terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Contribuição do coletivo Bancários de Base - SP para o VII Encontro da FNOB - Bauru 2013




CONJUNTURA



Em 2013 o Brasil finalmente "aterrissou" no planeta Terra. Desde 2011 vivemos uma nova situação mundial de aumento das lutas dos trabalhadores (com exemplos como a Primavera Árabe, Ocupar Wall Street, etc), em resposta ao problemas causados pela crise econômica iniciada em 2008. No Brasil a crise não se manifestou diretamente como nos demais países, mas de maneira indireta, através da intensificação do trabalho, a sobrecarga de serviço, o assédio moral, o adoecimento, o consumo movido a endividamento, o aumento da precarização do trabalho, o sucateamento dos serviços públicos. A insatisfação com os serviços públicos foi um dos principais motivadores das jornadas de junho, tendo como estopim o preço dos transportes.

Apesar do caráter massivo das manifestações em centenas de cidades, não se desenvolveu um movimento unitário que sintetizasse as reivindicações e apresentasse um programa de enfrentamento ao projeto do governo do PT e da burguesia. Com isso, o governo fez concessões mínimas e conseguiu recuperar boa parte da popularidade, ainda que os partidos de direita tenham se fortalecido e adiantado o debate eleitoral. O PT segue sendo a principal aposta da burguesia para administrar a chegada da crise no Brasil, em boa parte devido ao papel das burocracias sindicais. Tanto em junho como nas campanhas salariais do segundo semestre (correios, bancários, petroleiros, metalúrgicos), havia o potencial para uma greve geral que desafiasse o governo e fizesse avançar as reivindicações populares.

A burocracia sindical comandada pela CUT cumpriu o papel de impedir o desenvolvimento das lutas, através do controle dos espaços de organização dos trabalhadores, desde as assembleias de base até os comandos de negociação, evitando que as diversas campanhas se unificassem entre si e se somassem às reivindicações populares. Lamentavelmente, as principais referências de esquerda, Conlutas e Intersindical (comandadas por PSTU e PSOL respectivamente), que poderiam ter se colocado como alternativa, optaram por colar-se à burocracia sindical. Ao invés de assimilar a mensagem das ruas e sintonizar-se com a revolta antigovernista e antiburocrática, deram cobertura às burocracis sindicais, referendando a farsa burocrática dos "dias de luta" e das própiras campanhas salariais, sem iniciativas próprias e que apontem para a ruptura com as burocracias.

Em 2014, com a aproximação da Copa, a continuidade dos problemas, a falta de avanços reais nas reivindicações populares e a memória das lutas realizadas em 2013, devem surgir novos protestos e manifestações. É preciso que as representações das categorias organizadas trabalhem para unificar as diversas categorias e movimentos e unificar as reivindicações populares. A FNOB deve ser parte desse esforço. A classe é muito mais forte quando luta unida!



BALANÇO DA CAMPANHA



A campanha salarial de 2013 teve a maior duração e a maior adesão desde 2004. Para explicar isso, é preciso partir de elementos internos e externos à categoria. Internamente, os bancários vivem ano após ano uma deterioração das suas condições de trabalho, com aumento do volume de serviço, cobrança de metas, assédio moral, adoecimento físico e psicológico, perseguição aos ativistas, demissões, etc. Já há agências funcionando 8hs por dia, bancários trabalhando em fins de semana, gerentes disponíveis 24hs para clientes de alta renda. Não é à toa que os bancários vivem à base de remédios tarja preta. Por fora da categoria, evidentemente que as jornadas de junho e as lutas que se prolongaram, como a greve dos professores no RJ, também influenciaram na disposição de luta dos bancários.

A Fenaban tentou quebrar a greve endurecendo na negociação, afirmando publicamente na imprensa que não aumentaria sua proposta e permanecendo sem negociar por 15 dias. Entretanto, a firmeza dos bancários, que permaneceram em greve por 21 dias não só obrigou a Fenaban a negociar e melhorar a proposta (que ainda permaneceu longe das reais reivindicações) como também a mudar o formato da compensação, o que pode ser considerado uma pequena vitória.

De modo geral, porém, a campanha permaneceu sob controle da burocracia sindical, o que impediu que a insatisfação dos bancários se manifestasse numa greve com participação real da base e que se rompesse o padrão dos acordos rebaixados dos anos anteriores. Apesar da grande adesão e longa duração, a maior parte dos grevistas não esteve nas assembleias e piquetes, a não ser nas bases dirigidas pela oposição. Isso se deve a anos e anos seguidos de traições da burocracia sindical governista. As traições levam ao enfraquecimento das greves, que levam a mais ataques dos banqueiros, e assim sucessivamente, num círculo vicioso. No limite, os bancos querem nos tratar como comerciários, uma das categorias mais massacradas do país. Há muito trabalho pela frente para combater o ceticismo, o individualismo e o retrocesso ideológico geral da categoria, que não se enxerga como classe trabalhadora.

Em São Paulo a burocracia nem sequer realizou assembleia para referendar a pauta, que foi imposta pela Contraf sem que a base pudesse se manifestar. As assembleias foram controladas e burocratizadas como nos anos anteriores para impedir que a base assumisse o controle da luta. Ficamos ao longo de toda a greve sem informes do quadro nacional. A campanha foi encerrada como nos anos anteriores, em assembleias separadas, no horário da noite, com a presença massiva de fura greves, já que os grevistas não aceitariam a proposta rebaixada.

A grande novidade da greve em São Paulo foi a formação de uma frente entre diversos coletivos de oposição, com o nome de Avante, Bancários! Essa frente realizou ações radicalizadas de trancamento completo de importantes complexos, impondo prejuízos reais aos bancos. Em alguns casos a diretoria do sindicato e o MNOB foram obrigados a comparecer. Também trancamos a av. Paulista em ato conjunto com os petroleiros, estabelecemos contatos com os terceirizados e disputamos as assembleias, em especial na CEF (o Banco do Brasil vive um momento de retrocesso). A formação dessa frente deixa melhores perspectivas para a retomada do trabalho de organização da categoria na base mais importante do pais.



ATIVIDADES



O ano de 2014 será atípico em função não apenas das eleições, mas da realização de uma Copa do Mundo no país do futebol. A Copa é um elemento chave da estratégia do PT para se mostrar como um projeto viável de gestão do capitalismo no Brasil, inclusive do ponto de vista econômico, em função das obras, do boom da construção civil, que por sua vez alavancou a especulação imobiliária, etc. Para garantir esse projeto, o governo não pode permitir que aconteça em 2014 o que houve em 2013, por isso se antecipou às manifestações e aprovou uma legislação digna dos tempos de ditadura, que proíbe greves no período da Copa e enquadra como terrorismo as ações mais básicas de luta dos movimentos sociais, como um simples piquete! Estamos diante de um verdadeiro estado de exceção!

É dentro desse cenário que discutiremos a preparação da nossa campanha salarial. O projeto que está sendo aplicado nos bancos, responsável pelas péssimas condições de trabalho, é o mesmo que prejudica o restante da população (juros altos, tarifas abusivas, venda casada, etc.). Por isso, será importante desde o começo mantermos a sintonia com as demais categorias e movimentos sociais, politizar a discussão da campanha, denunciar os bancos exigindo a mudança do seu papel na sociedade e trazer a população e a juventude trabalhadora para o nosso lado. O ano de 2014 também terá eleições sindicais em bases importantes, como São Paulo e Porto Alegre, e as eleições da Apcef e Funcef. As eleições sindicais e associativas devem ser vistas como oportunidade para divulgar a FNOB e seu programa, organizar a base, prepara a categoria para as lutas. Em função dessas condições, a FNOB deve:

- antecipar a preparação da campanha salarial, realizando um Encontro Nacional para discutir uma pauta de reivindicações verdadeira e a organização de uma campanha alternativa;

- lutar para integrar a campanha salarial dos bancários às campanhas das demais categorias e aos demais movimentos sociais do país que entrarem em luta no ano da Copa;

- participar da eleição da FUNCEF por meio de uma chapa própria, conforme discutido no Encontro de Brasília 2013, construída em torno de um programa de denúncia, aberta a outros setores de oposição, mas sem a presença de setores governistas;

