segunda-feira, 27 de maio de 2013

Articulação muda estatuto do sindicato e aumenta controle burcrático.



Texto de balanço da assembleia estatutária do dia 14 de maio.


Na terça-feira 14 de maio aconteceu uma assembleia do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, o principal da categoria no país, para aprovar mudanças estatutárias propostas pela diretoria (composta por Articulação/CUT/PT e satélites como Intersindical e PCdoB). O problema começa na própria construção da assembleia para aprovação das mudanças, pois a convocação surgiu por um edital publicado em letra miúda no jornal do sindicato, pouco mais de duas semanas antes do dia marcado. A divulgação das propostas de alteração só aconteceu uma semana antes da assembleia. Num tema dessa natureza, que envolve questões de concepção e projeto de sindicalismo, seria necessário um amplo debate com a base, com tempo hábil para que os bancários discutissem a estrutura e os rumos da entidade que os representa, para que surgissem outras propostas a respeito, o que enfim, exigiria no mínimo um mês de discussão, com publicações, plenárias, etc.

Na verdade, esse tipo de discussão exigiria um Congresso da entidade, que estava previsto na versão anterior do estatuto, mas que não era realizado há muitos anos. Inclusive, a Articulação tratou de mudar o artigo do estatuto que tratava dos Congressos para acabar com a sua obrigatoriedade. Esse é um exemplo das mudanças que foram introduzidas para “modernizar” o estatuto. Na ausência das condições adequadas para discussão, os grupos de oposição que atuam na base, entre os quais o Bancários de Base – SP, que constroi a FNOB, se reuniram na véspera para debater as propostas da diretoria e formular alternativas. O resultado foi um panfleto unitário, cujo texto está publicado no blog do Bancários de Base – SP (http://bancariosdebasesp.blogspot.com.br/2013/05/assembleia-estatutaria-por-um-sindicato.html).

Na assembleia, a Articulação usou o seu eleitorado cativo, ou seja, diretores do sindicato, da Fetec, da Contraf, aposentados e trabalhadores de bancos privados atraídos a custa de favores, sem nenhum debate político, etc. A diretoria contou também com o fato de que o setor mais mobilizado da categoria, os bancos públicos, que são minoria na base, estão escaldados por anos de traição explícita nas campanhas salariais e em todas as lutas, como acabamos de ver no caso do plano de funções do BB. Dessa forma, sem tempo hábil para debate e para que houvesse mobilização, a Articulação conseguiu quórum e maioria para aprovar tudo o que quis.

Uma das mais graves alterações foi a que incluiu entre as fontes de renda do sindicato previstas no estatuto as receitas geradas por entidades subordinadas, como Bancoop (cooperativa habitacional que já frequentou as páginas policiais em suspeita de desvio de dinheiro das obras), Bancredi (que faz empréstimos para bancários, num sério conflito de interesse para uma entidade que deveria lutar por aumento de salários), Bangraf (gráfica que foi desvinculada da secretaria de comunicação e passou para finanças), faculdade (que ao invés de dar cursos sobre a luta e a organização dos trabalhadores, ensina matemática financeira, ajudando a formar mão de obra para os patrões), Travessia, Rede Brasil Atual, etc. A incorporação dessas fontes de renda ao estatuto facilitou a contabilização dos lucros pela diretoria, que agora tem margem para sobreviver sem depender da contribuição dos sócios. O sindicato se tornou independente dos trabalhadores que deveria representar.

Para continuar no controle deste lucrativo “conglomerado” empresarial, e mantê-lo ainda mais distante da luta dos trabalhadores, a diretoria tratou de introduzir alterações que dificultam ainda mais a disputa das eleições, reduzindo os prazos para convocar e realizar as eleições, mantendo as dificuldades de uma chapa de oposição obter a lista de votantes, e diminuindo o quórum de votação necessário. Com isso a burocracia da Articulação pretende se manter “ad eternum” no controle do sindicato.

