padrão de acumulação aprofunda tendências herdadas do período anterior e desenvolve uma série de novas características.
Os Estados Unidos, que emergiram no pós-II Guerra como principal economia do mundo e a única capaz de liderar a reconstituição do bloco capitalista, no contexto da disputa geopolítica contra a alternativa representada pela URSS, desempenharam essa tarefa financiando a reconstrução da Europa, do Japão e a industrialização da periferia (instalação de plantas industriais controladas pelas transnacionais, processo que se iniciou nas décadas de 1950 a 70 em países como Brasil e Coréia do Sul).
A partir da década de 1970, esse processo de recuperação coordenada foi interrompido pelo retorno das crises cíclicas de superprodução de caráter mais agudo, que se manifestaram por exemplo em fenômenos como o déficit comercial dos EUA para com a Europa. Os EUA reagiram ao retorno das crises agudas nas últimas décadas por meio de medidas unilaterais como: quebra do padrão dólar-ouro, alta dos juros, “consenso de Washington”, desregulamentação financeira, guerra ao terror.
No contexto dessas políticas unilaterais, aprofundam-se fenômenos como: a globalização da produção, que completa a industrialização da periferia mundial com a recente incorporação da China e da Índia; a formação de um mercado mundial de força de trabalho e de um exército industrial de reserva mundial (processos acompanhados de reestruturações produtivas que rebaixam os salários, precarizam as condições de trabalho, dividem a classe trabalhadora, etc.); o crescimento em tamanho e poder das corporações transacionais.
Desenvolve-se também uma III Revolução Industrial, que se manifesta na incorporação maciça da tecnologia à produção, na forma da robótica, microeletrônica, informática, telecomunicações, internet, biotecnologia, etc. A revolução tecnológica multiplica a produtividade (ou seja, a taxa de exploração dos trabalhadores) e produz também o desemprego tecnológico estrutural.
Para contornar as dificuldades de realização do capital nas circunstâncias restritivas da crise estrutural, a burguesia apela para a criação de diversas formas de capital fictício, ou seja, desenvolve processos de especulação nos mercados financeiros que negociam valores nominais várias vezes maiores que o total da produção mundial real. Esse processo de crescimento do capital fictício vem acompanhado do endividamento do Estado, das empresas e dos consumidores, já que inclusive os títulos de dívida se convertem em “ativos” negociados nos mercados financeiros.

1.3 Hegemonia neoliberal

Esse padrão de acumulação peculiar ao período pós-1970 adquire expressão teórica e política no neoliberalismo. O neoliberalismo interpreta o retorno das crises periódicas agudas nas décadas de 1970 e 80 como demonstração do fracasso das políticas econômicas keynesianas. A alternativa para combater as crises estaria na retirada do Estado da economia e na atuação plena do livre-mercado em todos os terrenos. Na realidade, por trás desse discurso de “retirada do Estado da economia”, se disfarça uma operação de seqüestro do Estado pelos setores mais rentistas e parasitários da burguesia mundial. A burguesia financeira usa o Estado como instrumento para um violento ataque contra a classe trabalhadora com o objetivo de potencializar a extração de mais-valia.
Depois de conquistar a hegemonia política nos países centrais na década de 1980, esmagando a resistência da classe trabalhadora no núcleo do capitalismo, o neoliberalismo se volta para a periferia, através do chamado “consenso de Washington”, que na verdade representa um ditado imperial do capitalismo estadunidense imposto aos países periféricos na década de 1990. Desse ditado constam medidas como: privatizações, retirada das proteções trabalhistas, sucateamento dos serviços públicos, saque dos fundos públicos, saque dos recursos naturais, desregulamentação das finanças e liberalização da movimentação do capital de modo geral.
O conjunto dessas medidas foi apresentado como a panacéia universal para curar todos os males das economias enfraquecidas pelas crises dos anos 1970 e 80. Na realidade, o neoliberalismo somente contribuiu para aprofundar os problemas, agudizando as contradições do capitalismo e precipitando crises ainda mais graves nas décadas de 1990 e 2000.
A aparente viabilidade do neoliberalismo não foi demonstrada por seus alegados méritos intrínsecos, mas pela conveniente desaparição do modelo que se lhe apresentava então como alternativa, o da URSS e do leste europeu, que desmoronaram entre 1989-91. O fim do modelo vigente naqueles Estados foi maciçamente propagandeado como demonstração do “fim do socialismo” e do “fim da história”, ou seja, vitória definitiva do capitalismo.
Essa propaganda foi usada como arma política para desarticular a resistência dos trabalhadores às políticas neoliberais. Desprovidos de uma alternativa histórica ao capitalismo, as organizações da classe trabalhadora, como partidos e sindicatos, aceitaram o “livre mercado” como horizonte definitivo de organização da vida social, incorporando-se à sua administração e abrindo caminho para o ataque da burguesia contra as condições de vida da classe.
Esse ataque prosseguiu pelas décadas de 1990 e 2000, nas quais a burguesia impôs o desemprego estrutural, a retirada de direitos trabalhistas, a precarização geral das condições de trabalho, as terceirizações e subcontratações, o trabalho temporário, informal, etc. Essas transformações estruturais criaram dificuldades ainda maiores para a organização dos trabalhadores enquanto classe, desarticulando os instrumentos de resistência coletiva e empurrando os trabalhadores para a busca de soluções individuais para os seus problemas.
Somou-se a esse ataque diretamente político a propaganda ideológica em torno do conceito de “globalização”, vendido como um processo “inevitável” e supostamente benéfico de formação de uma “aldeia global” na qual haveria a “livre circulação” de mercadorias, pessoas e idéias, promovendo uma nova era de prosperidade ilimitada e “ao alcance de todos”.
O verniz ideológico da globalização tenta apresentar como natural o processo social de aprofundamento do neoliberalismo, que corresponde a um período particular da história do capitalismo em crise estrutural. Os ataques contra a classe trabalhadora são parte da ofensiva geral da burguesa para se libertar de qualquer forma de regulamentação estatal da atividade econômica, sejam trabalhistas, contábeis, ambientais, de saúde pública, etc., vistas como obstáculos para o lucro. A desregulamentação geral acompanhou a liberalização financeira como uma das características centrais da realidade econômica nas últimas duas décadas.
A desarticulação política e ideológica dos trabalhadores e a ausência da devida resistência da classe operária ao neoliberalismo propiciou à burguesia a oportunidade de potencializar a extração de mais-valia, tanto absoluta (extensão da jornada) quanto relativa (aumento da produtividade), no novo cenário de um mercado mundial de força de trabalho em que os custos salarias e também indiretos (direitos, benefícios e proteções sociais) tendem a ser nivelados por baixo.
Além de servir para derrubar a resistência política dos trabalhadores nos países imperialistas e na periferia capitalista, a queda dos regimes do leste europeu serviu também para abrir terreno ao capital para a incorporação de um novo e vasto território econômico no qual a burguesia havia sido expropriada. A mão de obra barata e qualificada, os recursos naturais e as forças produtivas da antiga URSS e dos seus satélites ficaram à disposição do capital mundial para serem explorados em associação com a nova burguesia que se formou nesses países composta pelas máfias e pelos restos da antiga burocracia. A reconquista desses territórios foi também um fator importante para auxiliar na recuperação e na expansão do capitalismo mundial na década de 1990.