- posicionar-se na eleição do sindicato de Porto Alegre contra as duas chapas em formação, já que ambas incluem setores governistas (Articulação de um lado e CUT pode mais do outro);

- participar da eleição da APCEF SP através do coletivo Bancários de Base – SP, que deve trabalhar por uma chapa de oposição com o bloco Avante, Bancários! e demais setores, desde que sem a presença de correntes governistas;

- participar da eleição do Sindicato de São Paulo através do coletivo Bancários de Base – SP, que deve trabalhar por uma chapa de oposição com o bloco Avante, Bancários! e demais setores, desde que sem a presença de correntes governistas;

- participar da eleição da CIPA do complexo do Bradesco na Cidade de Deus em Osasco – SP, maior concentração da categoria bancária no país, através de candidatos ligados ao coletivo Bancários de Base – SP e ao bloco Avante, Bancários!;



ORGANIZAÇÃO INTERNA



No Encontro de Porto Alegre em 2012 a FNOB deliberou constituir uma pessoa jurídica, com CNPJ, para viabilizar uma contribuição financeira regular das entidades, o que requer a publicação de um estatuto, a ser aprovado neste encontro de Bauru. Consideramos o estatuto apenas o ponto final e a formalização da fase de construção e acúmulo dos últimos dois anos, ao longo dos quais consolidamos alguns pontos programáticos fundamentais, tais como:

- Ser um espaço de organização dos trabalhadores bancários para lutar por seus interesses imediatos (salário, condições de trabalho, etc.), e seus interesses históricos como parte da classe trabalhadora;

- Fazer oposição ao governo, que é patrão da metade da categoria bancária e ajuda a promover os ataques aos bancários do setor privado;

- Lutar contra o sindicalismo de conciliação e negociação, organizar a luta contra a exploração dos trabalhadores bancários, contra as demissões em massa, arrocho de salários, precarização das condições de trabalho, retirada de direitos, adoecimento físico e mental, etc.;

- Lutar contra as correntes governistas, que são instrumentos do governo e da patronal no interior do movimento para derrotar as greves e as lutas;

- Romper com a Contraf-CUT, denunciando e combatendo seus fóruns como ilegítimos, não representativos da base e incapazes de fazer a categoria avançar na luta. Os sindicatos da Frente precisam apresentar iniciativas paralelas e alternativas às dos governistas, boicotando os fóruns da Contraf, ao mesmo tempo que as oposições devem construir este mesmo caminho, podendo intervir em fóruns de base, como parte da mesma política de romper com a Contraf e seus fóruns;

- Participar apenas de atividades e assembleias que envolvam a base, para levá-la a refletir e romper com a direção governista;

- Lutar contra a estratégia da mesa única da FENABAN, defendendo a campanha unificada com mesas separadas de negociação;

- Funcionar com independência em relação aos governos, patrões e partidos. Tudo que diz respeito à Frente (linha política, conteúdo dos materiais, finanças, etc.) deve ser discutido e decidido nos fóruns da própria Frente, que são soberanos sobre suas questões internas.

- A sustentação da Frente deve ser produto da contribuição dos seus integrantes e por campanhas financeiras impulsionadas pela própria Frente junto aos trabalhadores, não aceitando qualquer tipo de contribuição do governo, da patronal, de ONGs, etc.;

- Praticar a transparência na prestação de contas e no balanço político das atividades realizadas, como forma de evitar a burocratização e de educar a base para exercer o controle sobre a Frente, que é um instrumento a seu serviço. Pelo menos em uma reunião do mês haverá o ponto de finanças. A prestação de contas estará disponibilizada, por escrito, para qualquer integrante que a solicitar em qualquer tempo;

- A Frente estará aberta a todos os agrupamentos e militantes que tiverem acordo com esses princípios gerais, preservando-se a autonomia dos grupos locais em relação às táticas específicas da sua realidade e da sua base de atuação, sua identidade, materiais próprios, funcionamento interno, etc.;

- Intervir nas eleições para os sindicatos, associações e entidades apoiando grupos que se dispuserem a lutar pelo programa da Frente aqui exposto. Essa disputa não deve ser feita com o objetivo de ganhar a qualquer custo, portanto não se pode aceitar alianças com setores da burocracia governista e seus satélites (Articulação, DS, CTB, etc.). O objetivo deve ser sempre o de avançar na organização dos trabalhadores, de modo que as campanhas eleitorais, independente do resultado, sirvam para construir núcleos de ativistas e militantes que se mantenham organizados regularmente para lutar cotidianamente pelo programa da Frente, não apenas em período de campanha salarial ou eleição;

- A Frente terá como máxima instância deliberativa os Encontros nacionais abertos, a serem realizados indicativamente no mínimo duas vezes por ano, um antes e um depois de cada campanha salarial;

- A Frente terá uma coordenação indicada pelos agrupamentos locais que a constituem, que será a responsável executiva pela aplicação das resoluções votadas nos seus Encontros nacionais, bem como pelas tarefas de cuidar da comunicação e finanças;

- A Frente apoiará indicativamente, no interior dos coletivos e entidades que a compõem, medidas que permitam o controle da base sobre os dirigentes, por meio da revogabilidade dos mandatos, rodízio na composição da sua Coordenação e proibição das reeleições indefinidas;

- Lutar por mudanças estatutárias nas entidades sindicais e associativas para criar mecanismos democráticos de funcionamento, como assembleias e plebiscitos frequentes para deliberar sobre as ações mais importantes, funcionamento democrático das assembleias e fóruns do movimento (eleição da mesa, garantia do direito a fala, etc.), proporcionalidade direta nas eleições, rodízio obrigatório de parte da diretoria a cada eleição, limitação do número de eleições, escolha dos liberados em assembleia, prestação de contas transparente e regular, etc.;

- Lutar pelo aprimoramento da OLT, por Conselhos de Delegados Sindicais de caráter deliberativo e com funcionamento regular, pela democracia no movimento, pelo fim dos comandos nacionais de tipo “biônico”;

- Desenvolver estudos sobre o sistema financeiro, estudando seus efeitos sobre a sociedade; subsidiar iniciativas de formação dos trabalhadores bancários, como cursos, seminários, cartilhas e outras publicações, e lançar o debate na sociedade em torno do papel dos bancos, a partir da iniciativa dos trabalhadores bancários, recolocando em pauta a perspectiva da estatização do sistema financeiro;

- Desenvolver atividades unificadas com outras categorias durante as campanhas salariais;

- Resgatar as reivindicações históricas da categoria no seu conjunto e também nos seus segmentos específicos (BB, CEF, bancos estaduais e regionais, bancos privados);



A consolidação desses pontos e a sua divulgação devem ser parte permanente da construção da FNOB. A partir desse momento, inaugura-se uma nova fase, em que estão dadas as condições para um funcionamento mais regular, uma presença mais constante e iniciativas de maior impacto junto à categoria em nível nacional.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Breve histórico da Frente Nacional de Oposição Bancária


Para entender o surgimento da FNOB, é preciso partir de dois pontos: 1º) a distribuição nacional da categoria bancária e 2º) a história da oposição bancária nacional.



Em relação ao primeiro ponto, há uma diferença entre a distribuição da categoria bancária em São Paulo e no restante do país. Em São Paulo, principal centro financeiro do Brasil, está concentrado cerca 25% do total da categoria no país, com cerca de 120.000 trabalhadores (sem contar os terceirizados, correspondentes, etc.). Desse total, cerca de 80% trabalham em bancos privados e apenas 20% nos bancos públicos. O que vale para São Paulo vale também para o Rio de Janeiro e outras metrópoles principais, mesmo que em porcentagens menos discrepantes. No restante do país, por outro lado, e em especial no Norte e Nordeste, a distribuição está invertida, com maioria de trabalhadores nos bancos públicos e minoria em bancos privados, com porcentagens também variantes. Essa distribuição faz com que em vários estados do país haja uma maioria de grevistas em relação ao todo da categoria naquela base. Essa maioria de grevistas obriga os próprios setores da burocracia sindical governista a serem mais combativos do que são em São Paulo, e abre também espaço para que grupos de oposição ao governismo cheguem à direção dos sindicatos, como acontece no RN e MA, onde é possível desenvolver um trabalho de organização.



