segunda-feira, 27 de maio de 2013

Articulação muda estatuto do sindicato e aumenta controle burcrático.



Texto de balanço da assembleia estatutária do dia 14 de maio.


Na terça-feira 14 de maio aconteceu uma assembleia do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, o principal da categoria no país, para aprovar mudanças estatutárias propostas pela diretoria (composta por Articulação/CUT/PT e satélites como Intersindical e PCdoB). O problema começa na própria construção da assembleia para aprovação das mudanças, pois a convocação surgiu por um edital publicado em letra miúda no jornal do sindicato, pouco mais de duas semanas antes do dia marcado. A divulgação das propostas de alteração só aconteceu uma semana antes da assembleia. Num tema dessa natureza, que envolve questões de concepção e projeto de sindicalismo, seria necessário um amplo debate com a base, com tempo hábil para que os bancários discutissem a estrutura e os rumos da entidade que os representa, para que surgissem outras propostas a respeito, o que enfim, exigiria no mínimo um mês de discussão, com publicações, plenárias, etc.

Na verdade, esse tipo de discussão exigiria um Congresso da entidade, que estava previsto na versão anterior do estatuto, mas que não era realizado há muitos anos. Inclusive, a Articulação tratou de mudar o artigo do estatuto que tratava dos Congressos para acabar com a sua obrigatoriedade. Esse é um exemplo das mudanças que foram introduzidas para “modernizar” o estatuto. Na ausência das condições adequadas para discussão, os grupos de oposição que atuam na base, entre os quais o Bancários de Base – SP, que constroi a FNOB, se reuniram na véspera para debater as propostas da diretoria e formular alternativas. O resultado foi um panfleto unitário, cujo texto está publicado no blog do Bancários de Base – SP (http://bancariosdebasesp.blogspot.com.br/2013/05/assembleia-estatutaria-por-um-sindicato.html).

Na assembleia, a Articulação usou o seu eleitorado cativo, ou seja, diretores do sindicato, da Fetec, da Contraf, aposentados e trabalhadores de bancos privados atraídos a custa de favores, sem nenhum debate político, etc. A diretoria contou também com o fato de que o setor mais mobilizado da categoria, os bancos públicos, que são minoria na base, estão escaldados por anos de traição explícita nas campanhas salariais e em todas as lutas, como acabamos de ver no caso do plano de funções do BB. Dessa forma, sem tempo hábil para debate e para que houvesse mobilização, a Articulação conseguiu quórum e maioria para aprovar tudo o que quis.

Uma das mais graves alterações foi a que incluiu entre as fontes de renda do sindicato previstas no estatuto as receitas geradas por entidades subordinadas, como Bancoop (cooperativa habitacional que já frequentou as páginas policiais em suspeita de desvio de dinheiro das obras), Bancredi (que faz empréstimos para bancários, num sério conflito de interesse para uma entidade que deveria lutar por aumento de salários), Bangraf (gráfica que foi desvinculada da secretaria de comunicação e passou para finanças), faculdade (que ao invés de dar cursos sobre a luta e a organização dos trabalhadores, ensina matemática financeira, ajudando a formar mão de obra para os patrões), Travessia, Rede Brasil Atual, etc. A incorporação dessas fontes de renda ao estatuto facilitou a contabilização dos lucros pela diretoria, que agora tem margem para sobreviver sem depender da contribuição dos sócios. O sindicato se tornou independente dos trabalhadores que deveria representar.

Para continuar no controle deste lucrativo “conglomerado” empresarial, e mantê-lo ainda mais distante da luta dos trabalhadores, a diretoria tratou de introduzir alterações que dificultam ainda mais a disputa das eleições, reduzindo os prazos para convocar e realizar as eleições, mantendo as dificuldades de uma chapa de oposição obter a lista de votantes, e diminuindo o quórum de votação necessário. Com isso a burocracia da Articulação pretende se manter “ad eternum” no controle do sindicato.

Toda forma está a serviço de algum conteúdo e não existe conteúdo que não precise de uma forma. A forma de funcionamento do sindicato está a serviço de uma determinada política. A política da Articulação e seus satélites para o sindicato está bem clara. Há décadas este grupo se apoderou do controle da entidade e o transformou no inverso do que era. Ao invés de um instrumento para as lutas da categoria, o sindicato é hoje um obstáculo. Há décadas abandonou-se a luta pela estabilidade nos bancos privados, e com isso, sob a ameaça de demissão, estes companheiros não mais fazem enfrentamento aos bancos, vêem o sindicato como algo externo, uma mistura de escritório de serviços ou clube de convênios. Há mais de uma década abandonou-se a luta pelas reivindicações dos bancos públicos, pois isso exigiria enfrentar a gestão privatista hoje em aplicação no BB e na CEF (que estão engolindo os bancos estaduais remanescentes). Não é preciso vender as ações dos bancos públicos para tratá-los como privados e a atual gestão já faz isso. Os resultados estão no dia a dia das agências e departamentos: desrespeito aos clientes, venda casada, rebaixamento salarial e retirada de direitos e benefícios, metas, assedio moral, individualismo e fim da solidariedade entre colegas, sobrecarga de serviço, adoecimento físico e psicológico.