1.4 A divisão internacional do trabalho e os fundamentos da atual crise

A atual crise, no seu aspecto puramente econômico, apresenta uma tripla dimensão de: 1º) esgotamento do padrão de acumulação criado nos anos 1970; 2º) crise do modelo neoliberal iniciado na década de 1980 no centro do sistema e generalizado para a periferia na década de 1990; 3º) fechamento do último ciclo periódico de crescimento iniciado em 2002 e encerrado com a crise de 2008.
O último ciclo periódico carrega em si as contradições que vinham se acumulando desde o início dos anos 1970 e que se agudizaram a partir da hegemonia neoliberal. A reconfiguração do sistema capitalista mundial impulsionada pelos Estados Unidos nas últimas quatro décadas teve como resultado a formação de uma determinada forma de relação entre as diversas economias nacionais que constituem o conjunto do sistema, uma forma específica de divisão internacional do trabalho entre os países e continentes. É essa forma específica que também entra em crise com o fechamento do atual ciclo.
O capitalismo está atualmente estruturado em torno da condição dos Estados Unidos de emissor da moeda de reserva mundial e simultaneamente maior mercado consumidor. Os Estados Unidos emitem a moeda com a qual pagam pela importação de mercadorias cuja produção impulsiona o crescimento do restante da economia mundial. Outros centros do capitalismo como Europa e Japão também possuem importantes mercados internos, mas o núcleo dinâmico de seu crescimento está nas exportações para o mercado estadunidense. As exportações para os Estados Unidos não são realizadas apenas diretamente, mas também em boa medida através da Ásia, em especial da China, para onde se deslocaram grande parte das plantas industriais das corporações estadunidenses, européias e japonesas que fazem a montagem industrial final dos produtos, aproveitando-se da mão de obra barata. As matérias-primas que alimentam esse circuito produtivo provém da América Latina (minérios e alimentos), do Oriente Médio (petróleo) e em menor medida da África, componentes periféricos do circuito.
A capacidade dos Estados Unidos de absorverem as exportações mundiais depende da capacidade dos seus trabalhadores de se endividarem. Esse endividamento tem se aprofundado nas últimas décadas, com os trabalhadores assumindo dívidas muito maiores que a sua renda, culminando na atual crise do mercado imobiliário. A crise do endividamento dos trabalhadores é simultaneamente uma crise do mercado financeiro, cujo crescimento artificial nas últimas décadas estava baseado precisamente na hipótese do crescimento infinito do endividamento dos trabalhadores e das empresas que lhes fornecem bens de consumo (como as montadoras de automóveis estadunidenses severamente debilitadas).
O endividamento dos trabalhadores e das empresas, tanto produtivas quanto financeiras, é em última instância garantido pelo endividamento do próprio governo estadunidense. Para salvar os bancos e entidades financeiras atingidos pela atual crise o governo estadunidense teve que desembolsar trilhões de dólares em pacotes de salvamento. Na falta de uma receita fiscal suficiente para cobrir esses pacotes de salvamento, mesmo porque a própria retração econômica vai reduzir a arrecadação de impostos, o governo estadunidense terá que apelar para a emissão de títulos do tesouro.
Os investidores que adquirem esses títulos estão na verdade emprestando ao governo estadunidense com base na confiança de que o governo terá os dólares para resgatar esses títulos no seu prazo de vencimento.
Dentre os investidores que detém a maior parte dos títulos do tesouro estadunidense estão justamente os bancos centrais dos países que exportam para os Estados Unidos: China, Japão e tigres asiáticos. Esses países recebem em dólares pelos produtos que vendem aos Estados Unidos, e usam esses dólares para comprar títulos denominados em dólar. Recebem dólares no presente que usam para comprar títulos que representam o direito sobre dólares futuros.
Isso faz com que essas economias exportadoras dependam da continuidade do funcionamento do atual circuito de consumo-endividamento-especulação centralizado pelo mercado estadunidense. Essa continuidade está ameaçada pela eclosão da atual crise.