Entretanto, esse trabalho de organização desenvolvido em regiões periféricas tem pouco resultado pelo fato de que as traições às nossas campanhas salariais e às lutas em geral são realizadas por um Comando Nacional, que centraliza as burocracias governistas em nível nacional. Por isso, os sindicatos ligados à FNOB entendem que não basta desenvolver o trabalho de organização nas suas bases, mas é preciso construir alternativas de organização nacionais, que possam interferir no rumo das campanhas nos locais em que elas são decididas, no grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília.



Na tentativa de construir essa alternativa, chegamos ao segundo ponto, a oposição bancária nacional. O movimento da categoria bancária foi retomado na greve de 30 dias de 2004, em que a base realizou a greve contra a orientação da maioria do movimento sindical (CUT). Da greve de 2004 resultou o Movimento Nacional de Oposição Bancária – MNOB, cuja orientação política majoritária era do PSTU. Num primeiro momento, ainda que com muitos problemas, o MNOB cumpriu o papel de oposição à CUT, defendendo uma campanha e uma pauta alternativa. Entretanto, a pressa do PSTU em captar os ativistas para o partido e vincular o MNOB ao seu projeto de Central Sindical (Conlutas) acabou afastando gradualmente os ativistas e demais coletivos, esvaziando e inviabilizando o MNOB como alternativa de organização nacional. A afobação do PSTU para construir o seu partido como prioridade absoluta em relação à construção do movimento do conjunto da categoria fez com que não se construisse nem o partido nem o movimento! A partir de 2009 consolidou-se a opção do PSTU de voltar aos fóruns de organização controlados pela CUT, abandonando a proposta de uma campanha alternativa, ainda que nominalmente defenda a pauta alternativa, o que gerou crise no MNOB.



A crise se completou quando veio à tona o aparelhamento do MNOB pelo PSTU, também em 2009. Um militante do PSTU em São Paulo recebia salário do MNOB, sem que isso tivesse sido discutido com a base do movimento, nem com os sindicatos, que faziam contribuições regulares, nem com nós que militávamos na base de São Paulo e arrecadávamos cotizações inclusive nos nossos locais de trabalho. É até aceitável que o movimento tenha um aparato ou mesmo sustente um funcionário para tarefas organizativas, mas no caso em questão, há dois problemas gravíssimos: 1º) a existência desse funcionário não tinha sido discutida nem muito menos aprovada pelo restante do movimento; e 2º) esse funcionário desenvolvia tarefas do partido e não do movimento! Trata-se de fatos públicos, do conhecimento de todos os que militavam nos espaços nacionais da oposição bancária na época e que quebraram definitivamente a confiança no setor majoritário do MNOB. A partir de 2010, os setores descontentes com os rumos políticos (volta para a CUT) e o aparelhamento do MNOB deram início às discussões que levaram à realização do Encontro de Natal, em 2011, que viria a ser o I Encontro da FNOB.



A partir dos Encontros seguintes consolidou-se o acúmulo dentro da FNOB de rejeitar os fóruns viciados da CUT. Não se trata apenas de espaços de organização em que uma determinada corrente, no caso os governistas, possuem uma maioria circunstancial, mas de referências políticas que consagram um formato de campanha salarial em que a base da categoria não tem condições de se expressar, nem muito menos determinar os rumos da campanha. Da mesma forma, a FNOB rejeita os métodos aparelhistas empregados pela burocracia governista e também pelo PSTU, defendendo a democracia nos debates, a transparência nos espaços de organização dos trabalhadores, a prestação de contas regular.



Participam hoje da FNOB os seguintes coletivos:

- Maioria da diretoria do Sindicato dos Bancários do Rio Grande do Norte (o sindicato é filiado à Conlutas, mas o setor que defende a FNOB alinha-se com o Bloco Classista, Anticapitalista e de Base, como oposição à maioria da Central-PSTU);

- Diretores do Sindicato dos Bancários do Maranhão (a diretoria conta também com militantes do PSTU e do PSOL);

- Associação Nacional dos Beneficiários do RegReplan – ANBERR;

- Coletivo Bancários de Base – SP;

- Coletivo Bancários de Base – RS;

- Oposição de Brasília – DF;

- Oposição do Pará;



O sindicato dos Bancários de Bauru é filiado à Conlutas e a maior parte dos seus dirigentes esteve ligada ao MNOB, mas este ano uma parte da diretoria fez o convite aos coletivos acima para sediar o Encontro em Bauru, como uma forma de conhecer a FNOB.



Além desses diversos coletivos, repetimos, os Encontros da FNOB são abertos a qualquer trabalhador da categoria.


Convocatória do Encontro da Frente Nacional de Oposição Bancária - FNOB, 7 e 8 de dezembro, Bauru, SP




 

VII Encontro da FNOB - Frente Nacional de Oposição Bancária - 7 e 8 de dezembro, Bauru, SP

A Frente Nacional de Oposição Bancária – FNOB é formada por sindicatos e oposições sindicais de várias partes do país que não concordam com o formato das campanhas salariais. Defendemos uma campanha em que os trabalhadores decidam tudo, desde a pauta de reivindicações até a escolha de quem nos representa na mesa de negociações. Por isso, somos oposição ao Comando Nacional formado pelos burocratas da Contraf-CUT, que é comandada pelo Sindicato de São Paulo. Lutamos para organizar os bancários desde a base e de maneira democrática. O Encontro de Bauru é mais uma etapa dessa caminhada.

Assim como acontece em São Paulo, no restante do país os sindicatos controlados pela Contraf-CUT (e parceiros como CTB, DS, CUTpode mais, etc.) não estão presentes no dia a dia dos trabalhadores. Não organizam nenhum tipo de resistência contra os abusos dos bancos, não fortalecem a organização nos locais de trabalho, não reúnem delegados sindicais e representantes de base, não abrem espaço para que a base se manifeste sobre a pauta (em São Paulo fazem uma pesquisa via internet para definir a pauta e maquiam os resultados), etc. Realizam Congressos e Conferências sem trabalhadores de carne e osso, apenas burocratas sindicais que estão há anos ou décadas afastados dos locais de trabalho. Inventam uma pauta que não contém as verdadeiras reivindicações, que já começa rebaixada, fazem uma greve de fachada, aceitam um acordo ainda mais rebaixado, que contém a compensação das horas, e ainda têm o cinismo de dizer que houve “vitória” por conta do “aumento real”.

Somos contra tudo isso! Defendemos uma pauta alternativa, com reposição de perdas, isonomia, PCS, fim das metas e do assédio moral, mais contratações, estabilidade no emprego, etc. Os sindicatos da FNOB apresentam essa pauta todos os anos na FENABAN. Defendemos que sejam eleitos representantes da base para a mesa de negociação. Defendemos democracia nas assembleias para que os bancários possam colocar suas posições. Por isso, SOMOS CONTRA OS CONGRESSOS E CONFERÊNCIAS DA CONTRAF CUT! Para termos uma campanha vitoriosa no ano que vem, temos que começar desde já a preparação. O Encontro de Bauru está a serviço dessa luta!



Participantes de outros Estados irão em transporte fretado saindo de São Paulo, retornando no sábado dia 7. Para participar, entre em contato com: (bancariosdebase@yahoo.com.br) ou (https://www.facebook.com/bancariosdebasesp?ref=hl )

UMA NOVA SITUAÇÃO NO PAÍS! PRECISAMOS MUDAR AS DIREÇÕES SINDICAIS!



O Brasil mudou neste ano de 2013! Depois das manifestações de junho, a juventude trabalhadora e o conjunto da população passaram a manifestar sua insatisfação quase diariamente. Além dos problemas no transporte público, os manifestantes protestam por melhorias na saúde, na educação, moradia, etc., e contra os gastos com a Copa e a corrupção.

