No
final da campanha salarial de 2012 a Articulação/CUT/PT, direção
majoritária do movimento sindical da categoria bancária, apresentou
como uma das “conquistas” o compromisso do BB de uma proposta
relativa à jornada de 6h. Ao invés disso, o BB lançou no início
de 2013 um plano que reduz a jornada, mas reduz os salários de todo
um contingente que cumpria jornada de 8h. Ou seja, a Articulação
deu cheque em branco para que o BB fizesse mais um ataque aos seus
trabalhadores. O novo Plano de Funções Gratificadas (PFG) é mais
uma forma de aliviar o passivo trabalhista do BB, já que muitos
estavam ganhando na justiça o pagamento da 7ª e 8ª hora.
A
Articulação se fez de desentendida, sem querer encaminhar uma luta
de fato contra o PFG. Entretanto, a reação da base, que
silenciosamente resistiu e se recusou em sua grande maioria a assinar
o termo de migração para os novos cargos, bem como a mobilização
levada a efeito pelas oposições, obrigaram a direção do movimento
a marcar assembleias. Conseguimos aprovar em São Paulo um calendário
de luta com paralisação de 24h em 07/03, diferente do calendário
da Articulação. São Paulo concentra a maior parte dos
imediatamente atingidos pelo plano (que na verdade afeta a todos de
diferentes maneiras) e uma forte mobilização aqui seria decisiva
para arrastar o restante do país.
Entretanto,
na assembleia organizativa da paralisação, a Articulação nem
sequer permitiu discutir um calendário que desse continuidade à
luta. Com isso, a paralisação de 07/03 em São Paulo, que mesmo
sendo parcial foi importante, permaneceu isolada e não teve poder de
levar ao crescimento do movimento. Mais de 40 dias depois a Contraf
marcou nova paralisação no dia 30/04, com assembleias nos dias
próximos, para supostamente forçar o BB a abrir negociações.
Na
assembleia de 29/04 estava posta a possibilidade de romper o controle
da Articulação sobre o movimento. Estava posta a possibilidade de
construir um plano de lutas real, com um processo organizado e
consequente que pudesse chegar a uma greve por tempo indeterminado,
única medida capaz de barrar o plano do BB.
O
pressuposto político desse plano é o entendimento do atual projeto
em aplicação no BB, a sua gestão privatista. O PFG é parte desse
projeto, visando reduzir custos trabalhistas, contribuições para
CASSI e PREVI, além de sobrecarregar os funcionários com as mesmas
metas numa jornada menor. Não é preciso vender ações do BB para
tratá-lo como banco privado, a atual gestão já faz isso e
constatamos o resultado todos os dias: metas, assédio moral,
adoecimento físico e psicológico, etc. Para barrar o PFG seria
preciso envolver o conjunto do funcionalismo, e para isso seriam
necessários passos como:
-
reuniões nos locais de trabalho;
-
publicação de um material explicando o plano e sua relação com o
projeto de gestão em aplicação no BB;
-
reunião de delegados sindicais para organizar a base;
-
plenária nas regionais;
-
novas assembleias para avaliar o movimento;
-
colocar em pauta a volta do PCS pré-1998;
Foi
essa política que nós do Coletivo Bancários de Base – SP / FNOB
defendemos na assembleia de São Paulo*. Infelizmente, todas as demais
correntes, mesmo aquelas que se reivindicam oposição, como MNOB e
Intersindical, defenderam o calendário da Articulação. Numa
assembleia ultra-esvaziada, foi aprovada a paralisação de 24h, e
mais grave do que isso, nem sequer foi discutido um plano de lutas
que desse novo fôlego ao enfrentamento. A assembleia era o momento
crucial para relançar a mobilização e ter alguma chance de
construir a luta contra o PFG. A assembleia não teria forças para aprovar uma paralisação, mas se aprovasse um plano de lutas, ainda que a diretoria não o encaminhasse como deve, isso daria tempo e fôlego para que as correntes de oposição construíssem a mobilização na base. As demais correntes de oposição não
entenderam dessa forma e defenderam o plano da articulação. Com
isso, a paralisação de 24h no dia 30/04 aconteceu e foi mais frágil
que a de 07/03. Não há perspectiva de continuidade e
melancolicamente se encerrou a luta contra o PFG.