1.5 Esgotamento do atual ciclo periódico

O sistema capitalista é uma unidade na qual se articulam os processos de produção e circulação de mercadorias. O próprio desenvolvimento da produção origina crises de superprodução que são expressão das dificuldades crescentes da realização da mais-valia e do processo de reprodução ampliada do capital como um todo. Para contornar estas dificuldades desenvolveram-se mecanismos de crédito e geração de capital fictício, que resultaram num aumento do endividamento. Esses mecanismos criam uma ilusão de autonomia do capital financeiro com relação à produção (o que seria “economia real”) e uma falsa percepção de que as crises têm origem no mercado financeiro (“economia virtual”); quando na verdade trata-se da expressão das contradições do funcionamento do capitalismo enquanto uma totalidade.
Cada crise econômica é provocada pelas próprias soluções que foram encontradas pela burguesia para contornar a crise anterior. A burguesia na realidade é incapaz de solucionar as crises do capitalismo, pois isso equivaleria a dissolver o próprio modo de produção e dissolver-se enquanto classe dominante. As soluções burguesas para administrar as crises são sempre medidas parciais, que deslocam os problemas para frente e preparam a eclosão de crises cada vez mais catastróficas no futuro. A atual crise tem origem nas soluções que foram encontradas pela burguesia estadunidense para administrar a crise precedente em 2000-2001.
Em 2000 aconteceu a quebra da NASDAQ, a bolsa de valores que negociava ações das empresas de alta tecnologia, quando se percebeu que essas empresas jamais seriam capazes de gerar um lucro capaz de compensar o valor pelo qual suas ações eram negociadas. Essa incapacidade era mais uma vez determinada pelo fenômeno clássico da superprodução, na medida em que havia uma superprodução de bens de consumo duráveis, em especial automóveis, computadores e bens de consumo eletroeletrônicos, resultado do deslocamento de boa parte da produção de tais mercadorias para os países de mão de obra barata como a China.
Para tentar recuperar a taxa de lucro, a burguesia estadunidense reagiu em duas frentes: 1º) lançando a “guerra ao terror” em resposta aos ataques de 11/09/2001; 2º) baixando drasticamente as taxas de juros, de modo a estimular os trabalhadores a continuar se endividando e consumindo.
A “guerra ao terror” serviria como estímulo para a economia de duas formas: a) garantindo o fornecimento de petróleo barato dos países subjugados no Oriente Médio; b) estimulando a produção nos setores ligados ao complexo industrial-militar. O fato é que nem a primeira hipótese se verificou, pois a resistência no Iraque e Afeganistão forçou as tropas de ocupação a permanecer por muito mais tempo do que o planejado, encarecendo tremendamente o empreendimento, endividando o Estado e provocando o aumento dos preços do petróleo; e nem as encomendas do Estado ao complexo industrial-militar foram suficientes para estimular a economia como um todo.
Na outra ponta, a queda da taxa de juros provocou uma explosão do endividamento e da especulação. Os trabalhadores fizeram empréstimos hipotecando suas casas como garantia. As empresas do mercado imobiliário que fizeram as hipotecas venderam os títulos que lhes davam direito ao recebimento desses empréstimos como “ativos” negociáveis nos mercados financeiros. Os bancos de investimento compravam esses títulos e os repassavam aos seus investidores, com a garantia das seguradoras contra o risco da inadimplência. Entre esses investidores estavam os mercados financeiros internacionais, os bancos e fundos de pensão.
A possibilidade de se auferir altos lucros com empréstimos baseados em imóveis transformava as casas em investimentos. A procura por títulos lastreados em empréstimos imobiliários fez com que se valorizassem artificialmente os preços dos imóveis. A valorização dos imóveis gerou um “boom” do mercado imobiliário e da construção civil, que foi a base do crescimento econômico estadunidense no período de 2002-2007. As famílias hipotecavam suas casas pela segunda ou terceira vez. Famílias que não tinham condições de adquirir imóveis recebiam empréstimos facilitados para comprá-los.
Esse ciclo de crescimento chegou ao fim quando já não havia pessoas capazes de adquirir casas nem de hipotecá-las por uma segunda ou terceira vez (hipotecas “subprime”), ou seja, o fenômeno clássico da superprodução se manifestou na superprodução de imóveis. Os trabalhadores começaram a não poder pagar as prestações das hipotecas. A inadimplência provocou uma reação em cadeia que começou com a falência das financeiras que negociavam hipotecas “subprime” (2007), alastrando-se para os bancos de investimento que vendiam títulos lastreados nessas hipotecas (ou em dívidas de cartão de crédito, empréstimos automobilísticos, crédito estudantil, etc.), passando para as seguradoras que garantiam esses títulos (como a AIG), chegando aos mercados financeiros globais em meados de 2008.
A crise do mercado financeiro tornou impossível para as empresas produtivas rolarem suas dívidas. Na ausência de um mercado consumidor capaz de absorver “naturalmente” a superprodução de mercadorias, as empresas facilitavam o crédito para que os trabalhadores consumissem seus produtos. As montadoras de automóveis como a GM faziam empréstimos a juros praticamente zero. Com a emergência da crise financeira, é precisamente esse crédito que deixa de existir. A ausência de crédito obriga as empresas a reduzirem a produção, fecharem fábricas, demitirem seus empregados, cortarem salários e benefícios dos trabalhadores, etc. O desemprego e a redução do poder de compra da classe trabalhadora reduzem ainda mais a possibilidade de escoamento da produção, porque não há compradores, e assim sucessivamente, num círculo vicioso que é a própria materialização da crise.
E meados de 2009 a crise econômica mudou de qualidade, pois se antes ela se manifestava por meio de um certo grau de destruição de capitais, agora ela se dá por meio dos déficits orçamentários dos países imperialistas. Os títulos de dívida emitidos pelo governo dos Estados Unidos em mãos de compradores estrangeiros elevaram seu volume de 36,9% do PIB em 2007 para 53,8% em 2009. O Japão acaba de injetar mais 300 bilhões de dólares na economia para conter a crise. Recentemente, um fundo estatal de investimento na portentosa cidade de Dubai, nos Emirados Árabes, acaba de decretar moratória diante da impossibildade de pagar na data estipulada os títulos emitidos por aquele país.
Agora a crise manifesta-se em “soluços” de mini-crises, mas que gestam um cataclisma em médio prazo o qual o modo de produção capitalista não terá como solucionar. E isso não se aplica somente ao plano econômico e social, mas também ambiental. A burguesia se esforça em hipnotizar os trabalhadores com o mote do “desenvolvimento econômico sustentável”, como se fosse possível dentro do capitalismo um crescimento econômico sem dilapidação dos recursos naturais, e sem intensificação da poluição da água, ar e solo.
Ao contrário do que toda a mídia burguesa apresenta, a crise econômica ainda não terminou. Estamos apenas em seu início. Os governos dos países imperialistas (e periféricos como o nosso) já gastaram cerca de 13 trilhões de dólares desde o início da crise para evitar que os grandes capitalistas fossem à bancarrota. Ocorre que, ao fazer isso, os dirigentes do Estado burguês provocaram as seguintes conseqüências: 1 – não se permitiu que houvesse a recomposição “natural” da taxa de lucro, isto é, que os capitalistas quebrassem sem qualquer tipo de socorro, de forma que os efeitos da crise seriam muito mais violentos (o que poderia ser um catalizador de mobilização dos trabalhadores); 2 – a intervenção dos Estados burgueses ao salvar as empresas apenas “empurrou com a barriga” os desdobramentos mais graves para médio prazo, pois a possibilidade de se recompor a taxa de lucro nos patamares anteriores de modo “tranqüilo” é quase nula.
Em outras palavras, esta crise será a mais duradoura de todas, com o planeta caminhando no fio da navalha, pois o equilíbrio econômico, social, político e ambiental está muito tênue. As tentativas de se resolver a crise de maneira drástica poderiam levar a um questionamento ideológico do modo capitalista de produção e organização política, pois iriam se produzir, por exemplo, massas de desempregados muito maiores do que tivemos até agora na égide desta crise.