A Articulação e seus satélites não enfrenta esse projeto, pois não quer entrar em conflito com um governo que é do PT, o seu partido, que é o patrão dos públicos e é aliado dos banqueiros privados (assim como é aliado do agronegócio, da grande indústria, etc.). Ao invés de lutar contra tudo isso, o sindicato de São Paulo, o principal da categoria no país, abandona a resistência cotidiana nos locais de trabalho, abadona os fóruns de base, as reuniões de representantes e delegados sindicais, esvazia as assembleias e espaços de participação, não encaminha o que é votado em assembleias, etc. As campanhas salariais são meramente teatrais, pois não tratam das principais reivindicações listadas acima, não enfrentam os bancos, pois não afetam seu lucro, não permitem a participação da base, a formação de comandos de greve, a apresentação de propostas em assembleia, etc.

Essa política vem sendo aplicada há anos e as novas mudanças estatutárias ajudam a aprofundar esse projeto. Trata-se de um antigo projeto da Articulação a criação do que era chamado de “sindicato orgânico” na década de 1980, um sindicato nacional por categoria (que no nosso caso seria a Contraf), com o poder de assinar acordos, sem a necessidade de passar por fóruns de deliberação na base das categorias, como as assembleias. Agora surge pelas mãos da mesma Articulação o projeto do ACE, o Acordo Coletivo Especial, que prevê justamente isso, a possibilidade de acordos inferiores ao que está garantido na CLT possam ser aprovados sem passar por assembleia. Esse modelo de sindicalismo é o mesmo que existe nos Estados Unidos e na Europa há décadas.

Lá as burocracias sindicais se tornaram parceiras das empresas, uma espécie de anexo ao departamento de recursos humanos. Os sindicatos administram os fundos de pensão, que movimentam fortunas (nisso os bancários da Articulação foram pioneiros no Brasil, com a Globalprev de Luis Gushiken e as negociatas da PREVI), têm o poder de decidir sobre contratação e demissão, negociam os salários e os direitos dos trabalhadores sem que estes possam se organizar de maneira independente (sem a “permissão” dos sindicatos, as greves são ilegais), sem que haja qualquer tipo de oposição, pois qualquer militante que divergisse do grupo dirigente seria denunciado para a patronal para demissão.

É esse o projeto que está em implantação no Brasil pela Articulação. Com isso, os burocratas sindicais teriam condições de sobreviver, independentemente do PT estar no governo ou não, pois seriam parceiros indispensáveis da burguesia na gestão das empresas e na efetivação dos ataques sobre os trabalhadores sem que haja resistência. Não há mais como buscar qualquer tipo de acordo com esse tipo de projeto e essa concepção de sindicalismo expresso pela Articulação e seus parceiros tipo DS e PcdoB. Por isso mesmo, causou estranheza que na mesma assembleia a Articulação tenha feito uma cobrança aos coletivos de oposição, dizendo em alto e bom som no microfone que a proposta de estatuto havia sido construída a quatro mãos com “a oposição”. Qual oposição, cara pálida?

Conforme expusemos acima, nós do Coletivo Bancários de Base, assim que tomamos conhecimento das propostas de alteração, chamamos os demais grupos de oposição para reunião, fizemos o esforço para construir um panfleto contra as mudanças estatutárias e para protocolar num documento na sede do sindicato reafirmando nossa oposição às propostas. Jamais tivemos qualquer diálogo com a diretoria sobre a construção das propostas. Repudiamos essa tentativa de confundir a base com o método de calúnias e insinuações. Negamos categoricamente qualquer participação em discussões com a diretoria sobre essas propostas. Reafirmamos nossa crítica a todas as propostas aprovadas e reafirmamos a defesa de propostas de funcionamento democráticas do sindicato que sempre fizemos em nossos materiais. Aguardamos também um pronunciamento público dos demais coletivos de oposição sobre essa insinuação da diretoria.

De nossa parte, o Coletivo Bancários de Base – SP / FNOB segue apostando na organização nos locais de trabalho, na resistência cotidiana, na comunicação alternativa, para construir uma oposição pela base, retomar as lutas dos bancários mesmo contra a direção do sindicato e futuramente remover o autoritarismo dos burocratas da Articulação do controle do sindicato e retomar a entidade para a luta dos trabalhadores.


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