APRESENTAÇÃO
Apresentamos
a seguir a contribuição do coletivo Bancários de Base – SP ao
seminário do Avante, Bancários! Essa contribuição se divide em
quatro partes:
No
primeiro ponto, apresentamos um breve histórico e balanço do que
foi o Avante, Bancários! desde os processos iniciais que levariam à
sua formação até o momento que precede a realização do
seminário.
Na
segunda parte, o núcleo dessa contribuição, apresentamos nossa
proposta para um Manifesto ou Carta de Princípios do Avante,
Bancários! Essa proposta é precedida de uma fundamentação teórica
onde pontuamos nossa visão do momento histórico, da realidade
mundial e nacional, do governo do PT e sua relação com o capital
financeiro e os movimentos sociais (em especial o sindical), e da
situação da categoria bancária. Essa fundamentação não será
objeto de votação nem será incorporada à Carta de Princípios,
mas está presente com o objetivo de expor a lógica de nossa
intervenção e o sentido por trás das propostas que apresentamos,
de maneira a facilitar o entendimento e o posicionamento dos demais.
Na
terceira parte debatemos as tarefas imediatas que teremos no primeiro
semestre, como a preparação da campanha salarial e as diversas
eleições com que estará defrontada a categoria bancária.
No
último ponto, listamos as propostas relativas ao funcionamento do
Avante, Bancários!
1.
HISTÓRICO E BALANÇO
Os
antecedentes do Avante, Bancários! estão na campanha contra a
demissão do companheiro Messias, já em fins de 2012. Naquele
momento, vários dos coletivos e militantes participaram das reuniões
que pressionaram as entidades sindicais e associativas dos
funcionários da CEF a agir contra a demissão, e participaram dos
atos públicos de denúncia da CEF. No momento seguinte, os
integrantes desses coletivos voltaram a se encontrar no CONECEF 2013,
onde enfrentaram o rolo compressor da burocracia sindical da
Articulação e seus satélites.
Já se
evidenciava o peso desproporcional da CEF na composição desses
agrupamentos, uma vez que o BB vive um momento de sucessivas derrotas
e esvaziamento das lutas. Essa sequência negativa teve mais um
episódio no próprio ano de 2013, quando o novo plano de funções
enterrou a luta pela 7ª e 8ª h, com a indispensável colaboração
da burocracia sindical governista e a despeito dos nossos esforços.
Com isso, o BB segue sendo mais recuado nas lutas da categoria em
relação à CEF.
O passo
seguinte que viria resultar no que é hoje o Avante, Bancários!
começou na plenária de 29 de junho, convocada pelo Bancários de
Base. O projeto inicial era dar impulso à preparação da campanha
salarial 2013. A partir da reunião inicial, constituiu-se uma
espécie de frente informal entre diversos coletivos e ativistas,
dando uma dinâmica nova e superior ao que tinha sido inicialmente
proposto. No curso do processo, outras preocupações se
incorporaram, como a tentativa de associar a preparação da campanha
salarial da categoria ao importantíssimo processo de luta que se
desenvolvia no país, que acabaria recebendo o nome de “jornadas de
junho”. Até a deflagração da greve, vários panfletos foram
editados estimulando a categoria bancária a romper com o roteiro das
campanhas salariais dos anos anteriores, acompanhando o exemplo das
outras lutas em curso.
A
mudança na conjuntura do país e a intervenção do Avante,
Bancários! nas assembleias no período preparatório e na própria
greve surtiram efeitos limitados na categoria, podendo ter levado a
uma maior adesão e maior duração da greve, mas não a uma
participação mais ativa na própria greve. Não houve base social
mobilizada suficiente para tirar a greve do controle da burocracia
sindical.
Na
ausência de uma autêntica rebelião de base durante a greve, o
Avante, Bancários! apostou na retomada dos piquetes na forma como
devem ser feitos, com trancamento completo dos prédios. Essa tática
surtiu algum efeito, causando incômodo real aos bancos, obrigando a
burocracia e outros setores a se mover. Ainda assim, o controle
burocrático sobre a campanha foi mantido. A mobilização dos
bancos, em conjunto com a diretoria do sindicato, foi suficiente para
levar às assembleias um número de gestores e fura greves maior do
que o de grevistas, possibilitando assinar mais um acordo rebaixado e
encerrar a campanha sem sequer começar a discutir as questões
vitais da categoria.
A
unidade alcançada nos piquetes mostrou um potencial importante de
mobilização, sinalizando a possibilidade de construção de uma
alternativa de oposição. No próprio curso da greve a ideia de
explorar as possibilidades de continuidade do Avante, Bancários! se
tornou consensual entre os participantes, levando à proposta de
organização de um seminário.
2.
PROGRAMA
2.1.
Fundamentação
O
Avante, Bancários! surge a partir do ajuntamento de diversos
coletivos que já tinham um histórico e um acúmulo de concepções
e atuação independentes anteriormente. Para que esses diversos
coletivos possam ter uma atuação comum enquanto frente daqui por
diante, precisamos identificar quais os pontos de acordo que existem
e que podem ser defendidos por todos. Esses pontos formarão o
“programa” do Avante, Bancários!, ou sua “Carta de Princípios”
e de apresentação para a categoria. Convidaremos os bancários a se
juntar a nós apresentando esses pontos comuns como sendo a base para
que participem do coletivo.
Para se
chegar a esses pontos comuns, cada coletivo apresentará as suas
propostas. Para chegar a suas propostas, cada coletivo seguiu um
percurso e adotou uma lógica, uma linha de pensamento. Apresentamos
logo adiante, no ponto 2.7. as propostas do coletivo Bancários de
Base, mas antes apresentamos os elementos de nossa compreensão da
realidade, a partir dos quais chegamos a essas propostas de ação.
Não
esperamos convencer os demais a pensar como nós. Numa frente como a
que estamos construindo, não é necessário que haja unidade de
pensamento para que haja unidade de ação. Apresentamos esses
elementos de fundamentação para que os demais possam entender a
lógica de nossas propostas, o porquê de defendermos as ideias que
defendemos, qual o sentido da nossa intervenção. Mesmo após esse
seminário e ao longo da nossa atuação conjunta, seguirão havendo
diferenças entre os diversos coletivos e pontos que precisarão ser
debatidos. O debate permanente, assim como a diferença de
pensamento, repetimos, não é uma obstáculo para a ação conjunta.
Mas para que esse debate seja construtivo, é fundamental que seja
feito de maneira honesta e transparente.
É em
nome dessa transparência que apresentamos um resumo das nossas
concepções sobre a realidade da categoria bancária e da classe
trabalhadora como um todo, em escala nacional e internacional, para
que os demais coletivos e participantes do Avante, Bancários!
entendam a lógica que orienta nossas propostas, para que possam se
posicionar em relação a elas com maior clareza, tanto contra como a
favor.
2.2.
Pressupostos históricos
Vivemos
hoje num cenário determinado pela convergência de duas crises: a
crise estrutural do capital e a crise da alternativa socialista.
A crise
estrutural do capital significa que o sistema atingiu o seu limite de
expansão em escala global. As relações capitalistas se tornaram
predominantes em todo o planeta, e não havendo fronteiras externas
pra onde se expandir, o sistema precisa se expandir “internamente”,
o que significa que as suas contradições se tornam cada vez mais
agudas. No passado as crises do capitalismo exigiam uma imensa
destruição para que o sistema voltasse a funcionar, como a
destruição causada pelas Guerras Mundiais. Hoje, com armas
nucleares, uma guerra mndial destruiria o planeta. Por isso, o
capitalismo desloca suas contradições por meio de outras formas de
destruição, ambiental, social, etc. Essa ausência de mecanismos
“clássicos” de deslocamento de contradições é o que
caracteriza a crise estrutural.
Nesse
período histórico de crise estrutural, que se arrasta há várias
décadas, as crises econômicas periódicas são cada vez mais
graves, mais profundas e mais globais, como acabamos de presenciar a
partir de 2008, e os períodos de recuperação são cada vez mais
limitados, mais curtos e mais restritos a alguns países. Os sintomas
dessa crise estrutural são a degradação ambiental (acelerada pela
taxa de utilização decrescente das mercadorias e pela produção
destrutiva que visa atender necessidades artificiais), o desemprego
estrutural, a intensificação das rivalidades nacionais e das
agressões imperialistas, o endividamento crônico de países,
empresas e trabalhadores e a especulação desenfreada.
Ainda
que o capitalismo esteja passando por esse momento de crise
estrutural, a sua dominação permanece de pé devido à ausência de
um projeto societário alternativo, fenômeno que denominamos de
crise da alternativa socialista. Logo depois do fim da URSS e do Muro
de Berlim, entre 1989-91, disseminou-se a ideia do “fim da
história”, “fim do socialismo”, “fim das utopias”, etc. As
novas gerações foram criadas com a ideia de que não há
alternativa ao capitalismo.
Ainda
que a URSS e os países que seguiam o seu “modelo” não possam
ser considerados como exemplos de socialismo, a sua simples
existência funcionava como contraposição ao capitalismo e
sustentáculo da ideia de transformação e revolução. A luta
contra o sistema era considerada viável e desejável. Depois da sua
queda (as razões dessa queda e de porque o sistema vigente em tais
países não podia ser considerado exemplo de socialismo excedem o
alcance deste debate), consolidou-se a ideia contrária, de que o
capitalismo iria durar eternamente e tudo o que se pode fazer é
aperfeiçoá-lo ou “humanizá-lo”.
As
organizações dos trabalhadores em todo o mundo, partidos,
sindicatos, centrais e movimentos, abandonaram a perspectiva do
socialismo e passaram alegremente para a colaboração de classe ou
mesmo para a própria administração do capitalismo. Aderiram de
malas e bagagens para a “democracia como valor universal”, o
reformismo sem reformas, e todo tipo de ideologia pós-moderna.