Toda forma está a serviço de algum conteúdo e não existe conteúdo que não precise de uma forma. A forma de funcionamento do sindicato está a serviço de uma determinada política. A política da Articulação e seus satélites para o sindicato está bem clara. Há décadas este grupo se apoderou do controle da entidade e o transformou no inverso do que era. Ao invés de um instrumento para as lutas da categoria, o sindicato é hoje um obstáculo. Há décadas abandonou-se a luta pela estabilidade nos bancos privados, e com isso, sob a ameaça de demissão, estes companheiros não mais fazem enfrentamento aos bancos, vêem o sindicato como algo externo, uma mistura de escritório de serviços ou clube de convênios. Há mais de uma década abandonou-se a luta pelas reivindicações dos bancos públicos, pois isso exigiria enfrentar a gestão privatista hoje em aplicação no BB e na CEF (que estão engolindo os bancos estaduais remanescentes). Não é preciso vender as ações dos bancos públicos para tratá-los como privados e a atual gestão já faz isso. Os resultados estão no dia a dia das agências e departamentos: desrespeito aos clientes, venda casada, rebaixamento salarial e retirada de direitos e benefícios, metas, assedio moral, individualismo e fim da solidariedade entre colegas, sobrecarga de serviço, adoecimento físico e psicológico.

A Articulação e seus satélites não enfrenta esse projeto, pois não quer entrar em conflito com um governo que é do PT, o seu partido, que é o patrão dos públicos e é aliado dos banqueiros privados (assim como é aliado do agronegócio, da grande indústria, etc.). Ao invés de lutar contra tudo isso, o sindicato de São Paulo, o principal da categoria no país, abandona a resistência cotidiana nos locais de trabalho, abadona os fóruns de base, as reuniões de representantes e delegados sindicais, esvazia as assembleias e espaços de participação, não encaminha o que é votado em assembleias, etc. As campanhas salariais são meramente teatrais, pois não tratam das principais reivindicações listadas acima, não enfrentam os bancos, pois não afetam seu lucro, não permitem a participação da base, a formação de comandos de greve, a apresentação de propostas em assembleia, etc.

Essa política vem sendo aplicada há anos e as novas mudanças estatutárias ajudam a aprofundar esse projeto. Trata-se de um antigo projeto da Articulação a criação do que era chamado de “sindicato orgânico” na década de 1980, um sindicato nacional por categoria (que no nosso caso seria a Contraf), com o poder de assinar acordos, sem a necessidade de passar por fóruns de deliberação na base das categorias, como as assembleias. Agora surge pelas mãos da mesma Articulação o projeto do ACE, o Acordo Coletivo Especial, que prevê justamente isso, a possibilidade de acordos inferiores ao que está garantido na CLT possam ser aprovados sem passar por assembleia. Esse modelo de sindicalismo é o mesmo que existe nos Estados Unidos e na Europa há décadas.

Lá as burocracias sindicais se tornaram parceiras das empresas, uma espécie de anexo ao departamento de recursos humanos. Os sindicatos administram os fundos de pensão, que movimentam fortunas (nisso os bancários da Articulação foram pioneiros no Brasil, com a Globalprev de Luis Gushiken e as negociatas da PREVI), têm o poder de decidir sobre contratação e demissão, negociam os salários e os direitos dos trabalhadores sem que estes possam se organizar de maneira independente (sem a “permissão” dos sindicatos, as greves são ilegais), sem que haja qualquer tipo de oposição, pois qualquer militante que divergisse do grupo dirigente seria denunciado para a patronal para demissão.

É esse o projeto que está em implantação no Brasil pela Articulação. Com isso, os burocratas sindicais teriam condições de sobreviver, independentemente do PT estar no governo ou não, pois seriam parceiros indispensáveis da burguesia na gestão das empresas e na efetivação dos ataques sobre os trabalhadores sem que haja resistência. Não há mais como buscar qualquer tipo de acordo com esse tipo de projeto e essa concepção de sindicalismo expresso pela Articulação e seus parceiros tipo DS e PcdoB. Por isso mesmo, causou estranheza que na mesma assembleia a Articulação tenha feito uma cobrança aos coletivos de oposição, dizendo em alto e bom som no microfone que a proposta de estatuto havia sido construída a quatro mãos com “a oposição”. Qual oposição, cara pálida?