Não há outro meio de mudar a realidade a não ser pela luta. Mas para lutar é preciso organização! E as principais organizações dos trabalhadores, os sindicatos e centrais sindicais, brilharam por sua ausência durante as manifestações. E isso acontece porque, apesar dos trabalhadores estarem insatisfeitos, os dirigentes dos sindicatos e centrais sindicais não querem desenvolver a luta. Os dirigentes da CUT, CTB, Força Sindical, UGT, etc., não querem que haja lutas porque não querem que os trabalhadores enfrentem os governos do PT ou da oposição.

Foi por isso que, no auge das manifestações, em junho, quando tínhamos milhões de pessoas nas ruas, não tivemos uma greve geral no Brasil! As manifestações são importantes, e foram capazes de impedir o aumento das passagens e alguas pequenas conquistas. Mas a única maneira de impor as reivindicações dos trabalhadores é por meio das greves, paralisando a produção e circulação de mercadorias e a prestação de serviços. Foi assim que conseguimos todas as conquistas históricas, como a jornada de 8 horas, férias, 13º salário, etc. É assim que conseguiremos também saúde, educação, transporte, moradia, etc. no “padrão FIFA”, como foi reivindicado nas manifestações.

Mas para isso, precisamos de outra direção nos sindicatos e centrais sindicais! Os dirigentes dos principais sindicatos e centrais do Brasil não representam os interesses dos trabalhadores, mas do governo ao qual apoiam. E independentemente de quem esteja no governo, os dirigentes dos sindicatos e centrais estão acostumados a vender os interesses dos trabalhadores em negociações com os patrões, em troca de benefícios pessoais. Foi por isso que as centrais sindicais foram rejeitadas nas manifestações: o povo percebeu que fazem parte do sistema, ao invés de se opor a ele!

Precisamos de um novo movimento sindical! Se no momento das manifestações os sindicatos e centrais sindicais se destacaram por sua ausência, nas campanhas salariais do 2º semestre fizeram questão de impedir que o novo momento do país “contaminasse” as greves de importantes categorias como Correios, bancários, petroleiros, metalúrgicos, que têm data base entre setembro e outubro. Ao invés de uma campanha unificada, com as mesas datas de greve, assembleias unificadas, passeatas e manifestações unificadas, piquetes unitários, uma mesa unificada para as categorias que têm o governo federal como patrão (funcionários do BB, CEF, Correios, Petrobrás), etc.; ao invés disso, tivemos campanhas fragmentadas, em que cada categoria se chocou separadamente com os patrões e o governo. Se não é para unificar as diversas categorias enquanto uma só classe na luta contra os patrões, para que servem as centrais sindicais?

E tão importante quanto isso, a burocracia sindical impediu que as reivindicações das diversas categorias ganhassem apoio da população em geral! Na greve dos professores do Rio de Janeiro, a população esteve a favor dos grevistas. Por que isso não aconteceu na nossa greve? Por que não denunciamos os lucros abusivos dos bancos, as tarifas extorsivas, a venda casada, os juros escorchantes, a superexploração dos bancários, a falta de funcionários, o excesso de serviço, o assédio moral, o adoecimento, as perseguições aos que buscam se organizar, etc.? Por que não defender a estatização do sistema financeiro, sob controle dos trabalhadores, durante a greve?

A resposta, já dissemos, é porque as atuais direções sindicais estão completamente afastadas do dia a dia, dos interesses, das condições de vida dos trabalhadores. Defendem interesses próprios e opostos aos nossos. Por isso, precisamos construir um novo movimento sindical! Em bancários, isso começa com a ruptura e a denúncia da Contraf-CUT e seus satélites! A FNOB busca ser um instrumento para a construção dessa alternativa, classista, antigovernista, independente, democrática e de base! Venha nos ajudar a construir esse projeto!



domingo, 24 de novembro de 2013

Sobre a constituição do Avante, Bancários!




Em junho deste ano o coletivo Bancários de Base – SP lançou um chamado a uma plenária de base (o texto do panfleto de convocatória foi publicado aqui neste blog: http://bancariosdebasesp.blogspot.com.br/2013/06/plenaria-dia-29-de-junho-de-2013.html) para começar a discutir a organização da campanha salarial de 2013. A essa plenária compareceram trabalhadores bancários independentes e também ativistas organizados em coletivos de oposição à direção do sindicato.



A partir dessa primeira atividade (na verdade as relações/atuação com os companheiros desses coletivos de oposição já se desenvolviam desde o fim de 2012 na campanha contra a demissão do companheiro Messias e também no próprio CONECEF – 2013) realizaram-se novas plenárias e novos panfletos foram editados (“É hora de sermos protagonistas” - http://bancariosdebasesp.blogspot.com.br/2013/08/e-hora-de-sermos-protagonistas.html ; “Por uma campanha salarial de verdade!” - http://bancariosdebasesp.blogspot.com.br/2013/08/por-uma-campanha-salarial-de-verdade.html ; e “Avante, Bancários!” - http://bancariosdebasesp.blogspot.com.br/2013/08/avante-bancarios.html) por esses coletivos atuando em unidade. Nesses panfletos buscamos relacionar o novo clima político do país aberto com as manifestações de junho à campanha salarial da categoria, tentando estimular os bancários a participar da campanha com mais intensidade do que em anos anteriores. Essa era uma aposta comum a todos os coletivos.



Esta frente entre diversos coletivos da base de São Paulo recebeu o nome de “Avante, Bancários!” e desenvolveu uma atuação importante ao longo da campanha salarial. Procuramos organizar os trabalhadores para participar da greve, disputamos as assembleias apresentando propostas de como melhor organizar a luta, realizamos diversos piquetes, paralisando concentrações importantes e impondo prejuízos reais aos bancos, apresentando uma alternativa de organização aos trabalhadores.



O balanço da greve discutido no interior do Avante, Bancários! está publicado numa página do facebook (https://www.facebook.com/avntbancarios), que contém também as imagens das atividades realizadas durante a greve, e está sendo panfletado nas principais concentrações da categoria em São Paulo, neste mês de novembro.



A experiência do Avante, Bancários! ainda está em aberto, ou seja, não sabemos se terá ou não continuidade e de que forma vai continuar, pois isso não depende apenas da nossa vontade. A consolidação dessa alternativa de organização da categoria e o formato que terá ainda depende do resultado dos debates a serem realizados com os demais coletivos e ativistas que participaram dessa experiência.




quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Avante, Bancários!


Texto do boletim unificado construído com "Uma Classe", "Avesso" e "Alternativa Sindical Socialista", tratando do dia nacional de lutas em 30/08, da plenária do dia 24/08 e da manifestação de 14/08.
 
 
 

AVANTE, BANCÁRIOS!

Construindo uma alternativa de oposição



Vivemos um novo momento no país. Desde as grandes mobilizações que começaram no mês de junho, contra o aumento das passagens, e que acabaram levando às ruas milhões de pessoas, protestando contra a precariedade do transporte, da saúde e da educação, contra os gastos com a Copa, a corrupção etc, nosso país vive uma nova etapa.

O dia 11 de julho representou uma importante entrada em cena da classe trabalhadora. Essa entrada só não foi maior por culpa das amarras que nos impõem as direções burocráticas das principais centrais sindicais. Para que a classe trabalhadora assuma seu verdadeiro posto nessa luta, precisamos de algo muito diferente do que foi o dia 11 de julho.

Naquele dia os dirigentes do nosso sindicato encenaram um ato na avenida paulista, juntamente com a cúpula das centrais sindicais, enquanto a orientação nos bastidores era pra que os bancários continuassem trabalhando normalmente nas agências e departamentos. Isso é o oposto do que defendemos! Um verdadeiro dia de luta deve ser uma greve geral em que os trabalhadores de todas as categorias, unificados como classe, enfrentem o empresariado e o governo, paralisando totalmente a produção e a circulação de mercadorias e serviços. É essa a arma decisiva que possuímos e que devemos usar para conseguir nossas reivindicações.

No dia 14 de agosto, o ato contra a corrupção no metrô de São Paulo, convocado pelo MPL, pode ser o recomeço do processo de mobilização. Não podemos ver nossa campanha salarial como algo descolado desse processo. Devemos nos inspirar na luta protagonizada pela juventude, nos colocando ao seu lado, levando também nossas demandas, pois com os trabalhadores mobilizados nas ruas temos muito mais força.