Sem a
perspectiva de uma luta ofensiva para transformar o sistema, os
trabalhadores vivenciaram derrotas mesmo nas lutas defensivas,
experimentando a degradação dos seus salários, direitos, condições
de vida. Essas lutas defensivas foram abandonadas ou travadas em
condições desvantajosas, sob a liderança de direções partidárias
e sindicais comprometidas com a continuidade do capitalismo e a
ocupação de posições intermediárias na gestão do sistema.
Viveu-se
uma tremenda desacumulação de forças da classe trabalhadora. Houve
um enorme esvaziamento dos partidos, sindicatos, movimentos,
associações e coletivos. As greves, ocupações, ações diretas,
piquetes, passaram para o descrédito. Os trabalhadores deixaram de
acreditar em ações coletivas e passaram para a busca de soluções
individuais. Tornaram-se moda filosofias irracionalistas, que negam a
possibilidade de entender a totalidade do real e de intervir na
história, fragmentando a cultura, a ciência, a arte, a ética, etc.
O fundamentalismo religioso e o niilismo convivem lado a lado.
Sem um
obstáculo à altura, por conta da prostração política dos
trabalhadores, as chamadas políticas neoliberais (reestruturação
produtiva, privatizações, desregulamentação, abertura comercial,
“reformas” da previdência, fiscal, trabalhista, universitária,
etc.) se tornaram padrão universal em todos os governos, tanto por
parte dos partidos burgueses tradicionais quanto dos antigos partidos
operários reformistas e burocráticos convertidos em gestores do
sistema. Essas políticas aceleraram a transferência de recursos dos
trabalhadores para o capital, conferindo uma sobrevida ao sistema,
mas ao mesmo tempo aprofundando os problemas sociais.
Nas
últimas décadas houve várias lutas que tentaram resistir aos
ataques neoliberais, em especial a partir da crise de 2000-2001. O
problema é que, nas condições da crise estrutural, mesmo as lutas
defensivas para preservar empregos, salários, condições de
trabalho, direitos e condições de vida em geral não serão bem
sucedidas se forem travadas sem uma perspectiva ofensiva,
revolucionária, de superação do sistema. As poucas conquistas e
melhorias pontuais que podem ser obtidas em alguns setores e algumas
categorias são de pouca duração e estão sob ataque constante da
burguesia e do Estado. Não há possibilidade de reformas duradouras
no sistema, de voltar ao antigo “wellfare state” que vigorou em
alguns países, ou de atingí-lo onde nem sequer foi construído.
Mesmo as
lutas defensivas se chocam hoje contra as margens estreitas de gestão
que restaram ao Estado, cujo orçamento está comprometido com o
serviço de dívidas infindáveis e o parasitismo do capital
financeiro. Medidas como o não pagamento da dívida ou mais verbas
para o serviço público se enfrentam com pilares do capitalismo. A
única alternativa da luta por melhorias, se não quiser naufragar no
pântano dos parlamentos, das ONGs, dos debates acadêmicos estéreis,
etc., é colocar-se como uma luta contra o capitalismo, ou seja, é a
revolução.
2.2.
Situação mundial
A
despeito do discurso dos ideólogos burgueses e de ex-organizações
operárias, a história não acabou e o capitalismo não deixou de
vivenciar crises cada vez mais graves, como acabamos de presenciar a
partir de 2008. No momento imediato após esta crise, os
trabalhadores foram surpreendidos por uma onda de demissões,
reduções de salários, retirada de direitos, especialmente nos
países imperialistas, e não apresentaram quase nenhuma resistência.
Trilhões de dólares foram entregues pelos governos aos bancos e
grandes empresas para reanimar a economia capitalista. As
consequências de tamanha generosidade para com o capital foram o
aumento explosivo do endividamento estatal, e para lidar com ele, as
medidas de “austeridade” contra os trabalhadores, ou seja, cortes
nos gastos sociais e sucateamento dos serviços públicos. Os
resultados desses ataques se acumularam a ponto de fazer com que os
trabalhadores começassem a reagir, a despeito da falta de
organizações, perspectivas, consciência, liderança, projetos,
etc., herdada do período anterior.
Lentamente,
as respostas dos trabalhadores foram se avolumando, até explodirem a
partir de 2011 numa série de movimentos como a Primavera Árabe,
Indignados, Ocupar Wall Street, levante estudantil no Chile, greves
gerais nos países “PIGSs”, revolta dos jovens em Londres, até
mais recentemente a ocupação da praça Taksim em Istambul e as
“jornadas de junho” no Brasil. Todas essas expressões
multifacetadas de insatisfação com as consequências da crise e as
opções dos governos de privilegiar o capital representam um
recomeço da experiência histórica dos trabalhadores, que tinha
sido truncada pelos retrocessos da década de 1990, como discutimos
no ponto anterior.
Nesse
momento de recomeço, os trabalhadores não têm sobre si o peso da
derrota das gerações anteriores, pois não tiveram que conviver com
o impacto histórico de 1989-91 e o discurso de “fim da história”,
“fim do socialismo”, etc. Por outro lado, não têm o acúmulo
das gerações anteriores em termos de consciência, programa,
organização, que permitiriam a essas lutas dar saltos em direção
à superação do capitalismo. Em outras palavras, não têm uma
alternativa socialista que lhes permita lutar não apenas para
derrubar os governantes de plantão, mas o próprio Estado, o sistema
econômico e o conjunto da ordem social, substituindo-a de maneira
revolucionária por um projeto socialista dos trabalhadores.
Nesse
contexto, vivemos uma situação mundial de ascenso das lutas,
marcada por importantes contradições, como a ausência do
protagonismo dos setores organizados da classe trabalhadora e a
ausência de um projeto socialista. Na falta dessa alternativa, as
importantes lutas que caracterizam a nova situação mundial após
2011 ainda estão em aberto, podendo vir a ser dirigidas pela
esquerda ou correndo o risco de serem cooptadas pelo imperialismo
(casos da Líbia e da Síria, que ainda estão em aberto, repetimos),
por correntes fundamentalistas religiosas (caso do Egito, que
retrocedeu para a ditadura militar depois da experiência com a
Irmandade Muçulmana), pelas burocracias sindicais e pelos velhos
partidos sociais-democratas (caso da maioria dos países europeus),
por correntes pós-modernas que recusam a organização e a luta pelo
poder (caso dos Indignados e do Ocupar Wall Street), por alternativas
eleitorais de direita (como pode acontecer no Brasil). Quando tudo
isso falha para conter as lutas, a burguesia recorre a alternativas
de ultra-direita, como o Tea Party nos Estados Unidos ou o Aurora
Dourada na Grécia.
No
primeiro momento após a crise os países periféricos de grande
porte (os chamados BRICS) foram os responsáveis pela retomada do
crescimento capitalista. Nos últimos dois anos, esses países têm
diminuído seu ritmo e o crescimento volta para os países
imperialistas. Mas trata-se de uma “jobless recovery”, como se
diz nos Estados Unidos, ou seja, uma recuperação da economia sem
geração de empregos. As empresas estão produzindo mais, com menos
trabalhadores, o que significa aumento da exploração
(produtividade, na linguagem dos economistas burgueses).
Em
escala mundial, os trabalhadores que permanecem empregados se
defrontam com o aumento da exploração na forma de uma precarização
das contratações, aumento da carga de trabalho, da cobrança das
chefias, do assédio moral, do adoecimento físico e psicológico. Ao
mesmo tempo, quando precisam de serviços públicos, encontram uma
estrutura sucateada pelos cortes do Estado, que tem seu orçamento
subordinado às dívidas com o capital.
Essa
recuperação lenta e sofrível da economia não alcançou os mesmos
níveis de crescimento do período anterior à crise. Ao mesmo tempo,
enfrenta crescente oposição dos trabalhadores contra o aumento da
exploração e as medidas de austeridade. Quando sobrevier a próxima
crise global, a burguesia terá que adotar as mesmas medidas de 2008,
como demissões, pacotes trilionários de ajuda às empresas, corte
de gastos do Estado, etc. Mas ao contrário de 2008, os trabalhadores
terão acumulado a experiência das lutas dos últimos anos e estarão
em melhores condições para resistir no plano imediato e reconstruir
uma alternativa socialista.
2.3.
Situação nacional
O Brasil
vivencia o esgotamento do ciclo de governos pós-neoliberais típicos
da última década na América Latina. O continente sulamericano foi
um dos centros da luta de classes mundial por ocasião da crise
capitalista anterior, em 2000/2001. Como resultado dessa crise, houve
na região várias lutas, de caráter popular, camponês, estudantil,
e operário em menor grau, as quais acabaram (dentro do quadro de
crise da alternativa socialista), desviadas para alternativas
eleitorais “de esquerda”.
Dessas
alternativas eleitorais surgiram vários governos de retórica
anti-neoliberal, alguns mais “radicais” ou capazes de
enfrentamentos verbais com o imperialismo (caso de Chávez na
Venezuela, Evo Morales na Bolívia, Correa no Equador), outros
“moderados” ou abertamente pró-imperialistas (Lula e Dilma no
Brasil, os Kirchner na Argentina, Michelle Bachelet no Chile), outros
intermediários (Lugo no Paraguai, Vázquez e Mujica no Uruguai,
Ortega na Nicarágua). Todos mantiveram os pilares fundamentais do
capitalismo, a propriedade privada, o trabalho assalariado, a
exploração, a entrega de riquezas naturais ao imperialismo, o
pagamento das dívidas públicas, etc., mesmo quando falavam em
“socialismo do século XXI”.
Esses
governos se sustentaram com base no momento de alta dos preços das
matérias primas (que os economistas chamam de “commodities”) no
mercado mundial, como petróleo, gás natural, minérios, grãos,
carne, etc., que se mantiveram em valores elevados ao longo do último
ciclo de crescimento (2002/2007). Os altos preços desses produtos
proporcionaram altas arrecadações para os governos, que puderam
adotar medidas assistenciais paliativas de alívio parcial da miséria
de grande parte das suas populações. Essas medidas limitadíssimas,
em contraste com décadas ou séculos de abandono, apareceram como se
fossem “revolucionárias”, resultando em aumento da popularidade
desses governantes e sucessivas reeleições dos seus partidos. Os
movimentos sociais que sustentaram a maior parte das lutas
anti-neoliberais do período anterior foram cooptados por esses
governos, ou perderam sua base social para os programas
assistenciais, ou capitularam abertamente, e quando permaneceram em
luta, passaram a enfrentar uma repressão feroz.