1.6 Desdobramentos mais recentes da crise

A economia mundial atravessa uma fase de estabilização depois da queda verificada na passagem de 2008 para 2009, ou seja, não está mais caindo como no período de auge da crise, mas não houve ainda uma retomada do crescimento. Do ponto de vista dos porta-vozes da burguesia, essa estabilidade já representa o início da recuperação. Mas na realidade, a economia apenas parou de cair, e ainda não começou a subir de volta para os níveis anteriores a 2008.
A burguesia não sai de uma crise econômica de grandes proporções como a que estamos atravessando sem impor uma derrota histórica aos trabalhadores, que resulte em um nível maior de exploração. A classe dominante ainda não reuniu as condições políticas para desencadear um ataque nas proporções daquele que seria necessário para recuperar a taxa de lucro. Por isso, apesar do aparente sucesso do Estado na administração da crise, as dificuldades para uma retomada do crescimento indicam que a crise permanece latente.
A economia dos Estados Unidos caiu 11,4 em 2009 em relação a 2008, ano em que já havia caído 3,2 sobre 2007. O nível de utilização da capacidade instalada ficou em 66,9%, contra uma média de 79,6 nos últimos 30 anos. A taxa de acumulação do capital industrial caiu em 1,7% no último trimestre de 2009, o 5º trimestre consecutivo em queda, um recorde desde a Grande Depressão. O desemprego permanece na faixa de 10%. O otimismo da burguesia é no mínimo injustificado, pois não há sinais de recuperação robusta em nenhuma das principais economias. Na Europa, países como Grécia, Portugal e Irlanda vivem crises severas de endividamento e a Espanha apresenta um recorde de desemprego de 20%.
Os principais sinais de crescimento estão em países como a China (8% em 2009) ou o Brasil. Entretanto, esses países não têm ainda condições de funcionar como uma nova locomotiva da economia mundial, pois o seu papel real de plataformas de exportação (de manufaturas no caso da China ou de matérias-primas no caso do Brasil) não foi alterado e não pode sê-lo sem uma mudança radical na hierarquia dos Estados capitalistas. Para que possam se tornar potências econômicas na ordem capitalista com peso equivalente aos países imperialistas e capazes de desafiá-los, teriam que ter o domínio do setor de produção de bens de produção, aquilo que Marx chamava de “departamento I” da economia capitalista, o setor dinâmico do crescimento econômico, onde acontece a inovação tecnológica e se geram os ganhos de produtividade. Nenhum dos grandes países periféricos domina setores estratégicos, como informática ou biotecnologia.
O eixo principal da atividade econômica dos grandes países periféricos ainda está nas exportações para os países centrais. Uma vez que a crise provocou uma retração no comércio mundial, ou seja, nas exportações da periferia para o centro, os governos desses países exportadores tiveram que lançar pacotes de estímulo ao mercado interno, o que explica a “recuperação” econômica artificial dos grandes países periféricos a partir do 2° semestre de 2009. O seu crescimento pode funcionar como contrapeso momentâneo para a crise, mas não como alavanca para uma retomada mundial.
Tanto nos países imperialistas como na periferia o Estado teve o papel fundamental de se endividar para absorver de forma organizada o impacto da dissolução do capital fictício. Os trilhões de dólares em papéis sem valor que circulavam na especulação financeira se transformaram em trilhões de dólares de dívidas assumidas pelo Estado sob diversas formas, como estatizações, pacotes de salvamento aos bancos, pacotes de estímulo ao crescimento, oferta de crédito, emissão de títulos públicos, rolagem de dívidas, emissão de moeda, etc. O núcleo do sistema financeiro mundial foi preservado às custas da socialização dos prejuízos. O desenrolar da atual crise será um teste histórico para a real capacidade do Estado de funcionar como força econômica decisiva para a preservação do capitalismo.
O saldo da crise até o momento, além das imensas taxas de desemprego e da degradação das condições sociais nos países centrais, está no endividamento público em escala mundial e com velocidade inédita. Mesmo que a burguesia consiga encontrar uma nova locomotiva para substituir a especulação imobiliária, protagonista do último ciclo, e encetar uma recuperação do capitalismo, a “munição” do Estado foi gasta numa tal escala para administrar a atual crise que o deixou em condição extremamente precária para enfrentar a próxima crise.
Nessas circunstâncias o papel do Estado como “comitê gestor dos negócios da burguesia” se sobressai e traz à tona a dimensão política da questão. A atual crise é a primeira grande crise da história do capitalismo desde 1848 em que não há uma alternativa social organizada, ou seja, em que não há um movimento socialista internacional se apresentando como oposição frontal ao capitalismo e alternativa de transformação social. Na época da crise de 1929 e no início do período de crise estrutural em 1970 ainda existia a URSS e o conjunto dos Estados burocráticos, que com todas as distorções ainda se apresentavam como contraponto ao capitalismo. Ainda que não estivessem mais impulsionando rupturas em direção ao socialismo (ao contrário, caminhavam para a restauração do capitalismo), sua simples existência mantinha viva a idéia da possibilidade dessa ruptura, que deveria se verificar através de revoluções que fugissem ao controle do stalinismo e se afastassem do seu “modelo” burocrático. A partir da década de 1990, desapareceu esse modelo burocrático stalinista, mas desapareceu com ele também a idéia de alternativa ao capitalismo.
Faz-se sentir com todo o peso o problema da crise de alternativas socialistas. O retrocesso ideológico da classe trabalhadora, em especial nas últimas duas décadas, deixou a burguesia de mãos livres para provocar crises e administrá-las como melhor lhe aprouve, sem enfrentar uma resistência organizada e muito menos o desafio de uma ordem social alternativa. As quedas de governantes nos países mais atingidos pela atual crise, como no leste europeu, foram processadas nos marcos da democracia burguesa, ou seja, através da simples troca de um governante por outro, sem alterações substantivas na ordem social. As mobilizações, inclusive as mais violentas, como na Grécia, ou as mais criativas, como os seqüestros de patrões na França, permanecem atomizadas, pontuais, e não apontam para a construção de uma alternativa sistêmica global.
Na ausência dessa alternativa, a ideologia burguesa segue monopolizando o debate. Um dos mais graves limites estruturais enfrentados pelo capitalismo, a questão ambiental, foi contornado pela burguesia mundial sem que se apresentasse nenhuma iniciativa capaz de sequer começar a enfrentar minimamente o avançado grau de degradação das condições ecológicas do planeta. A Conferência de Copenhague em dezembro de 2009 terminou sem apresentar qualquer proposta concreta de um plano viável para combater a degradação ambiental, pelo fato de que esse plano teria um custo insuportável para a burguesia.
A crise do capitalismo, que no momento da sua eclosão deixou entrever em sua multidimensionalidade (crise ambiental, energética, alimentar, etc.) os contornos de uma verdadeira crise societal, não resulta em desafio à permanência do capitalismo sem que se coloque de pé uma alternativa social organizada e consciente a ser impulsionada pela classe trabalhadora. A burguesia administra a crise e impõe a sua versão da história, a sua narrativa de que tudo não passou da irresponsabilidade de alguns indivíduos, alguns banqueiros gananciosos, pois “não há nada de errado com o sistema” e “tudo pode voltar a ser como antes”.
O maior símbolo dessa continuidade através da mudança está nos Estados Unidos, onde o governo Obama segue implantando as políticas herdadas da era Bush. Os serviços públicos estão sendo desmontados em nome da necessidade de economizar recursos para o salvamento dos negócios dos capitalistas, em especial a burguesia financeira. No plano externo, estão sendo mantidas as invasões militares no Iraque e no Afeganistão, bem como as ameaças ao Irã, instalação de bases na América Latina e a presença física de militares dos EUA. O terremoto no Haiti deu também a oportunidade de ocupar militarmente o país caribenho, deslocando as forças da ONU chefiadas pelo Brasil e cortando as pretensões de maior proeminência geopolítica do governo Lula.

