segunda-feira, 13 de maio de 2013

Porque não vamos ao Congresso do BB organizado pela Contraf-CUT




Para responder à pergunta do título, alguns breves exemplos históricos bastariam. No Congresso dos funcionários do BB de 2011 estava presente nada menos do que o deputado federal Ricardo Berzoini, que foi presidente do PT e chefiou o esquema dos “aloprados” na campanha da reeleição de Lula em 2006. No Congresso de 2012, foi a vez do próprio ministro do trabalho Brizola Neto dar o ar da graça. Ou seja, representantes dos patrões, do governo do PT, tiveram lugar de honra na mesa de um Congresso que deveria ser dos funcionários!

Esses dois exemplos demonstram a completa promiscuidade entre os dirigentes da CUT enquanto suposta representação dos trabalhadores e o PT, partido que está no governo e faz a vez dos patrões. Não há mais qualquer distinção entre uma coisa e outra. A CUT se transformou numa agência do governo federal. Um outro exemplo histórico que demonstra a completa falta de referência de classe foi o Congresso do BB de 2009, em plena manifestação da crise mundial. Os representantes dos funcionários do BB na PREVI, todos eles sindicalistas da CUT, votaram a favor das demissões na Embraer, empresa em que a PREVI tem participação. Isso nem sequer foi pautado no Congresso dos funcionários do BB, que tem responsabilidade sobre a PREVI, porque os dirigentes sindicais da Articulação consideram normal agir como empresários.

Os dirigentes sindicais e políticos do PT raciocinam já há tempos com o ponto de vista da classe patronal e não têm mais qualquer relação com o cotidiano dos trabalhadores que deveriam representar. Isso se manifesta na composição dos próprios Congressos. A esmagadora maioria dos delegados é formada por dirigentes sindicais, a maioria dos quais estão liberados, ou seja, não estão mais trabalhando, não estão mais suportando o dia a dia de pressão dos gerentes e clientes, a rotina do trabalhador comum. Naquele mesmo Congresso de 2009, tiveram a desfaçatez de apresentar como uma das reivindicações a ser levada na campanha salarial a “valorização dos dirigentes sindicais”, ou seja, uma comissão para os dirigentes. Raciocinam como se um dirigente sindical devesse ganhar o que ganha um gerente (independentemente do que ganha o restante dos trabalhadores), o que até faz sentido, já que têm se comportado como representantes dos patrões...

Existe o argumento, a nosso ver puramente formal, de que os Congressos são “fóruns oficiais da categoria”, e não fóruns da CUT. Esse argumento a nosso ver não se sustenta, pois não se trata simplesmente do fato de que, num determinado fórum da categoria, uma determinada corrente, no caso a Articulação/CUT/PT, se tornou maioria, como seria no caso de uma assembleia. Trata-se de algo muito além, pois este fórum já está há anos distorcido e apropriado por esta corrente. A maioria da CUT já se impõe há muitos anos com base na não participação dos bancários, no controle dos aparatos, nos métodos burocráticos. Existem delegados “biônicos”, indicados pelas federações e confederações, que não passam por eleição na base. Existem cláusulas de barreira que impedem a proporcionalidade direta e a participação de correntes de oposição. A assembleia para tirar os delegados para o Congresso do BB em São Paulo em 2013 aconteceu num sábado pela manhã, em plena “ressaca” da paralisação contra o plano de funções, sem divulgação e debates prévios.

Defendemos um formato oposto de Congresso:

- 1 delegado para cada 100 trabalhadores, o que garantiria ampla representatividade de todos os segmentos e correntes de pensamento dentro do funcionalismo (e dispensaria os hotéis de luxo em que festejam os burocratas da Articulação);

- um amplo e democrático processo de pré-Congresso, com reuiões, plenárias e assembleias prévias para debate de teses;

- eleição da mesa dirigente no início do evento e não por indicação “biônica” do “comando”;

Tudo isso é o oposto do que tem acontecido há anos nos Congressos do BB, da CEF e da Conferência Nacional dos Bancários, que se converteram em convescotes da burocracia.

Nessas condições, não é de se estranhar que não estejam sendo discutidas as verdadeiras reivindicações dos trabalhadores:

- reposição das perdas acumuladas (cerca de 90%);

- isonomia entre funcionários novos, antigos e incorporados, presenvando-se o que for mais vantajoso para os trabalhadores;

- retirada do PFG e volta do PCS vigente até 1998: anuênio, licença prêmio, interstícios de 12% e 16%, férias de 35 dias, etc.;

- fim da lateralidade e volta do pagamento das substituições;

- fim do PSO e reincorporação dos caixas pelas agências;

- fim das metas e do assédio moral;

- por um banco público a serviço dos trabalhadores;

Essas reivindicações jamais serão colocadas em discussão pela Articulação, pois de acordo com a fórmula de “campanha unificada” da Contraf-CUT, a campanha deve ser realizada contra a Fenaban, e não contra o governo federal. E é claro que, na mesa da Fenaban, que reúne também os bancos privados, a reivindicação principal, a proibição das demissões imotivadas, também jamais é colocada em pauta. Não há sequer força para apresentar essa reivindicação, pois os sindicatos não desenvolvem qualquer tipo de organização entre os trabalhadores de bancos privados, que enxergam a entidade como meros clubes de convênios. Com isso, esses trabalhadores permanecem alheios ao processo das campanhas, que acontecem como algo externo, que acompanham passivamente.

É nesses Congressos que nasce a campanha salarial conduzida pela Articulação, com todos os problemas que conhecemos:

- índices de reivindicação rebaixados (mesmo com imensas perdas acumuladas, a Articulação tem o cinismo de falar em “aumento real” todos os anos);

- participação zero dos bancos privados, greve de fachada (uma faixa na frente das agências e os bancários trabalhando lá dentro);

- greve de pijama (os bancários aproveitam a greve para sair de férias e viajar, sem participar de piquetes e assembleias);

- assembleias esvaziadas, em que não são debatidas propostas, que não são postas em votação, e quando votadas, a direção não acata, como em 2011;

- encerramento da campanha com os gerentes comparecendo em massa (convocados pelos bancos e com a conivência da direção do sindicato) para votar na proposta da patronal;

Já amargamos muitos anos de derrotas nas campanhas salariais conduzidas pela Articulação com esses métodos. Já está mais do que na hora de romper com esse processo e iniciar um movimento para colocar os trabalhadores em luta novamente. Se ainda não é possível deflagrar greve independentemente da instituição sindical, é possível sim:

- organizar reuniões nos locais de trabalho;

- organizar plenárias nas regiões;

- organizar comandos de greve alternativos, ainda que limitados a alguma região ou corredor de agências, mas com participação real dos bancários;

- manter esse embrião de organização ao longo do ano, discutindo as questões do dia a dia dos bancários, até chegar à campanha salarial no ano seguinte;

Estamos chamando os trabalhadores a retomar o controle das campanhas salariais. Sabemos que não será um caminho fácil e que o processo deve ser lento, levando talvez vários anos. Sabemos que os resultados iniciais serão pequenos, e que teremos pouco impacto inicial na realidade. Entretanto, entendemos que é nossa tarefa seguir chamando os trabalhadores a se organizar, dizendo a verdade sobre os fóruns da CUT e as suas campanhas salariais, e discutindo as questões do dia a dia ao longo do ano. Não há outra forma de retomar o movimento e a organização da categoria. É essa a proposta do Coletivo Bancários de Base – SP / FNOB.




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