Esse
operativo durou por quase uma década e enfrenta agora um claro
processo de esgotamento, devido às instabilidades no mercado mundial
de commodities a partir da crise, além de outas questões. No caso
do Brasil, o esquema manteve algum fôlego ainda após a crise, sendo
alavancado por um aumento explosivo do crédito, pelo endividamento
dos trabalhadores, sucessivos pacotes de ajuda do governo às
empresas (empréstimos a juros subsidiados, privatizações, isenção
fiscal, obras públicas de infraestrutura em favor das empresas,
etc.), sucateamento dos serviços públicos e arrocho do
funcionalismo, especulação imobiliária, aproximação dos
megaeventos esportivos, etc. Isso foi suficiente para que Lula
elegesse sua sucessora em 2010, em pleno cenário de crise mundial.
Ao mesmo tempo, a patronal agiu preventivamente, antecipando-se à
chegada da crise no país, aplicando reestruturações nas empresas,
aumento do volume de serviço, intensificação do trabalho, arrocho
salarial, endurecimento da repressão.
O 1º
mandato de Dilma seguiu a linha do período anterior, mas com uma
progressiva deterioração do cenário econômico: aumento do
endividamento público, aumento do déficit comercial, aumento da
inflação. Ao mesmo tempo, o cenário social foi também piorando,
com uma profunda insatisfação se acumulando subterraneamente em
amplas camadas da população. As medidas da patronal de aumento da
exploração e os cortes de gastos do governo, piorando os serviços
públicos, levaram a uma degradação paulatina das condições de
vida. Foram piorando a qualidade da educação pública, do
atendimento nos hospitais, do transporte público, do trânsito nas
grandes cidades, ao mesmo tempo em que a inflação corroía os
salários, e o dia a dia no trabalho se tornava cada vez mais pesado
e opressivo.
Isso foi
gerando uma insatisfação que se acumulou gradativamente. Tal
insatisfação já vinha se manifestando com um aumento das lutas e
greves desde fins do segundo mandato de Lula. Em 2012 já houve uma
quase greve geral do funcionalismo público federal. O aumento das
lutas levou ao aumento da repressão, que se tornou cada vez mais
brutal (desocupação da reitoria da USP em novembro de 2011, do
bairro Pinheirinho em janeiro de 2012). Até que, em junho de 2013, a
brutalidade da repressão sobre as manifestações (que atingiu
estupidamente até mesmo jornalistas cuja função é precisamente
difamar as manifestações e colocar o público contra elas) contra o
aumento das passagens colocou a opinião pública a favor dos
manifestantes.
A partir
daí, uma onda de manifestações tomou conta do país, com milhões
de pessoas indo às ruas em centenas de cidades. Aquela insatisfação
difusa e longamente represada veio à tona, com diversos temas sendo
levantados: saúde, educação, gastos com a Copa, corrupção. O
aumento das passagens foi revogado e houve algumas pequenas
concessões, como a retirada do projeto da cura gay e da PEC 37
(projeto que dificultaria a investigação da corrupção). Mesmo
assim, a popularidade dos governantes saiu fortemente abalada, desde
a presidência até governos municipais, passando pelo Congresso.
Dilma precisou de meses para recuperar alguns pontos nos índices de
aprovação, mas sem chegar aos níveis anteriores. Alguns
governadores, como Cabral no RJ, jamais se recuperaram. No curso do
processo, setores de direita tentaram conduzir a insatisfação
popular contra o PT, para auferir dividendos eleitorais em 2014, mas
todos os partidos terminaram chamuscados.
Completou-se
uma espécie de ciclo histórico determinado pela existência do
projeto do PT como referência política predominante para a classe,
com resultados desastrosos. Mesmo que seja reconhecida sua origem nas
diversas lutas sociais do período final da ditadura, a conclusão
que se consolida na consciência dos trabalhadores após esse ciclo
histórico de três décadas é que os partidos de trabalhadores tipo
PT e seus líderes, sindicalistas, dirigentes de movimentos, etc.,
apesar de terem uma origem combativa, servem tão somente para eleger
alguns oportunistas que inevitavelmente se corrompem. A prisão dos
mensaleiros seria a confirmação dessa lição. Assim, os partidos,
mesmo os de esquerda, não merecem nenhuma confiança.
Os
grupos da direita, organizados ou não em legendas eleitorais, por
meio de seus agentes na mídia, trataram de aproveitar esse momento
de arremate do ciclo histórico do PT para colocar para escanteio
todos os partidos de esquerda, mesmo os que faziam oposição ao PT,
para isolá-los das manifestações e impedir que a nova geração de
manifestantes se identificasse com alternativas de esquerda ao PT.
Comprovou-se o quanto foi nefasto o predomínio do PT como projeto
político reconhecido pelos trabalhadores, pois isso terminou levando
a classe a aderir às conclusões da burguesia. A confiança na
prosperidade da era Lula (ou seja, na possibilidade de crescimento e
distribuição de renda em pleno capitalismo em crise estrutural) fez
com que o PT abandonasse a disputa pela consciência política e o
trabalho ideológico junto a classe, o que fez com que agora colhesse
esse resultado: diante do descontentamento contra o governo, os
trabalhadores se voltam contra o próprio PT e não seguem nenhum
critério de classe para avaliar os projetos políticos em disputa.
Não reconhecem seus adversários de classe e nem ideias que podem se
voltar contra a própria classe, porque não se reconhecem como
classe.
O
problema é que esse retrocesso de consciência demonstra também o
isolamento social dos partidos de oposição de esquerda ao PT (tais
como PSOL, PSTU, PCB, PCO, para ficar apenas nas organizações
eleitoralmente legalizadas), que não souberam se mostrar como
alternativa política e ideológica para os trabalhadores. Apesar dos
esforços de parte da militância desses partidos, o resultado é
que, quando muito, são vistos como versões "requentadas"
ou em "miniatura" do próprio PT, imitações do mesmo
projeto, destinados a tão somente repetir o seu processo histórico,
ou seja, se eleger e se corromper. Se é para ficar com essas cópias,
muitos trabalhadores ainda preferem o original, ou seja, o próprio
PT, contra a “volta da direita”. A classe trabalhadora brasileira
carece de uma referência classista, combativa, radical,
anticapitalista, podendo ser presa fácil de qualquer discurso,
oportunista, fascista, messiânico, etc., especialmente num ano
eleitoral. O ressurgimento dos movimentos de massa no país,
independentes e contrários ao PT, encontra a classe desprovida de um
projeto alternativo ao PT que seja de esquerda.
A tarefa
gigantesca de reconstruir as referências classistas básicas, a
consciência de classe, a consciência do pertencimento a uma
categoria, a uma classe oposta à patronal e ao governo, da
necessidade de ação e organização coletivas, de sindicatos,
associações, movimentos, etc. (para não falar em algo que vá
além, um projeto socialista revolucionário oposto ao capitalismo),
condizente com o momento histórico de crise estrutural, precisa ser
retomada o quanto antes, a partir desse momento de encerramento do
ciclo do PT como referência organizativa para as lutas dos
trabalhadores.
2.4.
Os governos do PT e sua relação com o capital financeiro e os
bancos
Em meio a grave crise do sistema capitalista ocorrida desde a década
de 1970 a forma encontrada de manter a reprodução do capital e
possibilitar a manutenção e aumento dos lucros foi a
financeirização. O sistema, sem saída, volta-se para o mercado
financeiro como meio privilegiado de apropriação do valor. Isto
exigia por sua vez uma “parceria” dos governos, especialmente dos
países dependentes que almejavam sua inserção no grupo dos
desenvolvidos. Banco Mundial e FMI impuseram, em várias nações,
políticas de desregulamentação do sistema financeiro. E mesmo
alguns países centrais acompanharam este movimento.
O resultado foi o crescimento de uma “bolha” especulativa que
proporcionou um aumento gigantesco nos lucros dos bancos. Porém,
junto com isso ocorre uma potencialização das fragilidades de todo
sistema capitalista. As crises cíclicas tornam-se mais perigosas e
frequentes. Intensifica-se a opressão e a exploração do trabalho
em todo mundo.
As instituições bancárias se constituem neste século XXI como
organizações extremamente poderosas. E a burguesia financeira
ergue-se como setor hegemônico dentre as classes dominantes. Isto
ocorre também no Brasil. Os donos dos bancos foram os vetores
fundamentais para ascensão do PT ao governo federal. E não por
acaso foi justamente na gestão do PT que o setor bancário alcança
quase todos os anos recorde nos lucros. O Itaú Unibanco, por
exemplo, no primeiro semestre de 2013 chegou a marca de R$ 7,1
bilhões de lucro líquido (maior do que toda economia de 33 países),
o que representa o 2º maior lucro já registrado por um banco no
Brasil em um semestre. Esta marca só foi superada pelo próprio Itaú
Unibanco em 2011. Ambos no governo Dilma.
Já o Bradesco lucrou R$ 5,9 bilhões e o Santander 2,9 nos
primeiros seis meses de 2013. O detalhe é que no caso do banco
espanhol este valor representa 25% dos ganhos totais da empresa que
atua em dezenas de países. No ano de 2012 estas três instituições
chegaram a lucrar R$ 28 Bilhões!
Tudo isso é riqueza produzida pelos trabalhadores que vai
diretamente para os cofres das organizações financeiras. O Estado
é, por sua vez, o grande promotor desta transferência. Quase metade
do orçamento da União está comprometido com despesas relacionadas
a juros e serviços da divida pública. É para reorientar dinheiro
para estas despesas que o governo diminui gastos com educação,
saúde, previdência e demais necessidade de natureza social. O
próprio Estado também é conivente com as taxas extorsivas cobradas
pelos bancos pelos seus serviços.
