Para
responder à pergunta do título, alguns breves exemplos históricos
bastariam. No Congresso dos funcionários do BB de 2011 estava
presente nada menos do que o deputado federal Ricardo Berzoini, que
foi presidente do PT e chefiou o esquema dos “aloprados” na
campanha da reeleição de Lula em 2006. No Congresso de 2012, foi a
vez do próprio ministro do trabalho Brizola Neto dar o ar da graça.
Ou seja, representantes dos patrões, do governo do PT, tiveram lugar
de honra na mesa de um Congresso que deveria ser dos funcionários!
Esses
dois exemplos demonstram a completa promiscuidade entre os dirigentes
da CUT enquanto suposta representação dos trabalhadores e o PT,
partido que está no governo e faz a vez dos patrões. Não há mais
qualquer distinção entre uma coisa e outra. A CUT se transformou
numa agência do governo federal. Um outro exemplo histórico que
demonstra a completa falta de referência de classe foi o Congresso
do BB de 2009, em plena manifestação da crise mundial. Os
representantes dos funcionários do BB na PREVI, todos eles
sindicalistas da CUT, votaram a favor das demissões na Embraer,
empresa em que a PREVI tem participação. Isso nem sequer foi
pautado no Congresso dos funcionários do BB, que tem
responsabilidade sobre a PREVI, porque os dirigentes sindicais da
Articulação consideram normal agir como empresários.
Os
dirigentes sindicais e políticos do PT raciocinam já há tempos com
o ponto de vista da classe patronal e não têm mais qualquer relação
com o cotidiano dos trabalhadores que deveriam representar. Isso se
manifesta na composição dos próprios Congressos. A esmagadora
maioria dos delegados é formada por dirigentes sindicais, a maioria
dos quais estão liberados, ou seja, não estão mais trabalhando,
não estão mais suportando o dia a dia de pressão dos gerentes e
clientes, a rotina do trabalhador comum. Naquele mesmo Congresso de
2009, tiveram a desfaçatez de apresentar como uma das reivindicações
a ser levada na campanha salarial a “valorização dos dirigentes
sindicais”, ou seja, uma comissão para os dirigentes. Raciocinam
como se um dirigente sindical devesse ganhar o que ganha um gerente
(independentemente do que ganha o restante dos trabalhadores), o que
até faz sentido, já que têm se comportado como representantes dos
patrões...
Existe
o argumento, a nosso ver puramente formal, de que os Congressos são
“fóruns oficiais da categoria”, e não fóruns da CUT. Esse
argumento a nosso ver não se sustenta, pois não se trata
simplesmente do fato de que, num determinado fórum da categoria, uma
determinada corrente, no caso a Articulação/CUT/PT, se tornou
maioria, como seria no caso de uma assembleia. Trata-se de algo muito
além, pois este fórum já está há anos distorcido e apropriado
por esta corrente. A maioria da CUT já se impõe há muitos anos com
base na não participação dos bancários, no controle dos aparatos,
nos métodos burocráticos. Existem delegados “biônicos”,
indicados pelas federações e confederações, que não passam por
eleição na base. Existem cláusulas de barreira que impedem a
proporcionalidade direta e a participação de correntes de oposição.
A assembleia para tirar os delegados para o Congresso do BB em São
Paulo em 2013 aconteceu num sábado pela manhã, em plena “ressaca”
da paralisação contra o plano de funções, sem divulgação e
debates prévios.
Defendemos
um formato oposto de Congresso:
-
1 delegado para cada 100 trabalhadores, o que garantiria ampla
representatividade de todos os segmentos e correntes de pensamento
dentro do funcionalismo (e dispensaria os hotéis de luxo em que
festejam os burocratas da Articulação);
-
um amplo e democrático processo de pré-Congresso, com reuiões,
plenárias e assembleias prévias para debate de teses;
-
eleição da mesa dirigente no início do evento e não por indicação
“biônica” do “comando”;
Tudo
isso é o oposto do que tem acontecido há anos nos Congressos do BB,
da CEF e da Conferência Nacional dos Bancários, que se converteram
em convescotes da burocracia.