1.7 América Latina

No conjunto da América Latina há um reposicionamento da direita. A década de 2000 começou com uma onda de governantes ditos “anti-neoliberais” ou “de esquerda”, contendo uma ala “bolivariana” (Chavez, Morales, Correa) tida como mais radical devido a enfrentamentos limitados com a burguesia local e o imperialismo, e uma ala francamente adaptada ao neoliberalismo (Lula, Kirchner, Vasques, Bachelet, Lugo, Ortega). A ala chavista, apesar da retórica do “socialismo do século XXI”, não rompeu com o capitalismo, adotando apenas algumas medidas limitadas (como as estatizações mediante indenização) e assistencialistas. A ala lulista, que também despertou ilusões de setores de esquerda no continente e no mundo, na prática manteve o essencial das políticas neoliberais (privatizações, pagamento da dívida, desmonte dos serviços públicos, ataques aos trabalhadores), não realizou reformas, não rompeu com o imperialismo e pôs em prática um assistencialismo bancado por superávits comerciais obtidos às custas das exportações de produtos naturais (petróleo, gás, commodities agrícolas). Sem enfrentar de fato as burguesias locais e internacionais não há como realizar melhorias mais duradouras nas condições de vida dos trabalhadores. Sem tais melhorias, as populações do continente voltam a olhar os políticos de direita como alternativa.
No Chile, depois de 20 anos, a direita tradicional voltou a ganhar as eleições, a despeito da popularidade de Bachelet, que não transferiu votos para seu candidato. Esse fenômeno paradoxal é uma expressão da “despolitização da política”, em que os partidos deixam de apresentar diferenças em termos de alternativa social e defendem todos um mesmo projeto, ou seja, a permanência do capitalismo. Os partidos “de esquerda” que admitem a convivência com o capitalismo se convertem em clones da direita e são preteridos pelos eleitores devido à falta de “resultados”. A institucionalização da esquerda e sua capitulação à democracia burguesa andam na contramão da luta para superar a crise de alternativa. A tarefa das organizações de esquerda é precisamente recolocar em discussão a necessidade de um projeto social alternativo, um projeto socialista que se construa nas lutas e para além das conjunturas e eleições.
Antes do Chile, houve um ensaio em Honduras, com o golpe de Estado contra o presidente Zelaya, que se aproximava do chavismo. O golpe foi sacramentado por eleições espúrias (tais como as que se realizam no Iraque e Afeganistão sob ocupação militar estrangeira), que deram posse a um presidente ilegítimo, sem que houvesse contestação internacional ou continental e contando com a capitulação do próprio Zelaya, que cedeu à direita antes que a mobilização popular tivesse condições de impor suas reivindicações.
Os ensaios realizados em Honduras e no Chile, bem como a ocupação do Haiti sob pretexto de ajuda humanitária, mostram que o imperialismo e as burguesias locais estão à postos para retomar o controle dos governos do continente da forma que for preciso. A via golpista não parece ser necessária no momento, pois se provou que os governos “anti-neoliberais” podem ser derrotados eleitoralmente. A democracia burguesa permanece sendo o regime mais eficaz de dominação. A lógica da alternância dos partidos permite que as agremiações da direita explorem as debilidades dos atuais governantes “de esquerda”, tais como a corrupção ou a ausência de melhorias reais na situação material dos trabalhadores, para se credenciar novamente como alternativa. A década de governos “anti-neoliberais” no continente não produziu conquistas materiais significativas, e se esgota deixando as portas abertas para o retorno da direita tradicional.
Além das eleições, a democracia burguesa ainda conta com uma série de dispositivos de controle social que amortecem as contradições de classe, tais como a repressão policial, as instituições penais, o judiciário, que atacam os trabalhadores em luta sem que haja necessidade de uma ditadura militar aberta ao estilo das décadas de 1960 e 70.

