segunda-feira, 3 de junho de 2013

Eleição para o CAREF: para não cair em mais uma armadilha, VOTO NULO!




Texto sobre a eleição para o CAREF, representante dos funcionários na diretoria do Banco do Brasil


Nos dias 3 a 6 de junho acontece a eleição para o CAREF, representante dos funcionários na diretoria do Banco do Brasil. Para chegar a uma posição a respeito dessa votação, consideramos os seguintes elementos:

- a criação desse cargo de CAREF não é resultado de uma exigência dos funcionários, para que sua voz fosse ouvida na gestão do Banco, nem de sua mobilização, mas de iniciativa do próprio Banco. Trata-se na verdade de uma exigência do mercado, uma formalidade que o Banco deve cumprir para poder dizer em sua publicidade que é uma “empresa responsável do ponto de vista socioambiental”. Cumprida essa formalidade, o Banco se habilita a atrair investimentos, podendo acrescentar esse item no seu marketing, sem ter que alterar em nada a sua relação real com os funcionários e a sociedade.

- trata-se de uma simples formalidade porque esse representante pode fazer tudo, menos representar. O CAREF não terá poder de voto nas questões que envolvem relações com os funcionários, como por exemplo, salários ou condições de trabalho. Se não pode defender os interesses dos funcionários, esse cargo é praticamente inútil, do ponto de vista de nós funcionários.

- ainda que possa votar em algumas questões que indiretamente possam influenciar o dia a dia dos funcionários (por exemplo, a definição da política geral do Banco, para que atuasse como um banco público de verdade, e não um banco com o mesmo perfil e as mesmas práticas dos bancos privados que o Banco é hoje), ainda que o CAREF possa votar em questões dessa natureza, ele seria voto vencido, já que se trata de apenas um representante dos funcionários contra outros 6 votos da diretoria.

- a gestão privatista do Banco, que vem desde a implementação do modelo neoliberal no governo FHC e foi aprofundada com (mecanismos menos truculentos mas de maior alcance) pelo governo petista, de onde resultam as metas, o assédio moral, o adoecimento físico e psicológico, o isolamento e o individualismo, a exploração dos terceirizados por empresas que fraudam seus direitos (sendo que deveriam ter direitos de bancários, já que trabalham em banco), a exploração dos clientes por práticas como a venda casada, a política implantada nas muitas empresas em que a PREVI tem participação, etc., nada disso será sequer remotamente afetado pela criação do CAREF. Para mudar tudo isso, somente com uma imensa conscientização e mobilização dos funcionários.

- poderíamos concluir então que a função do CAREF é apenas decorativa, mas é pior do que isso, é perniciosa. Com a criação desse cargo, o Banco cria uma fachada democrática perante a sociedade. Quando nós funcionários estivermos em greve ou questionando o Banco por outras questões que nos dizem respeito (como por exemplo, o recente plano de funções), o Banco vai poder dizer para a opinião pública: “do que é que eles estão reclamando? Somos uma empresa democrática! Temos até um representante dos funcionários na diretoria!” E com isso a opinião pública ficará contrá os funcionários, como se estivéssemos excedendo o nosso direito de reivindicar.

- considerando esses elementos, poderíamos votar num representante crítico, justamente para questionar a política geral dessa gestão privatista. Essa é a posição dos companheiros da Frente Nacional de Oposição Bancária – FNOB, que faz oposição à Contraf-CUT, corrente majoritária do movimento sindical. Os companheiros da FNOB estão apoiando a candidatura de um colega do setor da tecnologia de Brasília, que está usando a campanha para fazer críticas do ponto de vista do interesse do funcionários. Respeitamos essa posição, mas entendemos, que mesmo uma campanha crítica acaba tendo o efeito de validar e legitimar essa eleição.

- questionamos todo o processo da eleição porque foram inscritos mais de 600 candidatos em pouco mais de uma semana antes da votação, o que torna impossível fazer um debate sério sobre o que cada um desses candidatos representa. Mas ainda que fosse possível escolher o candidato que melhor “nos representa” (sic) ou o mais crítico, a votação será feita no próprio sistema do Banco, sem nenhum controle dos trabalhadores na sua apuração.

- além de sermos afetados por uma gestão que é privatista em quase todos os seus aspectos, o fato de que a propriedade do Banco seja nominalmente pública nos afeta de outra maneira, que é o pior aspecto da gestão pública (tal como é praticada no Brasil): os demais diretores não eleitos do Banco são nomeados por indicação de partidos políticos que apoiam o governo de plantão, o que transforma a empresa em moeda de troca de barganhas políticas.

- como se não bastassem as indicações para a diretoria obedecerem às conveniências políticas do governo de plantão, no caso o PT (e todas manterem inalterada a gestão privatista), a eleição do CAREF também se presta a ser a criação de mais um aparato para o próprio PT. A Contraf-CUT, que é a corrente majoritária do movimento sindical, faz campanha para o seu candidato, e com os recursos que tem para fazer campanha, deve vencer facilmente a eleição, reproduzindo entre os colegas no país afora a ilusão de que esse cargo pode influenciar em alguma coisa. Ora, sendo a Contraf-CUT controlada pelo PT, partido que está no governo, teríamos na verdade mais um representante do PT na diretoria, junto aos demais nomeados segundo as conveniências do PT.

- há muitos anos a CUT, controlada pelo PT, e as demais centrais que seguem seu modelo, deixaram de ser um espaço de organização independente dos trabalhadores, pois seus dirigentes participam da gestão do capital juntamente com a patronal e o governo. Temos visto cada vez mais exemplos do distanciamento das burocracias sindicais em relação aos trabalhadores, como 1º) a proposta do Acordo Coletivo Especial (ACE), que permite aos sindicatos assinar acordos abaixo da CLT sem sequer passar por assembleia; ou 2º) a recente assembleia estatutária do sindicato de São Paulo, que legitimou a incorporação da renda de entidades como Bancoop, Bangraf, Bancredi, etc., que tornam o sindicato financeiramente independente da situação dos trabalhadores. Nessas circunstâncias, a criação do CAREF pode se tornar uma espécie de “plano de cargos e salários” para a burocracia sindical, como é o caso dos cargos ocupados por ex-sindicalistas na CASSI, nas empresas controladas pela PREVI, etc.



Considerando todos esses elementos, defendemos a posição de VOTO NULO para o CAREF!

Coletivo de Oposição Bancários de Base – SP


Nenhum comentário:

Postar um comentário