Todo este poder econômico se reflete na hegemonia da burguesia
financeira no interior das classes dominantes. Ela está por orientar
a dinâmica de reprodução do capital e a política de dominação
desta ordem social. Sendo assim, apenas em associação com o setor
financeiro algum grupo político pode ascender o poder. Foi
exatamente isso que o PT fez.
Consequentemente todo governo petista esteve e está voltado para a
satisfação, em primeiro lugar, dos interesses do sistema
financeiro. As outras parcelas das elites são beneficiadas de
maneira refratária e como forma de garantir o “equilíbrio” do
sistema, ou quando seus próprios interesses convergem com os
interesses dos bancos.
O governo PT, assim, insiste em uma política de juros altos, de
oferta desmedida de crédito, de desoneração de produtos que são
financiados pelos bancos, falta de controle sobre as instituições
financeiras, etc. A julgar por este fato e pelos números da
lucratividade exibidos pelos bancos estas organizações vão
continuar apoiando fortemente o Partido dos Trabalhadores e, neste
sentido, podem contribuir decisivamente para uma nova vitória
eleitoral do atual governo.
Importante ressaltarmos que independentemente de nomes e partidos
para a corrida presidencial de 2014, a decisão ocorre sempre no
âmbito da economia e não da política puramente pertidária. E
sendo a burguesia financeira hegemônica hoje, sua vontade tende a
predominar sobre a dos outros setores da sociedade. E, desta forma,
sua força que se fundamenta no poder material pode, nas eleições
de 2014, se estender, mais uma vez, para o poder político.
Neste contexto só outro poder muito mais forte e vital, mas que
também se fundamenta na base econômica da sociedade pode parar e
destruir esta hegemonia e a de toda classe dominante: a união dos
trabalhadores na luta contra o capital.
2.5.
Os governos do PT, movimentos sociais e o movimento sindical
Assim
como os partidos em geral e os partidos de esquerda, também os
sindicatos e movimentos sociais organizados, como MST, MTST, etc.,
saíram fortemente questionados das jornadas de junho de 2013, graças
a sua vinculação com o PT, seja ela implícita (caso do MST) ou
explícita (caso da CUT). Paradoxalmente, a ideia de que é legitimo
ir às ruas e protestar também conseguiu se implantar. As
manifestações seguem acontecendo praticamente todos os dias no
país, por mais que a direita e a mídia bombardeiem incessantemente
a versão de que acontecem "excessos", de que existem
“baderneiros” infiltrados, de que sempre acontecem atos de
vandalismo, etc. Apesar desse trabalho permanente de difamação, as
manifestações seguem acontecendo e seguem sendo consideradas,
legítimas, corretas, necessárias, pela maioria da população
(ainda que se façam ressalvas contra a violência).
Ainda há
um terreno fértil a ser explorado em matéria de diálogo com a
classe para apresentar alternativas de organização pela esquerda. A
vitória das manifestações de junho passado, que revogaram o
aumento das passagens e mostraram que é possível lutar e vencer,
ainda se impõe na realidade. O problema é que, sem reconhecer os
movimentos sociais organizados, tanto partidos como sindicatos, como
instrumentos organizativos, as manifestações correm o risco de
serem cooptadas por forças de direita, a partir de concepções
pseudo-anarquistas e antipartido. A tarefa de reconstruir as
referências políticas e organizativas está em aberto e se impõe
com uma urgência dramática.
Para
reconstruir essas referências, um passo indispensável é a ruptura
e a crítica implacável contra o aparelhamento dos sindicatos pelo
PT e o governismo. O movimento sindical, setor mais forte e
organizado do país, é também o mais fortemente controlado pelo PT.
Os sindicatos ligados à CUT e centrais menores que lhe servem de
satélites, não apenas apoiam o governo do PT, como também estão
integrados à gestão do capitalismo no país. Os sindicatos,
federações e centrais estão atrelados ao Estado por meio do
imposto sindical, das verbas do FAT, dos fóruns tripartites com a
patronal e o governo (tipo “câmaras setoriais”, mesa da
construção civil, etc.), da lei de greve, da justiça trabalhista,
da rotina de negociações “ordeiras” e “cidadãs” nas
campanhas salariais, etc.
Esses
sindicatos não apenas abandonaram a via da luta e da organização
da classe em troca de benesses para seus dirigentes burocratizados,
mas em alguns casos incorporaram-se organicamente à gestao do
capital. É o caso precisamente da categoria bancária. Através de
fundos de pensão, como a PREVI, maior do país, com patrimônio de
centenas de bilhões de reais e participação acionária em centenas
de empresas, os sindicalistas ligados ao PT são nomeados para os
conselhos de administraçao das empresas. Convertem-se de
representantes dos trabalhadores em membros da patronal. Administram
centenas de empresas em conjunto com a burguesia nacional e
internacional. Estão organicamente ligados ao capitalismo. É por
isso que a tarefa de reconstruir a organização dos trabalhadores
precisa ser retomada praticamente do zero.
Iniciativas
como a Conlutas e a Intersindical, ainda que tenham resgatado uma
maior combatividade, estão longe de dar conta do combate e superação
do conjunto de vícios que inviabiliza o movimento sindical
brasileiro como alternativa de organização dos trabalhadores à
altura dos desafios do momento histórico. Por conta da política de
suas direções majoritárias (PSTU e setores do PSOL), estão se
tornando mais próximas e semelhantes às centrais governistas,
tendência que precisa ser revertida urgentemente, se se quer
realmente postular esses projetos como alternativas para a classe.
Independentemente das direções majoritárias das centrais
antigovernistas retificarem seu curso ou não, nossa tarefa é
repensar os rumos políticos das organizações dos trabalhadores.
Listamos
a seguir alguns pontos de principio que julgamos fundamentais para
reconstruir as organizações operárias:
* um
programa anticapitalista, por entendermos que, no seu período
histórico de crise estrutural e societal, cada vez mais evidente por
fenômenos como a atual crise econômica, com seu corolário de
ataques sobre os trabalhadores, guerras, destruição ambiental,
desemprego, etc., o capitalismo não permitirá outra alternativa aos
trabalhadores senão organizar-se para destruí-lo. Nesse período
histórico as conquistas da classe trabalhadora no passado, em termos
de empregos, salários, direitos trabalhistas e sociais, etc., estão
sob ataque no mundo inteiro e no Brasil não é diferente. O
capitalismo não é mais capaz de fazer concessões nem de admitir
reformas. Por isso, as organizações dos trabalhadores não podem
ter outro horizonte histórico que não a luta pela superação do
capitalismo. As lutas específicas de cada categoria ou setor dos
trabalhadores devem apontar para a construção formas de organização
e de consciência em direção a uma ruptura com o capitalismo.
* um
programa antigovernista, por entender que é fundamental
organizar os trabalhadores em torno de um projeto independente e
oposto ao das correntes governistas, pelegas, burocráticas e
pró-patronais como CUT, CTB, Força, etc. Não podemos construir
nenhum tipo de unidade orgânica em fóruns superestruturais ou
chapas sindicais com setores da burocracia cutista e governista em
geral. Devemos apresentar aos trabalhadores um conjunto de
princípios, de bandeiras de luta e de métodos de organização
distintos em relação ao das correntes governistas e opostos ao
projeto do governo Dilma-PT e da burguesia.
*
independência política, financeira e organizativa em relação
ao Estado. Não ao recebimento
do imposto sindical ou de qualquer verba ou convênio com o Estado
(que permitem a sustentação de sindicatos de cartório,
artificiais, sem qualquer trabalho real junto a seus representados).
As organizações dos trabalhadores devem se sustentar apenas por
meio de contribuições regulares, voluntárias e conscientes dos
trabalhadores, como resultado do reconhecimento de uma trabalho real
junto à categoria. As organizações dos trabalhadores não podem
depender de permissão ou reconhecimento do Estado para existir e
atuar, como acontece hoje com a estrutura sindical brasileira, presa
a uma herança varguista. Precisamos resgatar o princípio da
independência de classe, no sentido de que “a emancipação dos
trabalhadores deve ser obra dos próprios trabalhadores”.
*
combatividade e ação direta em primeiro lugar, e
negociação como instrumento secundário. É preciso desenvolver
entre os trabalhadores a consciência de que qualquer conquista só é
possível por meio da mobilização e da luta, combatendo a ilusão
no Estado burguês e suas instituições. É preciso combater o
discurso da patronal e seus ideólogos na mídia, academia, ONGs,
igrejas, etc., que falam em participação, diálogo, cidadania, paz
social, conciliação, etc., demonstrando que a solução para os
problemas dos trabalhadores só é possível por meio da ação
coletiva.
* por
um sindicalismo de base, que priorize a organização a partir dos
locais de trabalho, a partir das CIPAs, dos delegados sindicais,
diretores de base, etc., que organize os trabalhadores para a
resistência cotidiana e permanente, em torno das questões gerais e
também das questões imediatas do dia a dia, não apenas nos
períodos de campanhas salariais. O trabalho
de base permanente é o oposto do sindicalismo "de porta
de fábrica", e do economicismo, que se limita à rotina das
datas base de negociação. É preciso ter uma diálogo permanete e
cotidiano com a categoria sobre as suas questões e as questões da
classe trabalhadora em geral.
* por
uma organização que vá além do corporativismo, que organize
os trabalhadores como classe em seu conjunto, independente de estarem
empregados ou desempregados, no setor público ou privado, efetivos
ou terceirizados, realizando campanhas as mais amplas e unitárias
possíveis.