CONSTRUIR O DIA NACIONAL DE LUTA EM 30 DE AGOSTO!

No dia 30 de agosto (sexta-feira), as centrais sindicais estão chamando um novo “Dia Nacional de Luta”, chegando, inclusive, a indicar greve de 24 horas. Não podemos deixar que esse dia se torne mais um na rotina da burocracia sindical e, para isso, é essencial construirmos esse dia de luta somando forças com as demais categorias de trabalhadores e com os movimentos sociais.

Este dia de luta pode ser fundamental também para determinar o rumo da nossa campanha salarial. Trata-se de uma abertura importante que pode fazer avançar muito a organização e mobilização dos trabalhadores no sentido de retomarmos a luta em nossas mãos e também fazer uma campanha salarial que esteja efetivamente sob controle dos trabalhadores.

Assembleia para organizar o 30/ago e a campanha salarial. Para construirmos o Dia Nacional de Luta, precisamos de uma assembleia para deliberar sobre a greve de 24 horas no dia 30. Ao mesmo tempo, isso precisa estar articulado com as questões da nossa categoria, com a definição de um calendário de luta da campanha salarial, onde possamos discutir e decidir a deflagração da greve por tempo indeterminado, onde possamos responder ao ataque já naturalizado ao nosso direito de greve que é a compensação das horas paradas e questões organizativas da greve (como periodicidade e horário das assembleias, composição das mesas de negociação, etc).

Até o momento, a diretoria, que há tempos está descolada da realidade da categoria, tem agido como se pudesse decidir tudo em nome dos bancários. Por exemplo, tivemos uma assembleia que tirou delegados para a Conferência da Contraf-CUT, que saiu com o índice de 12%, que não representa nem de longe o que precisamos. Ora, não é porque os dirigentes da CUT inventaram essa pauta de reivindicações que nós automaticamente devemos aceitá-la. O mínimo seria fazer uma assembleia para que os bancários decidam sobre a pauta, como era feito até alguns anos atrás e como tem sido feito em outras regiões.



SOMOS PELA UNIDADE DA CLASSE TRABALHADORA!

Se somarmos a força dos trabalhadores organizados com os levantes e as mobilizações nas ruas como as que tivemos em junho, teremos muito mais condições de enfrentar o governos e os patrões. E esse chamado deve ser feito às categorias em luta no próximo período, principalmente àquelas que também entram em campanha salarial no segundo semestre, como os trabalhadores dos Correios, petroleiros e metalúrgicos. As manifestações de junho só reforçaram o que há de comum nas questões que nos unem, e que as diferenças e divisões impostas pelo governo e pelos patrões em diversas categorias só está a serviço de nos dividir, nos controlar e nos enfraquecer.



CONTRA A TERCEIRIZAÇÃO E A DIVISÃO DOS TRABALHADORES!

Uma das formas mais perversas de divisão da nossa classe é a que separa os trabalhadores terceirizados como uma casta de párias. Nos bancos, por exemplo, uma enorme quantidade de trabalhadores (vigilantes, copeiras, faxineiras, telefonistas, recepcionistas, trabalhadores dos correspondentes e lotéricos), que são parte essencial ao funcionamento da empresa, são atacados diariamente em seus direitos trabalhistas mais elementares, são tratados como inferiores e recebem os piores salários. E, como se não bastasse, ao mínimo sinal de insatisfação desses trabalhadores, as ameaças de punição e demissão estão sempre a espreita para tentar barrar qualquer tentativa desses trabalhadores se organizarem.

O Projeto de Lei (PL 4330) que está sendo discutido no Congresso, pode aprofundar ainda mais a precarização, expandindo-a para todas as áreas das empresas, o que teria consequências ainda mais nefastas para o conjunto dos trabalhadores. Esse projeto está sendo negociado “por cima” pelos dirigentes sindicais, que supostamente falam em nosso nome, mas sem a participação efetiva dos trabalhadores, sem qualquer movimento no sentido de organizar a luta pela base. Os dirigentes querem aceitar o PL 4330, desde que eles tenham o poder de representar os terceirizados sindicalmente. Defendemos sim que os terceirizados tenham direito de sindicalização de acordo com os lugares onde efetivamente trabalham, mas como parte de uma luta em que se combata efetivamente as barreiras e divisões impostas pela terceirização. Somos contra qualquer forma de divisão e de separação entre os trabalhadores! A luta contra a terceirização é parte fundamental da luta da classe trabalhadora!



PLENÁRIA NO DIA 24 DE AGOSTO

Buscamos, através dessa iniciativa, somar forças para que nossas ideias e propostas cheguem a um setor mais amplo da categoria, para que possamos fazer frente às manobras que a direção do nosso sindicato faz para impedir que os trabalhadores sejam sujeitos de sua própria luta. Convidamos a todos que queiram se somar a nossa iniciativa ou conhecer melhor nossas ideias para uma plenária aberta a ser realizada no próximo dia 24 de agosto no ECLA (Espaço Cultural Latino Americano – R. da Abolição, 244).



Assinam esse panfleto, bancários independentes e os coletivos de oposição Bancários de Base, Uma Classe, Avesso e ASS. Contato: campanhabancarios2013@gmail.com


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Por uma campanha salarial de verdade!


Texto do panfleto de convocatória da plenária de 3 de agosto




 
POR UMA CAMPANHA SALARIAL DE VERDADE!

Nossa campanha salarial já está próxima, e este ano não podemos mais aceitar o roteiro encenado pela diretoria do sindicato, que começa reivindicando pouco, para aceitar menos ainda, fazendo conchavos com a patronal para entregar por migalhas a nossa luta, enterrando a nossa greve em assembleias cheias de gerentes nos fazendo engolir goela abaixo ataques como a compensação das horas de greve. A campanha salarial pertence aos bancários, não à diretoria!

Ao invés de uma pesquisa virtual para definir a pauta, precisamos de reuniões, plenárias, assembleias, em que os bancários de carne e osso possam comparecer, discutir o que estão vivendo em seus locais de trabalho e apresentar suas ideias sobre o que precisa mudar. A diretoria não cumpre seu papel de organização dos bancários desde a base, impossibilitando que esses possam ser sujeitos de sua própria luta. Chamamos os bancários a se reunir e debater propostas para nossa luta e organização!

Para mudar tudo o que está errado nas campanhas salariais, somente com muita participação dos bancários. Assim como as ruas foram ocupadas pelos manifestantes, precisamos sim ocupar a quadra nas assembleias e romper as barreiras impostas pela patronal e a burocracia sindical, nos aliarmos às demais categorias em luta e aos interesses da maioria da população.

O EXEMPLO DAS RUAS

Tudo começou com o movimento contra o aumento das passagens, que parecia não ter tanta importância, e foi tratado com uma brutal repressão policial. Em resposta à violência, a juventude, os trabalhadores e a população desencadearam uma imensa onda de protestos. Milhões de pessoas saíram às ruas de centenas de cidades do país,

demonstrando uma grande insatisfação que estava represada, protestando não só contra o aumento das passagens, mas por várias outras causas, como as graves deficiências da educação e da saúde pública, o absurdo dos gastos com a Copa, a corrupção, etc.

Os governos foram encostados contra a parede e o aumento foi revogado, assim como a PEC 37 e a “cura gay”. Foram vitórias importantes, mas está longe de ser suficiente. De qualquer forma, a lição que ficou no ar é de que, quando nos mobilizamos, quando protestamos, quando agimos coletivamente, conseguimos vencer.

A mudança no clima político após as grandes manifestações de junho foi tão grande, que até as direções sindicais mais pelegas tiveram que se mexer. No dia 11/7, CUT, Força Sindical e demais centrais convocaram um dia nacional de mobilizações, que ainda ficou muito aquém do que seria uma verdadeira demonstração de força da classe trabalhadora. Nosso Sindicato, em particular, sequer chamou a paralisação, limitando-se a fazer um ato na Av. Paulista enquanto os bancários seguiam num dia de trabalho comum. Para o dia 30/8 está chamada uma nova jornada de paralisações, e dessa vez temos que pressionar para que os sindicatos e centrais mobilizem realmente suas bases. Transformar esse dia 30/8 numa demonstração contundente de que os trabalhadores querem mudanças, é também a melhor forma de criar um clima o mais favorável possível para a nossa campanha salarial!

