Texto sobre a eleição para o CAREF, representante dos funcionários na diretoria do Banco do Brasil
Nos
dias 3 a 6 de junho acontece a eleição para o CAREF, representante
dos funcionários na diretoria do Banco do Brasil. Para chegar a uma
posição a respeito dessa votação, consideramos os seguintes
elementos:
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a criação desse cargo de CAREF não é resultado de uma exigência
dos funcionários, para que sua voz fosse ouvida na gestão do Banco,
nem de sua mobilização, mas de iniciativa do próprio Banco.
Trata-se na verdade de uma exigência do mercado, uma formalidade que
o Banco deve cumprir para poder dizer em sua publicidade que é uma
“empresa responsável do ponto de vista socioambiental”. Cumprida
essa formalidade, o Banco se habilita a atrair investimentos, podendo
acrescentar esse item no seu marketing, sem ter que alterar em nada a
sua relação real com os funcionários e a sociedade.
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trata-se de uma simples formalidade porque esse representante pode
fazer tudo, menos representar. O CAREF não terá poder de voto nas
questões que envolvem relações com os funcionários, como por
exemplo, salários ou condições de trabalho. Se não pode defender
os interesses dos funcionários, esse cargo é praticamente inútil,
do ponto de vista de nós funcionários.
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ainda que possa votar em algumas questões que indiretamente possam
influenciar o dia a dia dos funcionários (por exemplo, a definição
da política geral do Banco, para que atuasse como um banco público
de verdade, e não um banco com o mesmo perfil e as mesmas práticas
dos bancos privados que o Banco é hoje), ainda que o CAREF possa
votar em questões dessa natureza, ele seria voto vencido, já que se
trata de apenas um representante dos funcionários contra outros 6
votos da diretoria.
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a gestão privatista do Banco, que vem desde a implementação do
modelo neoliberal no governo FHC e foi aprofundada com (mecanismos
menos truculentos mas de maior alcance) pelo governo petista, de onde
resultam as metas, o assédio moral, o adoecimento físico e
psicológico, o isolamento e o individualismo, a exploração dos
terceirizados por empresas que fraudam seus direitos (sendo que
deveriam ter direitos de bancários, já que trabalham em banco), a
exploração dos clientes por práticas como a venda casada, a
política implantada nas muitas empresas em que a PREVI tem
participação, etc., nada disso será sequer remotamente afetado
pela criação do CAREF. Para mudar tudo isso, somente com uma imensa
conscientização e mobilização dos funcionários.
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poderíamos concluir então que a função do CAREF é apenas
decorativa, mas é pior do que isso, é perniciosa. Com a criação
desse cargo, o Banco cria uma fachada democrática perante a
sociedade. Quando nós funcionários estivermos em greve ou
questionando o Banco por outras questões que nos dizem respeito
(como por exemplo, o recente plano de funções), o Banco vai poder
dizer para a opinião pública: “do que é que eles estão
reclamando? Somos uma empresa democrática! Temos até um
representante dos funcionários na diretoria!” E com isso a opinião
pública ficará contrá os funcionários, como se estivéssemos
excedendo o nosso direito de reivindicar.
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considerando esses elementos, poderíamos votar num representante
crítico, justamente para questionar a política geral dessa gestão
privatista. Essa é a posição dos companheiros da Frente Nacional
de Oposição Bancária – FNOB, que faz oposição à Contraf-CUT,
corrente majoritária do movimento sindical. Os companheiros da FNOB
estão apoiando a candidatura de um colega do setor da tecnologia de
Brasília, que está usando a campanha para fazer críticas do ponto
de vista do interesse do funcionários. Respeitamos essa posição,
mas entendemos, que mesmo uma campanha crítica acaba tendo o efeito
de validar e legitimar essa eleição.
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questionamos todo o processo da eleição porque foram inscritos mais
de 600 candidatos em pouco mais de uma semana antes da votação, o
que torna impossível fazer um debate sério sobre o que cada um
desses candidatos representa. Mas ainda que fosse possível escolher
o candidato que melhor “nos representa” (sic) ou o mais crítico,
a votação será feita no próprio sistema do Banco, sem nenhum
controle dos trabalhadores na sua apuração.
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além de sermos afetados por uma gestão que é privatista em quase
todos os seus aspectos, o fato de que a propriedade do Banco seja
nominalmente pública nos afeta de outra maneira, que é o pior
aspecto da gestão pública (tal como é praticada no Brasil): os
demais diretores não eleitos do Banco são nomeados por indicação
de partidos políticos que apoiam o governo de plantão, o que
transforma a empresa em moeda de troca de barganhas políticas.
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como se não bastassem as indicações para a diretoria obedecerem às
conveniências políticas do governo de plantão, no caso o PT (e
todas manterem inalterada a gestão privatista), a eleição do CAREF
também se presta a ser a criação de mais um aparato para o próprio
PT. A Contraf-CUT, que é a corrente majoritária do movimento
sindical, faz campanha para o seu candidato, e com os recursos que
tem para fazer campanha, deve vencer facilmente a eleição,
reproduzindo entre os colegas no país afora a ilusão de que esse
cargo pode influenciar em alguma coisa. Ora, sendo a Contraf-CUT
controlada pelo PT, partido que está no governo, teríamos na
verdade mais um representante do PT na diretoria, junto aos demais
nomeados segundo as conveniências do PT.
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há muitos anos a CUT, controlada pelo PT, e as demais centrais que
seguem seu modelo, deixaram de ser um espaço de organização
independente dos trabalhadores, pois seus dirigentes participam da
gestão do capital juntamente com a patronal e o governo. Temos visto
cada vez mais exemplos do distanciamento das burocracias sindicais em
relação aos trabalhadores, como 1º) a proposta do Acordo Coletivo
Especial (ACE), que permite aos sindicatos assinar acordos abaixo da
CLT sem sequer passar por assembleia; ou 2º) a recente assembleia
estatutária do sindicato de São Paulo, que legitimou a incorporação
da renda de entidades como Bancoop, Bangraf, Bancredi, etc., que
tornam o sindicato financeiramente independente da situação dos
trabalhadores. Nessas circunstâncias, a criação do CAREF pode se
tornar uma espécie de “plano de cargos e salários” para a
burocracia sindical, como é o caso dos cargos ocupados por
ex-sindicalistas na CASSI, nas empresas controladas pela PREVI, etc.
Considerando
todos esses elementos, defendemos a posição de VOTO NULO para o
CAREF!
Coletivo
de Oposição Bancários de Base – SP
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