Conforme expusemos acima, nós do Coletivo Bancários de Base, assim que tomamos conhecimento das propostas de alteração, chamamos os demais grupos de oposição para reunião, fizemos o esforço para construir um panfleto contra as mudanças estatutárias e para protocolar num documento na sede do sindicato reafirmando nossa oposição às propostas. Jamais tivemos qualquer diálogo com a diretoria sobre a construção das propostas. Repudiamos essa tentativa de confundir a base com o método de calúnias e insinuações. Negamos categoricamente qualquer participação em discussões com a diretoria sobre essas propostas. Reafirmamos nossa crítica a todas as propostas aprovadas e reafirmamos a defesa de propostas de funcionamento democráticas do sindicato que sempre fizemos em nossos materiais. Aguardamos também um pronunciamento público dos demais coletivos de oposição sobre essa insinuação da diretoria.

De nossa parte, o Coletivo Bancários de Base – SP / FNOB segue apostando na organização nos locais de trabalho, na resistência cotidiana, na comunicação alternativa, para construir uma oposição pela base, retomar as lutas dos bancários mesmo contra a direção do sindicato e futuramente remover o autoritarismo dos burocratas da Articulação do controle do sindicato e retomar a entidade para a luta dos trabalhadores.


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Assembleia estatutária: por um sindicato mais democrático e próximo dos trabalhadores!

Texto que apresentamos para o debate da assembleia sobre mudança do estatuto em 14 de maio de 2013.

Nesta terça-feira dia 14 acontece assembleia para deliberar sobre proposta de mudança estatutária do sindicato. A direção do sindicato apresentou uma série de propostas de mudanças que seriam necessárias para “modernizar” o estatuto. Entretanto, analisando-se as propostas uma a uma, percebe-se que a intenção é criar um sindicato mais distante da base e dos trabalhadores, por isso somos contra as mudanças, e apresentamos outras propostas.



Mudanças que somos contrários:



Organizaçao por local de trabalho. A função dos representantes por local de trabalho deve ser a defesa dos interesses gerais dos trabalhadores, e não limitada como na proposta da diretoria. A forma de eleição dos representantes deve ser definida em assembleia, e não pela diretoria, como está na proposta. A eleição de representantes não pode estar vinculada às chapas que concorrem à diretoria, mas deve ocorrer em processo separado, e os representantes devem ser sempre eleitos diretamente pela base. As reuniões dos representantes devem ter caráter deliberativo, e a diretoria deve obrigatoriamente encaminhar o que for deliberado.

Encontros da categoria. A proposta da diretoria estabelece uma confusão quanto ao que são as “instâncias superiores da classe trabalhadora”, citando as centrais e confederações. A instância máxima de decisão deve ser sempre a assembleia dos trabalhadores. Nenhuma decisão pode ser emitida por central ou confederação, e qualquer proposta tem que passar por assembleia de base para ser referendada ou não.

Adequações financeiras/gráfica dos bancários. A sustentação financeira de um sindicato deve vir apenas da contribuição voluntária dos trabalhadores. O sindicato não pode ter outras fontes de renda, pois isso faz com que deixe de depender dos trabalhadores, podendo se sustentar independentemente da situaçao da categoria estar piorando. Há um sério conflito de interesses quando um sindicato tem uma cooperativa de crédito (Bancredi), pois qual o seu interesse em lutar para aumentar o salário dos bancários quando pode obter lucro fazendo empréstimos aos mesmos bancários? Esse é apenas um exemplo, mas também há outros problemas muito graves em entidades como Bancoop (que já foi parar nas páginas policiais), Travessia, Brasil atual, etc. Uma entidade dos trabalhadores não pode ser um conglomerado empresarial, por isso somos contra a proposta de incorporar essas outras “fontes de renda”. E também entendemos que a gráfica dos bancários deve ser tratada como um instrumento a serviço da informação e conscientização dos trabalhadores, e não como uma empresa, portanto vinculada ao setor de comunicação.