O QUE NÃO

ACEITAMOS MAIS

* Não aceitamos que se encerre a campanha salarial sem discutir as questões que realmente importam, como o fim das metas e do assédio moral, a reposição das perdas, a isonomia entre funcionários novos e antigos, etc.

* Não aceitamos os Congressos da Contraf-CUT, em que um grupo de dirigentes que deixaram de ser bancários, estão há vários anos, ou décadas, afastados dos locais de trabalho, do dia a dia das agências e departamentos, inventam uma pauta de reivindicações que não tem nada a ver com as nossas necessidades.

* Não aceitamos assembleias em que a diretoria do sindicato fala durante horas e os bancários só escutam, como se fossem apenas uma plateia. Temos o direito de falar, de fazer propostas, de debater os rumos da campanha!

* Não aceitamos mais a cumplicidade do nosso sindicato com a patronal que manda gerentes e demais fura greves para as assembleias com o objetivo de encerrar nossa luta!

* Não aceitamos acordo coletivo que venha com a compensação das horas. Não aceitamos nenhum tipo de ataque e punição para os grevistas!

Assinam: bancários independentes e os coletivos de oposição

Bancários de Base”, “Uma Classe”, “Avesso” e “ASS”

É hora de sermos protagonistas!

Texto do panfleto distribuído na assembleia dos bancários de São Paulo em 10/07, véspera do "dia nacional de luta", assinado pelo Bancários de Base e outros coletivos de oposição.





É hora de sermos protagonistas!



As manifestações de rua, que já mobilizaram milhões de pessoas em todo o país, abriram uma nova etapa na vida política nacional. São inúmeras as vozes das ruas, expressando um claro anseio geral por melhores condições de vida. O inesperado protesto da juventude ganhou tamanha proporção que reverteu o que parecia impossível. Era uma pequena demanda, a redução das tarifas de transporte, que no entanto teve que se chocar contra a arrogância e a repressão conjunta dos governos municipal (PT) e estadual (PSDB).

Os trabalhadores têm agora que entrar em cena enquanto classe, força social organizada. O momento é propício, e temos que sair à luta para levantar bem alto as nossas próprias reivindicações. Ao mesmo tempo, as diversas demandas sociais vitais que foram levantadas pela população nas passeatas, e que também são as nossas – saúde, educação e transporte de qualidade, entre tantas outras –, precisam encontrar na classe trabalhadora organizada o ponto de apoio para derrotar os grandes interesses econômicos que governam o país e perpetuam as misérias cotidianas de milhões.

Nós bancários somos também parte da classe trabalhadora e temos uma série de motivos próprios para entrar na luta. Por isso, exigimos que a direção do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região marque uma assembleia para o dia 10 de julho, para deliberar sobre paralisação no dia 11. Somente por meio da greve podemos demonstrar também a nossa insatisfação!



ASSEMBLEIA DIA 10 PARA PREPARAR UMA GREVE DE VERDADE EM 11/07 NÃO AO DESVIO DA LUTA!



O grito de indignação que ecoou nas ruas não pode ser desviado agora para defender interesses governistas e patronais.

As grandes Centrais Sindicais (CUT, Força Sindical, UGT e congêneres) atuaram num primeiro momento para que as mobilizações massivas da juventude não confluíssem com os métodos de luta dos trabalhadores. Agora, pela própria força do movimento, se viram obrigadas a chamar um dia nacional de luta em 11/07.

Se depender dessas direções, teremos uma manifestação que não estará à altura de expressar a verdadeira força dos métodos de classe dos trabalhadores. Pior ainda, essas Centrais pró-patronais e governistas irão buscar desvirtuar as nossas reivindicações em prol de seus próprios interesses. Não podemos deixar que CUT e CTB transformem o dia 11 num ato de apoio ao governo ou de propostas como a do “plebiscito pela reforma política” defendida por Dilma para conter as mobilizações; e nem que a Força Sindical faça demagogia para tentar fortalecer as falsas alternativas de oposição de direita.

Os últimos acontecimentos deram uma lição valiosa da força da mobilização independente nas ruas. Depende da luta e da organização dos trabalhadores a partir das bases para que se realizem as grandes mudanças e transformações sociais.



Hoje praticamente metade do orçamento vai para o pagamento da dívida, outra parte muito grande vai para incentivos às grandes empresas, sem falar da exorbitância dos gastos com a Copa, e tudo o mais que é desviado para a corrupção. Para termos saúde, educação e transporte, públicos, gratuitos e de qualidade (no “padrão FIFA”, como disseram muitos manifestantes!), temos que lutar:

- Pelo não pagamento da dívida pública aos banqueiros e especuladores!

- Salário mínimo que atenda as necessidades de uma família trabalhadora!

Até o DIEESE que é um órgão pro-patronal estabelece o valor de R$ 2.870,00. Que o valor seja calculado por organizações dos trabalhadores

- Estatização do transporte sob o controle dos trabalhadores e usuários!

Sem a estatização os milhões continuarão indo para o bolso das máfias do transporte. E quem melhor do que os trabalhadores dos transportes e usuários para determinar as rotas e a racionalidade dos sistemas.

- Estatização do sistema financeiro, do petróleo e demais recursos naturais sob o controle dos trabalhadores!

- Reposição total das perdas por categoria e gatilho salarial!

Que os salários sejam reajustados automaticamente conforme a inflação.

Material tirado em reunião plenária da oposição bancária, realizada em 29/06, reunindo bancários independentes e os coletivos “Bancários de Base”, “Uma Classe” e “Avesso”.

sábado, 29 de junho de 2013

Plenária dia 29 de junho de 2013

Texto do panfleto de convocatória da plenária de 29 de junho


QUE TIPO DE CAMPANHA SALARIAL PRECISAMOS?



Há anos acumulamos derrotas nas campanhas, porque...


* metade da categoria já de saída não participa da campanha, porque não há organização nos bancos privados, por omissão dos sindicatos dirigidos pela CUT;

* a pauta de reivindicações é definida pelos dirigentes da Contraf-CUT, em Congressos em que os trabalhadores que estão no dia a dia dos departamentos e agências não participam, e essa pauta já vem rebaixada, pedindo pouco para aceitar menos ainda;

* não há reuniões de delegados sindicais, plenárias, assembleias preparatórias, para envolver a base na campanha;

* não entram na pauta as reivindicações históricas, como reposição de perdas, isonomia, jornada de 6h, etc.;

* também não entram na pauta os pontos que realmente afetam o dia a dia dos bancários: metas, assédio moral, adoecimento, que têm a ver com a gestão privatista que vem sendo aplicada nos bancos públicos;

* a maioria dos grevistas não participa realmente da greve, das assembleias, dos piquetes, etc.;

* para encerrar a greve, com uma proposta rebaixada e sem discutir vários pontos vitais para os trabalhadores, o sindicato e os bancos chamam os gerentes para aprovar o acordo;

* depois da greve somos forçados a compensar as horas, porque o sindicato é conivente com a punição dos grevistas.

* não há atividades, reuniões, que mantenham a organização dos trabalhadores ao longo do ano, o que faz com que cheguemos enfraquecidos na campanha seguinte, e assim sucessivamente.



Diante de todos esses problemas, cada vez mais os bancários deixam de participar da greve. Muitos até aderem e deixam de trabalhar, mas não participam realmente, não se envolvem nas atividades de greve. Aderem porque não suportam o dia a dia de cobranças, pressão e excesso de trabalho nas agências e departamentos. Mas o fato é que mesmo os grevistas já não acreditam mais na greve como um meio de obter conquistas! Isso porque todos já não acreditam mais na direção do sindicato e da CUT! E com razão, já que são muitos e muitos anos de traições.



Diante disso o que fazer?