* por um funcionamento democrático e que rompa com os vícios burocráticos que afetam a organização dos trabalhadores no Brasil e em especial o movimento sindical. A luta antiburocrática deve incluir a tomada das decisões mais importantes em assembleias e nos fóruns de base, o rodízio de cargos na composição das diretorias, a limitação no número de mandatos dos dirtores, o rodízio e a prestação de contas dos liberados, a transparência na prestação de contas das finanças e das ações dos representantes.
* por um funcionamento democrático e que rompa com os vícios burocráticos que afetam a organização dos trabalhadores no Brasil e em especial o movimento sindical. A luta antiburocrática deve incluir a tomada das decisões mais importantes em assembleias e nos fóruns de base, o rodízio de cargos na composição das diretorias, a limitação no número de mandatos dos dirtores, o rodízio e a prestação de contas dos liberados, a transparência na prestação de contas das finanças e das ações dos representantes.
*
trabalho ideologico permanente contra o capitalismo e a luta pela
formação política, teórica e cultural dos trabalhadores. A
burguesia tem seus ideólogos profissionais, seus jornalistas,
acadêmicos, políticos, pastores, roteiristas, publicitários, etc.,
que permanentemente divulgam entre os trabalhadores as ideias da
classe dominante, o individualismo, a meritocracia, o apoliticismo, o
consumismo, o conformismo, a vulgaridade, o niilismo, etc. Cabe às
organizações dos trabalhadores desenvolver uma cultura oposta,
socialista, que ajude a melhorar o nível teórico, político e
cultural da classe, por meio de cursos, seminários, publicações,
atividades culturais, etc.
*
sensibilidade para a composição concreta da classe trabalhadora
brasileira, incorporando as demandas de mulheres, negros e LGBTs,
mas não apenas por meio de secretarias específicas (que devem
existir e ser reforçados) e em eventos nas datas comemorativas, mas
na atividade cotidiana das entidades, disputando a consciência dos
trabalhadores contra o machismo, o racismo e a homofobia., levando em
consideraçao as questoes de raça, gênero e orientação sexual.
Por suas
características, as oposições sindicais, como o Avante, Bancários!
são o tipo de organização melhor talhadas para colocar em prática
esses princípios. As oposições já nascem independentes do Estado,
vinculadas à base, opostas aos partidos e correntes governistas,
etc. As tarefas que deveriam ser dos sindicatos, de organizar a
classe para o enfrentamento contra a patronal e o Estado, recaem hoje
sobre as oposições, por força do fato de que a maioria das
organizações sindicais está aparelhada pelas correntes governistas
e convertida em aparatos burocráticos alheios e até opostos às
necessidades da classe.
As
oposições sindicais devem ser pensadas como organização de frente
única da classe, cabendo em seu interior todas as tendências de
pensamento, desde militantes de organizações revolucionárias até
trabalhadores que estão apenas preocupados com o seu salário. É
preciso construir uma ambiente democrático para que o convívio
entre essas tendências e setores da classe seja pedagógico e se
consiga avançar em conjunto. De um ponto de vista estratégico, a
luta por uma revolução socialista contra o capitalismo é uma
tarefa não apenas de partidos e organizações revolucionárias, mas
de uma ampla vanguarda da classe trabalhadora organizada em
organismos de frente única.
Um dos
erros cruciais das organizações revolucionárias é priorizar
apenas a própria autoconstrução, em detrimento da construção dos
organismos do movimento. Sem esses organismos e espaços de frente
única não se constrói nem o movimento do conjunto da classe nem as
próprias organizações revolucionárias! É essencial reconstruir
uma metodologia democrática, superar os vícios sectários e
priorizar a responsabilidade de todos os ativistas, organizados ou
independentes, para com o conjunto do movimento.
Para
serem capazes de desempenhar o papel de renovar as organizações da
classe, as oposições devem ser pensadas mais amplamente, não como
meras chapas para concorrer a eleições, mas como um movimento real
de organização, capaz de reunir e expressar a força dos
trabalhadores, independentemente de estar ou não na direção da
entidade sindical. O pré-requisito para se chegar a uma diretoria é
justamente esse tipo de trabalho de organização de base, pois sem
isso é impossível vencer uma eleição (a menos que seja em aliança
com algum setor da burocracia, o que descartamos). Da mesma forma,
sem um forte trabalho prévio de organização de base e sem uma base
mobilizada, nenhuma diretoria é capaz de se sustentar no comando dos
sindicatos. As organizações que tomaram o caminho inverso,
priorizando a disputa da superestrutura do movimento, para depois
supostamente irem à base, acabaram se confundindo com as mesmas
superestruturas viciadas e suas direções burocráticas, governistas
e pelegas.
Os
trabalhadores ainda reconhecem os sindicatos como a sua organização
“oficial”, por mais que a saibam distante do seu dia a dia e
insensível às suas necessidades reais. Assim, as oposições não
podem se apresentar como um substituto institucional ao sindicato,
como uma entidade paralela, mas como um substituto político, um
projeto no qual os trabalhadores podem apostar para se organizar e
encaminhar a luta por suas demandas, independentemente de essa
oposição chegar à diretoria ou não. É dentro desse contexto que
as eleições sindicais devem ser disputadas, não como um fim em si
mesmas, mas como um meio para se apresentar aos trabalhadores um
outro projeto de organização.
2.6.
Categoria bancária
A
aplicação desse projeto de retomada da organização dos
trabalhadores deve considerar a realidade concreta e as
especificidades da categoria em que atuamos.
Uma das
lendas que cercam a categoria bancária é a de que o número de
postos de trabalho nos bancos diminuiu devido ao avanço da automação
bancária e dos serviços via internet, que já são responsáveis
pela maior parte das transações. É verdade que o número de
transações em meios alternativos aumentou muito desde a introdução
da automação bancária, mas o número total de transações também
aumentou. A bancarização da população, o número de pessoas que
utilizam serviços bancários também aumentou muito. Ao mesmo tempo,
os bancos tem cortado sistematicamente postos de trabalho, reduzindo
o número absoluto e a quantidade relativa de bancários.
Proporcionalmente,
mesmo com os meios alternativos de atendimento, o número de clientes
atendido por cada bancário aumentou. Ou seja, aumentou a carga de
serviço, a exploração dos bancários. Uma das válvulas de escape
dos bancos para dar conta do volume de serviço sem contratar mais
bancários é o estabelecimento de correspondentes bancários, como
lotéricas, correios, supermercados, farmácias, e agora, com o boom
da especulação imobiliária, também correspondentes imobiliários.
Esses
trabalhadores executam serviços bancários sem terem os salários e
direitos da categoria bancária. Trata-se de mais uma sobrecarga de
serviço que é imposta sobre comerciários, lotéricos, etc., para
benefício exclusivo dos bancos, em detrimento da categoria bancária,
dos trabalhadores desses estabelecimentos e do conjunto da população,
atendida em condições precárias.
No
interior dos bancos, a precarização grassa na forma da
terceirização. Os bancos foram os pioneiros e aplicadores em maior
escala dessa forma de contratação que reduz salários e direitos de
um vasto contingente de trabalhadores, como seguranças, copeiras,
faxineiras, telefonistas, temporários, etc. A terceirização, como
parte da reestruturação produtiva e das técnicas de gestão de mão
de obra das últimas décadas, representa uma ataque sobre a classe
trabalhadora, dificultando a sua unificação por separar um setor de
"elite" de trabalhadores efetivos privilegiados e uma vasta
camada de trabalhadores precários, tratados como inferiores.
A
fragmentação da classe dificulta a organização e as lutas dos
trabalhadores e facilita os ataques da patronal. Frequentemente,
empresas terceirizadas quebram, dispensam os trabalhadores sem pagar
os direitos e os recontratam com uma outra fachada, de propriedade
dos mesmos donos. Trabalhadores deixam de receber férias, 13º,
FGTS, ou tem desconto para o INSS que não é repassado, etc. Tudo
isso acontece com a conivência dos bancos, que contratam essas
empresas, mas cinicamente fazem propaganda da sua “responsabilidade
social”.
Finalmente,
uma outra divisão dentro da categoria bancária separa funcionários
de bancos públicos e privados. A diferença entre esses dois
segmentos está em que a organização foi completamente abandonada
nos bancos privados, de forma que não participam ativamente das
lutas da categoria, sob a ameaça de demissão. O resultado é que,
justamente por ausência de qualquer resistência, as demissões
seguem acontecendo em massa. Para os trabalhadores de bancos
privados, o sindicato é uma espécie de agência terceirizada que
negocia o seu salário em seu nome, ou um clube de convênios. Não
tem relação com os problemas do seu dia a dia.
Nos
bancos públicos não há demissão em massa, ou mesmo cortes de
pessoal localizados, mas há perseguição aos ativistas e
militantes. Essa divisão entre bancos públicos e privados tem um
aspecto geográfico que interfere diretamente na organização
política da categoria. Os bancos privados concentram seus negócios
e portanto seus funcionários, nas regiões mais ricas do sul e
sudeste do país e nas capitais. Os bancos públicos, por sua vez,
estão presentes em todas as regiões, inclusive cidades menores e
afastadas do norte, nordeste e centroeste. Isso faz com que tenhamos
um quadro em que cerca de 80% dos bancários de Sao Paulo, principal
centro financeiro do país, pertencem aos bancos privados. No
restante do país, há várias regiões em que a maioria pertence aos
bancos públicos, mesmo que não seja numa proporção tão
discrepante.
A
consequência organizativa dessa distribuição é que as greves são
mais fortes nas regiões periféricas do país, em que predominam os
bancos públicos, mas são mais fracas nas regiões centrais, em que
há maioria de bancos privados. Ora, a direção política do
movimento pertence justamente aos sindicatos localizados nos
principais centros do país, como São Paulo, Rio de Janeiro e
Brasília. Esses sindicatos principais são dirigidos pela
Articulação / CUT / PT, que graças ao peso dessas bases dirige o
movimento nacional da categoria.