Prazo das eleiçoes. A mudança do prazo para as eleições deve ser transitória, em função da Copa do Mundo, que acontece em 2014 e não nos demais anos. E a necessidade de antecipar as proximas eleições não justifica a proposta de reduzir os prazos para a formação de chapas e para a própria campanha, pois é necessario tempo suficiente para que a categoria discuta os projetos para a entidade.
Sobre as eleições. Também é preciso que as chapas inscritas tenham iguais condições de levar suas propostas aos bancários e para isso a lista dos votantes deve ser disponibilizada a todas as chapas em até 5 dias apos a sua inscrição, em meio eletrônico e organizada por local de trabalho.
Quórum das eleiçoes. A proposta de reduzir o quórum prejudica a representatividade, pois uma diretoria pode acabar sendo eleita com um número muito pequeno de votos. Um quórum elevado, ao contrário, obriga a que as chapas façam um debate mais ampliado, expressando um processo real de organização e envolvimento da categoria, para termos uma gestão verdadeiramente representativa.



Propostas que apresentamos:



Proporcionalidade direta. Na fórmula atual, uma chapa que for eleita com 51% dos votos fica com 100% dos cargos da diretoria. Isso faz com que a vontade dos 49% que votaram na outra chapa deixe de estar representada, como se esses trabalhadores não existissem. A proporcionalidade direta faz com que o número de cargos de cada chapa seja proporcional aos votos. Assim, todas as propostas e formas de pensamento podem estar representadas na diretoria, o que é muito mais democrático e enriquece o debate. Um diretoria composta com a representação de diferentes posições permite que a categoria conheça o trabalho de cada chapa e perceba como suas idéias funcionam na prática. O debate democrático entre posições divergentes fortalece a categoria, pois faz com que as decisões sejam tomadas de forma mais consciente. A composição proporcional faz com que os trabalhadores possam avaliar os projetos e escolher aquele que deve ter mais cargos e mais resposabilidades numa proxima eleiçao.

Limitaçao do número de mandatos, sendo no máximo dois consecutivos e com a obrigatoriedade de permanência na base em um dos mandatos. O dirigente sindical que se afasta por longo período deixa de sofrer as pressões a que o trabalhador está submetido, e na prática deixa de raciocinar como trabalhador. O dirigente que não está no dia a dia dos locais de trabalho não vivencia os problemas com a mesma urgência e não está sintonizado com as necessidades reais da base. Além disso, o afastamento dos dirigentes sindicais transforma a atuação sindical num modo de vida. O dirigente busca se eleger e chegar aos cargos justamente para ficar afastado, para não ter que bater ponto todos os dias, para usar o sindicato como trampolim para a carreira política, etc. A limitação do número de mandatos e a permanência na base obriga a que os dirigentes permaneçam vinculados à categoria, sem transformar o sindicalismo em profissão. No caso de representantes vindos dos bancos privados, o dirigente pode sair da diretoria e permanecer como dirigente de base, que também tem estabilidade. Nada justifica que dirigentes passem décadas como diretores, afastados da base.

Diretoria colegiada, com coordenaçao rotativa. A atual forma de composição da diretoria concentra os poderes numa cúpula formada por presidente, secretaria-geral, diretores executivos, enquanto que os demais diretores tem pouca influência. Somos contra esse formato “presidencialista”. Numa diretoria colegiada o voto de todos os diretores tem o mesmo peso. As diversas secretarias, como jurídica, comunicação, finanças, podem ser dirigidas por coordenadores, e de forma rotativa, sem que para isso esses diretores acumulem poderes superiores aos demais. A forma colegiada garante uma maior democracia e riqueza de debate interno na diretoria.

Espaço igual na folha bancaria para posiçoes divergentes nas eleiçoes sindicais e assembleias que aprovam acordo coletivo. A Folha Bancária é o órgão informativo da categoria, que deve estar a serviço do conjunto dos trabalhadores da base. Por isso, a Folha Bancária não pode ser um monopólio da diretoria. Não é correto que apenas um ponto de vista se expresse. Numa eleição, por exemplo, não é correto que apenas uma das chapas tenha espaço na Folha Bancária, que pertence ao sindicato, e não à diretoria. O correto seria que houvesse espaço igual para as posições contrárias. Da mesma forma, numa assembleia decisiva, que vai aprovar o acordo coletivo, é importante que estejam expressas as posições e argumentos a favor e contra a proposta, para que os trabalhadores possam votar de maneira mais consciente.