A
Articulação parte agora para os Congressos que “organizam” a
campanha salarial, em que o PFG vai se transformar em mais uma das
infinitas pendências (reposição de perdas, isonomia,
substituições, CASSI, PREVI, etc.) que nunca são levadas à mesa
de negociação e nunca se tornam foco da greve. Diante disso,
seguimos defendendo a necessidade de lutar contra o plano do BB,
relacionando esse plano com o projeto geral e a gestão privatista em
aplicação. Seguiremos lutando na medida das nossas forças para
manter a base mobilizada contra o PFG.
*Segue abaixo cópia do panfleto com a proposta de plano de lutas que apresentamos na assembleia do dia 29:
POR
UM PLANO DE LUTAS QUE TENHA REAIS CONDIÇÕES DE DERROTAR O BB!
SOMOS
CONTRA MAIS UMA PARALISAÇÃO DE 24H! ESSA TÁTICA
JÁ SE MOSTROU DERROTADA, O BB NEM SEGUER NEGOCIOU!
DEFENDEMOS
UM PLANO DE LUTAS QUE POSSA ENVOLVER TODO O FUNCIONALISMO:
*Imediatamente:
-
Iniciar já as ações coletivas deliberadas
em 25/02;
-
Edição especial do Espelho
relacionando o plano com o projeto em vigor no BB: metas, assédio,
adoecimento, etc;
-
Reuniões em todas as agências e
departamentos, mostrando
que o plano afeto todos os funcionários;
*
Dia 7/05 Reunião
de delegados sindicais para organizar a base
e levantar propostas de luta;
*
Dia 15/05 Plenárias nas regionais;
*
Dia 22/05 Assembleia para avaliar o movimento
e aprovar indicativo de greve;
*
Dia 29/05 Nova assembléia para referendar a
Greve por Tempo Indeterminado até a retirada
do plano!
*
Durante o movimento, retomar a luta pelo PCS vigente
até 1998: anuênio, licença prêmio, interstícios de 12% e 16%,
férias de 35 dias, etc.!
O PLANO É
PARTE DA GESTÃO PRIVATISTA QUE AFETA TODOS!
Mesmo
depois de meses da sua implantação a adesão ao Plano de Funções
está abaixo de 30%, o que mostra que o plano é um fracasso. Mas
para derrotar de vez o plano é preciso um movimento unificado que
envolva todo o funcionalismo. Já tivemos paralisações de 24h
em São Paulo e outros estados, paralisações parciais e
manifestações de diversos tipos. Está claro que o plano só será
derrotado por uma greve nacional por tempo indeterminado!
Mas para
construir uma greve nacional é preciso mais do que ficar convocando
uma paralisação de 24h por mês, como está fazendo a direção do
Sindicato. Uma greve não pode ser decretada, precisa ser construída.
Assim como faz nas campanhas salariais, a direção do sindicato
coloca tudo de cabeça para baixo. A greve não pode ser o ponto
de partida, deve ser o ponto de chegada de um processo de
mobilização, a máxima demonstração de força de trabalhadores!
Para
chegar a uma greve que tenha reais condições de derrotar o Plano é
preciso realizar um amplo trabalho de mobilização, com as medidas
que expomos no verso, que envolvam o conjunto do funcionalismo, não
apenas assistentes, mas caixas, escriturários, atendentes,
analistas, etc. Mas para isso é preciso mostrar que o Plano afeta a
todos. De saída, como se trata de redução e congelamento salarial,
ele reduz a contribuição patronal e funcional para CASSI e PREVI,
com grave impactos futuros.
Mais
importante do que isso, é preciso mostrar que o Plano não é
produto do desatino de alguns diretores, mas é parte do projeto
privatista que está em aplicação nos bancos públicos, nos
governos do PSDB e do PT. Não é preciso vender ações do BB
para tratá-lo como um banco privado, a atual gestão já faz isso!
Todos os dias todos os funcionários sofrem as consequências dessa
gestão privatista: desrespeito aos clientes, cobrança
de metas, assédio moral sistemático e institucionalizado como forma
de gestão, rebaixamento dos salários, direitos e benefícios,
sobrecarga de serviço, falta de condições de trabalho, adoecimento
físico e psicológico, etc. Essas são as verdadeiras razões que
podem levar os o conjunto dos funcionários à luta!
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