A
Articulação é a responsável pela quase inexistência de
organização, resistência e luta nos bancos privados, que serve
para manter os trabalhadores desse setor numa situação de
dependência, numa relação assistencial e terceirizada. Com base
nessa relação, a Articulação obtém um eleitorado passivo e
cativo, que não tem nenhuma referência de organização e luta,
portanto não é capaz de avaliar a sua gestão de um ponto de vista
político. No máximo, os trabalhadores de bancos privados avaliam os
resultados das campanhas salariais ou a qualidade dos serviços
assistenciais e convênios do sindicato, mas não a sua postura
enquanto instrumento de luta.
Dessa
forma, a Articulação se mantém no controle do sindicato de São
Paulo e dos principais centros, e se mantém no controle do movimento
nacional da categoria. Esse controle é usado para evitar que os
trabalhadores se enfrentem com o governo federal do PT, que é patrão
de metade da categoria (BB, CEF, bancos regionais e estaduais
remanescentes) e se enfrentem com os bancos privados, que são
aliados do PT e auferem altíssimos lucros na sua gestão. Para isso,
a Articulação impõe pautas rebaixadas, que não contemplam as
reais reivindicações, através do mecanismo da Mesa Única da
FENABAN. Sob o pretexto da “unidade da categoria”, a Articulação
impede que o setor mais mobilizado, os bancos públicos, se enfrente
com o governo do PT, impondo um patamar rebaixado de reajuste que mal
repõe a inflação (mas que é vendido com o nome de “aumento
real”, desconsiderando as perdas acumuladas).
De outro
lado, entre os trabalhadores dos bancos públicos, que tem maior
possibilidade de participar das lutas e greves, são impedidos de
expressar suas reais demandas pelos mecanismos burocráticos e
antidemocráticos da Articulação. As greves são tratadas como uma
data no calendário, não como um processo que precisa ser construído
ao longo do ano, com discussões e mobilizações em cada local,
fóruns de base, reuniões de representantes e delegados sindicais,
plenárias, assembleias, etc. Sem esses espaços preparatórios de
organização, sem assembleias para discutir a pauta (definida numa
pesquisa via internet), o que temos são pautas rebaixadas ditadas
autoritariamente pela cúpula da burocracia. No curso das greves,
temos o rolo compressor burocrático, que não permite que se façam
falas nas assembleias, não coloca em votação as propostas, ou não
permite que se façam defesas das propostas, ou simplesmente, quando
perde uma votação, desconhece os resultados e encerra as
assembleias.
Tudo
isso faz com que os trabalhadores dos bancos públicos se afastem do
movimento. Sem participação, as greves ao invés de serem uma
demonstração de força dos trabalhadores, demonstram justamente a
fraqueza e a falta de mobilização. São greves de fachada, que não
causam prejuízo real aos bancos. As sucessivas traições,
manobras, acordos rebaixados, geram um círculo vicioso de
desmobilização e descrédito nos instrumentos coletivos de luta. As
greves são cada vez mais fracas porque os bancários não
participam, e os bancários não participam porque as greves são
cada vez mais fracas. Institucionalizou-se a “greve de pijama”,
ou seja, a greve como uma data no calendário em que o trabalhador
deixa de ir trabalhar, mas não se encontra com os demais
trabalhadores, não vai às assembleias e piquetes.
Esse
roteiro foi incrementado nos últimos anos pela “greve de saco
cheio”. Como resultado da intensificação do trabalho que se impõe
sobre os trabalhadores em escala mundial, na esteira da crise
capitalista de 2008, nos bancos também se vivencia um cenário de
sobrecarga de serviço, assédio moral, adoecimento físico e
psicológico. A greve é vista como um alívio temporário do
sofrimento que é o trabalho, uma espécie de férias coletivas. A
revolta e a insatisfação que se acumulam ao longo do ano com as
condições de trabalho se expressam em ausência do trabalho durante
a greve, mas essa ausência do trabalho não se expressa como força
coletiva de uma categoria organizada, justamente porque os espaços
coletivos de organização são sistematicamente sabotados pela
direção do movimento.
Um
último agravante que se acrescenta nos últimos anos é a
rotatividade que se impõe mesmo nos bancos públicos, em especial no
BB. Ao invés de ser uma carreira para a vida inteira como era anos
atrás, o emprego no BB é uma passagem temporária até que se
consiga entrar na carreira para a qual se estudou. Como resultado
disso, a maior parte do funcionalismo é composta por pessoas que
ficam poucos anos no banco. Diante dos baixos salários e péssimas
condições de trabalho, a sua saída não é a organização
coletiva, mas sair do banco e mudar de carreira. Os que permanecem
mais tempo são os que conseguem passar pelo estreito funil do
comissionamento, e então se submetem ao massacre da cobrança de
metas e do assédio moral permanente, vivendo a base de remédios
tarja preta. Tanto uns como outros acreditam em saídas individuais.
Esse é
o resultado da gestão do PT no governo federal e no controle dos
bancos públicos, com a indispensável colaboração da Articulação
no movimento sindical. Na falta de qualquer trabalho ideológico que
contraste com o discurso da patronal, os bancários assimilam a
ideologia meritocrática, de que o sucesso depende do esforço de
cada um. O PT e seu braço sindical, a Articulação, nunca se
contrapôs a esse discurso, primeiro por acomodação, acreditando
que a “prosperidade” com pés de barro da era Lula duraria para
sempre, e segundo, por não ter efetivamente um projeto alternativo,
anticapitalista, que se contraponha ao individualismo capitalista.
Para cúmulo, as campanhas salariais foram transformadas em campanha
por PLR, legitimando a ideia de que o trabalhador é quem faz o
próprio salário, conforme o seu esforço para cumprir as metas.
As
saídas para romper com esse círculo vicioso (o movimento perde
força porque os bancários participam cada vez menos e os bancários
participam cada vez menos porque percebem que o movimento perde
força) passam a nosso ver por três eixos:
*
retomar a organização nacional da categoria. É preciso
construir uma ligação entre os setores mais mobilizados, que estão
nos estados periféricos, com os setores que atuam nos principais
centros do país, em que se decidem as campanhas salariais. É
preciso construir uma campanha alternativa, que permita que a base se
expresse, e que construa uma pauta alternativa, que contemple as
reais reivindicações da categoria. É preciso rejeitar a estratégia
da Mesa Única usada pela Articulação para impedir a mobilização
nos bancos públicos, e rejeitar os fóruns burocráticos em que se
constrói a pauta rebaixada apresentada todos os anos. É preciso
rejeitar os Congressos e Conferências da CONTRAF-CUT e construir
fóruns alternativos de organização. A Frente Nacional de Oposição
Bancária – FNOB, se coloca como parte desse esforço;
*
desenvolver o trabalho de base.
A Articulação destruiu uma das conquistas dos funconários de
bancos públicos, que é o reconhecimento dos delegados sindicais ou
representantes por local de trabalho. Em muitas dependências nem
sequer são eleitos representantes. Os que são eleitos, não se
reúnem, pois a direção do sindicato não convoca reuniões. Quando
convoca, as reuniões não são deliberativas, pois qualquer proposta
tem que ser levada para a diretoria do sindicato, ou seja, não será
aplicada. Precisamos retormar a organização a partir de cada local
de trabalho, e isso só é possível criando um espaço de
organização em que seja possível trazer os trabalhadores para
colocar as questões imediatas do seu dia a dia. A partir do momento
em que os trabalhadores se colocam frente a frente e se reconhecem
como categoria, num espaço democrático, podemos ter a base
impulsionar as mobilizações, as lutas imediatas e as campanhas
salariais;
*
lutar por democracia na organização do movimento. As práticas
burocráticas da Articulação na condução das greves devem ser
combatidas e denunciadas insistentemente. É preciso martelar a ideia
de que a soberania do movimento deve pertencer à base. É preciso
reconstruir a democracia operária a partir dos seus elementos mais
básicos: direito a falar, a fazer propostas, defender propostas,
garantir que as votações sejam cumpridas, eleger representantes
revogáveis, etc.
2.7.
Proposta de Manifesto
Com base
nessa fundamentação, apresentamos os seguintes pontos para a
composição de um Manifesto ou Carta de Princípios do Avante,
Bancários! Esses seriam os pontos programáticos que serviriam de
base para a atuação do coletivo. Devemos aproximar os bancários
dispostos a lutar pelas questões imediatas para que discutam conosco
esse programa, para que avancem politicamente e contribuam de
maneira organizada e mais efetiva, nos ajudando a construir um
embrião de organização para a categoria e para a classe,
condizente com as tarefas do momento histórico.
* O
Avante, Bancários! é um espaço de organização dos trabalhadores
bancários para lutar por seus interesses como categoria e também
seus interesses gerais como parte da classe trabalhadora.
* O
Avante, Bancários!, como uma organização de trabalhadores, é por
definição um grupo de luta e de oposição aos banqueiros. Somos
uma organização de luta, ou seja, defendemos que a mobilização
dos trabalhadores deve ser sempre a sua principal arma, e as vias
institucionais de negociação, jurídicas, ouvidorias, etc., devem
ser apenas um recurso secundário, respaldado na ação coletiva.
* O
governo federal é patrão de praticamente metade da categoria
bancária, portanto o Avante, Bancários! é também por definição
independente e oposto ao governo, hoje ocupado pelo PT, ou por
qualquer partido que o suceda. Defendemos outro projeto para os
bancos públicos, cuja propriedade é hoje apenas nominalmente
estatal, mas atuam na prática de maneira idêntica aos bancos
privados, explorando funcionários e clientes. Para termos melhores
salários, direitos e condições de trabalho em todos os bancos,
temos que nos associar aos interesses do conjunto dos trabalhadores e
defender a estatização de todo sistema financeiro, sob controle da
classe trabalhadora.
* O
Avante, Bancários! também faz oposição aos grupos que defendem o
governo no movimento sindical, como Articulação/PT, CTB/PCdoB,
DS/PT, CUTPodeMais/PT, etc. Essas correntes controlam as organizações
dos trabalhadores, como sindicatos, federações e centrais, e as
transformaram em entidades burocráticas, que não mais representam
os interesses da categoria, estão distanciadas do dia a dia dos
bancários, funcionam mais como obstáculos do que instrumentos para
a luta. Devemos denunciar sistematicamente a traição dos
governistas em cada luta e trabalhar para retirar as entidades de
base do controle da burocracia.