Eleiçoes sindicais abertas para toda categoria. Assim como acontece nas assembleias que aprovam acordo coletivo, em que todos os bancários votam, também na eleição da diretoria o voto deveria ser aberto a todos os trabalhadores que estão na categoria, independentemente de serem sindicalizados. E também deveria ser permitida a sindicalização dos terceirizados, pois quem trabalha em banco bancário é.



 

Porque não vamos ao Congresso do BB organizado pela Contraf-CUT




Para responder à pergunta do título, alguns breves exemplos históricos bastariam. No Congresso dos funcionários do BB de 2011 estava presente nada menos do que o deputado federal Ricardo Berzoini, que foi presidente do PT e chefiou o esquema dos “aloprados” na campanha da reeleição de Lula em 2006. No Congresso de 2012, foi a vez do próprio ministro do trabalho Brizola Neto dar o ar da graça. Ou seja, representantes dos patrões, do governo do PT, tiveram lugar de honra na mesa de um Congresso que deveria ser dos funcionários!

Esses dois exemplos demonstram a completa promiscuidade entre os dirigentes da CUT enquanto suposta representação dos trabalhadores e o PT, partido que está no governo e faz a vez dos patrões. Não há mais qualquer distinção entre uma coisa e outra. A CUT se transformou numa agência do governo federal. Um outro exemplo histórico que demonstra a completa falta de referência de classe foi o Congresso do BB de 2009, em plena manifestação da crise mundial. Os representantes dos funcionários do BB na PREVI, todos eles sindicalistas da CUT, votaram a favor das demissões na Embraer, empresa em que a PREVI tem participação. Isso nem sequer foi pautado no Congresso dos funcionários do BB, que tem responsabilidade sobre a PREVI, porque os dirigentes sindicais da Articulação consideram normal agir como empresários.

Os dirigentes sindicais e políticos do PT raciocinam já há tempos com o ponto de vista da classe patronal e não têm mais qualquer relação com o cotidiano dos trabalhadores que deveriam representar. Isso se manifesta na composição dos próprios Congressos. A esmagadora maioria dos delegados é formada por dirigentes sindicais, a maioria dos quais estão liberados, ou seja, não estão mais trabalhando, não estão mais suportando o dia a dia de pressão dos gerentes e clientes, a rotina do trabalhador comum. Naquele mesmo Congresso de 2009, tiveram a desfaçatez de apresentar como uma das reivindicações a ser levada na campanha salarial a “valorização dos dirigentes sindicais”, ou seja, uma comissão para os dirigentes. Raciocinam como se um dirigente sindical devesse ganhar o que ganha um gerente (independentemente do que ganha o restante dos trabalhadores), o que até faz sentido, já que têm se comportado como representantes dos patrões...

Existe o argumento, a nosso ver puramente formal, de que os Congressos são “fóruns oficiais da categoria”, e não fóruns da CUT. Esse argumento a nosso ver não se sustenta, pois não se trata simplesmente do fato de que, num determinado fórum da categoria, uma determinada corrente, no caso a Articulação/CUT/PT, se tornou maioria, como seria no caso de uma assembleia. Trata-se de algo muito além, pois este fórum já está há anos distorcido e apropriado por esta corrente. A maioria da CUT já se impõe há muitos anos com base na não participação dos bancários, no controle dos aparatos, nos métodos burocráticos. Existem delegados “biônicos”, indicados pelas federações e confederações, que não passam por eleição na base. Existem cláusulas de barreira que impedem a proporcionalidade direta e a participação de correntes de oposição. A assembleia para tirar os delegados para o Congresso do BB em São Paulo em 2013 aconteceu num sábado pela manhã, em plena “ressaca” da paralisação contra o plano de funções, sem divulgação e debates prévios.