Entendemos que, apesar da direção do sindicato, precisamos seguir lutando! Os banqueiros e governos não nos dão outra opção. Todos os dias são ataques, desmandos, abusos, cobranças, pressão, perseguição. Cada vez mais bancários sofrem adoecimento físico e psicológico no trabalho, dependem de remédios tarja preta, vêem suas vidas pessoais e familiares destruídas. A questão é: como lutar contra essa realidade? Como fazer uma campanha diferente? Somente com participação coletiva podemos ter alguma força. Chamamos os demais colegas bancários para discutir coletivamente saídas para essa situação!

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Eleição para o CAREF: para não cair em mais uma armadilha, VOTO NULO!




Texto sobre a eleição para o CAREF, representante dos funcionários na diretoria do Banco do Brasil


Nos dias 3 a 6 de junho acontece a eleição para o CAREF, representante dos funcionários na diretoria do Banco do Brasil. Para chegar a uma posição a respeito dessa votação, consideramos os seguintes elementos:

- a criação desse cargo de CAREF não é resultado de uma exigência dos funcionários, para que sua voz fosse ouvida na gestão do Banco, nem de sua mobilização, mas de iniciativa do próprio Banco. Trata-se na verdade de uma exigência do mercado, uma formalidade que o Banco deve cumprir para poder dizer em sua publicidade que é uma “empresa responsável do ponto de vista socioambiental”. Cumprida essa formalidade, o Banco se habilita a atrair investimentos, podendo acrescentar esse item no seu marketing, sem ter que alterar em nada a sua relação real com os funcionários e a sociedade.

- trata-se de uma simples formalidade porque esse representante pode fazer tudo, menos representar. O CAREF não terá poder de voto nas questões que envolvem relações com os funcionários, como por exemplo, salários ou condições de trabalho. Se não pode defender os interesses dos funcionários, esse cargo é praticamente inútil, do ponto de vista de nós funcionários.

- ainda que possa votar em algumas questões que indiretamente possam influenciar o dia a dia dos funcionários (por exemplo, a definição da política geral do Banco, para que atuasse como um banco público de verdade, e não um banco com o mesmo perfil e as mesmas práticas dos bancos privados que o Banco é hoje), ainda que o CAREF possa votar em questões dessa natureza, ele seria voto vencido, já que se trata de apenas um representante dos funcionários contra outros 6 votos da diretoria.

- a gestão privatista do Banco, que vem desde a implementação do modelo neoliberal no governo FHC e foi aprofundada com (mecanismos menos truculentos mas de maior alcance) pelo governo petista, de onde resultam as metas, o assédio moral, o adoecimento físico e psicológico, o isolamento e o individualismo, a exploração dos terceirizados por empresas que fraudam seus direitos (sendo que deveriam ter direitos de bancários, já que trabalham em banco), a exploração dos clientes por práticas como a venda casada, a política implantada nas muitas empresas em que a PREVI tem participação, etc., nada disso será sequer remotamente afetado pela criação do CAREF. Para mudar tudo isso, somente com uma imensa conscientização e mobilização dos funcionários.

- poderíamos concluir então que a função do CAREF é apenas decorativa, mas é pior do que isso, é perniciosa. Com a criação desse cargo, o Banco cria uma fachada democrática perante a sociedade. Quando nós funcionários estivermos em greve ou questionando o Banco por outras questões que nos dizem respeito (como por exemplo, o recente plano de funções), o Banco vai poder dizer para a opinião pública: “do que é que eles estão reclamando? Somos uma empresa democrática! Temos até um representante dos funcionários na diretoria!” E com isso a opinião pública ficará contrá os funcionários, como se estivéssemos excedendo o nosso direito de reivindicar.

- considerando esses elementos, poderíamos votar num representante crítico, justamente para questionar a política geral dessa gestão privatista. Essa é a posição dos companheiros da Frente Nacional de Oposição Bancária – FNOB, que faz oposição à Contraf-CUT, corrente majoritária do movimento sindical. Os companheiros da FNOB estão apoiando a candidatura de um colega do setor da tecnologia de Brasília, que está usando a campanha para fazer críticas do ponto de vista do interesse do funcionários. Respeitamos essa posição, mas entendemos, que mesmo uma campanha crítica acaba tendo o efeito de validar e legitimar essa eleição.

- questionamos todo o processo da eleição porque foram inscritos mais de 600 candidatos em pouco mais de uma semana antes da votação, o que torna impossível fazer um debate sério sobre o que cada um desses candidatos representa. Mas ainda que fosse possível escolher o candidato que melhor “nos representa” (sic) ou o mais crítico, a votação será feita no próprio sistema do Banco, sem nenhum controle dos trabalhadores na sua apuração.

- além de sermos afetados por uma gestão que é privatista em quase todos os seus aspectos, o fato de que a propriedade do Banco seja nominalmente pública nos afeta de outra maneira, que é o pior aspecto da gestão pública (tal como é praticada no Brasil): os demais diretores não eleitos do Banco são nomeados por indicação de partidos políticos que apoiam o governo de plantão, o que transforma a empresa em moeda de troca de barganhas políticas.

- como se não bastassem as indicações para a diretoria obedecerem às conveniências políticas do governo de plantão, no caso o PT (e todas manterem inalterada a gestão privatista), a eleição do CAREF também se presta a ser a criação de mais um aparato para o próprio PT. A Contraf-CUT, que é a corrente majoritária do movimento sindical, faz campanha para o seu candidato, e com os recursos que tem para fazer campanha, deve vencer facilmente a eleição, reproduzindo entre os colegas no país afora a ilusão de que esse cargo pode influenciar em alguma coisa. Ora, sendo a Contraf-CUT controlada pelo PT, partido que está no governo, teríamos na verdade mais um representante do PT na diretoria, junto aos demais nomeados segundo as conveniências do PT.

- há muitos anos a CUT, controlada pelo PT, e as demais centrais que seguem seu modelo, deixaram de ser um espaço de organização independente dos trabalhadores, pois seus dirigentes participam da gestão do capital juntamente com a patronal e o governo. Temos visto cada vez mais exemplos do distanciamento das burocracias sindicais em relação aos trabalhadores, como 1º) a proposta do Acordo Coletivo Especial (ACE), que permite aos sindicatos assinar acordos abaixo da CLT sem sequer passar por assembleia; ou 2º) a recente assembleia estatutária do sindicato de São Paulo, que legitimou a incorporação da renda de entidades como Bancoop, Bangraf, Bancredi, etc., que tornam o sindicato financeiramente independente da situação dos trabalhadores. Nessas circunstâncias, a criação do CAREF pode se tornar uma espécie de “plano de cargos e salários” para a burocracia sindical, como é o caso dos cargos ocupados por ex-sindicalistas na CASSI, nas empresas controladas pela PREVI, etc.



Considerando todos esses elementos, defendemos a posição de VOTO NULO para o CAREF!

Coletivo de Oposição Bancários de Base – SP


segunda-feira, 27 de maio de 2013

Articulação muda estatuto do sindicato e aumenta controle burcrático.



Texto de balanço da assembleia estatutária do dia 14 de maio.


Na terça-feira 14 de maio aconteceu uma assembleia do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, o principal da categoria no país, para aprovar mudanças estatutárias propostas pela diretoria (composta por Articulação/CUT/PT e satélites como Intersindical e PCdoB). O problema começa na própria construção da assembleia para aprovação das mudanças, pois a convocação surgiu por um edital publicado em letra miúda no jornal do sindicato, pouco mais de duas semanas antes do dia marcado. A divulgação das propostas de alteração só aconteceu uma semana antes da assembleia. Num tema dessa natureza, que envolve questões de concepção e projeto de sindicalismo, seria necessário um amplo debate com a base, com tempo hábil para que os bancários discutissem a estrutura e os rumos da entidade que os representa, para que surgissem outras propostas a respeito, o que enfim, exigiria no mínimo um mês de discussão, com publicações, plenárias, etc.