* O
Avante, Bancários! participa das assembleias de base dos sindicatos,
defendendo a democracia dos trabalhadores, o direito de falar e
defender propostas para todos os bancários, o respeito às decisões
tomadas, a soberania da categoria, os princípios elementares da
democracia dos trabalhadores. Não participamos dos Congressos e
fóruns organizados pela Articulação/CUT/PT e seus satélites,
formados de maneira viciada, dominados por burocratas afastados dos
locais de trabalho há muitos anos e defensores de interesses opostos
aos bancários. Devemos denunciar esses fóruns e lutar para
construir espaços alternativos de organização.
* O
Avante, Bancários! é aberto a todos os grupos e indivíduos que
concordam com as posições dessa carta. Não existem cargos nem
hierarquia, todos tem direito de apresentar propostas, bem como a
responsabilidade pelas tarefas assumidas coletivamente. As decisões
são tomadas nos fóruns coletivos e não por qualquer grupo em
separado.
* O
Avante, Bancários! não está vinculado a nenhuma corrente nacional
do movimento sindical da categoria, mas está aberto à participação
de grupos e indivíduos que defendam correntes classistas,
antigovernistas e antiburocráticas.
* O
Avante, Bancários! é aberto a todos os trabalhadores bancários, de
bancos públicos e privados, efetivos e terceirizados. Somos contra
as divisões da categoria, defendemos estabilidade no emprego e
direitos iguais para todos, bem como a efetivação dos
terceirizados, sem concurso.
* O
Avante, Bancários! Coloca como suas bandeiras principais as
reivindicações históricas da
categoria como:
- Estabilidade no emprego para todos os trabalhadores, em especial
nos bancos privados;
- Isonomia entre trabalhadores novos, antigos e incorporados,
preservando-se o que for mais vantajoso para os trabalhadores;
- Plano de reposição das perdas acumuladas desde a implantação
do real;
- Mais contratações nas agências, com cotas proporcionais para
negros e minorias;
- Contra o sucateamento das nossas caixas de assistência;
- Contra o aparelhamento dos fundos de pensão;
- Efetivação dos terceirizados sem concurso, quem trabalha em
banco bancário é!
- Outras reivindicações específicas de cada banco
3.
TAREFAS IMEDIATAS
3.1.
Antecipar a preparação da campanha salarial
O ano de
2014 terá algumas características especiais pelo fato de conter
eventos como a Copa do Mundo e as eleições gerais. A Copa do Mundo
de certa forma faz parte do cenário eleitoral, já que o sucesso ou
não do evento terá peso importante na tentativa de reeleição de
Dilma e de continuidade do projeto do PT. Além disso, a realização
da Copa do Mundo pode ser marcada por um novo processo de
manifestações, que seja uma continuidade ou reedição das jornadas
de junho de 2013 (é bom lembrar que estas por sua vez aconteceram no
curso da Copa das Confederações), de modo que o projeto do PT, sua
gestão dos serviços públicos e da própria Copa vão estar em
debate praticamente o ano inteiro. O primeiro grande ato contra a
Copa já aconteceu no dia 25 de janeiro. Dessa forma, a discussão de
temas de interesse geral da categoria, envolvendo o projeto para os
bancos públicos e a função do sistema financeiro, deve ser uma
discussão constante nos materiais do Avante, Bancários! ao longo de
todo o ano.
Além da
Copa e das eleições gerais, 2014 será marcado por eleições
importantes para a categoria, tanto nacionais (PREVI, FUNCEF, CASSI,
Saúde Caixa) quanto locais (APCEF e sindicato), que acontecem no
primeiro semestre e sobre as quais falamos no ponto seguinte. Com
tudo isso, a preparação da campanha salarial corre o risco de ficar
em segundo plano. A burocracia evidentemente vai privilegiar as
eleições, tanto as eleições gerais (em que a reeleição de Dilma
évital para a sobrevivência do PT) quanto das entidades dos
trabalhadores, negligenciando a organização da campanha. Nesse
caso, caberá à oposição cumprir essa tarefa de organização, e o
Avante, Bancários! pode dar uma importante contribuição para isso.
Uma vez
que a própria oposição, incluindo provavelmente o Avante,
Bancários!, também vai estar de alguma forma envolvida nas eleições
(participando/apoiando chapas ou não) ou até em outros processos de
luta, é preciso fazer com que a preparação da campanha salarial
seja também um tema constante em todos os materiais. A única forma
de fazer isso é estabelecendo o vínculo entre as lutas específicas,
as lutas em cada banco, com as lutas gerais da categoria e da classe,
através da discussão do projeto em aplicação nos bancos e da
relação do sistema financeiro com a sociedade.
A
burocracia sindical tende a transformar a campanha salarial em uma
campanha apenas por aumento de salário, ou pior, por PLR, enquanto
que ao longo do ano o que está desgastando os bancários são as
condições de trabalho, o excesso de serviço, as metas, o assédio
moral, etc. E isso nunca é discutido nas campanhas salariais
(justamente porque exigiria discutir o projeto dos bancos, que é um
projeto do PT), já que dizem respeito a questões específicas de
cada banco, que nunca são
discutidas
na campanha (são jogadas para as mesas de enrolação permanente).
Assim sendo, o Avante, Bancários! deve se esforçar para estabelecer
a ligação entre as questões do dia a dia dos bancários (condições
de trabalho, o excesso de serviço, as metas, o assédio moral, etc.)
e a campanha salarial.
O
Avante, Bancários! deve formular uma campanha alternativa, que
contenha as verdadeiras reivindicações da categoria. As questões
centrais são justamente aquelas que tem sido negligenciadas pela
burocracia governista: reposição de perdas, isonomia, plano de
cargos e salários, fim das metas e do assédio moral, mais
contratações, etc. Essas questões devem estar presentes também ao
longo de 2014, além dos problemas específicos por banco. Nosso
papel deve ser o de desenvolver o debate sobre essas questões ao
longo de todo o ano, associando-as à questão mais geral do projeto
para os bancos e do projeto político do PT, contra o qual se
desenvolverão várias lutas e debates no conjunto da sociedade.
A
denúncia do projeto do PT não pode limitar-se ao antipetismo, pois
isso pode conduzir a um fortalecimento das alternativas da direita
burguesa. A categoria bancária contém elementos de elitização
social e adesão à ideologia meritocrática e individualista (em boa
parte por responsabilidade da própria gestão petista nos bancos e
nos sindicatos). Cabe à nós retomar o debate sobre a necessidade da
organização coletiva enquanto categoria e do pertencimento à
classe trabalhadora.
3.2.
Eleições
Este
ano, além das eleições gerais no país, a categoria bancária será
chamada a votar em várias eleições específicas, tanto de
entidades nacionais quanto locais. Tivemos já as eleições para a
Saúde Caixa, ainda teremos FUNCEF, PREVI e CASSI, no quadro
nacional. No cenário local, teremos as eleições para a APCEF e
para o Sindicato de São Paulo, Osasco e Região. Conforme
assinalamos acima, a participação em processos eleitorais
específicos da categoria deve estar subordinada a um projeto mais
global e de longo prazo de reconstrução da organização da
categoria. A campanha de uma chapa com participação do Avante,
Bancários! só faz sentido se for utilizada para fazer contatos,
estabelecer relações com possíveis simpatizantes e ativistas,
avançar na organização, estruturar espaços duradouros de
discussão, de mobilização e de luta, construir uma alternativa
permanente para a categoria.
Dessa
orientação geral decorre uma metodologia de debate, um critério
político para a composição de chapas e uma perspectiva para o
relacionamento entre as correntes.
A
metodologia para o processo de composição de chapas deve ter o
debate político como elemento fundamental, e as discussões entre as
correntes como parte secundária. O processo de formação de chapas
deve refletir um acúmulo real de discussão e de organização para
que, passada a eleição, qualquer que seja o resultado, haja um
ganho permanente para o movimento. Para que haja esse debate,
defendemos o método de convenções abertas para votar o programa e
a composição das chapas.
O
critério político para composição de chapas, de acordo com o
projeto geral que defendemos para o Avante, Bancários!, deve excluir
qualquer possibilidade de alianças com setores governistas. Isso
exclui não apenas a Articulação, mas também DS, CUT Pode Mais,
CTB/PCdoB, etc. Não aceitamos o método de fazer chapa com DS, CUT
Pode Mais, CTB/PCdoB, etc., mesmo que seja contra a Articulação, ou
com a Articulação contra qualquer um desses setores também
governistas, onde sejam maioria. Por mais que a aliança com alguma
dessas correntes aumente as chances de vitória da chapa, a
delimitação com o governo é um critério que se sobrepõe a
qualquer consideração imediata. A denúncia do governo e do
governismo é a base para uma atuação classista e politicamente
independente.
Consideramos
que o principal desafio da esquerda atual, no contexto da crise
estrutural do capital - que só se mantém hoje às custas do desvio
do dinheiro público e precarização da vida dos trabalhadores e da
sociedade, respaldada pelos governos inclusive petistas –, consiste
em superar qualquer ilusão no governismo e construir uma alternativa
independente de governos e patrões, num sentido efetivamente
socialista.
A
perspectiva em relação às demais correntes é que, havendo ou não
a composição de chapas para as eleições, o projeto do Avante,
Bancários! enquanto corrente independente deve continuar no sentido
de construir uma oposição combativa, radical, classista,
antigovernista, antiburocrática, democrática e de base. A unidade
pontual nas eleições não significa unidade orgânica enquanto
oposição ou concordância com o projeto, os métodos, a prática, a
política, etc., de outras correntes. Para que haja unidade nesse
sentido, seria preciso um longo processo de ação conjunta, que por
enquanto não se coloca como possível no horizonte.