2 CONJUNTURA NACIONAL

O grande teste para a direita tradicional se dará no Brasil, com o processo de sucessão de Lula. O presidente brasileiro está sendo canonizado em vida por setores da imprensa burguesa brasileira e internacional, que oferecem o seu exemplo como modelo mundial de governante capaz preservar os lucros da burguesia às custas dos trabalhadores e ainda assim desfrutar de imensa popularidade. O grande achado do governo Lula é o fato de que, como ele mesmo disse, “dar um pouquinho de dinheiro para os excluídos não desmonta a economia” (O Estado de S. Paulo – 10/12/2009). A exaltação da figura de Lula é também uma exaltação das instituições, um reforço ideológico do Estado e da democracia burguesa, do mito de que “qualquer um pode chegar lá” e o sistema é fundamentalmente justo. O triunfo de Lula representa ainda uma espécie de poupança para 2014, quando o “salvador da pátria” poderá voltar para suceder seja a Dilma, seja a Serra.
O projeto encarnado por Lula consiste em empregar pão, circo e cacetete para criar a “miséria funcional”, ou seja, a miséria que não gera revolta. O bolsa-esmola, a Copa do Mundo e a repressão feroz são as formas de administrar a deterioração das condições de vida dos trabalhadores sem que isso provoque mobilizações e desafio ao controle da burguesia. Opera-se uma espécie de desclassicização da classe trabalhadora, a destruição da sua identidade social em nome da sua transformação numa massa de indivíduos dependentes das benesses do Estado. Uma massa que se conforma com os baixos salários, as péssimas condições de trabalho, a superexploração, a ausência de serviços públicos decentes, o subemprego, o trabalho temporário, intermitente, informal, o desemprego aberto, desde que não morra de fome e possa assistir TV. Cria-se uma classe trabalhadora flexível e domesticada, disponível e desfrutável, que pode ser contratada ou demitida com agilidade ao sabor das flutuações do mercado mundial para o qual passa a estar voltada a burguesia instalada no país.
A implantação dessa miséria funcional contou com o indispensável concurso da burocracia petista/PcdoB encastelada no controle dos principais instrumentos de luta da classe trabalhadora, a CUT, CTB, o MST e a UNE, que impediram os setores mais organizados e mobilizados da classe de entrar em luta aberta contra o governo Lula e atrapalhar os negócios da burguesia. As lutas que houveram ao longo de todo o mandato de Lula foram contornadas, desviadas e derrotadas pela burocracia. Houve importantes mobilizações de resistência dos trabalhadores contra a reforma da previdência, operários da construção civil, servidores federais, bancários, correios, petroleiros, professores, etc., bem como ocupações do MST, MTL e Terra Livre, que no entanto se depararam com o obstáculo das direções burocráticas. Essas lutas de resistência obtiveram conquistas parciais e defensivas, mas não puderam pôr em cheque a condução do projeto do governo e da burguesia. A crise atual deu a oportunidade para uma reestruturação nas empresas, com demissões em massa, reduções de salários e corte de direitos, com a colaboração ativa da CUT/CTB e demais centrais pelegas na assinatura de acordos lesivos aos trabalhadores.
O governo Lula tornou evidente o caráter de classe do PT como um partido burguês composto de burocratas. Sua base social está na burocracia estatal, nos aparatos sindicais, fundos de pensão, etc. O projeto e o programa do PT são nitidamente burgueses. Os traços remanescentes de presença operária na base do PT, em especial nos bairros e movimentos populares, não tem mais qualquer influência decisória em qualquer instância do partido. É dos aparatos estatais e sindicais que essa massa de burocratas aufere seus rendimentos e privilégios, como as participações nos lucros dos fundos de pensões, os altos salários nos cargos de confiança, nas diretorias de estatais, os privilégios parlamentares e sindicais, etc. Isso sem falar na captação de recursos via corrupção, de cujos exemplos o governo Lula foi pródigo, desde o mensalão até a Bancoop.
O PT defende um projeto capitalista com um pouco mais de controle do Estado do que o PSDB e o DEM. As diferenças entre eles residem na disputa para determinar quem vai usufruir maior controle da máquina do Estado. Em que pesem as divergências pontuais do PT com o PSDB, ambos têm acordo no projeto estratégico de tornar o Brasil um país viável do ponto de vista do capital, o que significa necessariamente a ajuda às empresas e o aumento dos ataques aos trabalhadores, particularmente com o agravamento da crise.
O governo Lula é um governo burguês clássico. É importante diferenciar o governo Lula do próprio PT, pois o governo está mais à direita que o próprio partido. Isso ocorre pela opção do próprio PT e pela necessidade de governabilidade. A base de apoio do governo no Congresso se deslocou dos partidos menores e um pouco mais à esquerda (como PDT, PSB, etc.) para o PMDB, que possui uma grande bancada parlamentar, um grande número de governos estaduais e prefeituras, e portanto uma grande influência perante o governo. O PT obedece cegamente as diretrizes traçadas pelo governo e funciona como instrumento a serviço da governabilidade burguesa, abrindo mão de qualquer bandeira programática. Assim, o governo Lula enquanto projeto e política cotidiana não tem nada de essencialmente diferente em relação ao um governo burguês normal.
Do ponto de vista da disputa entre os partidos, o PSDB conta com um relativo desgaste do PT depois de 8 anos de gestão e sucessivos escândalos de corrupção, que horrorizam especialmente a pequena-burguesia. O PSDB não precisa apresentar um projeto diferente daquele que o PT vem implementando, que na verdade é uma continuidade do projeto FHC, o projeto de inserção do Brasil no mercado mundial como exportador de matérias-primas agrícolas e manufaturas de baixo valor, às custas da devastação ambiental e da superxploração do proletariado. Tudo o que o PSDB precisa fazer é apresentar as credenciais de uma gestão tecnocrática mais eficiente do mesmo projeto, em lugar da versão voluntarista e popularesca protagonizada por Lula. O “sucesso” do governo Lula no plano da economia não tem relação com os méritos da administração petista, mas com as condições favoráveis para o projeto atualmente em pauta nas condições da atual divisão internacional do trabalho.
Em relação ao PT, a vitória de Dilma é uma questão de vida ou morte. O PT se transformou numa máquina eleitoral cuja sobrevivência material depende mortalmente de mandatos parlamentares, cargos no executivo, cargos de confiança, diretorias de estatais, etc. Numa eventual vitória do PSDB, a “despetização” do Estado iria obrigar milhares de burocratas a se relocalizar nos sindicatos, nas ONGs, na academia, etc., ou seja, a ter que “pôr as mãos na massa” na relação direta com os trabalhadores para sobreviver politicamente e materialmente. Por isso, a burocracia fará da eleição de Dilma o principal eixo de atividade das entidades sob seu controle, secundarizando as campanhas salariais ou qualquer outra atividade. O PT fará de tudo para associar o prestígio de Lula à candidatura Dilma e transformar a aprovação do governo em votos, além de demonizar Serra e amedrontar os trabalhadores com a ameaça da volta da direita.