Nessas
condições, não é de se estranhar que não estejam sendo
discutidas as verdadeiras reivindicações dos trabalhadores:
-
reposição das perdas acumuladas (cerca de 90%);
-
isonomia entre funcionários novos, antigos e incorporados,
presenvando-se o que for mais vantajoso para os trabalhadores;
-
retirada do PFG e volta do PCS vigente até 1998: anuênio, licença
prêmio, interstícios de 12% e 16%, férias de 35 dias, etc.;
-
fim da lateralidade e volta do pagamento das substituições;
-
fim do PSO e reincorporação dos caixas pelas agências;
-
fim das metas e do assédio moral;
-
por um banco público a serviço dos trabalhadores;
Essas
reivindicações jamais serão colocadas em discussão pela
Articulação, pois de acordo com a fórmula de “campanha
unificada” da Contraf-CUT, a campanha deve ser realizada contra a
Fenaban, e não contra o governo federal. E é claro que, na mesa da
Fenaban, que reúne também os bancos privados, a reivindicação
principal, a proibição das demissões imotivadas, também jamais é
colocada em pauta. Não há sequer força para apresentar essa
reivindicação, pois os sindicatos não desenvolvem qualquer tipo de
organização entre os trabalhadores de bancos privados, que enxergam
a entidade como meros clubes de convênios. Com isso, esses
trabalhadores permanecem alheios ao processo das campanhas, que
acontecem como algo externo, que acompanham passivamente.
É
nesses Congressos que nasce a campanha salarial conduzida pela
Articulação, com todos os problemas que conhecemos:
-
índices de reivindicação rebaixados (mesmo com imensas perdas
acumuladas, a Articulação tem o cinismo de falar em “aumento
real” todos os anos);
-
participação zero dos bancos privados, greve de fachada (uma faixa
na frente das agências e os bancários trabalhando lá dentro);
-
greve de pijama (os bancários aproveitam a greve para sair de férias
e viajar, sem participar de piquetes e assembleias);
-
assembleias esvaziadas, em que não são debatidas propostas, que não
são postas em votação, e quando votadas, a direção não acata,
como em 2011;
-
encerramento da campanha com os gerentes comparecendo em massa
(convocados pelos bancos e com a conivência da direção do
sindicato) para votar na proposta da patronal;
Já
amargamos muitos anos de derrotas nas campanhas salariais conduzidas
pela Articulação com esses métodos. Já está mais do que na hora
de romper com esse processo e iniciar um movimento para colocar os
trabalhadores em luta novamente. Se ainda não é possível deflagrar
greve independentemente da instituição sindical, é possível sim:
-
organizar reuniões nos locais de trabalho;
-
organizar plenárias nas regiões;
-
organizar comandos de greve alternativos, ainda que limitados a
alguma região ou corredor de agências, mas com participação real
dos bancários;
-
manter esse embrião de organização ao longo do ano, discutindo as
questões do dia a dia dos bancários, até chegar à campanha
salarial no ano seguinte;
Estamos
chamando os trabalhadores a retomar o controle das campanhas
salariais. Sabemos que não será um caminho fácil e que o processo
deve ser lento, levando talvez vários anos. Sabemos que os
resultados iniciais serão pequenos, e que teremos pouco impacto
inicial na realidade. Entretanto, entendemos que é nossa tarefa
seguir chamando os trabalhadores a se organizar, dizendo a verdade
sobre os fóruns da CUT e as suas campanhas salariais, e discutindo
as questões do dia a dia ao longo do ano. Não há outra forma de
retomar o movimento e a organização da categoria. É essa a
proposta do Coletivo Bancários de Base – SP / FNOB.
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