Evidente
que a não-unidade da esquerda não nos agrada. Mas a construção de
uma alternativa de fato se dá prioritariamente na base, nos locais
de trabalho, nas lutas, no movimento, nos quais estaremos sempre
juntos. Portanto, defendemos a unidade da esquerda antigovernista e
anticapitalista para além das eleições e congressos.
A
discussão da tática específica para cada eleição excede o espaço
deste debate ou mesmo está prejudicada pela ausência de elementos
concretos como os editais, datas, prazos, possíveis composições e
debates, etc. O que podemos estabelecer é um conjunto de pontos
programáticos que a nosso ver devem ser colocados como critério
fundamental para a composição de qualquer chapa. Os pontos
programáticos que apresentamos tem relação com a visão que temos
da situação da categoria e das tarefas colocadas para sua
reorganização enquanto parte da classe e sujeito do momento
histórico que atravessamos. Esses pontos se estruturam em seis
eixos:
*
denúncia do governo Dilma/PT, de sua relação com o sistema
financeiro e de seu projeto para os bancos. O governo do PT destina
praticamente metade do orçamento público para o pagamento da
dívida, uma dívida fraudulenta e que já foi paga várias vezes.
Esse mecanismo espúrio desvia recursos que deveriam ser destinados
às necessidades dos trabalhadores (educação, saúde, moradia,
transporte, etc.) para alimentar o parasitismo do capital financeiro.
Os bancos e especuladores nacionais e internacionais são os grandes
beneficiários dessa imensa sangria de recursos.
Dentro
do sistema financeiro nacional, os bancos públicos não se
diferenciam dos privados na relação predatória que desenvolvem com
a população: tarifas e juros abusivos, venda casada, péssima
qualidade do atendimento. Bancos públicos e privados são sócios de
um cartel que se volta contra os trabalhadores. A propriedade dos
bancos públicos nominalmente é estatal, mas a sua gestão é
idêntica à dos bancos privados: arrocho salarial, destruição dos
planos de carreira, remuneração variável por meio da armadilha do
comissionamento e da PLR, sobrecarga de serviço, metas, assédio
moral, perseguição aos ativistas, adoecimento, sucateamento das
caixas de assistência, aparelhamento dos fundos de pensão.
Para
termos melhores salários e condições de trabalho, precisamos
discutir o projeto global dos bancos e associar essa luta às lutas
do conjunto da população por melhores serviços púlicos. Não
basta pedir a estatização do sistema financeiro, pois nominalmente
BB e CEF são estatais. É preciso pedir a estatização sob controle
dos trabalhadores!
*
denúncia da Articulação / CUT / PT e seus satélites como
braço da patronal na direção do movimentos. É uma aberração que
o movimento da categoria bancária em São Paulo e nacionalmente seja
comandado por uma corrente que pertence ao PT, que está no governo.
Os dirigentes ligados à Articulação não são apenas um setor que
está politicamente equivocado e que pode ser convencido dos seus
erros ou levado a tomar outras posições. São um grupo que ativa e
deliberadamente defende de maneira sistemática interesses opostos
aos dos trabalhadores. Usam o seu controle sobre o movimento para
impedir que haja lutas. Fazem todo o possível para esvaziar os
fóruns de base, para suprimir a democracia no movimento, para
desacreditar os organismos e formas de luta. Abandonam os
enfrentamentos locais e imediatos, deixando os ativistas à própria
sorte e sujeitos à perseguição. Transformaram o sindicato num
conglomerado empresarial, com gráfica, cooperativa habitacional,
financeira, faculdade, etc.
Além
disso, por meio dos fundos de pensão, participam organicamente da
gestão dos negócios da burguesia, partilhando dos interesses de
classe da patronal. Por tudo isso, é preciso chamar os trabalhadores
na base dos sindicatos a romper com os fóruns comandados pela
Articulação / CUT / PT e a partir
da base construir outros espaços de organização. É preciso
denunciar as correntes governistas, não apenas a principal delas, a
Articulação, mas todos os seus satélites: CTB/PCdoB,
DS, CUTPodeMais, Trabalho, etc.
*
ruptura e denúncia dos fóruns da CONTRAF / CUT. Os espaços de
organização da campanha salarial, como Congressos de banco e a
Conferência da CONTRAF não são espaços de organização dos
trabalhadores em que uma determinada corrente, no caso a Articulação
possui uma maioria circunstancial. São instrumentos burocráticos em
que já se cristalizou uma política governista e oposta aos
trabalhadores. Nos Congressos dos bancos existem várias maneiras de
impedir que os bancários possam se expressar: não há
proporcionalidade na tirada de delegados, há delegados biônicos
indicados pela cúpula dirigente, as deliberações não são
consideradas para definição da pauta da campanha, representantes do
governo como ministros de Estado são convidados a falar, etc., entre
outras questões.
Na
Conferência da CONTRAF esses mesmos vícios se repetem, e ainda
outros, o que torna impossível considerar esses fóruns como espaços
úteis aos trabalhadores. Há muitos anos não passam de encontros de
burocratas afastados dos locais de trabalho, que inventam pautas
rebaixadas ao gosto do governo e dos banqueiros. As comissões de
empresa e o Comando Nacional eleitos nesses fóruns conduzem
burocraticamente as campanhas de uma maneira que a base
“representada” não possa se manifestar e os interesses dos
banqueiros e do governo prevaleçam.
*
defesa de um processo de organização de base. Não podemos usar
o espaço das campanhas eleitorais para dizer aos trabalhadores que a
solução consiste simplesmente em votar em nós para dirigir as
entidades. É preciso desfazer as décadas de deseducação em que a
burocracia acostumou os trabalhadores com a ideia de que o
instrumentos como o sindicato e a greve é algo que alguém faz em
seu lugar. Precisamos aproveitar esses espaços para chamar os
trabalhadores à participação, pelos exemplos das lutas passadas e
recentes, mostrando que as vitórias somente são possíveis quando a
maioria toma o destino nas próprias mãos.
Devemos
nos colocar como aqueles que estão a serviço desse projeto de
construir espaços de organização para as lutas cotidianas, para
que os trabalhadores tenham ao mesmo tempo a confiança de que não
estão sendo chamados a ser mera massa de manobras e o aprendizado de
que devem tomar a história nas próprias mãos. Temos que nos
colocar a todo momento como aqueles que defendem a mais ampla
democracia e que querem criar os meios para que os trabalhadores se
expressem e possam se colocar como sujeitos.
*
denúncia do caráter antidemocrático dos processos eleitorais.
Na maior parte das eleições
específicas das entidades da categoria os processos não passam de
uma farsa para dar um verniz democrático para a gestão da
Articulação e do PT e seus aliados. Há uma série de obstáculos
burocráticos para a constituição de chapas, não há condições
equitativas de debate para que as posições opostas possam se
expressar, as chapas da situação (governistas) possuem recursos
financeiros infinitamente superiores para fazer campanha, não há
fiscalização sobre o processo de votação e apuração (nos casos
da PREVI e CASSI, por exemplo, a votação e apuração é feita no
próprio sistema do BB, sendo o banco parte interessada na vitória
de chapas governistas), não há proporcionalidade na composição
das diretorias, nem revogabilidade dos mandatos, etc.
*
resgate das reivindicações históricas.
Temos que aproveitar as campanhas eleitorais para denunciar a mentira
de que todos os anos temos “vitórias” e “aumento real” nas
campanhas salariais. Temos que denunciar a real situação nos bancos
e nos colocar como aqueles que defendem as soluções para esses
problemas e as reivindicações históricas:
-
Estabilidade no emprego para todos os trabalhadores, em especial nos
bancos privados;
- Isonomia entre trabalhadores novos, antigos e incorporados,
preservando-se o que for mais vantajoso para os trabalhadores;
- Plano de reposição das perdas acumuladas desde a implantação
do real;
- Mais contratações nas agências, com cotas proporcionais para
negros e minorias;
- Contra o sucateamento das nossas caixas de assistência;
- Contra o aparelhamento dos fundos de pensão;
- Efetivação dos terceirizados sem concurso, quem trabalha em
banco bancário é!
- Outras reivindicações específicas de cada banco
4.
FUNCIONAMENTO
4.1.
Periodicidade
O
Avante, Bancários! funcionará por meio de pelo menos uma reunião
mensal ordinária, com caráter de plenária, ou seja, com a
participação de todos os componentes. Em caráter extraordinário,
pode ser feita mais de uma reunião no mesmo mês, preparatória ou
organizativa, para tratar de encaminhamentos das reuniões
ordinárias. As plenárias são soberanas e decidem todas as questões
relativas às posições do Avante, Bancários!, suas publicações,
etc., enquanto que as reuniões preparatórias ou organizativas tem
alçada limitada pelas deliberações das plenárias (ou seja, não
podem alterar o conteúdo das publicações, as posições que foram
tiradas, etc.).
4.2.
Publicações
O
Avante, Bancários! publicará um jornal cuja periodicidade devemos
trabalhar para que seja mensal, cujas edições deverão conter
matérias de interesse geral da categoria e seções voltadas para os
segmentos de bancos públicos, bancos privados e terceirizados.
4.3.
Comunicação
O
Avante, Bancários! mantém uma página no Facebook, sob
responsabilidade de administradores designados por cada um dos
coletivos, visando uma comunicação mais ágil com a categoria e a
divulgação de notícias, eventos, etc.
4.4.
Finanças
O
Avante, Bancários! será mantido por contribuições voluntárias e
regulares dos seus componentes. A independência financeira é um
pré-requisito da independência política. Não será aceita
qualquer tipo de contribuição de entidades patronais,
governamentais, ligadas à burocracia sindical, governistas, ou
estranhas às lutas da classe trabalhadora. Qualquer contribuição
extraordinária de outras organizações, que só podem ser
organizações de luta dos trabalhadores, classistas e
antigovernistas, terá que ser mesmo assim discutida e aprovada em
plenária.
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