Defendemos um formato oposto de Congresso:

- 1 delegado para cada 100 trabalhadores, o que garantiria ampla representatividade de todos os segmentos e correntes de pensamento dentro do funcionalismo (e dispensaria os hotéis de luxo em que festejam os burocratas da Articulação);

- um amplo e democrático processo de pré-Congresso, com reuiões, plenárias e assembleias prévias para debate de teses;

- eleição da mesa dirigente no início do evento e não por indicação “biônica” do “comando”;

Tudo isso é o oposto do que tem acontecido há anos nos Congressos do BB, da CEF e da Conferência Nacional dos Bancários, que se converteram em convescotes da burocracia.

Nessas condições, não é de se estranhar que não estejam sendo discutidas as verdadeiras reivindicações dos trabalhadores:

- reposição das perdas acumuladas (cerca de 90%);

- isonomia entre funcionários novos, antigos e incorporados, presenvando-se o que for mais vantajoso para os trabalhadores;

- retirada do PFG e volta do PCS vigente até 1998: anuênio, licença prêmio, interstícios de 12% e 16%, férias de 35 dias, etc.;

- fim da lateralidade e volta do pagamento das substituições;

- fim do PSO e reincorporação dos caixas pelas agências;

- fim das metas e do assédio moral;

- por um banco público a serviço dos trabalhadores;

Essas reivindicações jamais serão colocadas em discussão pela Articulação, pois de acordo com a fórmula de “campanha unificada” da Contraf-CUT, a campanha deve ser realizada contra a Fenaban, e não contra o governo federal. E é claro que, na mesa da Fenaban, que reúne também os bancos privados, a reivindicação principal, a proibição das demissões imotivadas, também jamais é colocada em pauta. Não há sequer força para apresentar essa reivindicação, pois os sindicatos não desenvolvem qualquer tipo de organização entre os trabalhadores de bancos privados, que enxergam a entidade como meros clubes de convênios. Com isso, esses trabalhadores permanecem alheios ao processo das campanhas, que acontecem como algo externo, que acompanham passivamente.

É nesses Congressos que nasce a campanha salarial conduzida pela Articulação, com todos os problemas que conhecemos:

- índices de reivindicação rebaixados (mesmo com imensas perdas acumuladas, a Articulação tem o cinismo de falar em “aumento real” todos os anos);

- participação zero dos bancos privados, greve de fachada (uma faixa na frente das agências e os bancários trabalhando lá dentro);

- greve de pijama (os bancários aproveitam a greve para sair de férias e viajar, sem participar de piquetes e assembleias);

- assembleias esvaziadas, em que não são debatidas propostas, que não são postas em votação, e quando votadas, a direção não acata, como em 2011;

- encerramento da campanha com os gerentes comparecendo em massa (convocados pelos bancos e com a conivência da direção do sindicato) para votar na proposta da patronal;

Já amargamos muitos anos de derrotas nas campanhas salariais conduzidas pela Articulação com esses métodos. Já está mais do que na hora de romper com esse processo e iniciar um movimento para colocar os trabalhadores em luta novamente. Se ainda não é possível deflagrar greve independentemente da instituição sindical, é possível sim:

- organizar reuniões nos locais de trabalho;

- organizar plenárias nas regiões;

- organizar comandos de greve alternativos, ainda que limitados a alguma região ou corredor de agências, mas com participação real dos bancários;

- manter esse embrião de organização ao longo do ano, discutindo as questões do dia a dia dos bancários, até chegar à campanha salarial no ano seguinte;

Estamos chamando os trabalhadores a retomar o controle das campanhas salariais. Sabemos que não será um caminho fácil e que o processo deve ser lento, levando talvez vários anos. Sabemos que os resultados iniciais serão pequenos, e que teremos pouco impacto inicial na realidade. Entretanto, entendemos que é nossa tarefa seguir chamando os trabalhadores a se organizar, dizendo a verdade sobre os fóruns da CUT e as suas campanhas salariais, e discutindo as questões do dia a dia ao longo do ano. Não há outra forma de retomar o movimento e a organização da categoria. É essa a proposta do Coletivo Bancários de Base – SP / FNOB.