Na verdade, esse tipo de discussão exigiria um Congresso da entidade, que estava previsto na versão anterior do estatuto, mas que não era realizado há muitos anos. Inclusive, a Articulação tratou de mudar o artigo do estatuto que tratava dos Congressos para acabar com a sua obrigatoriedade. Esse é um exemplo das mudanças que foram introduzidas para “modernizar” o estatuto. Na ausência das condições adequadas para discussão, os grupos de oposição que atuam na base, entre os quais o Bancários de Base – SP, que constroi a FNOB, se reuniram na véspera para debater as propostas da diretoria e formular alternativas. O resultado foi um panfleto unitário, cujo texto está publicado no blog do Bancários de Base – SP (http://bancariosdebasesp.blogspot.com.br/2013/05/assembleia-estatutaria-por-um-sindicato.html).

Na assembleia, a Articulação usou o seu eleitorado cativo, ou seja, diretores do sindicato, da Fetec, da Contraf, aposentados e trabalhadores de bancos privados atraídos a custa de favores, sem nenhum debate político, etc. A diretoria contou também com o fato de que o setor mais mobilizado da categoria, os bancos públicos, que são minoria na base, estão escaldados por anos de traição explícita nas campanhas salariais e em todas as lutas, como acabamos de ver no caso do plano de funções do BB. Dessa forma, sem tempo hábil para debate e para que houvesse mobilização, a Articulação conseguiu quórum e maioria para aprovar tudo o que quis.

Uma das mais graves alterações foi a que incluiu entre as fontes de renda do sindicato previstas no estatuto as receitas geradas por entidades subordinadas, como Bancoop (cooperativa habitacional que já frequentou as páginas policiais em suspeita de desvio de dinheiro das obras), Bancredi (que faz empréstimos para bancários, num sério conflito de interesse para uma entidade que deveria lutar por aumento de salários), Bangraf (gráfica que foi desvinculada da secretaria de comunicação e passou para finanças), faculdade (que ao invés de dar cursos sobre a luta e a organização dos trabalhadores, ensina matemática financeira, ajudando a formar mão de obra para os patrões), Travessia, Rede Brasil Atual, etc. A incorporação dessas fontes de renda ao estatuto facilitou a contabilização dos lucros pela diretoria, que agora tem margem para sobreviver sem depender da contribuição dos sócios. O sindicato se tornou independente dos trabalhadores que deveria representar.

Para continuar no controle deste lucrativo “conglomerado” empresarial, e mantê-lo ainda mais distante da luta dos trabalhadores, a diretoria tratou de introduzir alterações que dificultam ainda mais a disputa das eleições, reduzindo os prazos para convocar e realizar as eleições, mantendo as dificuldades de uma chapa de oposição obter a lista de votantes, e diminuindo o quórum de votação necessário. Com isso a burocracia da Articulação pretende se manter “ad eternum” no controle do sindicato.

Toda forma está a serviço de algum conteúdo e não existe conteúdo que não precise de uma forma. A forma de funcionamento do sindicato está a serviço de uma determinada política. A política da Articulação e seus satélites para o sindicato está bem clara. Há décadas este grupo se apoderou do controle da entidade e o transformou no inverso do que era. Ao invés de um instrumento para as lutas da categoria, o sindicato é hoje um obstáculo. Há décadas abandonou-se a luta pela estabilidade nos bancos privados, e com isso, sob a ameaça de demissão, estes companheiros não mais fazem enfrentamento aos bancos, vêem o sindicato como algo externo, uma mistura de escritório de serviços ou clube de convênios. Há mais de uma década abandonou-se a luta pelas reivindicações dos bancos públicos, pois isso exigiria enfrentar a gestão privatista hoje em aplicação no BB e na CEF (que estão engolindo os bancos estaduais remanescentes). Não é preciso vender as ações dos bancos públicos para tratá-los como privados e a atual gestão já faz isso. Os resultados estão no dia a dia das agências e departamentos: desrespeito aos clientes, venda casada, rebaixamento salarial e retirada de direitos e benefícios, metas, assedio moral, individualismo e fim da solidariedade entre colegas, sobrecarga de serviço, adoecimento físico e psicológico.

A Articulação e seus satélites não enfrenta esse projeto, pois não quer entrar em conflito com um governo que é do PT, o seu partido, que é o patrão dos públicos e é aliado dos banqueiros privados (assim como é aliado do agronegócio, da grande indústria, etc.). Ao invés de lutar contra tudo isso, o sindicato de São Paulo, o principal da categoria no país, abandona a resistência cotidiana nos locais de trabalho, abadona os fóruns de base, as reuniões de representantes e delegados sindicais, esvazia as assembleias e espaços de participação, não encaminha o que é votado em assembleias, etc. As campanhas salariais são meramente teatrais, pois não tratam das principais reivindicações listadas acima, não enfrentam os bancos, pois não afetam seu lucro, não permitem a participação da base, a formação de comandos de greve, a apresentação de propostas em assembleia, etc.

Essa política vem sendo aplicada há anos e as novas mudanças estatutárias ajudam a aprofundar esse projeto. Trata-se de um antigo projeto da Articulação a criação do que era chamado de “sindicato orgânico” na década de 1980, um sindicato nacional por categoria (que no nosso caso seria a Contraf), com o poder de assinar acordos, sem a necessidade de passar por fóruns de deliberação na base das categorias, como as assembleias. Agora surge pelas mãos da mesma Articulação o projeto do ACE, o Acordo Coletivo Especial, que prevê justamente isso, a possibilidade de acordos inferiores ao que está garantido na CLT possam ser aprovados sem passar por assembleia. Esse modelo de sindicalismo é o mesmo que existe nos Estados Unidos e na Europa há décadas.

Lá as burocracias sindicais se tornaram parceiras das empresas, uma espécie de anexo ao departamento de recursos humanos. Os sindicatos administram os fundos de pensão, que movimentam fortunas (nisso os bancários da Articulação foram pioneiros no Brasil, com a Globalprev de Luis Gushiken e as negociatas da PREVI), têm o poder de decidir sobre contratação e demissão, negociam os salários e os direitos dos trabalhadores sem que estes possam se organizar de maneira independente (sem a “permissão” dos sindicatos, as greves são ilegais), sem que haja qualquer tipo de oposição, pois qualquer militante que divergisse do grupo dirigente seria denunciado para a patronal para demissão.

É esse o projeto que está em implantação no Brasil pela Articulação. Com isso, os burocratas sindicais teriam condições de sobreviver, independentemente do PT estar no governo ou não, pois seriam parceiros indispensáveis da burguesia na gestão das empresas e na efetivação dos ataques sobre os trabalhadores sem que haja resistência. Não há mais como buscar qualquer tipo de acordo com esse tipo de projeto e essa concepção de sindicalismo expresso pela Articulação e seus parceiros tipo DS e PcdoB. Por isso mesmo, causou estranheza que na mesma assembleia a Articulação tenha feito uma cobrança aos coletivos de oposição, dizendo em alto e bom som no microfone que a proposta de estatuto havia sido construída a quatro mãos com “a oposição”. Qual oposição, cara pálida?

Conforme expusemos acima, nós do Coletivo Bancários de Base, assim que tomamos conhecimento das propostas de alteração, chamamos os demais grupos de oposição para reunião, fizemos o esforço para construir um panfleto contra as mudanças estatutárias e para protocolar num documento na sede do sindicato reafirmando nossa oposição às propostas. Jamais tivemos qualquer diálogo com a diretoria sobre a construção das propostas. Repudiamos essa tentativa de confundir a base com o método de calúnias e insinuações. Negamos categoricamente qualquer participação em discussões com a diretoria sobre essas propostas. Reafirmamos nossa crítica a todas as propostas aprovadas e reafirmamos a defesa de propostas de funcionamento democráticas do sindicato que sempre fizemos em nossos materiais. Aguardamos também um pronunciamento público dos demais coletivos de oposição sobre essa insinuação da diretoria.

De nossa parte, o Coletivo Bancários de Base – SP / FNOB segue apostando na organização nos locais de trabalho, na resistência cotidiana, na comunicação alternativa, para construir uma oposição pela base, retomar as lutas dos bancários mesmo contra a direção do sindicato e futuramente remover o autoritarismo dos burocratas da Articulação do controle do sindicato e retomar a entidade para a luta dos trabalhadores.