3 O FUNCIONALISMO DO BANCO DO BRASIL

Ano após ano o funcionalismo do BB sofre diversos ataques do governo federal por meio da direção do banco. É bom lembrar que há diretores do Banco oriundos do movimento sindical, como o vice-presidente de gestão de pessoas Luiz Oswaldo, que nada fizeram para melhorar as condições de trabalho. Pelo contrário, implementam uma política que deteriora ainda mais as condições de trabalho, por meio de medidas como o avanço da terceirização, com as conseqüentes fraudes aos direitos trabalhistas.
Em 2007, o governo aplicou uma reestruturação administrativa no banco que:
- provocou o desligamento de mais de 7.000 funcionários por meio do PAA;
- impôs a “lateralidade”, acabando com a remuneração das substituições, o que na prática significa o império o desvio de função, já que os Assistentes de Negócios, que não são administradores, passaram a ter responsabilidades de gerente, sem, no entanto, ganharem para isso;
- deteriorou o ambiente de trabalho dos Caixas Executivos ao reduzir pela metade a quantidade destes profissionais na rede de agências nas grandes cidades;
- fechou prédios inteiros do banco, como a GERIE Campinas, cujos funcionários trabalham na capital, a 100 km de seus lares (o Banco se recusa a pagar vale-transporte para os companheiros);
- precarizou as relações trabalhistas através da terceirização das atividades-fins do Banco, como é o caso do processamento de envelopes e de malotes (USO-PSO); e das transações no cartão de crédito via central de atendimento telefônico. Destacamos aqui a luta dos companheiros trabalhadores da Central de Atendimento de Cartões da empresa terceirizada “Montana” de São Paulo, que fizeram greve no início de 2009 pelo recebimento de seus direitos;
- implantação do “Projeto BB 2.0” que visa remanejamento de funcionários entre as agências e dependências do Banco. Isso piorou ainda mais as condições de trabalho nos locais que perderam funcionários, enquanto o problema da sobrecarga de trabalha não e resolveu nas dependências que tiveram acréscimo de bancários.
Todas essas medidas da reestruturação foram implantadas com a chancela dos nossos sindicatos, da CONTRAF e da CUT.
Não podemos esquecer o lamentável papel destas mesmas entidades sindicais na campanha pelo “sim”, para a aprovação da proposta do Banco e do governo de mudança estatutária da CASSI (Caixa de Assistência dos Funcionários dos Banco do Brasil). O governo queria com isso transferir o ônus das péssimas condições de trabalho (fonte de doenças ocupacionais) para os trabalhadores, por meio da co-participação nos exames, da contribuição para a CASSI sobre o 13º salário e do não questionamento dos mais de 500 milhões de reais de dívidas que o Banco tem junto à CASSI por conta do calote que o governo FHC deu em nossa Caixa de Assistência em 1998 (na ocasião, o governo contribuía com 4,5% sobre a folha de salários e depois passou a recolher apenas 3 %), e principalmente pela política de congelamento salarial de 10 anos do funcionalismo enquanto as despesas médicas não pararam de crescer. O argumento que a direção sindical utilizava para “convencer” os bancários era de que se o estatuto não fosse alterado, o banco acabaria com a nossa Caixa de Assistência, e de que Banco se comprometeria a liberar 300 milhões de reais para a CASSI.
Depois de 4 votações e de muito terrorismo (com a circunstância peculiar de que a votação foi feita por meio do SISBB, isto é, no próprio sistema de informações do BB, que era parte interessada no assunto), acabou-se aprovando a alteração do estatuto e avançou-se mais um degrau em direção ao total sucateamento da CASSI e à desoneração das responsabilidades do governo com o funcionalismo do Banco do Brasil. Hoje o que temos é uma sistemática diminuição da rede credenciada de profissionais e laboratórios. Há também obstáculos para a realização dos trabalhos do Conselho de Usuários. É curioso o fato de que a CASSI apresenta superávit por dois anos consecutivos, mas isso às custas de sucateamento da CASSI através de uma gestão de mercado e da colaboração com o BB para que se isente de suas responsabilidades. Os módulos não têm as equipes médicas completas e ultimamente a CASSI tirou os nutricionistas dos módulos. A nossa Caixa de Assistência passa por uma reestruturação nos moldes daquela que o BB fez com o funcionalismo em 2007, isto é, um desastre. No entanto, nas eleições para a CASSI em 2010, o funcionalismo da ativa repudiou a reforma estatutária votando, em sua maioria, na chapa 3 da Oposição.
Na PREVI, são cada vez mais freqüentes as ingerências do BB nos recursos dos funcionários. A última foi a apropriação de mais de 2,5 bilhões de reais para maquiar os balanços do Banco e passar a imagem de “excelência de gestão”. Os diretores da Previ oriundos do movimento sindical não organizaram a base para lutar contra mais este abuso do governo. Não há lutas para acabar com o Plano 2 e unificar todos os funcionários no Plano 1.
A PREVI tem assento de decisão em diversas empresas, entre as quais, a EMBRAER, e também não fez nada no sentido de evitar os cortes de pessoal naquela empresa. Fica aqui mais uma vez evidência de que lado o movimento sindical cutista está.
Não podemos esquecer a condução pela CONTRAF-CUT do processo de incorporação do BESC e da Nossa Caixa ao BB. No primeiro caso, os funcionários foram obrigados a optar pelo plano de carreira do BB, pior que o do banco catarinense, como condição para continuar empregados no BB, e a central nada fez para evitar o assédio. No caso da Nossa Caixa, a atuação do sindicato foi ainda mais vergonhosa, pois o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região fez campanha pela incorporação do banco estadual paulista ao BB, ao invés de organizar os bancários da Nossa Caixa para lutar pela manutenção do último banco público paulista e pela manutenção de seus empregos. O processo de demissões, que já imperava antes mesmo da incorporação ainda está em pleno vapor.