Articulação / CUT / PT e seus satélites sabota luta contra o plano de funções



Texto de balanço do processo de luta contra o plano de funções no BB


No final da campanha salarial de 2012 a Articulação/CUT/PT, direção majoritária do movimento sindical da categoria bancária, apresentou como uma das “conquistas” o compromisso do BB de uma proposta relativa à jornada de 6h. Ao invés disso, o BB lançou no início de 2013 um plano que reduz a jornada, mas reduz os salários de todo um contingente que cumpria jornada de 8h. Ou seja, a Articulação deu cheque em branco para que o BB fizesse mais um ataque aos seus trabalhadores. O novo Plano de Funções Gratificadas (PFG) é mais uma forma de aliviar o passivo trabalhista do BB, já que muitos estavam ganhando na justiça o pagamento da 7ª e 8ª hora.

A Articulação se fez de desentendida, sem querer encaminhar uma luta de fato contra o PFG. Entretanto, a reação da base, que silenciosamente resistiu e se recusou em sua grande maioria a assinar o termo de migração para os novos cargos, bem como a mobilização levada a efeito pelas oposições, obrigaram a direção do movimento a marcar assembleias. Conseguimos aprovar em São Paulo um calendário de luta com paralisação de 24h em 07/03, diferente do calendário da Articulação. São Paulo concentra a maior parte dos imediatamente atingidos pelo plano (que na verdade afeta a todos de diferentes maneiras) e uma forte mobilização aqui seria decisiva para arrastar o restante do país.

Entretanto, na assembleia organizativa da paralisação, a Articulação nem sequer permitiu discutir um calendário que desse continuidade à luta. Com isso, a paralisação de 07/03 em São Paulo, que mesmo sendo parcial foi importante, permaneceu isolada e não teve poder de levar ao crescimento do movimento. Mais de 40 dias depois a Contraf marcou nova paralisação no dia 30/04, com assembleias nos dias próximos, para supostamente forçar o BB a abrir negociações.

Na assembleia de 29/04 estava posta a possibilidade de romper o controle da Articulação sobre o movimento. Estava posta a possibilidade de construir um plano de lutas real, com um processo organizado e consequente que pudesse chegar a uma greve por tempo indeterminado, única medida capaz de barrar o plano do BB.

O pressuposto político desse plano é o entendimento do atual projeto em aplicação no BB, a sua gestão privatista. O PFG é parte desse projeto, visando reduzir custos trabalhistas, contribuições para CASSI e PREVI, além de sobrecarregar os funcionários com as mesmas metas numa jornada menor. Não é preciso vender ações do BB para tratá-lo como banco privado, a atual gestão já faz isso e constatamos o resultado todos os dias: metas, assédio moral, adoecimento físico e psicológico, etc. Para barrar o PFG seria preciso envolver o conjunto do funcionalismo, e para isso seriam necessários passos como:

- reuniões nos locais de trabalho;

- publicação de um material explicando o plano e sua relação com o projeto de gestão em aplicação no BB;

- reunião de delegados sindicais para organizar a base;

- plenária nas regionais;

- novas assembleias para avaliar o movimento;

- colocar em pauta a volta do PCS pré-1998;

Foi essa política que nós do Coletivo Bancários de Base – SP / FNOB defendemos na assembleia de São Paulo*. Infelizmente, todas as demais correntes, mesmo aquelas que se reivindicam oposição, como MNOB e Intersindical, defenderam o calendário da Articulação. Numa assembleia ultra-esvaziada, foi aprovada a paralisação de 24h, e mais grave do que isso, nem sequer foi discutido um plano de lutas que desse novo fôlego ao enfrentamento. A assembleia era o momento crucial para relançar a mobilização e ter alguma chance de construir a luta contra o PFG. A assembleia não teria forças para aprovar uma paralisação, mas se aprovasse um plano de lutas, ainda que a diretoria não o encaminhasse como deve, isso daria tempo e fôlego para que as correntes de oposição construíssem a mobilização na base. As demais correntes de oposição não entenderam dessa forma e defenderam o plano da articulação. Com isso, a paralisação de 24h no dia 30/04 aconteceu e foi mais frágil que a de 07/03. Não há perspectiva de continuidade e melancolicamente se encerrou a luta contra o PFG.