4 RESOLUÇÕES PARA O CONGRESSO DOS FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO BRASIL

1 – Relação do movimento sindical com os patrões e o governo: O Congresso dos Funcionários do Banco do Brasil se posiciona como fórum independente do governo e dos patrões por entender que ambos são adversários do funcionalismo do BB, tendo em vista os ataques que o governo desferiu no último período, como a reestruturação de 2007, o processo de alteração do estatuto da CASSI e a apropriação de parte do superávit da PREVI para aumentar a distribuição de lucros aos acionistas e garantir superávit primário. Exigimos:
- ratificação das resoluções aprovadas no congresso nas assembléias específicas de base dos funcionários do Banco do Brasil
- realização de Congressos anuais dos funcionários do BB com a eleição de delegados em assembléias específicas, na razão de 1 delegado para cada 100 trabalhadores e proporcionalidade direta na composição das chapas;
- o fim da mesa única e a negociação das demandas dos funcionários do BB, inclusive as cláusulas econômicas e índice de reajuste, diretamente com nosso patrão, a diretoria do Banco e o governo federal;
- na Campanha Salarial de 2010, o comando de mobilização e os representantes na mesa de negociação devem ser eleitos em assembléias de base, com mandatos revogáveis;
- formação de um fórum permanente e deliberativo de delegados sindicais e representantes por local de trabalho para conduzir as lutas cotidianas do funcionalismo;
- realização de um seminário para se debater sobre a crise econômica tendo como finalidade a melhor organização dos trabalhadores para enfrentar a campanha salarial.

2 – Unidade com os funcionários dos bancos incorporados: O Congresso aprova a unificação dos fóruns de lutas dos bancários incorporados pelo Banco do Brasil, de forma que todos os fóruns de deliberação do funcionalismo estejam em conjunto com os companheiros do BESC, do BEP, da Nossa Caixa e do Banco Votorantim.
- proceder com a eleição de delegados sindicais nas dependências dos bancos incorporados como forma de fortalecer a luta de todos os bancários do BB. Estabilidade para os trabalhadores do Banco Votorantim
- construção de um seminário em conjunto com os bancários dos bancos incorporados a fim de que se conheçam as diversas realidades, tendo como escopo a elaboração de um PCC e PCS em conjunto, de modo que todos preservem suas conquistas históricas, seus direitos e suas condições de trabalho.

3 - Unificar a campanha salarial dos bancários com as de outras categorias, como petroleiros, metalúrgicos e trabalhadores dos correios, pois a luta nesta conjuntura será difícil, mas unificando setores importantes da classe trabalhadora podemos vencer.

4 – Pela estabilidade de emprego: O Congresso aprova e encampará a luta dos funcionários dos bancos incorporados pela estabilidade no emprego. Nenhuma demissão e reintegração imediata dos demitidos políticos, em especial o companheiro William (BB – SP), e todos os que foram demitidos por motivos políticos e pela participação nas greves.

5 – PLR: distribuição línea e igual para todos os funcionários. Fim do “módulo bônus”, que é atrelado aos resultados das metas e privilegia os altos comissionados. Lutar pela sua incorporação aos salários;

6 – Reposição de perdas salariais: O Congresso aprova a luta pela reposição das perdas salariais desde julho de 1994, como forma de recompor o poder de compra do funcionalismo após 10 anos de congelamento salarial no governo de FHC e os índices rebaixados sob a égide do governo Lula, que mal repõem a inflação.

7 – Isonomia: O Congresso aprova a luta pela extensão geral e irrestrita de todos os direitos dos funcionários pré-1998 para os funcionários pós-98, como licença prêmio, anuênio,interstícios de 12 e 16 %, etc.

8 – Pelo fim da lateralidade: O Congresso se posiciona pelo fim da lateralidade, que aprofunda o desvio de função, em que escriturários e assistentes assumem funções de superiores e de Caixa sem receber o valor do exercício da função. Pela volta da remuneração das substituições.

9- Pela revogação do Projeto BB 2.0, que precariza ainda mais as condições de trabalho nas agências e dependências que tiveram dotação diminuída e não resolve o problema nas agências que tiveram dotação aumentada. O Congresso se posiciona pelo aumento de dotação de TODAS as dependências de forma ampla, geral e irrestrita, tendo em vista que o excesso de trabalho está generalizado pelo banco. Novas contratações já.

10 – Respeito à jornada de 6 horas: O governo Lula se utiliza das nomeações de Assistente de Negócios e etc, com o claro objetivo de fazer com que o funcionalismo trabalhe em período integral (8 horas), tentando assim fraudar a conquista histórica da jornada de 6 horas do bancário. O Congresso encaminhará a luta pelo respeito à jornada.

11 – Terceirizações: pelo fim das terceirizações, com a abertura de concurso para a incorporação dos atuais funcionários terceirizados aos quadros do Banco. Que o Banco assuma a responsabilidade pelos direitos dos terceirizados dos setores de segurança, limpeza, telefonia, etc., que tem seus direitos trabalhistas sistematicamente fraudados por empresas que não recolhem INSS, FGTS, não pagam férias, horas-extras, etc.

12 – Correspondente bancário: pelo fim dos correspondentes bancários, que os serviços de pagamento e recebimento de contas, processamento de envelopes, saques e depósitos sejam prestados em agências bancárias e por funcionários contratados como bancários.

13 – Cotas raciais: que as novas contratações respeitem a distribuição racial da população de cada região, com cotas proporcionais para os afro-descendentes.

14 – Atendimento: pelo fim da segregação no atendimento da população de baixa renda. Que as agências tenham condições de atender toda a população de clientes e usuários. Que seja revista a dotação das agências com aumento do quadro de funcionários, em especial dos caixas, de modo que o público possa ser atendido sem demora.

15 – Centrais de crédito: pelo fim das centrais de crédito, que funcionam como serviço de telemarketing sem cumprir as normas legais que regulamentam o trabalho de telemarketing.

16 – PREVI: O Congresso repudia a atitude do governo Lula de se apropriar do superávit da PREVI para beneficiar os acionistas e tranqüilizar o mercado acionário. O dinheiro da PREVI pertence aos bancários e são os trabalhadores que devem decidir o seu destino. O Congresso é contra o voto de minerva. O Congresso encaminhará a luta pela migração dos funcionários do plano 2 para o plano 1 e pelo fim da gestão de especulação dos recursos do fundo de pensão.

17 – CASSI: O Congresso se coloca contra o processo de privatização por que passa a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, entendendo que reforma estatutária realizada em 2007 contribuiu ainda mais para o processo de sucateamento e desoneração das responsabilidades do Banco para com a saúde do funcionalismo. O Congresso repudia a atuação dos organismos sindicais que fizeram campanha em favor da aprovação da proposta do nosso patrão, o governo Lula.
- contra a co-participação em exames!
- pela cobrança de mais de 500 milhões de reais de dívida do Banco para com a CASSI!
- pelo fim da farsa dos exames periódicos, por um acompanhamento médico que apure as reais condições de saúde do funcionalismo e responsabilize o Banco pelo adoecimento dos funcionário.
- pelo fortalecimento das CIPAs e dos conselhos de usuários.