A Articulação parte agora para os Congressos que “organizam” a campanha salarial, em que o PFG vai se transformar em mais uma das infinitas pendências (reposição de perdas, isonomia, substituições, CASSI, PREVI, etc.) que nunca são levadas à mesa de negociação e nunca se tornam foco da greve. Diante disso, seguimos defendendo a necessidade de lutar contra o plano do BB, relacionando esse plano com o projeto geral e a gestão privatista em aplicação. Seguiremos lutando na medida das nossas forças para manter a base mobilizada contra o PFG.

*Segue abaixo cópia do panfleto com a proposta de plano de lutas que apresentamos na assembleia do dia 29:

POR UM PLANO DE LUTAS QUE TENHA REAIS CONDIÇÕES DE DERROTAR O BB!
SOMOS CONTRA MAIS UMA PARALISAÇÃO DE 24H! ESSA TÁTICA JÁ SE MOSTROU DERROTADA, O BB NEM SEGUER NEGOCIOU!
DEFENDEMOS UM PLANO DE LUTAS QUE POSSA ENVOLVER TODO O FUNCIONALISMO:

*Imediatamente:
- Iniciar já as ações coletivas deliberadas em 25/02;
- Edição especial do Espelho relacionando o plano com o projeto em vigor no BB: metas, assédio, adoecimento, etc;
- Reuniões em todas as agências e departamentos, mostrando que o plano afeto todos os funcionários;

* Dia 7/05 Reunião de delegados sindicais para organizar a base e levantar propostas de luta;
* Dia 15/05 Plenárias nas regionais;
* Dia 22/05 Assembleia para avaliar o movimento e aprovar indicativo de greve;
* Dia 29/05 Nova assembléia para referendar a Greve por Tempo Indeterminado até a retirada do plano!

* Durante o movimento, retomar a luta pelo PCS vigente até 1998: anuênio, licença prêmio, interstícios de 12% e 16%, férias de 35 dias, etc.!

O PLANO É PARTE DA GESTÃO PRIVATISTA QUE AFETA TODOS!

Mesmo depois de meses da sua implantação a adesão ao Plano de Funções está abaixo de 30%, o que mostra que o plano é um fracasso. Mas para derrotar de vez o plano é preciso um movimento unificado que envolva todo o funcionalismo. Já tivemos paralisações de 24h em São Paulo e outros estados, paralisações parciais e manifestações de diversos tipos. Está claro que o plano só será derrotado por uma greve nacional por tempo indeterminado!
Mas para construir uma greve nacional é preciso mais do que ficar convocando uma paralisação de 24h por mês, como está fazendo a direção do Sindicato. Uma greve não pode ser decretada, precisa ser construída. Assim como faz nas campanhas salariais, a direção do sindicato coloca tudo de cabeça para baixo. A greve não pode ser o ponto de partida, deve ser o ponto de chegada de um processo de mobilização, a máxima demonstração de força de trabalhadores!
Para chegar a uma greve que tenha reais condições de derrotar o Plano é preciso realizar um amplo trabalho de mobilização, com as medidas que expomos no verso, que envolvam o conjunto do funcionalismo, não apenas assistentes, mas caixas, escriturários, atendentes, analistas, etc. Mas para isso é preciso mostrar que o Plano afeta a todos. De saída, como se trata de redução e congelamento salarial, ele reduz a contribuição patronal e funcional para CASSI e PREVI, com grave impactos futuros.
Mais importante do que isso, é preciso mostrar que o Plano não é produto do desatino de alguns diretores, mas é parte do projeto privatista que está em aplicação nos bancos públicos, nos governos do PSDB e do PT. Não é preciso vender ações do BB para tratá-lo como um banco privado, a atual gestão já faz isso! Todos os dias todos os funcionários sofrem as consequências dessa gestão privatista: desrespeito aos clientes, cobrança de metas, assédio moral sistemático e institucionalizado como forma de gestão, rebaixamento dos salários, direitos e benefícios, sobrecarga de serviço, falta de condições de trabalho, adoecimento físico e psicológico, etc. Essas são as verdadeiras razões que podem levar os o conjunto dos funcionários à luta!